Capítulo 93: Informante

Após alertar a todos sobre a situação em curso, Adam ainda estava preocupado com a segurança das crianças e correu de volta para o corredor, onde viu alguns professores organizando os alunos para evacuação pela saída de emergência.

Ele olhou ao redor com uma expressão atenta, mas não avistou nenhum indivíduo suspeito. Então se virou para Orster, apenas para perceber que ela havia reagido com certa lentidão e só então completava sua transformação.

Mesmo sendo um adaptador, não se passava pela transformação normal se não se soubesse que já se estava no mundo psíquico.

O corpo psíquico de Orster era de uma beleza impressionante, em total contraste com sua aparência comum na vida real. Nessa forma, ela tinha seios e quadris volumosos, e lábios cheios e atraentes. Sem dúvida, era muito bonita, mas era exagerado demais.

Em especial, seu traseiro descomunal lembrava uma bola de basquete, e parecia que só serviria para atrapalhá-la em combate.

Adam queria ver como era o corpo psíquico dela para não acabar a confundindo como alvo durante a batalha que se aproximava.

No entanto, sua chegada deu início a um pequeno pânico. Algumas das crianças haviam acabado de ver o Cão Infernal lançar uma Bola de Fogo Explosiva no céu, e com a chegada de Adam, elas também foram expostas à visão da Múmia, o que levou muitas delas a chorarem e gritarem em horror.

— Ei, nada de correr! Não tenham medo, isso é só um ensaio de Halloween organizado pela escola!

Os professores gritavam freneticamente por cima dos gritos das crianças para manter a ordem e, depois de garantir que tudo estava sob controle, Adam recuou temporariamente para a saída de emergência. Ao mesmo tempo, retirou as entidades invocadas.

Todas aquelas crianças ainda estavam no ensino fundamental, e mesmo as mais velhas tinham apenas 11 ou 12 anos, enquanto as mais novas tinham apenas seis ou sete. Portanto, sua capacidade de compreensão era bastante limitada. Além disso, mesmo adultos comuns tinham pouco contato com conceitos como adaptadores e mundos psíquicos, então era completamente irracional esperar que crianças entendessem.

Felizmente, estava claro que os professores tinham muita autoridade no coração dos alunos, e não demorou para que restaurassem a ordem com algumas mentiras e muita lábia.

— Vamos, formem uma fila, pessoal, como treinamos antes! Nada de correr, Michael! Você vai acabar pisando em alguém!

O alarme de incêndio ainda soava, e os professores continuavam gritando por cima dele. Mesmo com o caos generalizado, os alunos ainda conseguiam seguir em direção à saída de emergência sem grandes atrasos.

Dentro do corredor, a telegnose de Adam estava completamente ativada, e ele mantinha atenção constante para possíveis ataques surpresa. No entanto, os alunos chegaram até o térreo sem nenhum problema.

“O que está acontecendo aqui? Por que não atacaram depois de arrastarem todos para o mundo psíquico?”

Adam estava muito intrigado. Afinal, segundo o que May lhes dissera, ganhar tempo só traria benefícios para eles e prejuízo para o inimigo.

Quanto mais tempo passasse, maior a chance de a Guarda Mecânica ser atraída até o local.

“Tem algo errado aqui.”

Adam não conseguia pensar em um motivo para o inimigo agir assim, então, como medida preventiva, invocou o Palhaço e a Freira e ordenou que investigassem os arredores.

Ambas as anomalias estavam em estágio infantil e não possuíam grande poder de combate, mas uma delas era capaz de conjurar ilusões e possuía habilidade de ocultação, enquanto a outra podia possuir objetos e manifestar escuridão, sendo ótimas para reconhecimento.

Após serem invocadas, o Palhaço deu alguns saltos à frente e então ocultou-se, desaparecendo no ato. Enquanto isso, a Freira levou algum tempo analisando o ambiente ao redor antes de voar para dentro do corpo de um garoto como um feixe de luz negra.

O garoto era o mesmo que a professora havia chamado de Michael mais cedo. Um verdadeiro encrenqueiro, que, enquanto todos evacuavam de forma ordenada sob as instruções dos professores, continuava correndo por aí e tropeçando nos colegas ao seu redor.

Parecia se divertir com o caos, e quanto mais alto o alarme de incêndio soava, mais animado ele ficava, completamente alheio às consequências de suas ações.

