Capítulo 28: Lamentável
Antes que Adam pudesse responder, Caubói continuou:
— Nossa organização conseguiu certas informações, informações que são verdadeiras bombas. Quer ouvir? Está vendo aquelas pessoas lá fora, sendo usadas como brinquedos? Você as acha dignas de pena?
— Acho.
— Quem as sustenta do lado de fora é ainda mais digno de pena. Aqueles que não conseguem ganhar moeda virtual o suficiente para se manter, desde que ainda tenham alguém lá fora, cônjuge, filhos, nenhum deles estaria disposto a deixar alguém tão próximo morrer de verdade. Vão reclamar do sistema o tempo todo, mas ainda assim trabalhar duro para sustentar seus entes queridos no Metaverso. Mas sabe qual é a parte mais absurda? Essas pessoas… já estão mortas.
— O que você quer dizer com isso?
O aspecto mais sedutor do Metaverso 12.0 era sua promessa de conceder imortalidade aos entes queridos, mas agora Adam estava ouvindo que todos no Metaverso já estavam mortos?
— Quero dizer no sentido literal mesmo, sem nenhum significado oculto. Todos os dados que eles armazenam são incompletos ou até falsos. É realmente um estado lastimável — suspirou Caubói, cerrando os punhos com força. — O banco de memórias de um ser humano é imenso demais. A capacidade teórica do cérebro humano médio supera a de 10.000 bibliotecas, o que significa que carregar a própria persona no Metaverso exige uma quantidade absurda de memória. O Metaverso realmente tem capacidade para armazenar tudo isso? Mesmo que tivesse, os custos seriam altos demais para qualquer pessoa comum.
— Então o que são aquelas pessoas dentro do Metaverso?
— São todas manifestações de dados incompletos, falsos ou até simulados. É muito difícil carregar uma persona completa. Por outro lado, acessar todas as memórias é algo bem mais simples.
Apesar da revelação ser chocante, Caubói falava com a maior naturalidade.
Adam sabia: se Caubói estivesse dizendo a verdade, então o Metaverso era a maior mentira do século — uma mentira que escravizou a humanidade inteira.
— Por que está me contando algo tão importante e impactante?
— Agora estamos no mesmo time, então é justo dividirmos o que sabemos. Além disso, contar tudo isso pra você não muda nada, porque você não vai conseguir divulgar essa informação. Eles controlam toda a mídia e todos os direitos de fala. Agora é sua vez — me diga tudo que sabe sobre a fazenda de humanos. Com base nessas informações, poderemos recrutar pessoas valiosas para nossa causa. Mexer com a comunidade dos adaptadores não é coisa simples.
Após ouvir tudo o que Caubói disse, Adam assentiu e revelou tudo o que sabia.
— Entendo… então está relacionado à Dente Dourado Inc., e ela faz parte do conglomerado de mídia deles. Isso é informação valiosa, impacta diretamente os interesses dos adaptadores e fere as leis impostas pela Guarda Mecânica. Com isso, teremos alguma vantagem contra os figurões que já usaram quadros em branco. Mas, se quisermos realmente pegar o touro pelos chifres, será necessário investigar mais a fundo.
Caubói deu leves batidinhas na mesa antes de continuar:
— Você quer segurança e descobrir a verdade. Eu quero tomar o controle da mídia. Nossos objetivos estão alinhados. Posso te fornecer os fundos para apoiar sua investigação, e em troca, você me entrega todas as informações que descobrir. Fechado?
— Parece bem justo — respondeu Adam com um aceno. — Na verdade, esse acordo até me favorece. Tenho só uma última pergunta: se você já é tão rico, por que ainda aceita missões de matador?
— Só aceito missões que parecem contraintuitivas. Eventos anormais sempre indicam circunstâncias anormais, e essas circunstâncias são fontes de informação. Eu não preciso do dinheiro. O que me interessa mesmo é reunir informações úteis.
