CAPÍTULO 9: Neve e Sangue [Parte 2]
A noite havia chegado, o frio extremo por algum milagre abaixou e a nevasca diminuiu, mas a escuridão era como um breu. Aldyr preparou uma fogueira dentro da igreja para aquecer o grupo.
Loky preparou uma tala improvisada com madeira e panos velhos para evitar que Finch machucasse novamente seu braço. — Só tome cuidado pra não quebrar por completo — falou Loky.
— Eu agradeço, Loky — respondeu Finch.
— Pessoal, me escutem — falou Aldyr, chamando a atenção do grupo, eles o encaravam. — Não podemos ficar aqui por muito tempo. Por causa dos corpos que estão soterrados a chance de predadores aparecerem é muito grande. Infelizmente não posso ficar com a minha habilidade ativa a todo momento.
— Peraí, corpos soterrados, porque não me avisaram? — indagou Finch, um pouco assustado.
— Loky, não contou para ele? — perguntou Aldyr.
Loky coçou a cabeça, um pouco sem jeito. — Acabei esquecendo.
Aldyr não contestou, apenas fechou a cara.
— Nyck, como você tá se sentindo? — perguntou Finch, se aproximando.
— Só estou com uma dor de cabeça. Pelo visto eu já estou enxergando normalmente — respondeu.
— Mesmo assim, mantenha-se em repouso — ordenou Aldyr.
O frio batia sob as paredes de pedra, eram como vozes obscuras. E pelo que parecia, uma pequena chuva começou em meio àquele caos climático. O teto da igreja logo começou a ser percebido pequenas goteiras.
— Eu não sei se deveríamos colocar algo nas janelas ou nas portas, para segurar ventos fortes — falou Loky para Aldyr.
O rapaz e o mago então procuraram móveis que haviam ao redor do local. Cadeiras, mesas e tábuas foram usados para evitar que o vento entrasse dentro da igreja.
As horas se passaram, e a chuva ainda se manteve presente. O fogo da fogueira estava baixo e Finch, Nyck e Loky estavam em completo sono.
Aldyr estava acordado, sentado em posição borboleta, cuidando a todo momento caso algo incomum aconteça.
Um tempo se passou e por mais que a chuva abafasse muito do barulho externo, um som muito alto foi perceptível. TUMMM… TUMMM
Era uma pausa de quatro segundos entre cada barulho. Loky acordou ligeiramente. Aldyr levantou em guarda.
TUMMM… TUMMM… TUMMM
O som parecia aumentar, se tornando mais fácil de escutar. — Parece ser barulhos de passos de algo grande — falou Aldyr.
Nyck e Finch acordaram. — Qual foi galera, que barulho é esse? — falou Finch,se espreguiçando.
— Façam silêncio — ordenou Aldyr. — Tem algo aqui.
Aldyr caminhou lentamente até uma das janelas quebradas. O barulho não parava, o som abafado parecia ser ao lado da igreja.
Ele espiou pela fresta, mas a escuridão tornava difícil distinguir o quê era. Ele forçou os olhos e tentou entender o quê estava vendo, mas conseguiu perceber apenas algo enorme com uma pelagem espessa.
A criatura que estava do lado de fora dava farejava pelo chão coberto. — Meu deus, estamos ferrados — cochichou Aldyr, com os olhos espantados.
Ele recuou lentamente. — O quê tem lá fora, Aldyr? — perguntou Finch, inquieto.
Nyck também pareceu inquieto com o quê Aldyr viu no lado de fora. — Aldyr, o quê você viu?
De repente, essas respostas foram respondidas com um grande estrondo.
CABRUUUM
Um tremor se alastrou por todo vilarejo, destruindo as barricadas feitas dentro da igreja.
— Mas que merda, ele sabe que estamos aqui — falou Aldyr longe da porta.
E então veio o som das garras, como lanças arranhando pedra, ecoando lá fora. Um som lento e perturbador, como uma criatura se arrastando ao redor da igreja.
As paredes tremeram quando uma sombra colossal deslizou diante dos vitrais. Uma asa negra como carvão cruzou o vidro, obscurecendo a luz da neve.
Então, um rosto — ou melhor, uma faceta horrível, com olhos negros e um ponto branco no centro, junto a presas congeladas se projetou contra a janela
central.
O vitral trincou, e naquele momento o medo pelo despreparo entrou em cena. As pedras rangiam sob o peso da besta que agora cercava o templo.
