Capítulo 133: Bar de Cerveja
Com a experiência que Adam havia acumulado, ele já conseguia estimar aproximadamente o nível de uma anomalia emocional com base no ambiente do mundo psíquico onde ela habitava.
— Se houver uma anomalia aqui, ela deve ser pelo menos do mesmo nível daquele espantalho que enfrentamos na primeira vez que trabalhamos juntos. Uma anomalia desse calibre é perigosa demais pra gente lidar.
— Você não quer pelo menos tentar? — A natureza competitiva de Nie Yiyi voltava a aflorar. — Pra ser sincera, concordo com a sua análise. Sempre fico animada pra me testar contra oponentes poderosos, mas em condições normais, nunca correria um risco tão grande.
— Anomalias desse nível são fortes demais, e a gente não tem nenhuma informação sobre essa. Se for uma anomalia especializada em ataques furtivos, podemos morrer com um único golpe antes mesmo de entender o que aconteceu.
— Com certeza. Lembro que a anomalia da freira era extremamente boa em emboscadas. Um dos adaptadores da equipe que tentou tratar o Li Qi antes da gente foi morto. Mas já sei o que você vai dizer em seguida. — Adam se agachou e encostou a mão no chão pegajoso, percebendo que o líquido em sua superfície tinha uma textura nojenta, parecida com catarro grosso. — A situação em que estamos é das piores possíveis, e não temos muito tempo, então não podemos desperdiçar nenhuma oportunidade.
A batalha de sobrevivência se aproximava rapidamente e, talvez antes, eles ainda pudessem vencer com um pouco de sorte. Mas com a chegada da Organização Oni, nenhuma sorte seria suficiente.
Teriam de enfrentar Oni no Miko, Oni no Hanzou e os ajudantes que essa dupla formidável trouxera consigo. Suas chances de vitória estavam perto de zero.
— Você foi quem mais evoluiu entre todos nós. Eu acompanhei seu crescimento de perto, e se existe alguma chance de vencermos, essa esperança está em você. Às vezes, é preciso correr riscos.
— Entendo. — Adam também já havia tomado sua decisão. — Essa primeira incursão será só para reconhecimento. Se encontrarmos perigo, saímos imediatamente. A maior diferença entre pessoas comuns e adaptadores é que os normais não conseguem montar barreiras psíquicas. Se quisermos sair, podemos sair a qualquer momento.
Nie Yiyi assentiu em resposta.
Depois de tomarem a decisão, os dois começaram a investigar a área.
Dessa vez, não tinham Gancho como guia, nem havia alguém do lado de fora que pudesse cortar a conexão a qualquer momento. Por isso, foram extremamente cuidadosos em cada passo.
Adam invocou e se fundiu com a Múmia, além de liberar o Cão Infernal para vigiar os arredores. Após uma busca, perceberam que aquele lugar não parecia ser em nenhum ponto da Cidade Sandrise. Na verdade, parecia nem ser no mesmo país.
Os prédios por perto eram antigos e desgastados, como se fossem de várias décadas atrás, e havia uma ausência gritante de qualquer tipo de autômato. As luzes dos letreiros de propaganda piscando ao longe davam a sensação de que tinham voltado para o ano de 2020.
— Que lugar é esse? — Adam pegou um panfleto colado no chão. O papel continha textos em duas línguas diferentes. Além da linguagem genérica, havia também uma escrita bem incomum. — Parece um lugar bem remoto.
— Isso não importa.
Nie Yiyi saiu da mata pegajosa e entrou numa estrada.
Ao lado da estrada havia um bar de cerveja com luzes acesas, e sombras humanoides eram projetadas contra a iluminação.
Além do bar, também parecia haver uma vila mais adiante.
— Tem gente ali dentro.
— Sim, mas estão se movendo de um jeito muito estranho e caótico. Eu tenho a defesa mais forte, então vou entrar primeiro e dar uma olhada. Fica aqui fora e se prepara pra me cobrir se for preciso.
— Certo.
Em um ambiente psíquico como aquele, nenhum dos dois se permitia baixar a guarda. Nie Yiyi sacou suas lâminas, enquanto Adam instruiu o Cão Infernal a permanecer do lado de fora com ela. Em seguida, também puxou sua própria arma e só então se aproximou do bar.