— Entendi.
A conversa entre os dois terminou ali.
Pouco depois, Caubói atendeu uma ligação e partiu para resolver alguns assuntos. Antes de sair, fez vários preparativos, incluindo contatar o tal mestre entre os adaptadores da classe invocadora e pagar as mensalidades de Adam.
Dada a preocupação com a segurança de Adam, ele decidiu permanecer no prédio da empresa. O nível de segurança ali era altíssimo, mesmo que outros matadores viessem atrás dele, seria muito difícil agirem naquele local.
Adam passou a noite toda acordado dentro do prédio, usando o computador para estudar profundamente sobre personalidades. Após essa noite de estudo intensivo, compreendeu que o banco de memórias do cérebro humano era imenso, capaz de armazenar o equivalente a 50.000 bibliotecas gigantescas. Mesmo usando a tecnologia mais avançada de armazenamento, uma quantidade de dados desse porte ainda colocaria um fardo enorme sobre qualquer sistema.
Apesar de o banco de memórias ser tão vasto, a quantidade de coisas que uma pessoa consegue lembrar com clareza é extremamente limitada. O cérebro armazena informações triviais, como a cor das flores vistas em um jardim na infância, mas a pessoa não consegue recordá-las. O cérebro retém a vividez das penas de um pássaro avistado na adolescência, mas isso também não é lembrado com clareza.
O cérebro desfoca essas memórias e as molda, transformando-as em parte do humor e da personalidade da pessoa. Essas memórias aparentemente inúteis e triviais formam a maior parte da base da personalidade.
E isso só falando da área de memória. As áreas do cérebro responsáveis por criatividade e emoções também desempenham papéis essenciais na formação da personalidade.
Se tudo isso fosse descartado, restando apenas as memórias, a inteligência artificial poderia ser usada para simular a personalidade de alguém, e isso não seria muito diferente de criar um personagem de romance.
“Então é isso que tem acontecido no Metaverso…”
Depois de reunir todas essas informações, Adam fechou os olhos para descansar um pouco.
Ele chegou à conclusão de que a crise de memória era a verdadeira razão pela qual os gigantes da tecnologia estavam enganando o mundo inteiro.
Na manhã seguinte, Adam deixou o prédio da empresa e seguiu imediatamente para a residência do mestre invocador.
Assim como havia dito a Caubói, sua prioridade máxima no momento era a própria segurança. A menos que a gigantesca recompensa por sua cabeça fosse retirada ou que desenvolvesse suas habilidades a ponto de conseguir se proteger sozinho, ele precisava agir com extremo cuidado o tempo todo.
“Com um adaptador tão poderoso vivendo aqui, esse lugar deve ser seguro.”
Quando Adam chegou à residência do mestre com o endereço que havia recebido, o dia estava apenas começando a clarear. Era uma propriedade estranha, que parecia ter sido reformada a partir de algum tipo de centro esportivo, ocupando uma área enorme sob um telhado de vidro.
Assim que chegou, Adam tocou a campainha, e duas fileiras de belas mulheres usando uniformes de empregada surgiram do interior da propriedade. Após verificarem sua identidade, uma governanta o conduziu para dentro.
Todo tipo de planta crescia no pátio, complementado por pavilhões e terraços elegantes, além de pequenas pontes arqueadas sobre riachos de água corrente. Era um pátio projetado com extremo bom gosto.
— O mestre ainda está dormindo, então, por favor, aguarde aqui por enquanto. Se precisar de qualquer coisa, é só me chamar. — A governanta convidou Adam a se sentar em um dos pavilhões e mandou que as empregadas levassem vários tipos de frutas e petiscos até ele.
O que se seguiu foi uma longa espera.
Adam não pretendia comer nada daquilo, mas foi forçado a aguardar das 6h da manhã até as 2h da tarde, um total de oito horas. Durante esse tempo, a fome e a sede acabaram vencendo, e ele acabou comendo.