Sua personalidade deplorável imediatamente ressoou com a Freira, que o possuiu no mesmo instante, atraída pela energia negativa que ele emanava. O processo de possessão ocorreu sem qualquer obstáculo, e a Freira concluiu a fusão sem dificuldades.

Logo após a possessão, o rosto de Michael empalideceu completamente, o que apenas destacava ainda mais as olheiras escuras que haviam surgido ao redor de seus olhos. Ele rapidamente examinou os arredores e, enquanto os professores não olhavam, escapou discretamente da fila.

Adam assistia a tudo enquanto acontecia, mas não fez nada para impedir. A presença de Michael já representava um risco sério à segurança dos demais, então, para ele, era até melhor que o garoto estivesse se afastando dos outros alunos.

Sua missão era proteger a todos, e a saída de Michael era um desfecho ideal aos seus olhos.

Os estudantes continuavam descendo lentamente a escada da saída de emergência em meio ao caos, do quarto andar até a frente do prédio da escola. Estava bem apertado com tanta gente reunida, e todos começaram a se mover em direção à clareira em frente ao Lago Espelhado, conforme o plano original.

Durante esse tempo, Adam ainda não percebia nenhum sinal de ataque, e as crianças seguiam rumo ao lago como haviam praticado diversas vezes nos simulados anteriores.

Contudo, nesse exato momento, uma criança de repente correu em direção a Adam numa velocidade muito acima do que alguém normal deveria ser capaz. A criança era ninguém menos que Michael.

Ele parou ao lado de Adam e apontou para o lago ao longe enquanto dizia com uma voz seca e áspera:

— Energia… anômala…

— Como assim?

Adam lançou o olhar na direção do lago, mas não detectou nada.

— Debaixo… do… lago…

Como uma anomalia capaz de possessão, a Freira era a mais sensível a tipos especiais de energia entre todas as anomalias de Adam, o que lhe permitia perceber coisas que ele não conseguia.

A essa altura, já estava claro o que a Freira queria dizer.

Havia energia anômala debaixo do lago. Energia anômala era algo presente tanto em anomalias emocionais quanto em mutantes psíquicos — e o fato de haver essa energia sob o lago indicava que os mutantes psíquicos já haviam preparado uma emboscada por lá com antecedência.

Eles estavam esperando que todas as crianças chegassem ao lago para dar início ao ataque!

“Agora tudo faz sentido!”

Desde que os mutantes psíquicos haviam sido libertados, seu objetivo sempre fora semear o pânico nas massas e, para alcançar isso, precisavam fabricar um incidente sério.

O objetivo deles não podia ser alcançado matando apenas algumas pessoas ou causando um incidente de pequena escala.

Se queriam que a grande maioria da população apoiasse a criação de um departamento de inspeção de adaptadores, então precisavam provocar um evento de proporções gigantescas. Idealmente, as vítimas seriam crianças, e muitas delas. Matar algumas, ou mesmo algumas dezenas, não bastava. Eles tinham que exterminar uma escola inteira.

Por isso, estavam esperando a oportunidade perfeita. O corredor da saída de emergência era um bom lugar para emboscar, mas não era o suficiente. Eles queriam reunir todos em um único ponto e eliminar todos de uma só vez.

“Como eles sabiam que todas as crianças seriam evacuadas para o lago?”

Adam observou a paisagem ao redor e, embora a escola não fosse exatamente enorme, também não era pequena, e havia mais de um local onde seria possível acomodar todos os alunos ao mesmo tempo.

Era forçado demais dizer que os mutantes previram que todos os estudantes se reuniriam na clareira ao lado do lago apenas por ouvirem o alarme de incêndio.

“Será que alguém avisou com antecedência?”

O olhar de Adam percorreu os arredores até se fixar no representante do congresso do sul.

Sua forma no mundo psíquico era praticamente igual à sua aparência no mundo real. A única diferença notável era um par de luvas metálicas, estranhas e pesadas, que usava e, naquele momento, ele estava justamente instruindo todos a seguirem em direção ao lago.

Adam não sabia quem havia vazado essa informação, mas independentemente de quem fosse, precisava impedir aquilo imediatamente.

— Todos, parem onde estão! Não vão para o lago! — Adam gritou, e as pessoas ao seu redor instintivamente pararam.

Mas sua voz ainda não era alta o suficiente para alcançar todos, então ele inspirou fundo e gritou ainda mais alto:

— Todos, parem onde estão! Há perigo no lago!