Capítulo 40: Chloe, a Abusadora de Cães
A voz vinha de dentro do vestiário, e Chloe estava parada na entrada, claramente, ao alcance de ouvir tudo.
— Ah, agora entendo por que ela tem tanto ressentimento da mãe. Os outros alunos descobriram que ela é uma stripper virtual. Não consigo pensar em muita coisa mais humilhante do que isso — comentou Gancho, com um olhar de simpatia no rosto. — Quando eu era mais novo, também vivia sendo zoado porque meus pais tinham um bar.
— E o que aconteceu depois?
— Criei uma pele grossa como uma muralha — disse Gancho, apontando para o próprio rosto. — Depois disso, nada mais me afetava. Mas parece que o que estão dizendo aqui tá machucando bastante a Chloe.
De fato, assim que Chloe ouviu aquelas palavras, as luzes acima da quadra começaram a piscar, sinal claro de seu tumulto emocional.
Ela ainda tinha esperança de que seu namorado ou paquera fosse dizer algo em sua defesa, apesar do aperto que já sentia no estômago.
— Ha! Ela não chega nem perto da mãe! Nunca comi, nem quero. Não tenho interesse em tábua sem graça que nem ela, mas não me importaria de levar a mãe dela pra cama pra uma diversão…
Boom!
Um trovão estrondoso ecoou acima, e todas as luzes do ginásio se apagaram instantaneamente, enquanto Chloe saía correndo do estádio.
No mundo real, Karen assistia à cena e suspirava.
— Agora entendo por que ela me odeia tanto…
— Você se arrepende de ter entrado nessa… profissão?
— Não. Claro que não é o trabalho mais respeitável do mundo, mas dez anos atrás, eu não tinha nada. Esse trabalho me ajudou a pagar as contas e a fugir da área onde vivia antes, que era dominada por gangues e tiroteios. Me permitiu comprar este apartamento de alto padrão e criar minha filha. Não tenho arrependimentos — respondeu Karen, balançando a cabeça. — Pra alguém como eu, que rastejou pra fora do inferno, esse tipo de sacrifício não é nada. Mas ela… ela não consegue suportar as mesmas coisas que eu. Ainda é muito jovem…
— Você poderia mudar de identidade. O Metaverso não oferece um serviço de reatribuição de identidade?
— ‘Twerking Karen’ é uma propriedade intelectual. É um nome que uso há dez anos, e existe uma base de fãs por trás dele. Hoje em dia, há incontáveis streamers e strippers virtuais desconhecidas, e o surgimento das idols virtuais só dificulta ainda mais essa profissão. Eu não posso me dar ao luxo de abandonar meu nome.
— Isso faz sentido.
Como homem de negócios, Kim Hee-cho sabia que não era fácil ganhar dinheiro em nenhuma profissão.
Infelizmente, não bastava simplesmente tirar a roupa e esperar que jogassem dinheiro.
Se abandonasse sua base de fãs e recomeçasse do zero, talvez nem fosse contratada por nenhum dos grandes clubes de strip do Metaverso. Esses lugares não contratavam qualquer uma. O palco era limitado, e apenas as strippers mais rentáveis tinham espaço ali.
— Não tenho escolha. Quando comecei, não pensei no futuro. Se eu soubesse que isso ia acontecer, não teria usado meu nome verdadeiro — disse Karen, dando de ombros com resignação. — Se soubesse que isso afetaria tanto minha filha, teria me chamado de ‘Twerking Cherry’. Esse nome é muito mais sedutor, de qualquer forma.
Karen tinha sua filha em alta estima, mas assim como o Porco Desvairado, havia subestimado a resistência emocional e psicológica dela. Ambos pensaram que seus filhos desmoronariam diante de algumas provocações na escola, mas a realidade era que eles não eram tão frágeis assim.
Dito isso, esse episódio havia, de fato, deixado uma marca profunda em Chloe.
Depois de ouvir a conversa no vestiário, Chloe saiu correndo pelo corredor com lágrimas escorrendo pelo rosto, mas logo foi interceptada por Adam e Gancho.
Ao pará-la, Adam juntou o punho esquerdo sobre a palma da mão direita e estalou os dedos, se preparando para a surra que estava prestes a dar.
— Não derrame lágrimas por lixo como ele. Vamos dar uma lição nele por você.