Somente depois das 14h, quando a paciência de Adam já tinha se esgotado, é que uma figura idosa surgiu de forma despreocupada.
— Ahh, foi uma noite de sono maravilhosa. — O velho era tão magro e pequeno quanto um macaco, mas usava um enorme e folgado roupão de dormir. Um diagrama dos oito trigramas estava bordado nas costas do roupão, cuja barra arrastava pelo chão. — Então você veio. Qual era o seu nome mesmo? Aiden?
— Adam.
— Ah, Adam, isso mesmo. — O velho bocejou enquanto se acomodava no pavilhão, pegando um punhado de castanhas do prato à sua frente. — Alguém já pagou uma semana das suas mensalidades. O que você quer aprender?
— Quero aprender habilidades de sobrevivência, algo que me permita me proteger — respondeu Adam. Isso era o que ele mais precisava no momento. — Se possível, também quero aprender a controlar entidades invocadas.
— Certo, vamos falar primeiro sobre as habilidades de sobrevivência.
O velho mordeu uma noz, e, com o estalo da casca quebrando, Adam notou uma mudança na paisagem ao redor, e então percebeu que já estava no mundo psíquico.
— Se você quer se proteger, primeiro precisa ser sensível. — O velho ainda mastigava a noz dentro do mundo psíquico. — Não importa se alguém está invadindo seu mundo psíquico ou se arrastou você para o mundo psíquico deles — você tem que perceber a mudança imediatamente. Sensibilidade é a primeira chave para a autopreservação. Diga, você sabe quando foi puxado para o mundo psíquico?
— Quando você mordeu aquela noz.
— Errado. Eu já tinha feito isso quando falei sobre a maravilhosa noite de sono que tive. Se nem isso você consegue perceber, um verdadeiro mestre das ilusões vai conseguir te prender num sonho eterno do qual você nunca vai escapar — suspirou o velho. — Sinceramente, é a primeira vez que aceito um aluno tão fraco. Se o Caubói não tivesse me dado tanto dinheiro pra cobrir suas mensalidades, eu já teria te mandado embora!
Adam não tinha como rebater as críticas duras do velho. Já suspeitava que qualquer um que conseguisse chegar àquele lugar e pagar aquelas mensalidades absurdas deveria ser, no mínimo, um adaptador bastante competente, se não um mestre.
Mas ele nem sequer havia se formado na Academia Layton. Não se qualificava nem como um novato. Era como mandar um aluno do primário direto para um orientador de doutorado, não era de se espantar que estivesse sendo desprezado.
— Todo matador especializado em assassinatos psíquicos vai usar técnicas enganosas ao executar um ataque, mesmo que essas técnicas não sejam tão fortes. Eles não vão deixar você perceber de imediato que foi puxado para o mundo psíquico. Depois disso, vão se esconder, e só então terão a melhor chance de completar o assassinato. A primeira lição que você precisa aprender é manter a sensibilidade e a atenção em tempo integral, e também ser capaz de discernir auras.
— No mundo real, todas as coisas têm sua própria aura, seja carro, árvore, rua, mulher, poste, inseto… Essas auras são compostas por incontáveis elementos, como os vestígios deixados pelo vento ao passar por esses objetos, os cheiros que emitem, o grau com que refratam a luz. O que você precisa lembrar é que sempre haverá discrepâncias entre as auras das coisas no mundo psíquico e no mundo real. Por isso, a primeira coisa que você precisa aprender é a discernir auras.
— Só depois de dominar essa habilidade é que vou te ensinar outras coisas. Se não conseguir aprender dentro de uma semana, vá embora por vontade própria. Não tem por que continuar aqui. Não importa o quão poderoso seja um adaptador da classe invocadora, se ele não sabe discernir auras, está sempre vulnerável a morrer na mão até mesmo do mais fraco dos matadores.
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