Capítulo 59: Asilo Carlin
Assim, a terceira rodada do jogo começou.
Após todos serem vendados, saíram correndo em todas as direções. A maioria dos sobreviventes estava de mãos dadas, deixando o salão em silêncio e se aproximando do escritório. Quando viraram a esquina e saíram da linha de visão do Rei dos Ratos, muitos retiraram as vendas por completo.
Tentavam se comunicar com os olhos, fazendo o possível para reunir os que ainda não haviam sido avisados do plano.
Depois disso, todos avançaram discretamente em direção ao escritório, e conseguiram entrar lá antes mesmo que a contagem até cinquenta fosse concluída.
Após o fim da contagem, Adam fingiu correr em direção ao escritório como parte do jogo. Àquela altura, a maioria dos sobreviventes já havia partido.
Ao abrir a porta, encontrou apenas uma pessoa restante na sala. Era o sujeito que havia agredido Chloe e dado origem à anomalia do Palhaço.
Naquele momento, ele jazia no chão, já morto.
Parecia que sua garganta fora cortada com um estilete usado para papel ali mesmo no escritório, e o sangue se espalhara por todo o piso.
Sem surpresa alguma, a assassina era Karen. Ela era muito mais feroz do que Chloe e, além disso, tinha o motivo para cometer o crime.
Durante todo o processo, o rapaz não fez nenhum som, o que indicava que, além de ter sido vítima de um ataque surpresa, alguém havia ajudado Karen. Se esse cúmplice era Chloe, o namorado de Karen ou outra pessoa, Adam não se importava em descobrir.
De qualquer forma, aquele homem certamente não era inocente e, mais importante, com tantas mortes ali, mesmo que a Guarda Mecânica iniciasse uma investigação, sua morte acabaria sendo atribuída às ações dos mutantes psíquicos.
“Ela aproveitou bem a oportunidade, hein? É por isso que você não mexe com strippers!”
Vendo que não havia mais ninguém por perto, Adam saltou imediatamente para fora da prisão psíquica através da fenda que Gancho havia aberto com tanto esforço.
Ao chegar no mundo real, deparou-se com quase vinte pessoas reunidas no escritório. Com um olhar rápido, Adam percebeu que dez dos doze sobreviventes haviam conseguido escapar. Juntando Chloe, Karen, Gancho e o namorado de Karen, havia um total de quinze pessoas ali.
— O que aconteceu com os outros dois?
— Tentamos sinalizar para virem conosco, mas acho que estavam bêbados demais para entender. Acabaram se escondendo em outro lugar — explicou alguém.
— Certo. Não há muito o que fazer agora. Temos que sair daqui o mais rápido possível!
Naquele ponto, Adam sentia que já havia feito tudo ao seu alcance. Imediatamente abriu a porta do escritório e saiu correndo.
Do escritório até o salão, o chão estava coberto de corpos.
A maioria ainda respirava, mas já haviam sido reduzidos a vegetais. A morte do corpo psíquico causava danos severos aos neurônios, em casos graves, levava à morte neural completa. No melhor dos cenários, a pessoa perdia todas as memórias, tornando-se um quadro em branco, sem lembrança de nada.
Claro, quadros em branco que não fossem adaptadores não tinham valor algum. Não só não havia como instalar memórias neles, como eram considerados ainda menos úteis que pessoas comuns, devido ao dano cerebral causado pela degeneração neural.
Ao atravessar o chão coberto de corpos, Adam e os sobreviventes chegaram ao elevador.
No mundo psíquico, o elevador havia sido destruído por ele, mas no mundo real ainda estava intacto. Todos se espremeram ali dentro e logo chegaram até o beco escuro do lado de fora.
— Há atacantes na rua principal, então não podemos ir por lá. Quem conhece bem essa área? Precisamos de rotas discretas pra sair daqui.
— Eu conheço — declarou o namorado de Karen, dando um passo à frente.
Durante o tempo que trabalhou no pub subterrâneo, frequentava bastante aquelas ruas e, por isso, conhecia bem os arredores.
Sob sua liderança, todos começaram a fugir por um caminho discreto. Só quando estavam bem longe da cena do crime é que sentiram-se seguros o bastante para chamar a Guarda Mecânica.
Nesse momento, o Rei dos Ratos já vasculhava o pub havia muito tempo, e só tinha conseguido capturar duas pessoas.
Vagueava de forma agitada pelo local, até finalmente abrir a porta do escritório e encontrar a fenda arrebentada na barreira psíquica.
— Merda, ele me enganou! — O Rei dos Ratos jogou as duas pessoas que carregava no chão, furioso com a descoberta. — Então eu fui o rato nesse jogo de gato e rato o tempo todo?
