Capítulo 42: Orgulhosa
Ainda assim, uma anomalia era uma anomalia. Por mais fraca que ela pudesse ser, Gancho não ousava enfrentá-la.
— Combinamos que eu ficaria apenas com a parte de reconhecimento. Não vou lutar com ninguém!
— Eu sei, eu sei — Adam tranquilizou enquanto invocava o Cão Infernal e começava a se fundir com ele.
Após a transformação, ele havia se tornado mais forte, e sua aparência também estava consideravelmente mais aterrorizante. Apenas em termos de aparência física, ele não parecia menos sinistro do que a anomalia do palhaço.
Contudo, ele não atacou de imediato, pois queria ver o que aconteceria a seguir.
De acordo com as memórias de Chloe, o que acontecia em seguida era o pagamento da conta, seguido da saída do grupo. Depois que ela voltou para casa, teve outra discussão com a mãe, e isso foi seguido por uma noite aparentemente sem sono.
No entanto, no meio de tudo isso, havia um trecho de memória que havia sido ocultado, e Adam queria ver exatamente o que havia acontecido naquela linha do tempo sob a Névoa da Verdade.
— Vamos…
Após a aventura no speakeasy, Chloe e suas amigas começaram a sair.
Elas estavam relativamente atentas e conscientes da segurança, como demonstrava o fato de permanecerem juntas em grupo ao deixarem o speakeasy.
Logo após a saída, a anomalia do palhaço também deixou o local para segui-las.
E então, a cena sumiu por completo.
O speakeasy ficava em uma área subterrânea, e ao subir pelo elevador até o nível do solo, chegava-se ao fim de um beco escuro. No entanto, o grupo de garotas havia avançado apenas até cerca da metade do beco quando um disparo soou repentinamente. O som do tiro e o clarão da boca do cano lançaram o grupo em um estado de pânico cego, e elas começaram a fugir desesperadamente. Nesse exato momento, um par de mãos saiu das sombras e agarrou Chloe.
— É aqui! É aqui que o problema começou!
Adam imediatamente saltou nesse momento, mas, no instante em que tentou capturar o palhaço, foi subitamente tomado por uma sensação turva, seguida de uma pontada aguda de dor no braço.
Logo em seguida, Adam foi retirado do mundo psíquico.
Ao retornar ao mundo real, Adam se encontrou novamente no quarto de Karen e descobriu que Kim Hee-cho havia sido quem lhe enviara a notificação de desconexão.
— Por que você fez isso?
— Por que você fez isso?
Tanto Adam quanto Karen levantaram a mesma pergunta em uníssono.
— Vocês estão nos pagando oitenta mil para descobrir a causa do estado da sua filha, e a causa foi descoberta — explicou Kim Hee-cho enquanto desligava a projeção. — Não há contrato, nem mesmo um acordo verbal, para a prestação de serviços adicionais. Você recebe aquilo pelo que paga. Não somos uma instituição de caridade, concorda, Adam?
Adam ficou em silêncio ao ouvir isso.
De fato, a parte mais difícil do trabalho ainda estava por vir.
O palhaço não parecia tão poderoso, mas seria extremamente tolo julgar uma anomalia emocional apenas pela aparência.
Havia um grande risco envolvido em lutar contra anomalias, e ele realmente precisava do dinheiro. O valor de oitenta mil estava muito abaixo do preço de mercado para erradicar uma anomalia emocional.
— De acordo com a tarifa atual de mercado, até mesmo um psicoterapeuta adaptador não qualificado cobraria pelo menos centenas de milhares para erradicar uma anomalia emocional desse calibre — disse Kim Hee-cho em um tom calmo, completamente indiferente à fúria de Karen. — Estamos apenas cobrando por um serviço. Não é nada pessoal, então não há motivo para se irritar.
Tudo o que Kim Hee-cho havia acabado de dizer fazia bastante sentido, e ao olhar para a filha, que começava a despertar, Karen também percebeu o quão sério o problema era. Se as coisas continuassem daquele jeito e o trauma emocional de Chloe permanecesse sem tratamento, havia uma grande chance de seu comportamento se tornar ainda mais extremo no futuro.
Karen assentiu em resposta. No mundo real, ela não fumava. Em vez disso, tirou uma goma de mascar como substituto.
— Certo, vamos voltar aos negócios. Concordo com o que você disse, mas o que me contou antes indica que vocês cobram uma taxa bem mais baixa do que outros na mesma área. Se eu tivesse centenas de milhares para gastar resolvendo esse problema, por que teria vindo até vocês?
