Capítulo 130: 18º Nível do Inferno
Naquela noite.
Um grupo de pessoas caminhava por uma rua mal iluminada na Cidade das Sombras.
Todos vestiam máscaras e mantos escuros, claramente acostumados a se manterem escondidos dos olhos dos outros.
Pareciam andar lentamente, mas na verdade se moviam com grande velocidade — até que, ao chegarem a uma determinada esquina, os dois à frente do grupo pararam subitamente.
— O que foi, senhor?
Os quatro que vinham atrás também pararam imediatamente.
— Há uma emboscada logo ali. O perigo se apresenta em forma de ponto, provavelmente são franco-atiradores esperando. Cuide disso, Tigre das Costas de Ferro.
— Sim, senhor!
Um homem na retaguarda retirou seu manto cinza, revelando seu corpo mecânico.
Era um ciborgue, alguém que havia passado por um processo de modificação extremamente completo. Até a coluna, uma das partes mais difíceis de substituir, havia sido trocada por uma versão mecânica. Todo o corpo dele havia sido modificado: membros, rosto, tórax… e, como o apelido indicava, Tigre das Costas de Ferro, sua parte mais notável era justamente as costas, equipadas com diversos armamentos, fazendo-o parecer um tanque humanoide com mísseis pendurados dos lados.
Após receber a ordem, Tigre das Costas de Ferro saltou no ar e contornou a esquina.
Apesar de sua estrutura imensa, era extraordinariamente rápido. O som das peças mecânicas em movimento ecoou quando ele cobriu mais de 10 metros com um único passo, chegando ao local em questão num piscar de olhos.
Ao mesmo tempo, ouviram-se disparos.
As balas do rifle de precisão voaram em direção ao rosto dele com força impressionante, e ele ergueu o braço para se proteger. As balas colidiram contra o metal, lançando uma chuva de faíscas e fazendo-o recuar alguns passos.
Depois de se firmar, Tigre das Costas de Ferro ativou seu olho eletrônico e, através da imagem térmica, localizou os franco-atiradores. Uma série de armas surgiu de seu braço, e ele disparou uma saraivada feroz. Ao mesmo tempo, ganchos de escalada saíram de suas costas. Os propulsores a jato em suas pernas entraram em ação, lançando-o no ar com o auxílio dos cabos até que arrebentou uma janela no final da rua.
Pouco depois, reapareceu com dois corpos sem vida e os jogou na rua.
No mundo civilizado, dois cadáveres jogados na rua atrairiam imediatamente uma brigada da Guarda Mecânica. Mas ali, em cinco minutos no máximo, eles seriam levados por coletores de órgãos.
Oni no Hanzou e Oni no Miko perceberam que o perigo havia passado e seguiram para o local.
— Rostos asiáticos — murmurou Oni no Hanzou ao inspecionar os corpos. — Há poucos asiáticos na Cidade das Sombras. Já tenho uma boa ideia de quem está por trás disso.
Na noite anterior, uma bomba havia sido instalada no veículo deles. E agora, acabavam de ser alvos de franco-atiradores. Em apenas dois dias, já haviam sofrido duas tentativas de assassinato.
— Devo dar um aviso a eles, Senhora Miko?
— Não faça isso. O diretor já nos avisou pra não causarmos confusão na Cidade das Sombras.
— Mas nós é que estamos sendo atacados!
— Não importa.
Oni no Miko balançou a cabeça enquanto massageava as têmporas. Só de pensar no que haviam visto na noite anterior, já sentia dor de cabeça.
Jamais se sentira tão frustrada.
Naquele dia, ela e Oni no Hanzou haviam ido ao Castelo das Sombras com toda a sinceridade, mas o que viram lá foi a coisa mais horrível que já presenciara, mesmo sendo uma assassina experiente. Tratava-se da câmara de tortura do castelo.
Oni no Hanzou já havia visitado fazendas humanas antes e testemunhado o processo de produção de quadros em branco. Aquilo era cruel e desumano, mas pelo menos proporcionava uma morte rápida.
Os bebês mortos ali eram eliminados de forma relativamente indolor, com vidas que se encerravam antes mesmo de começarem.