Quanto mais se aproximava, mais conseguia ouvir sons estranhos vindo de dentro do local.
Adam empurrou devagar a porta de madeira do bar, que rangeu alto, e se deparou com uma cena bizarra.
Dentro do bar havia várias aberrações emocionais de aparência estranha, com rostos humanos, barrigas de cerveja enormes e genitais com mais de um metro de comprimento. Essas aberrações bebiam, urinavam e gritavam ao mesmo tempo dentro do bar.
— Que porra você tá fazendo aí? Vai abrir a porta e não vai entrar? Tá deixando todo o ar frio entrar!
As aberrações não demonstravam nenhum medo de Adam. Pelo contrário, começaram a xingá-lo por ficar parado na entrada do bar.
Adam não respondeu. Após um breve instante de reflexão, decidiu entrar.
As aberrações ignoraram completamente Adam enquanto continuavam a beber e urinar, enchendo o bar com um fedor insuportável.
Sem dizer nada, Adam se aproximou de uma das aberrações e passou a observá-la com atenção. A criatura ficou incomodada com aquele olhar invasivo e imediatamente lançou uma caneca de cerveja contra a cabeça de Adam. Foi um golpe pesado, com força superior à que a maioria das aberrações emocionais conseguia gerar.
No entanto, a Múmia era uma anomalia de nível três especializada em defesa, então o ataque não causou qualquer dano. Adam reagiu com um soco direto no rosto da aberração, jogando-a ao chão, enquanto as outras aplaudiam animadas.
A aberração caída se sentia completamente humilhada com os gritos de comemoração e, tomada por uma fúria cega, levantou-se com um rugido, pegou uma cadeira e a arremessou contra Adam com força violenta. Seus movimentos pareciam ensaiados, como os de um brigão profissional de bar.
“Essa cena vem das memórias do hospedeiro? Parece que ele viveu nesse bar por muito tempo e desenvolveu um forte ressentimento contra os bêbados turbulentos que frequentavam o lugar.”
Depois de analisar a situação, Adam permitiu que a cadeira de madeira o atingisse no rosto, então revidou com sua faca de entalhar, cortando a aberração ao meio.
Um grito estridente ecoou junto do som da cadeira se despedaçando, e a breve briga chegou ao fim.
As outras aberrações brindaram suas canecas e continuaram a comemorar por mais um tempo após a morte da criatura, antes de voltarem a beber e conversar normalmente.
“Essa é uma cena muito nítida na memória do hospedeiro. Talvez eu consiga encontrar ele aqui.”
Adam prosseguiu com a busca e percebeu que, além dos frequentadores, havia também um barman atrás do balcão.
A aparência do barman era diferente da dos demais. Além de possuir genitália gigantesca, sua boca era imensa e lembrava a de um sapo, refletindo claramente a ideia de ganância.
Adam concentrou a atenção no barman justo quando um dos clientes terminava sua bebida e lhe passava algum dinheiro. O barman sorriu e conduziu o cliente até os fundos do bar.
Adam os seguiu e descobriu que havia uma sala de recreação nos fundos, com jogos de cartas e xadrez na frente e uma cama mais ao fundo.
Depois de levar o cliente até lá, o barman assobiou com sua boca de sapo, e uma mulher surgiu de um cômodo ainda mais afastado.
No instante em que Adam a viu, ficou imediatamente mais alerta e cauteloso. Aquela mulher era uma anomalia.
Diferente das aberrações emocionais ao redor, ela estava envolta por uma névoa negra, uma característica exclusiva das anomalias. Além disso, seu corpo era mais ágil e poderoso, embora sua aparência fosse absolutamente repulsiva.
A anomalia tinha a aparência de uma mulher de meia-idade, mas seus seios e genitália eram assustadoramente desproporcionais. Assim que o cliente entrou no quarto, ela o devorou por completo, e seu abdômen começou a se mover com contrações peristálticas, até que, no fim, ela cuspiu algumas moedas de ouro.
Depois de devorar a aberração, a anomalia se virou para Adam e perguntou:
— Quer se divertir também, gatinho? É cem por rodada.
— Tô de boa.
Na forma de Múmia, Adam estava longe de parecer atraente, e mesmo recusando, a anomalia já vinha se aproximando.
Pelo visto, não havia como evitar a luta.
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