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    — Queremos saber um pouco de tudo, na verdade. Queremos saber sobre as experiências da infância dele, por que tem tantos impulsos malignos, quantas jovens ele já aprisionou e matou no passado, e o que sentia ao matar essas pessoas — respondeu Nie Yiyi após uma breve consideração.

    As experiências de infância de uma pessoa eram a base de sua personalidade e, muitas vezes, a raiz de sua anomalia emocional.

    Quanto ao número de pessoas que ele aprisionou e matou, isso revelaria o quanto seus impulsos malignos haviam crescido e passado a dominar suas ações.

    Além disso, as emoções que sentia ao matar suas vítimas aprisionadas revelariam os atributos de suas anomalias. Emoções como raiva, ansiedade, medo e culpa dariam origem a anomalias com características diferentes.

    — Entendido. Vou interrogá-lo com bastante rigor. Querem entrar?

    — Passo. Não quero assistir.

    — Eu também passo.

    Adam e seus companheiros não tinham a menor intenção de entrar. Até um idiota sabia o que ia acontecer a seguir.

    E, de fato, depois de entrar na sala, o Velho Jiang despertou o sujeito do estado inconsciente, e Adam e os demais não faziam ideia de quais métodos de tortura foram usados, mas o sujeito não parou de gritar nem por um segundo durante as três horas e meia seguintes.

    No fim da sessão, o Velho Jiang saiu da sala, e era tão experiente que nem uma gota de sangue havia em seu corpo.

    — Ele basicamente confessou tudo.

    — Isso é realmente impressionante! — Adam não pôde deixar de elogiar.

    — O nome dele é Sithu. Sobre a infância, ele passou os anos de formação numa ilha no Oceano Pacífico, e a mãe dele trabalhava como prostituta num bar.

    Adam se lembrou imediatamente do bar de cerveja que viu em sua primeira incursão no mundo psíquico de Sithu. Todas as aberrações ali tinham genitálias enormes, e os métodos de ataque da mãe também eram muito estranhos.

    O fato de a mãe aparecer como uma anomalia no mundo psíquico indicava que ele tinha profundo desprezo por ela durante a infância, mas a criança que correu para protegê-la provavelmente também era ele.

    Desprezava a mãe, mas também sentia vontade de protegê-la. Quanto mais conflitantes as emoções, mais propensas eram a se distorcer, e essa distorção só aumentava conforme o embate emocional se intensificava.

    — E depois disso?

    — Depois que ele se tornou adulto, a mãe desapareceu e ele se mudou para a Cidade Sandrise.

    — Ela desapareceu ou foi morta por ele?

    — Não sei dizer. Quando falava dessa parte da vida, as emoções dele ficaram claramente instáveis. Surgiu uma persona infantil que começou a dizer um monte de bobagens. Ah, e ele tem múltiplas personalidades. É bem evidente que sofre de esquizofrenia.

    — Esquizofrenia!

    — Então é isso!

    Adam e os outros se sentiram esclarecidos por essa revelação.

    — Então ele não só tem múltiplas personalidades, como cada uma delas se transformou em uma anomalia. Que caso extraordinário!

    — Pensar que nós, como adaptadores, temos que depender de não adaptadores para conseguir essas informações…

    Em teoria, adaptadores deveriam ser os mais aptos a penetrar fundo na psique de alguém para descobrir segredos bem guardados, como segredos comerciais ou confissões de crimes.

    No entanto, o mundo psíquico de Sithu era um lugar aterrorizante, cheio de anomalias poderosas. Para um adaptador comum, entrar ali era praticamente uma sentença de morte, então fazia mais sentido deixar um profissional como o Velho Jiang conduzir o interrogatório.

    — Quantas personalidades ele tem?

    — Não posso afirmar com certeza, mas consegui identificar claramente cerca de cinco durante o interrogatório. Quanto a possíveis outras escondidas, não posso garantir.

    — Cinco… Quantas anomalias vocês dois encontraram lá dentro? — perguntou Shae.

    — Encontramos duas anomalias, uma parecia ser a mãe dele, e a outra, ele mesmo em forma de criança. Somando com as três que enfrentamos juntos, dá um total de cinco anomalias.

    A mãe claramente não era uma das personalidades, então havia pelo menos mais uma persona ainda oculta sob a superfície.

    — Quais eram as características marcantes das personas que vocês viram?

    — Uma delas era uma criança…

    — Sim, vimos essa — disse Adam, começando a contar nos dedos.

    — Uma quis me matar assim que me viu. Era a mais agressiva verbalmente.

    — Essa deve ser a anomalia alienígena.

    — Havia outra com grande interesse por sangue. Quando essa personalidade apareceu, ele chegou a lamber os lábios só de ver o próprio sangue.

    — Essa deve ser a anomalia chef.