— Ele… está farejando… — cochichou Nyck.
O monstro mostrou um rugido abafado e denso. O olhar sangrento da criatura gélida congelava os ossos dos Caçadores.
O teto de repente gotejou estalactites de gelo, e logo após isso, num movimento poderoso, varreu a parede lateral da igreja, abrindo uma fenda e lançando destroços sobre os quatro.
A chuva invadiu a igreja. O Dragão Gélido encarava-os com uma respiração pesada junto a um grunhido seco.
— A gente se fodeu demais agora. Eu que não vou ser o primeiro a morrer aqui — falou Loky, que após isso, se teletransportou, abandonando a equipe com um portal que parecia chamas azuladas.
Mesmo diante disso, o Dragão não tirou os olhos do que antes era um quarteto. — Aquele filho da puta — falou Finch irritado e com as pernas travadas.
O dragão possuía asas que cobriam a luz da lua e, poderiam causar tornados facilmente com seu bater de asas. As brasas das chamas ainda acesas mostravam visivelmente sua aparência. Pelos acinzentados desde o pescoço até o
topo de sua cabeça.
— Como é que vamos ganhar disso? indagou Nyck, ativando sua habilidade ocular.
No entanto, um passo à frente foi dado, Finch criou um impasse entre ele e o dragão. — Não sei, mas devemos fazer tudo para acabar com ele — falou dando mais um passo, girando sua espada com seu outro braço bom.
Seus olhos castanhos brilharam para a cor dourada. O dragão apenas observou respirando fortemente, analisando o olhar do guerreiro. — Sei que sou o mais fraco do grupo, mas se é para eu morrer, então que seja fazendo história.
Seus olhos ficaram completamente dourados e uma linha de luz preencheu seu corpo seguindo por uma linha que foi até a ponta da espada. A luz era forte, e iluminava todo aquele lugar.
O dragão então fez seu primeiro movimento, ele abriu sua enorme boca cheia de presas congeladas, e começou a inspirar o ar frio. Todos os flocos e gotas de chuvas estavam se direcionando até o centro da boca, criando uma espécie de bola de gelo.
O vento ficou mais forte, puxando Finch para mais perto da criatura.
Finch sem perder tempo ergueu a espada iluminada pelo seu poder e mirou sua ponta no pescoço do Dragão.
— Morra aqui, sem misericórdia… seu monstro!!!! — gritou, com a luz preenchendo seu corpo como o sol.
— Luz Do Desespero! — clamou efetuando um feixe luminoso contra o dragão.
O dragão no mesmo momento lançou sua bola de gelo contra o guerreiro. Ambos os ataques se chocaram.
SPLISHHH!!
Um clarão se formou cegando Nyck e Aldyr que tentaram se proteger da forte luz com seus braços em frente aos seus olhos. — Merda, será que Finch está bem? — indagou Nyck tentando olhar para o forte clarão.
— É impossível saber até que esse clarão não se apague — respondeu Aldyr.
A luminosidade durou cerca de 5 segundos após o choque de ambos os golpes. Logo após isso o clarão se apagou eternamente como um sopro em uma vela.
Ao abrirem os olhos, Nyck e Aldyr presenciaram seu companheiro completamente congelado em enormes rochas de gelo pontiagudas. — Meu deus… Finch — lamentou Nyck, com um olhar marejado.
O paredão gélido em pouco segundos se dissolveu completamente como cinzas, o corpo de Finch estava em completa agonia de dor e frio, seu rosto mostrava uma feição de grito, mesmo sem ter feito qualquer barulho, como se tivesse aceitado seu fardo de morrer.
As cinzas voltaram para a boca do dragão novamente. A criatura encarou os outros dois guerreiros que restavam, com um olhar de julgamento.
— Um demônio… é isso que essa coisa deveria se chamar — sentenciou Aldyr, tentando recuar para trás devagar. Ele estava sujo de poeira, e com um corte vertical entre o canto esquerdo de sua boca.
Nyck o acompanhou, com os olhos cravados no ser ancestral. O monstro moveu a cabeça lentamente para proximos dele, tentando mostrar seu olhae negro aterrorizante junto a um som grave de sua gargante, como rochas estilhaçando.
Então foi naquele instante, naquela noite próxima ao amanhecer que, o Dragão Gélido os sentenciou à morte, sem qualquer aviso. Apenas demonstrando sua superioridade predatória. A guerra havia começado!
Continua…
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