Mas no Castelo das Sombras, os gritos ecoavam sem parar, enquanto os alvos eram torturados de todas as formas possíveis, física e psicologicamente.
Era como o 18º nível do inferno.
Segundo a mitologia oriental, o inferno tinha 18 níveis.
Se alguém cometesse más ações em vida, seria enviado para lá, e cada nível era destinado a pecados específicos.
Por exemplo, quem espalhava boatos ou mentiras era mandado para o inferno da extração da língua, onde sofria o tormento de ter a língua arrancada. O mais diabólico era que isso não acontecia de uma vez. Os demônios do inferno puxavam a língua do pecador centímetro por centímetro, usando alicates, e a língua se alongava infinitamente, gerando uma dor que nunca acabava.
Também existia o inferno da coluna de bronze, onde incendiários e aqueles que destruíam provas eram enviados.
Nesse inferno, os pecadores eram acorrentados a enormes colunas ocas de bronze, obrigados a abraçá-las, enquanto brasas eram despejadas no interior das colunas. Eventualmente, o metal ficava incandescente, e os condenados eram submetidos a uma dor de queima incessante.
O mais aterrorizante nos 18 níveis do inferno não eram os diferentes tipos de tortura, e sim a imortalidade das almas, o que tornava o sofrimento eterno. Antes que expiassem seus pecados, os condenados passariam toda a eternidade em agonia constante.
O Castelo das Sombras era a personificação daquele inferno, mas com métodos de tortura ainda mais numerosos e cruéis. Os executores não queriam que seus alvos morressem, buscavam converter sua dor em uma forma de energia, utilizada para criar anomalias.
Oni no Miko era uma assassina impiedosa, com incontáveis mortes em seu histórico. E, além disso, como adaptadora de alto nível, possuía uma persona poderosa, o que tornava extremamente difícil causar-lhe qualquer trauma. Mas, naquele dia no Castelo das Sombras, ela sentiu-se genuinamente desconfortável.
O que veio depois foi ainda mais inexplicável. No instante em que encontraram o diretor, tanto ela quanto Oni no Hanzou foram marcados por ciber-feitiços. Ela nem sabia como aquilo havia acontecido e, não importava o que fizessem, os ciber-feitiços não podiam ser removidos.
Nem mesmo o Dragão de Rosto Oni seria capaz de algo assim. E, no auge do medo, acreditando que seriam mortos ali mesmo, foram recebidos por um homem de aparência elegante e erudita, que disse não gostar de matar. Tudo que aconteceu no Castelo das Sombras naquela noite parecia um delírio febril. E, depois que saíram de lá, a única coisa que conseguia lembrar com clareza era: não podiam causar confusão na Cidade das Sombras.
— Isso mesmo. Não podemos causar nenhum problema — reforçou Oni no Hanzou. — Assim que terminarmos o que viemos fazer, vamos embora daqui. De qualquer forma, esses assassinos amadores não representam ameaça nenhuma pra nós.
Com isso, o grupo de seis pessoas deixou o beco imundo.
No dia seguinte, depois de terminar sua luta, Adam foi até o setor de lutas do Rank F, e lá viu Nie Yiyi.
Após o encontro com Oni no Miko, Nie Yiyi concluiu que não havia mais nada a perder, então também começou a participar das lutas.
Em sua mente, se os assassinos da Organização Oni realmente quisessem matá-los, já teriam feito isso. Ela sempre teve um desejo ardente de aproveitar qualquer oportunidade para aprimorar suas habilidades de combate, e agora que sua identidade estava exposta, não via mais motivo para hesitar. Incapaz de conter o desejo por batalha, procurou Hailey e a escolheu como sua assessora.
Com suas habilidades, naturalmente venceu com facilidade as lutas de Rank F.
Após sair do ringue, foi até Adam e disse, relutante:
— A Gangue Verde já selecionou dois candidatos adequados pra você. Vou te levar até eles mais tarde. Ah, e sobre os assassinatos… já tentamos três vezes, mas todas falharam. Perdemos gente demais. A gangue tem medo de represálias, então cancelaram qualquer tentativa futura.
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