CAPÍTULO 13: Evacuação e Engano
O céu estava escurecendo cada vez mais com nuvens densas, prontas para causar um turbilhão de trovoadas e muita chuva. Os guardas da linha de frente, em cima das muralhas da entrada do Reino sentiram a água bater em seus capacetes.
— Que mudança brusca de clima, não é? — falou Roger olhando para o céu.
Um de seus amigos estava empurrando um carrinho de canhão, com muito esforço. — É… mas isso não é motivo de faltar serviço.
Os canhões estavam a postos, prontos para qualquer ataque iminente. — Afinal, onde está Yorr? Era pra ele estar aqui nos guiando na linha de ataque — falou Roberto, o canhoneiro.
— Você tem razão — respondeu Roger. — Não o vi até agora, que estranho.
No castelo
Alfred estava arrumando a mesa com alguns livros indecifráveis de capa esverdeada, enquanto fitava os mapas com um semblante pesado. As notícias amargas ainda borbulhavam em sua mente: A morte de Aldyr e de Finch. Ele se sentia ainda culpado e com um peso em suas costas.
Mas o silêncio logo se quebrou com a porta rangendo. De lá entraram duas figuras, uma era Loky e ao seu lado um rapaz encapuzado com uma manta vermelha.
— Senhor Alfred — falou Loky caminhando pela sala. — Precisamos conversar. Agora.
Alfred ergueu os olhos e franziu o cenho ao reconhecer a figura que estava abaixo do capuz. — Edran, é você mesmo?
O velho então abaixou seu capuz, revelando um semblante cansado, mas firme. — Estive aprisionado, mas nunca esqueceria do meu mestre, Alfred.
Loky puxou uma cadeira da mesa. — Por favor, sente-se Edran — Loky logo sentou também, colocando os pés sob a mesa.
— Eu… eu não entendo, como sobreviveu ao Calabouço? Quero dizer, você havia desistido, não? — indagou Alfred.
Edran respirou fundo, sentando-se. — É sobre isso que estou aqui, Alfred. Serei direto. Yorr é o verdadeiro perigo neste reino.
O silêncio se instalou novamente, mas era palpável a tensão crescente. A respiração do general estava pesada. — Yorr, o quê sabe sobre ele?
— Antes de parar naquele inferno, fui subjugado em falsas informações sobre minha pessoa e sobre minha traição aos companheiros de equipe.
Alfred concordou. — Sim, naquele tempo fiquei sabendo, mas não obtive detalhes do por quê, ainda era apenas um mestre de esgrima.
— Entendo, infelizmente você ainda não tinha conhecido Yorr, meu sobrinho.
Alfred ficou incrédulo. — Não consigo acreditar, Edran. Yorr nunca disse nada sobre seus parentescos sem ser seu pai e sua mãe.
— É por isso que eu odeio este sistema de escalar um novo general… — debochou Loky.
— É uma história complicada, mas… os pais de Yorr cobriam todos os males que aquele garoto já fez. Os seus pais, Yormani e sua mãe, Milly, fizeram a mente do menino desde muito cedo.
Ele suspirou.
— Yorr é um rapaz com traços de narcisismo maquiavélico desde muito cedo, quando pela primeira vez, empurrou seu irmão para dentro de um poço fundo e, quando avisou seus pais, disse que ele havia se matado.
— Eu não entendo… — acrescentou. — Yorr nos disse que seu irmão morreu de forma natural por causa de uma doença crônica.
— É isso que ele quer que você saiba. Seus pais sempre foram grandes ricos mentirosos. Eles tiveram dois filhos, o irmão de Yorr, Luke, que nunca foi o favorito da família. Yorr acreditava que seu irmão era um atraso em seu potencial de crescimento como caçador. A questão é, não estou aqui para falar do passado dessa família escrota.
Ele continuou. — Foi Yorr quem me mandou para o calabouço, ele criou falsas acusações sobre mim, e seus pais o apoiaram. Uma ameaça caiu sobre mim, meu pescoço estava em jogo então me rendi sem questionar.
— Edran, se me permite… mas onde estavam seus companheiros de equipe para te defenderem naquele momento crítico? — questionou
Edran bateu contra a mesa. — Aquele garoto comprou todos eles, quando dependi deles naquele momento, eles deram as costas e falaram que não me conheciam. Fiquei frustrado, derrotado.
— Alfred, você conhece minha índole desde quando eu era seu aluno mais velho, eu nunca abandonaria um companheiro de equipe, mesmo em meio ao caos. Por favor, não deixe Yorr ter poder sobre esse reino, é o que eu lhe peço — implorou.
