Capítulo 36: Negócios

Levou menos de um segundo para que eles fossem teleportados da estação espacial para o pavimento de concreto onde estavam agora, e o cenário ao redor havia mudado completamente.

O céu estava cheio de balões de ar quente e dirigíveis. Faixas horizontais estavam presas aos dirigíveis, e os balões de ar quente também estavam cobertos de anúncios de todos os tipos de produtos, como itens de uso diário, diversas bebidas e diferentes marcas de tênis esportivos.

A área ao redor também era extremamente animada e movimentada. Algumas pessoas passavam apressadas, enquanto outras vendiam todo tipo de item. Esses itens também eram bastante diversos, como ingressos para jogos, itens e equipamentos, além de haver pessoas vendendo informações.

— Este é o maior mercado da Terra. Sua casa de penhores também possui um terreno aqui — explicou Gancho com uma voz despreocupada.

No entanto, Adam não estava olhando para nada daquilo. Em vez disso, sua atenção estava voltada para as pessoas ao redor.

Esse mercado também estava cheio de gente, mas a maioria era composta por trabalhadores, pessoas que não eram diferentes daquelas que interpretavam zumbis e operários no mundo dos jogos. Muitos ali usavam crachás publicitários pendurados no pescoço e realizavam danças estranhas ou gritavam em voz alta, fazendo de tudo para chamar a atenção das pessoas no mercado.

Havia mais trabalhadores do que comerciantes presentes, e até mesmo os turistas eram superados em número pelos trabalhadores.

Não apenas a maioria das pessoas nesse mundo era pobre, como o número de indivíduos falecidos também estava gradualmente superando o de vivos.

Para a maioria das pessoas que faleciam, uma vez que suas personas eram carregadas no Metaverso, elas precisavam encontrar um emprego para se sustentar e pagar pela memória que consumiam.

Sempre que Adam pensava no fato de que esses ciber-lichs eram apenas marionetes que acreditavam ainda estar vivos, mas na verdade estavam privados da maior parte da essência que os constituía, ele era tomado por um sentimento de pena.

De certo modo, esses ciber-lichs eram tão lamentáveis quanto os quadros em branco. Uns haviam perdido seus corpos e viviam como almas quebradas servindo como mão de obra para outros, enquanto os outros haviam perdido suas almas, e seus corpos estavam sendo usados como recipientes para outra pessoa.

— Merda!

— O que foi? Por que ficou tão agitado de repente? — perguntou Nie Yiyi, virando-se para Adam com uma expressão curiosa. — Viu alguma coisa?

Ela olhou ao redor e constatou que tudo parecia bastante normal.

— Eu não vi nada não.

Adam balançou a cabeça em resposta. Aquela cena supostamente normal ao redor deles, para ele, não era diferente do inferno.

— Que diabos está acontecendo com você, então? Se controla!

Pragmática como sempre, Nie Yiyi abriu a interface e começou a procurar lojas que atendessem aos seus requisitos.

Ela digitou alguns termos-chave na interface flutuante à sua frente para restringir o escopo da busca.

— Vamos ver, nosso negócio será sediado na Cidade de Sandrise… Psicoterapia… Adaptadores… Serviço de baixo custo…

Com base nesses termos, sua busca retornou uma determinada área.

— Vamos dar uma olhada?

— Vamos.

Os três tocaram no botão de teletransporte um após o outro, desaparecendo novamente em meio a explosões de luz branca e, quando reapareceram, já estavam na Rua Cosmos, Planeta do Comércio, Metaverso.

Em contraste com a rua em que estavam anteriormente, essa era muito menos movimentada, e as lojas próximas tinham um design muito mais reservado e discreto, conferindo-lhes uma aura de mistério.

Depois de observar os arredores, Adam descobriu que as lojas ali ofereciam principalmente dois tipos de serviço, sendo o primeiro a psicoterapia e o segundo a adivinhação astrológica. Adam não fazia ideia de como esses dois serviços aparentemente sem relação alguma haviam acabado juntos naquela rua, mas, após aceitar essa combinação, achou-a bastante curiosa.

“Isso não era para ser um serviço de baixo custo? Parece que o terreno aqui é bem caro, pensou Adam enquanto fazia cálculos mentais com seu orçamento.”

Ele estava completamente sem dinheiro.

— Pode até ser um serviço de baixo custo, mas ainda é oferecido por adaptadores. Você acha que isso é o mesmo que montar uma barraca de comida na calçada?

Enquanto Adam ainda hesitava sobre como prosseguir, alguém se aproximou dele.

Em contraste com os trabalhadores comuns, o rosto e os olhos daquele homem eram claramente mais expressivos, então era evidente que se tratava de uma ‘pessoa viva’ com dados de personalidade mais completos.

