Capítulo 144: Homem de Ferro

— Eu não achei que teria tanta gente assim.

Adam observava ao redor enquanto entrava na arena com Hailey. Aquela era a arena do Rank A, com mais de dez mil assentos, todos ocupados.

— É claro que teria! Os organizadores estão promovendo essa luta há um tempão, e como é uma luta de promoção, recebeu permissão especial pra acontecer na arena do Rank A. Tirando os combates do Rank S que acontecem no estádio principal, as lutas do Rank A são o nível mais alto de competição — explicou Hailey. — E cá entre nós, acho que você tá focando nas coisas erradas.

— Como assim?

— O oponente que você vai enfrentar também manteve um histórico impecável no Rank B. Você viu as lutas dele?

— Vi. Ele é bem forte.

— ‘Bem forte’ não, ele é mais forte que você! — disse Hailey num tom de frustração. — Nas suas últimas lutas, você já tava no limite. Todas foram vitórias por pouco.

— Você tem razão, ele é realmente forte, e minhas vitórias têm sido bem apertadas ultimamente.

Os combatentes que estavam entre os primeiros colocados do Rank B já eram bastante formidáveis, mais ou menos no nível intermediário alto de uma anomalia de nível dois.

Na forma fundido com a Freira, Adam ficava mais ou menos nesse patamar, esticando um pouco.

Mesmo fora do mundo das arenas, combatentes desse nível já eram vistos como adaptadores experientes.

Até então, Adam não havia revelado nenhuma de suas cartas na manga porque não queria chamar atenção na frente de Oni no Hanzou e Oni no Miko. E agora, ainda estava se contendo para treinar. Esmagar os inimigos só com força bruta não o ajudaria a melhorar sua técnica.

— Suas vitórias foram apertadas, mas as dele com certeza não foram! No mínimo, o nível dele já coloca ele na faixa intermediária alta do Rank A. Eu te disse que dava pra evitar essa luta… bastava enfrentar mais três ou quatro oponentes do fundo do Rank B e você ainda subiria de nível…

— Isso é lento demais. Os pontos são poucos, e o dinheiro também.

— Você vai se arrepender de não ouvir sua gerente! — Depois de passar tanto tempo com Adam, Hailey já entendia bem sua personalidade. Com o tempo, a formalidade que havia no início deu lugar a uma relação muito mais casual. — Só espera! Não vem chorar pra mim depois que te espancarem até virar geleia!

— Relaxa, eu vou ganhar.

Enquanto Adam falava, uma nova comoção tomou conta da arena, seu oponente havia entrado no palco.

Em comparação com Adam, o adversário claramente tinha mais torcida. Os espectadores gritavam seu nome com entusiasmo. Era evidente que muitos haviam apostado alto nele.

— Homem de Ferro! Homem de Ferro! Homem de Ferro!

— Acaba com ele, Homem de Ferro! Esmaga ele!

Dessa vez, o oponente de Adam era um adaptador de verdade, e não uma pessoa comum usando dispositivos externos pra turbinar as funções neurais.

Pelas tatuagens no rosto, dava pra ver que ele era um adaptador local da Cidade das Sombras, o que explicava sua popularidade.

Tinha o perfil clássico dos residentes locais: caótico e insano. Assim que entrou na arena, engoliu um tipo de bebida estranha com altíssimo teor alcoólico, depois puxou um isqueiro e cuspiu a bebida na chama aberta.

As chamas subiram mais de meio metro de altura, e ele pulou dentro do ringue enquanto gargalhava de forma maníaca.

Depois olhou para baixo, encarando Adam, que ainda não havia entrado, e gritou:

— Se implorar por misericórdia agora, eu deixo você viver! Caso contrário, vou arrancar seus membros e te transformar num vegetal!

— Faltou um parafuso aí?

Adam arqueou uma sobrancelha e deu leves batidinhas na lateral da própria cabeça num gesto provocativo, tanto pra fazer cena quanto pra tirar um pouco da pose do adversário.