    — Também havia uma persona que parecia estar horrorizada, e foi ela quem mais confessou. Me contou tudo o que sabia, e a maior parte das informações que consegui veio dela.

    — Essa é a última anomalia que vimos — murmurou Adam com um aceno de cabeça. — E a última?

    — A última era uma persona feminina, que não parecia tão insana quanto as outras. Ela disse que foi quem libertou a mulher do cativeiro subterrâneo e nos avisou para não voltarmos ao mundo psíquico dele, pois há algo extremamente perigoso escondido lá. Mas não teve tempo de explicar melhor antes de desaparecer de repente com um grito. Parece que foi arrastada à força por outra das personalidades dele.

    — Algo extremamente perigoso… — repetiu Adam com uma expressão contemplativa. — Ela está claramente nos alertando sobre algo ainda mais aterrorizante que ainda não vimos.

    — Esquece o desconhecido, a gente nem consegue lidar com as anomalias que já vimos — disse Shae em um tom derrotado. — Já vimos cinco anomalias, e todas são muito fortes. Essas coisas são manifestações das personalidades dele, então com certeza todas já sabem da nossa existência. Se entrarmos agora, vamos morrer com certeza.

    — No fim das contas, o problema é que ainda somos fracos demais. — Esse era o sujeito ideal, mas não tinham força para aproveitá-lo. Adam se sentia diante de uma montanha de ouro, mas sem ter como carregá-la. Não queria ir embora, mas também não podia fazer nada. — Vamos mantê-lo aqui por enquanto e buscar outros meios de ficar mais fortes. Quando estivermos prontos, voltamos.

    — Ainda temos o Gancho e o Shota pra ajudar. E, se possível, também posso chamar o Sr. Li da próxima vez.

    — Sr. Li? Você quer dizer o Lutador Li?

    Adam tinha uma impressão muito forte do Lutador Li. Em termos de técnica pura, ele era superior até mesmo à maioria dos adaptadores de elite.

    Deixando de lado o poder bruto e olhando apenas para a técnica, o Lutador Li podia enfrentar de igual pra igual até mesmo alguém como o Oni no Hanzou.

    — Isso mesmo. Agora somos amigos e já treinamos juntos várias vezes no mundo psíquico. Ele está sempre em busca de oponentes diferentes, então tenho certeza de que não recusaria a chance de lutar contra anomalias.

    Ninguém conhecia melhor um viciado em luta do que outro viciado em luta, e Nie Yiyi estava confiante de que o Lutador Li aceitaria ajudar.

    — Se contarmos com o Lutador Li, teremos cinco unidades de combate e uma unidade de reconhecimento. Ainda é pouco. Melhor esperar até que eu fique um pouco mais forte antes de entrarmos de novo.


    Nos dias seguintes, Adam e Nie Yiyi passaram praticamente todo o tempo lutando no ringue.

    Com essas batalhas constantes, Adam foi dominando cada vez mais técnicas de combate, chegando até a desenvolver algumas que eram únicas dele. Pela primeira vez, começou a experimentar o processo que os adaptadores comuns passavam para se fortalecer.

    Essas batalhas e vitórias constantes despertaram nele uma imensa confiança, e a confiança era a chave para o desenvolvimento do poder da própria persona. Com isso, seu poder absoluto também aumentou.

    Além disso, com a experiência acumulada nas lutas, Adam foi sendo capaz de desenvolver cada vez mais técnicas, que eventualmente se somariam para dar origem a habilidades.

    Nesse ponto, ele já havia desenvolvido sua primeira habilidade autônoma: Observação.

    Essa habilidade não vinha de suas anomalias. Era fruto direto de seu corpo psíquico, podendo ser usada independentemente da anomalia com a qual estivesse fundido. Não servia para aumentar seu poder, mas permitia prever os movimentos do inimigo com mais precisão. Era uma habilidade passiva muito básica, talvez algo que o Lutador Li e a própria Nie Yiyi já tivessem dominado há muito tempo.

    De todo modo, adquirir essa habilidade autônoma representava um avanço indiscutível para Adam.

    Como resultado das batalhas constantes, Adam também foi promovido ao Rank C. A essa altura, já havia muitos espectadores e uma boa quantia a ser ganha em cada luta, e seu histórico permanecia impecável até então.

    As lutas estavam indo muito bem, mas a obtenção de anomalias, o que era ainda mais importante, estava se mostrando extremamente difícil.

    Nem a Gangue Verde, nem o Crocodilo, nem a Tartaruga Vermelha haviam conseguido encontrar candidatos adequados. As pessoas que encontravam ou não tinham problemas mentais, ou seus distúrbios não eram graves o bastante para satisfazer os critérios de Adam.

    Nesse dia, ele foi novamente contatado pelo Crocodilo e imediatamente correu para se encontrar com ele após encerrar suas lutas.