— Porque nossos adaptadores não são menos competentes do que os dos concorrentes — respondeu Kim Hee-cho enquanto apontava para Gancho como exemplo. — Você o viu agora há pouco. Acha que uma clínica de psicoterapia comum com adaptadores conseguiria oferecer um batedor tão excepcional?
Apesar de a maioria das pessoas comuns não ter a chance de interagir com adaptadores no dia a dia, Karen havia feito algumas pesquisas sobre eles na internet, então sabia que Gancho era, de fato, um excelente batedor, como demonstrava o fato de ter resolvido todos os mistérios tão rapidamente. — Não sei dizer, mas ele realmente fez um ótimo trabalho. Porém, também disse que não participaria de nenhuma batalha.
— Isso é porque ele não precisa lutar. Nossa equipe de combate é ainda mais impressionante! — disse Kim Hee-cho enquanto apontava para Adam. — Viu o lobisomem em que ele se transformou? Acha que aquele palhaço teria alguma chance contra ele? Nenhuma! O poder de um lobisomem já foi retratado em incontáveis filmes. Com ele no trabalho, não haverá nenhum problema.
Na realidade, Adam era mais poderoso do que Kim Hee-cho havia imaginado.
Diferente de uma pessoa comum, ele era um agente de uma área que lidava especificamente com psicoterapeutas e adivinhos, então entrava em contato com adaptadores com muito mais frequência.
Por isso, sabia que era extremamente raro alguém da idade de Adam possuir aquele nível de poder e habilidade.
Além disso, ele conhecia as diferentes classes de adaptadores e, ao que parecia, Adam era um invocador, mas era capaz de se fundir com as entidades que invocava, o que era algo extremamente raro. Na verdade, Kim Hee-cho havia ouvido que apenas adaptadores muito experientes conseguiam realizar isso, então aquilo foi uma surpresa extremamente bem-vinda.
Foi também o motivo pelo qual Kim Hee-cho decidiu aumentar o preço.
— Tudo que você precisa fazer é nos dar mais trezentos mil, e cuidaremos de tudo para você. O que me diz?
— Trezentos mil!? — Karen quase saltou da cadeira ao ouvir isso. — Isso é extorsão! Eu não tenho todo esse dinheiro!
— Posso ajudá-la a conseguir um empréstimo. Você trabalha em uma área de alta renda, então deve conseguir um empréstimo nesse valor.
— Não, não posso. Já peguei o valor máximo em empréstimos — respondeu Karen com um balançar de cabeça. — Usei todos os meus pontos de crédito neste apartamento e nos meus financiamentos.
— Nesse caso, pode hipotecar sua casa para mim — disse Kim Hee-cho, sem demonstrar disposição para fazer concessões.
Nesse ponto, Chloe já havia despertado, e Karen se virou para ela com uma expressão de conflito.
O rosto de Chloe estava vermelho de vergonha e constrangimento ao lembrar da verdade que havia escondido durante todo aquele tempo. Ela era uma garota extremamente orgulhosa e, como resultado, exigia demais tanto de si quanto da mãe.
Adam se recordou de uma das aulas na Academia Layton: o orgulho de uma pessoa estava diretamente relacionado com seu nível de agressividade.
O orgulho excessivo de Chloe a levava a atacar a profissão da mãe ao mesmo tempo em que escondia ativamente o próprio abuso sexual. Não havia um canal por onde ela pudesse extravasar sua agressividade, então, ela acabava descontando isso em animais.
Era um caso bastante típico e comum na psicologia.
Se suas emoções negativas continuassem a se desenvolver sem tratamento, as consequências poderiam ser catastróficas.
Karen olhou para a filha, depois lançou um olhar relutante ao redor do apartamento, como se estivesse sendo forçada a escolher entre as duas coisas que mais amava.
Ela trabalhava como stripper para ter uma vida melhor, mas agora estava sendo forçada a escolher entre a filha e a vida que havia construído.
Após lutar com esse conflito interno por um tempo, tomou sua decisão.
— Certo, vou te dar os trezentos mil…
— Espera aí. — Nesse momento, Adam se levantou. — Quanto dinheiro você tem agora?
— Um pouco mais de cento e vinte mil.
— Tudo bem. Eu aceito o trabalho por cento e vinte mil — respondeu Adam com um aceno de cabeça.
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