As palavras entraram pelas orelhas de Alfred que se manteve em silêncio, ele respirava fundo de olhos fechados. Estava pensando? Eles não sabiam.
— Loky… — constatou. — Você realmente está levando o quê ele fala a sério?
— Ahh… um pouco, talvez? Não conheço nada sobre o passado dele então não posso responder — caçoou.
— Humm… — fungou. — Por favor Alfred, leve minhas palavras a sério, posso ser um velho acabado e frustrado pelas memórias do meu passado, mas eu nunca mentiria pra você sobre o quê eu testemunhava desde o nascimento daquele garoto — rebateu Edran.
Alfred se levantou. — Edran… conheço você muito bem quanto sua índole, portanto, por agora não posso fazer nada contra Yorr que o mantenha longe do seu título de futuro General.
— Ah eu não acredito numa coisa dessas — lamentou Loky se jogando para trás, caindo da cadeira.
— Meu deus Alfred… leve a sério o quê estou te dizendo — implorava o velho.
— Portanto! — Esbravejou interrompendo Edran. — Levarei em conta todas estas informações e terei uma conversa séria com ele. Por agora preciso preparar a evacuação dos civis. Loky, leve de volta esse homem até o calabouço para que ele fique seguro.
— Ahh… ta bom, vamos lá velhote — resmungou pegando o velho pelo braço.
— Antes de ir, Alfred. Se o reino entrar em colapso pelas escolhas de Yorr, saiba que o peso em suas costas pesará muito mais.
Ao fim destas palavras, Loky se teleportou como um borrão ofuscante e silencioso. Alfred seguiu para fora do saguão, trancando a porta, quando um dos guardas correu em sua direção. — General Alfred,o Yorr não está na linha de frente, não sabemos o quê fazer.
O homem olhou para o guarda com preocupação. — O quê, e onde ele está então?— perguntou guardando as chaves em seu bolso.
— Não sabemos, eu vim correndo desde lá das muralhas, ainda não recebemos os charretes de munição dos canhões e nem as dinamites que ele ficou encarregado — falava com dificuldades, sentindo falta de ar.
— Eu não posso crer numa coisa desta, quanta dor de cabeça — avançou Alfred, empurrando o guerreiro. — Ordene outro homem que cuide da linha de frente, se recusarem, fale que é ordem direta do general. Não podemos ficar na linha de frente sem um caçador de elite — ordenou.
— Entendido! — concordou o guerreiro, prestando continência, e partindo em saída rapidamente.
Fora do Castelo, pelas ruas de Reitz
Os moradores próximos à entrada estavam sendo guiados por um grupo de Caçadores da Elite, Magnus, o bárbaro com o poder de cuspir fogo com sua habilidade.
A outra guerreira era Melissa, uma curandeira sagaz de aparência triste e cabelos pretos, que guiava os animais e todos os fazendeiros.
Silver e Logan, os dois irmãos gêmeos que possuíam a mesma habilidade de gerar clones, começaram a ajudar os mercadores a desmontar as tendas mais rapidamente. Enquanto os guerreiros de patrulha liberavam espaços nas ruas.
— Meu deus que multidão — reclamou Logan para seu irmão, enquanto segurava dois barris de maçãs entre seus braços.
— Sem muito papo irmão, só finalize o quê nos ordenaram — exigiu Silver erguendo uma bandeira alta com uma seta apontando para onde os moradores deveriam se encaminhar depressa.
Mais ao centro, estava Bucky, líder do grupo de cavaleiros, de armadura e capacete. Com seu cavalo, ele guiava a população para o calabouço, o lugar que antes era um ambiente sombrio, se tornando o ambiente mais seguro atualmente.
“Não irá caber todo mundo naquele lugar”, pensou olhando para os cavaleiros de charrete cheios de pessoas com medo. Crianças, mulheres grávidas e homens dispostos a lutar ao lado dos cavaleiros.
Já aos flancos do reino, estava a tropa de Nyck, mais de quarenta homens se armando e fortificando a muralha com tudo que podiam. Nyck mesmo com ferimentos ainda manteve forças para liderar aqueles guerreiros aflitos.
A muralha que os protegiam começou a ter bestas preparadas com grandes flechas, prontas para serem disparadas. Catapultas de piche também estavam sendo preparadas, como uma forte arma flamejante.