— Vieram para uma adivinhação astrológica ou para psicoterapia? Sou o guia universal desta área e sou responsável por todos os negócios imobiliários daqui. — Era um jovem de traços asiáticos, que exibia um sorriso caloroso enquanto se apresentava. — Podem ficar tranquilos, somos uma empresa legítima, e é totalmente dentro das normas e regulamentos assumirmos todos os serviços imobiliários desta área.

Enquanto falava, ele abriu seu cartão de visitas eletrônico e também um certificado assinado pela consciência principal do Metaverso.

Ao verificar que o homem possuía todos os documentos eletrônicos exigidos, Adam e os outros se sentiram bem mais tranquilos.

— Estamos aqui para ver pontos comerciais.

— Ah, então vieram por causa dos serviços imobiliários. Isso está dentro do escopo do que oferecemos.

O cartão de visitas revelou que o nome do jovem era Kim Hee-cho, e seu sorriso se alargou ainda mais ao ouvir que o trio estava em busca de um ponto comercial.

Negócios imobiliários eram o serviço mais lucrativo que ele podia oferecer.

— Vocês estão interessados em comprar ou alugar um ponto?

— Quanto custa o aluguel de um ponto nessa área?

— As taxas mensais de aluguel variam entre 120 mil e 180 mil.

— Hã? — A expressão de Gancho desabou imediatamente ao ouvir esse valor. Mesmo sendo um frequentador do Metaverso, ele nunca havia prestado muita atenção às informações sobre aluguéis. — Por que os imóveis aqui são tão absurdamente caros?

— Hoje em dia, todo mundo procura os serviços que quer no Metaverso. Além das reuniões presenciais serem possíveis aqui, a locomoção também é muito mais prática do que no mundo real. Além disso, como diferentes tipos de negócios têm áreas próprias, não apenas há um giro maior de empreendedores, como eles também atraem mais clientes…

— Mesmo assim, cobrar mais de cem mil por mês é demais!

Para o trabalhador médio no mundo real, a renda mensal era de apenas alguns milhares, então esse valor era uma quantia astronômica a se cobrar.

— Cada propriedade aqui tem um valor de mercado superior a dez milhões, então uma taxa de aluguel acima de cem mil por mês nem é tão absurda assim. Além disso, adaptadores ganham bem mais do que as outras pessoas. Talvez uma única sessão de psicoterapia renda o equivalente a três meses de aluguel.

— Adivinhos também ganham tudo isso?

— Talvez você não saiba, mas na região leste há muitos ricos devotos do feng shui. Sabe o que é feng shui? Um mestre pode cobrar centenas de milhares, até mais de um milhão por uma única inspeção. Existem apenas dois tipos de adivinhos aqui: os mestres renomados em círculos abastados e os mestres de adivinhação com muitos fãs nas redes sociais. Essas ciber-estrelas jovens conseguem faturar dezenas de milhões por transmissão ao vivo, além de conseguirem patrocínios.

— É caro demais. Vamos embora — disse Adam, balançando a cabeça. Ele já tinha pagamentos mensais de cem mil por conta de um empréstimo, então arcar com mais cem mil de aluguel era completamente inviável.

— Esperem só um segundo. — Kim Hee-cho já trabalhava no mercado imobiliário do Metaverso havia sete ou oito anos, e quando se tratava de avaliar pessoas, seus olhos eram afiados como os de um falcão. Como responsável por todos os negócios da área, ele não deixaria escapar nenhuma oportunidade de fechar um contrato.

— Pelo pouco que vocês sabem sobre adivinhação, estou assumindo que pretendem oferecer serviços de psicoterapia, o que significa que devem ser adaptadores, certo? É muito comum que adaptadores jovens como vocês tenham imenso potencial, mas nenhum capital para iniciar um negócio. Eu proponho…

— Não vou pegar empréstimo nenhum.

— Tudo bem. O que eu ia propor é uma colaboração. Comprei uma loja aqui e posso cedê-la a vocês gratuitamente, mas, como proprietário, quero 30% dos lucros. Isso soa razoável para vocês?

— Muito razoável.

— Contudo, além disso, estipularei uma meta mínima de desempenho mensal no contrato e, se vocês não a alcançarem em três meses, terei que despejá-los. Isso também soa justo, não é? — disse Kim Hee-cho com um sorriso astuto.

Essa era uma tática que ele usava com frequência.

Ele sabia que psicoterapeutas adaptadores nunca ficavam sem trabalho, mas a taxa de mortalidade na profissão era muito alta para quem não sabia se proteger.

No entanto, se eles viveriam ou morreriam não era problema dele. Tudo que lhe importava era se conseguiria lucrar com aquilo.

Além do mais, independente do que acontecesse, era uma escolha deles, não era?