Pela experiência que havia adquirido na missão anterior, Adam sabia que estabelecer uma conexão positiva com o alvo da missão traria grandes benefícios para o progresso dela. E, com isso em mente, queria assumir o papel de herói naquele cenário.
— Quem é você?
No mundo psíquico, Chloe não se lembrava de Adam. Eles haviam acabado de se conhecer no mundo real, então, naquele ponto específico da memória, ela obviamente não fazia ideia de quem ele era.
— Somos defensores da justiça. O que aquelas pessoas fizeram com você é imperdoável. Espere aqui. Vamos dar uma surra naqueles desgraçados por você!
Depois de declarar isso, Adam atravessou o corredor e chegou ao vestiário, escancarando a porta com um chute violento.
— Quem foi que estava falando mal da Chloe pelas costas agora há pouco? Foi você, não foi?
Enquanto falava, Adam avançou até o garoto mais alto no vestiário e desferiu um soco brutal em seu estômago, fazendo-o voar dois ou três metros para trás.
— Mas que porra é essa?!
Vale dizer que os colegas de equipe do garoto eram bastante leais, e imediatamente correram para cima de Adam para revidar, só para serem derrotados com facilidade por Gancho.
— Ahhh, acho que vou viciar nisso!
Gancho uivava em catarse alegre enquanto espancava o time sozinho.
Sua habilidade de combate era bem fraca, e o mesmo valia para o corpo psíquico de Adam, já que ele era um invocador, mas isso era relativo.
Quando enfrentavam aberrações, anomalias e assassinos adaptadores, os corpos psíquicos dos dois eram de fato inferiores. Mas contra pessoas normais? Eles davam conta com sobras. Afinal, o corpo psíquico de Adam já havia passado por múltiplos aprimoramentos, e ele e Gancho eram como dois lobos soltos dentro de um curral de ovelhas, aplicando uma surra generalizada em todos à vista.
— Então é assim que se sente dominar uma batalha! — disse Gancho, suspirando com uma expressão levemente melancólica depois de arremessar o último jogador com seu punho mecânico gigante. — É solitário no topo.
— Vamos.
O objetivo de iniciar aquela briga era conquistar a simpatia da paciente, e, após espancar o time inteiro, Adam voltou para fora e encontrou Chloe ainda com os olhos marejados.
— Não chore, já demos uma boa lição em todos os que falaram mal de você lá dentro!
— Vocês não deviam sair por aí agredindo os outros assim — murmurou Chloe, fungando. — Mas… obrigada por fazerem isso por mim.
— Sem problema. Se quiser agradecer alguém, agradeça à sua mãe. Foi ela quem nos contratou.
— Minha mãe?
Uma expressão complexa surgiu no rosto de Chloe ao ouvir a menção à mãe, e todas as pessoas ao redor começaram a desaparecer lentamente, uma a uma.
— O que está acontecendo?
— Está tudo bem. Isso é só um sinal de que essa cena da memória já chegou ao fim.
Gancho era mais experiente do que Adam no funcionamento dos mundos psíquicos. Estava na academia há mais tempo e, além do conhecimento teórico básico, a instituição também enfatizava bastante os detalhes práticos.
— Mencionei a mãe dela de propósito pra tentar evocar outras memórias — explicou Gancho, puxando seu telescópio. — Vamos continuar.
— Tem mais coisa nisso. Essa lembrança certamente causou um impacto forte, mas não é algo tão grave assim — disse Adam, convicto. Sabia que jovens da idade dela não eram tão frágeis assim.
Kim também havia sofrido bullying, mas a verdadeira origem do transtorno de estresse pós-traumático vinha de ter presenciado aquela fábrica humana.
Mesmo um adulto ficaria profundamente perturbado ao testemunhar algo tão horrível, tendo pesadelos recorrentes, que dirá uma criança.
Quando se tratava de rastrear alguém dentro de um mundo psíquico, Gancho era especialista.
Adam o seguiu para fora do ginásio e da escola, até que chegaram à próxima configuração de memória.
Momentos antes, ainda era dia, mas agora, nessa cena, já era noite. Chloe estava perseguindo um cachorro de rua na escuridão e, ao alcançá-lo, amarrou o animal antes de começar a espancá-lo brutalmente com um pedaço de madeira.
— O que ela está fazendo?
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