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    No curto prazo, as duas coisas que mais preocupavam Adam eram a caçada aos mutantes psíquicos e a disputa de Shae pelo direito à sucessão. Dentre as duas, a segunda seria a primeira a acontecer.

    No terceiro dia após o retorno deles de Cinzas para a Cidade Sandrise, Adam estava ajudando Gancho a gravar um vídeo quando ele e Shae receberam uma ligação ao mesmo tempo, instruindo-os a ir para a Propriedade Feurs.

    A Propriedade Feurs pertencia à Família Kim e, segundo as memórias de Shae, era um lugar que nem mesmo seus pais visitavam com frequência. De acordo com eles, a Propriedade Feurs era a casa de seu avô e também o lugar onde ele mais gostava de ficar.

    Esse suposto avô era o hospedeiro original da psique parasita no corpo psíquico de Shae, e não se sabia ao certo se ele ainda mantinha alguma vontade consciente.

    Quando Adam e Shae chegaram ao endereço indicado, ele ficou pasmo com o que viu.

    — Não acredito que um lugar desses exista em uma cidade tão modernizada quanto a Cidade Sandrise! — Adam examinava as árvores ao redor enquanto passava a mão pelo tronco áspero de uma delas. — Essa árvore deve ter pelo menos uns cem anos!

    A atmosfera daquele lugar era completamente diferente do ambiente barulhento e devasso da Cidade Sandrise, e também muito distinta dos prédios apertados.

    Era uma área imensa, logo ao lado da Universidade de Sandrise. Não havia prédios altos em toda a extensão do terreno, e tudo parecia intocado.

    Não era como se Adam nunca tivesse visitado casas de pessoas ricas desde que despertou. Porco Desvairado, Caubói e Sadou podiam todos ser considerados ricos, mas suas residências seguiam o mesmo estilo da cidade. Já o estilo daquela propriedade era completamente diferente de todo o resto da cidade. Além de ocupar uma área gigantesca e representar um desperdício absurdo de recursos, o mais impressionante era que parecia uma relíquia de séculos atrás.

    — Estar aqui me faz sentir bem perto do topo da hierarquia social humana — zombou Adam enquanto pisava no solo fofo e úmido, mas seu rosto estava sério. — Parece que seu avô não era uma pessoa qualquer. Pelo menos, era muito mais rico e influente do que seus pais.

    — Sem dúvida. O fato de ele ter tido contato com a fazenda humana tão cedo indica que provavelmente era um membro central de alguma organização muito poderosa.

    Falar sobre isso claramente deixou Shae de mau humor.

    De todos os membros de sua ‘família’, o tal avô era o que ela mais odiava.

    Não só foi o principal responsável por ter negado completamente sua existência, como ainda continuava agarrado ao seu corpo psíquico feito um parasita repugnante.

    Desde que Shae descobriu que havia outra ‘pessoa’ em sua mente, ela passou a tocar a própria cabeça instintivamente, como se isso fosse capaz de expulsar o parasita indesejado.

    Os dois tinham acabado de caminhar por uma estrada de terra quando um carro turístico parou ao lado deles.

    — Entrem no carro. Vai levar quase 20 minutos se forem a pé. — Quem falou foi Caubói.

    — O que você está fazendo aqui? E de quem é esse carro?

    — Roubei do manobrista mecânico. E quanto ao motivo, vim ajudar vocês, é claro. — Caubói tirou um contrato eletrônico e o entregou para Shae enquanto falava. — Mande um advogado dar uma olhada. Tivemos que lutar muito pra conseguir isso pra você.

    Shae pegou o contrato e logo percebeu que era um documento extremamente complexo, cheio de termos como ‘herança de ações’, ‘divisão de ações’ e ‘quebra de direito sucessório’. Ela praticamente não entendia nada desses termos técnicos, mas conseguiu perceber, por alto, que era um acordo que transferia os bens de seus pais para ela.

    — Isso é complexo demais pra eu entender.

    — Tudo bem, nossa organização não agiria contra você, então pode ficar tranquila. Se não entender, procure um advogado profissional pra revisar isso pra você — respondeu Caubói enquanto dirigia. — O que queremos é poder e direito à voz. Não nos interessa dinheiro. Ah, e seu primo e Masao Yamamoto também vão estar presentes, então você vai ter que se impor e ser mais firme durante a reunião.