    Como já tinham trabalhado juntos diversas vezes, um certo nível de confiança havia sido estabelecido entre os dois, e conversavam de maneira bem mais informal que antes.

    — Você já me chamou mais de dez vezes e ainda não conseguiu encontrar um único sujeito adequado. Eu já disse: se quiser ganhar dinheiro, tem que capturar os que parecem culpados de alguma coisa! — Adam chegou à sede da facção do Crocodilo, deu uma olhada no jovem amarrado no cômodo e perguntou: — Qual é o histórico desse cara?

    — Como é que eu vou saber o histórico dele? Chamei você justamente pra descobrir! — Crocodilo não era exatamente o mais brilhante, e falava de forma bastante agressiva, mas era um bom lutador, tinha um senso de justiça forte e era muito justo na hora de dividir o dinheiro, então seus subordinados eram bem leais a ele. — Você me mandou procurar gente com cara de culpada, mas na minha opinião, quem não é culpado depois de vir da Cidade Sandrise pra cá? Se não cometeram crime, vieram fazer turismo?

    — Esquece, não dá pra discutir com um idiota igual a você! — Adam não perdeu mais tempo e se agachou diante do sujeito. Embora Crocodilo e Tartaruga Vermelha não tivessem encontrado alvos úteis, Adam já havia conseguido reunir informações valiosas para eles, então os dois líderes de gangue estavam satisfeitos em continuar colaborando. — Fica na entrada e vigia. Não deixa ninguém interromper.

    — Ouviram aí? Caiam fora! Se alguém ousar entrar ou fizer barulho sem necessidade, vai sair daqui direto pra cadeira de rodas! — gritou Crocodilo enquanto botava seus capangas pra fora, garantindo a privacidade que Adam queria.

    Agora que estava em paz, Adam começou a examinar os traços faciais do sujeito.

    Ele buscava pessoas com distúrbios mentais todos os dias, e a essa altura já conseguia avaliar mais ou menos o estado mental de alguém só pela aparência. Pessoas com certos traços psicológicos apresentavam configurações musculares no rosto diferentes das de quem não sofria de nada. Isso não podia servir como critério absoluto, mas valia a pena observar.

    Mesmo inconsciente, o sujeito mantinha os lábios firmemente contraídos, e os músculos do rosto pareciam rígidos e artificiais. Estava claro que ele vivia em um estado constante de ansiedade.

    “Talvez tenhamos encontrado algo aqui!”

    Adam se animou ao ver isso e imediatamente invadiu o mundo psíquico do homem.


    Dessa vez, apareceu em um lugar que parecia uma empresa.

    O estilo de construção era simples e tecnológico, e os materiais usados deixavam claro que aquele era um ambiente de alto padrão.

    Um local de aparência simples mas luxuosa revelava um nível ainda maior de sofisticação, afinal era muito caro criar uma atmosfera de opulência usando poucos elementos. Aquela empresa, no entanto, claramente não tinha problema de verba.

    Curioso, Adam procurou o logotipo da empresa para ver quem tinha tanto dinheiro, e ficou boquiaberto com o que descobriu.

    “Agora entendi por que esse lugar é tão rico. É a Sede Gaia do Metaverso!”

    Adam ficou atônito ao perceber que tinha chegado a uma das principais filiais do Metaverso.

    Era completamente diferente da empresa de jogos do Caubói, que tinha sido construída sobre a base do Metaverso. Usando uma árvore como analogia, a empresa do Caubói era como uma fruta ou uma folha, enquanto a Sede Gaia era o tronco.

    Metade da lógica básica de funcionamento de todo o Metaverso era controlada pela Corporação Gaia.

    “O que esse cara faz aqui?”

    Movido pela curiosidade, Adam rapidamente rastreou o hospedeiro e, pelo trabalho que estava realizando, parecia ser um programador.

    Adam se agachou ao lado dele para observá-lo trabalhar. Apesar de não ser nenhum especialista em programação, após um tempo conseguiu entender a natureza do trabalho. Basicamente, o homem era responsável por arquivar dados inúteis que, no caso, eram ‘pessoas’ do Metaverso que não eram auto suficientes e não tinham ninguém no mundo real para sustentá-las financeiramente.

    Essas pessoas eram tratadas como lixo: comprimidas repetidamente até serem colocadas em um espaço de armazenamento.

    Pelos acessórios e pelo relógio que o homem usava, Adam percebeu que ele era bastante rico. Pelo menos, ganhava muito mais do que os outros programadores que já tinha visto.

    No entanto, a expressão dele revelava que o trabalho exercia uma pressão psicológica imensa. Seu rosto estava extremamente rígido, e os dedos tremiam levemente toda vez que ele compactava os dados.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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