A chuva engrossava e os trovões ribombavam acima do reino de Reitz. Nyck estava com a roupa coberta por uma capa marrom encharcada.
— Anda Yorr, onde você tá? Precisamos do seu sinal — murmurou rangendo os dentes, impaciente.
— Nyck!! — gritou uma voz firme, debaixo da muralha.
Os guerreiros e Nyck se viraram para homem coberto por um manto vermelho encharcado, seus cabelos longos balançavam pelo vento, aquele olhar era impossível não reconhecer. — Yzael? — murmurou o caçador de elite.
O guerreiro subiu as escadas da muralha, sem perder tempo.
— Achei que tivesse sucumbido pelo calabouço — debochou Nyck com um meio sorriso.
— E eu achei que esse reino já estaria em chamas sem mim, o quê realmente aconteceria — zombou. — Precisamos conversar.
— Ok, fala aí.
— Vi a movimentação dos civis pelo centro do reino, e alguns dos cavaleiros estão perdidos em guiá-los. Também percebi alguns flancos descobertos, e pelo que eu ouvi de um dos sentinelas, Yorr não está presente na linha de frente.
— Correto, e agora estamos sem ninguém para nos dar o sinal de quando o dragão aparecer.
— Então a liderança agora é nossa, Nyck. — Apontou o dedo. — Vamos preparar essas tropas e principalmente a linha de frente — ordenou.
— Me de dez homens, eu cuidarei das brechas e evacuar os civis pelos fundos, aquelas pessoas não irão morrer.
— Dez? Vai precisar de vinte pelo menos — Nyck deu a mão, e Yzael retribuiu com um forte aperto. O caçador de elite sorriu. — Confiarei em você.
— Ei, Vlad! — gritou Nyck para o cavaleiro.
— Pois não, Nyck.
— Veja para este homem um coldre e uma espada, e prepare dez homens preparados para uma missão urgente.
— Mas… Nyck — Contestou. — Agora, Vlad! — ordenou Nyck, interrompendo-o.
O cavaleiro assentiu e saiu em prol do pedido do caçador.
Porão de Armamento De Reitz…
O porão de armazenagem de armas de fogo e poderes bélicos, iluminado pelas tochas de cores azuis incandescentes. O local ficava abaixo do solo do castelo, precisando de uma chave para acessar.
Sustentado por vigas de mármore, o local estava sujo de poeira, as estantes de armamentos estavam cobertas por lençois sujos.
Das sombras daquele lugar sombrio estava Yorr, ele caminhava procurando alguma coisa que não fosse armamento comum. Ele puxou o lençol de uma das estantes, mas só viu apenas espadas e escudos.
Ele continuou retirando os lençois das estantes. Quando finalmente encontrou um baú de madeira revestido por ferro em baixo da estante.
Ele se agachou e puxou o baú, mas era necessário uma chave. Ele sorriu, e com sua habilidade transformou o cadeado em cinzas petrificadas. O rapaz abriu e viu aquilo que lhe chamou atenção. — Anel de Ouro do antigo rei, pensei que fosse mais bonito. Com isso poderei dominar a mente do alto escalão do reino — murmurou.
Ele colocou aquele anel dourado com detalhes vermelhos de rubi que brilharam ao ser colocado em seu dedo. De repente, vozes começaram a emergir do além, direto para sua cabeça. — Você não é digno, você não é digno.
— Senhor Yorr o quê está fazendo? — indagou o cavaleiro que apareceu de repente ali.
Yorr olhou para ele com um olhar frio, mas era perceptível a dor se cabeça que ele sentia ao ver o rosto daqueles que eram mais fracos que ele.
O cavaleiro olhou para o dedo do caçador. — O quê? O Anel dourado…
Yorr se levantou. — Hufff… sabe, isso não é nada demais, mas sinto que posso fazer o quê eu quiser agora.
O cavaleiro se sentiu assustado. — O quê o senhor irá fazer, era pra você estar comandando a linha de frent-
Yorr tapou sua boca. — Shh… não precisa ficar me lembrando disso toda hora.
O cavaleiro começou a sentir um enorme desconforto, seu nariz começou a sangrar e seus braços travaram. Yorr soltou sua mão e saiu em direção a saída do porão, deixando o cavaleiro agonizando.
Ele se ajoelhou, seu rosto ficou pálido e seus olhos se tornaram pedra, e atrás de sua cabeça se via a cena perturbadora, estalactites pontiagudas cresceram de dentro pra fora, como parasitas.
O homem caiu, morto, e como último respiro apenas cinzas.
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