    O nome ‘Masao Yamamoto’ estava gravado com força na memória de Adam, e se ele estava lembrando direito, era a terceira vez que ouvia esse nome.

    A primeira foi por meio do Porco Desvairado, a segunda quando ficou sabendo que Masao Yamamoto era um dos principais acionistas da Dente Dourado Inc., e essa era a terceira.

    Masao Yamamoto também era a única pessoa viva que ele conhecia que com certeza sabia a localização da fazenda humana.

    Depois de quatro ou cinco minutos no carro turístico, Adam e o grupo chegaram diante de uma grande casa. Havia mesas, cadeiras e bancos dispostos no gramado da frente, e as mesas estavam repletas de frutas e outros alimentos, dando ao ambiente o ar de um encontro familiar informal.

    Já havia algumas pessoas no gramado vestidas com roupas formais impecáveis, conversando em pequenos grupos. Assim que Shae chegou, um desses grupos imediatamente voltou a atenção para ela.

    — Aquele é meu primo — disse Shae, fazendo um discreto gesto com os olhos na direção de um homem que parecia ter uns 30 anos.

    O tom de pele do homem era semelhante ao de Shae, mas fora isso, não havia qualquer semelhança entre eles.

    Shae tinha o rosto redondo e olhos igualmente redondos, enquanto seu ‘primo’ tinha um rosto angular, nariz adunco e, só pela aparência, já transmitia uma aura sinistra.

    Ao lado dele, havia outro homem que aparentava estar entre os 50 e 60 anos, com traços muito parecidos aos do primo de Shae. Era seguro presumir que aquele era o tio dela.

    No entanto, não foram esses dois que chamaram a atenção de Adam. Em vez disso, o que prendeu seu olhar foi um homem de cerca de 50 anos, com bigode, baixa estatura, mas corpo robusto. Ele usava um quimono japonês, o que lhe dava uma aparência antiquada.

    O que mais intrigou Adam foram os olhos do homem, negros como tinta, parecendo dois abismos. A rigidez dos músculos em seu rosto também o fazia parecer extremamente tenso e violento.

    Não havia necessidade de apresentações para que Adam identificasse aquele homem.

    No instante em que viu Masao Yamamoto, uma chama de rancor se acendeu dentro de Adam. Foi tomado por um impulso de invadir o mundo psíquico de Masao, descobrir todos os segredos que ainda não sabia e matá-lo ali mesmo.

    — Se controla. Há câmeras de vigilância aqui conectadas diretamente ao centro de dados da Guarda Mecânica, então é melhor não fazer nenhuma besteira — advertiu Caubói.

    — Fica tranquilo, não vou agir como um idiota. Você sabe muita coisa sobre o Masao Yamamoto? Presumo que ele seja um adaptador, certo? Quão forte ele é?

    — Nunca lutei com ele, então não sei, mas imagino que seja bem forte. Além de investir em várias empresas de mídia, ele também tem conexões estreitas com a Organização Oni. Com seu Dragão, oito Onis e 36 Tigres, a Organização Oni é uma das mais poderosas organizações de assassinos do mundo, e tem uma reputação enorme no mercado negro.

    — Que história é essa de dragão e oito onis?

    Adam tinha feito algumas pesquisas sobre a Organização Oni depois da tentativa de assassinato por Oni no Hanzou, mas as informações que conseguiu com buscas comuns na internet eram muito limitadas. Na verdade, a maioria dizia respeito a jogos, e havia pouca coisa útil de verdade.

    — Os assassinos da Organização Oni são classificados numa hierarquia de cinco níveis: Dragão, Oni, Tigre, Lobo e Cão, em ordem decrescente. Oni no Hanzou, o homem que mandaram atrás de você da última vez, é um dos oito Onis da organização, ou seja, ainda existem mais sete assassinos tão fortes quanto ele. Há também 36 assassinos um pouco abaixo desse nível, mas ainda assim muito perigosos. O tal Dragão é o líder da organização. Eu diria que está mais ou menos no mesmo nível da Chefe May.

    — A May? Ela é tão forte assim?

    — E por que você acha que a casa de penhores faz o que quer sem medo de represálias? — disse Caubói, descendo do carro turístico.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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