Após um momento de raiva, uma ideia surgiu, e ele deixou apressadamente o mundo psíquico pela fenda.
Com isso, voltou ao local onde seu corpo físico estava: a rua em frente ao pub. Logo em seguida, começou a despertar seus companheiros e os informou da situação.
— Algumas pessoas escaparam. Os agentes da Guarda Mecânica podem estar a caminho…
— Um ataque terrorista chocante e desumano.
— O desafio mais injusto que os adaptadores já lançaram à humanidade.
— Qual é a verdadeira função do Asilo Carlin?
— Adaptadores devem ter direitos especiais? Esses direitos são mesmo justos para os humanos comuns?
— Mais de mil mortos: o ataque terrorista mais horrível do século.
No mesmo dia em que Adam e os sobreviventes escaparam do pub, todos os grandes portais de notícia, jornais eletrônicos e canais de TV estavam noticiando o ataque ocorrido na noite anterior.
Nos dias de hoje, ataques terroristas que ceifassem mais de mil vidas eram extremamente raros, foi o evento mais catastrófico, em termos de perda de vidas humanas, desde a fundação da Cidade Sandrise, fora os tempos de guerra.
Todos os principais programas de notícias cobriam o incidente, e como um dos poucos sobreviventes do ataque, Adam rapidamente se viu no centro das atenções, sendo pressionado por uma enxurrada de jornalistas profissionais.
Como resultado, não teve outra escolha senão se esconder em seu dormitório na academia.
Gancho também estava na mesma situação que Adam, mas sua personalidade era completamente diferente. Não havia a menor chance de que ele desperdiçasse a oportunidade de brilhar diante dos holofotes, passou o dia inteiro concedendo todos os tipos de entrevista.
Além disso, por ser um adaptador, era capaz de fornecer descrições muito mais detalhadas do mundo psíquico do que uma pessoa comum. Segundo sua versão dos fatos, ele havia encontrado um grupo de mutantes psíquicos extremamente cruéis e monstruosos, contra os quais lutou valentemente, sozinho, em uma batalha épica, até finalmente conseguir escapar da prisão psíquica junto aos demais sobreviventes.
Sua história duvidosa foi ainda mais enfeitada e amplamente divulgada por todos os veículos de notícia, e seu número de seguidores nas redes sociais saltou de 43 para quase 1 milhão num piscar de olhos.
— Com tantos seguidores, talvez eu possa virar uma celebridade da internet! Ouvi dizer que live commerce dá muito dinheiro hoje em dia. É muito mais fácil ganhar dinheiro assim do que oferecendo serviços de adaptador. — Depois de voltar para o dormitório, ele se aproximou de Adam cantarolando, animado. — E você, tá fazendo o quê?
— Tô pesquisando sobre o Asilo Carlin.
O Asilo Carlin era um local dedicado exclusivamente à prisão de criminosos mutantes psíquicos.
Quase todos os mutantes psíquicos eram clinicamente insanos, e a maioria deles havia passado pelo Asilo Carlin em algum momento. Alguns eram capturados e entregues ao asilo por adaptadores, enquanto outros se entregavam por vontade própria.
Era um lugar retorcido e insano, uma zona restrita supervisionada pelos 12 Anciãos da Igreja Psíquica. O asilo abrigava as prisões psíquicas mais resistentes do mundo, com tempestades psíquicas violentas que significariam morte instantânea para qualquer adaptador comum.
Foi também de lá que veio o Rei dos Ratos.
— Rei dos Ratos, nome verdadeiro desconhecido. Como órfão, talvez nunca tenha tido um nome. Foi descoberto pela primeira vez num sistema de esgoto. Especula-se que tenha nascido de uma viciada em drogas que o abandonou no esgoto logo após o parto. Há histórias que dizem que, inicialmente, ele foi criado por ratos. Após encontrarem o bebê, os ratos não o devoraram. Em vez disso, trouxeram queijo podre de esgoto para alimentá-lo. Depois disso, ele foi adotado por alguns moradores de rua. Dizem que, mesmo quando criança, tinha uma relação muito próxima com os ratos do esgoto. Eles não o atacavam, e ele também não lhes fazia mal. Na verdade, era capaz até de comandar ninhadas de ratos, e foi assim que surgiu o título de Rei dos Ratos.
Adam lia as informações sobre o Rei dos Ratos, e ele não era o único do Asilo Carlin com dados disponíveis na internet.
“Também tem informações sobre aquela mutante que parecia uma larva. Então o nome dela realmente é Lilian… e parece que ela é a única amiga humana do Rei dos Ratos com idade parecida com a dele.”
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