Impulso e confiança eram partes essenciais do poder de uma persona, e a diferença no nível de confiança entre dois combatentes podia ter um impacto considerável em suas forças no mundo psíquico.

Depois de tantas lutas, Adam já estava acostumado com esse tipo de ritual antes do combate.

— E como exatamente você vai arrancar meus membros? Com essa boca enorme aí? Olha, tenho um membro extra entre as pernas… quer arrancar esse também? — zombou Adam ao pular no ringue.

Suas palavras provocativas ecoaram por todo o estádio através dos alto-falantes, arrancando gargalhadas estrondosas da plateia.

O Homem de Ferro explodiu de raiva ao ouvir aquilo.

— O que foi que você disse, seu filho da… Eu vou…

— Se acalma! — gritou seu gerente debaixo do ringue. — Vai perder o controle desse jeito! Fica frio e devolve na luta!

— Tem razão. — O Homem de Ferro apontou diretamente para o nariz de Adam e cuspiu as palavras entre os dentes cerrados. — Vou te matar mesmo que me multem por isso, tá ouvindo?

Ele então passou o polegar pelo próprio pescoço, simulando um corte.

— Então vem me matar, se for capaz!

— Ele tem desejo de morte, é isso? — Hailey estava quase chorando com as provocações constantes de Adam. — Por que você não luta normalmente? Não precisa fazer esse show todo! O público só quer ver o espetáculo, eles não se importam com o que vai acontecer com você! Ele vai mesmo te matar se continuar assim! A gente precisa desistir da luta. Vou chamar os funcionários da arena…

— Ei, não faz isso…

— O que vocês estão aprontando aí?

Nesse momento, Shae entrou na arena com a maior calma.

— Por que você só chegou agora?

— Qual o problema? Fui pegar um sorvete. Vou te dizer, o sorvete aqui da Cidade das Sombras é o melhor que já experimentei, principalmente o sabor explosão de sangue. Que fruta será que usaram naquilo? Tem um sabor tão único. Aqui, comprei um pra você também.

Shae ofereceu o sorvete a Hailey enquanto falava.

— Agora não é hora de comer sorvete! Ele tá prestes a ser espancado até a morte!

— Por que esse pessimismo todo? — disse Shae, dando de ombros com indiferença.

— Ele não vai vencer o Homem de Ferro!

— Vi as gravações das lutas dele. Ele é forte, sim, mas não vai derrotar o Adam. Pode ficar tranquila.

— Você…

Enquanto as duas discutiam, o apresentador já havia subido ao palco. Aquela era uma luta importante, e ele queria garantir que tudo corresse bem, então, ao subir, começou logo a inflamar o público.

— Acho que ouvi alguém chorando agora há pouco. Quem, você pergunta? A gerente do Máquina Mortífera, é claro! A garotinha tá chorando porque sabe que o lutador dela vai morrer!

A plateia caiu na risada mais uma vez, interrompendo Hailey antes que pudesse dizer qualquer coisa. Apesar de ser uma gerente profissional, ela ainda era uma garota, e ouvir tantas pessoas rindo dela a fez sentir como se estivesse sendo queimada viva. Ficou sem saber o que responder.

No fim, tudo o que conseguiu dizer foi um indignado:

— Eu não chorei!

O público se divertiu ainda mais com isso.

Percebendo que havia distraído Hailey o suficiente para impedir que ela cancelasse a luta, o apresentador foi direto ao ponto.

— Muito bem, essa luta foi promovida por dias e não quero perder mais tempo com conversa. Todos vocês pagaram pra ver esses dois brigarem, não pra me ouvir falar, então sem mais enrolação… combatentes, estão prontos?

— Já consigo sentir o cheiro de sangue no ar.

O Homem de Ferro lambeu os lábios enquanto lançava a Adam um olhar carregado de ódio, os olhos vermelhos e injetados.

— É o cheiro do seu próprio sangue? — respondeu Adam, estalando o pescoço de um lado para o outro. — Anda logo, começa logo essa luta!

— Então vamos começar o show! Acendam os projetores… e que comece o combate!