O vento uivava sobre as muralhas enevoadas de Reitz, misturando chuva gélida a estilhaços das neves. Lá embaixo, as tropas alinhavam bestas e catapultas flamejantes, cada guerreiro se sentindo sufocado pelo medo sob a capa pesada. Ainda assim, havia um vazio no comando: Yorr não deu sinal algum.

    — Mais uma rajada e a corda da besta arrebenta — murmurou Roger, ajustando o arco que rangia sob a umidade e o vento hostil.

    — Então queima essa corda e use uma corda nova — retrucou Roberto, apertando os punhos enluvados.

    Enquanto isso, no coração do castelo, Alfred apertava os dedos contra os mapas. Ele ergueu-se com um estalo de sua armadura prateada. — Já chega!! Eu resolverei isso na linha de frente — falou a si mesmo, olhando para frente, na janela de vidro entreaberta pelo vento.

    Subitamente, as portas se escancararam. Um clarão de relâmpagos iluminou o salão do Concílio, e no reflexo do mármore, Alfred viu o vulto de Yorr subindo as escadas — o jovem general surgia envolto em água e lamúrias, destacando o anel em seu dedo.

    Seus olhos ardiam de vermelhidão e não havia sorriso — apenas a fria certeza de quem estava com sede de sangue. Ao entrar dentro da sala, foi possível perceber no lado de fora dela, as dezenas de guardas mortos silenciosamente.

    — Vejo que prepararam a evacuação do povo — falou Yorr, com a voz abafada —. Vocês temem diante do meu silêncio, mas eu não temerei jamais diante de um dragão.

    Alfred ergueu o queixo, controlando o próprio temor. — Ainda não sabemos onde você estava… e por que não deu as ordens.

    Num gesto contido, Yorr pousou a palma no peito do general, perto da insígnia real. A lâmina oculta do anel reluziu.

    — Estou aqui para garantir que as ordens certas sejam cumpridas — sussurrou ele. E naquele instante, Alfred sentiu o peso de múltiplas vozes, outras femininas, algumas joviais e uma… do antigo rei do reino.

    Nas muralhas…

    O nevoeiro subiu intensamente, impossível ver o que tinha à frente. As densas florestas agora sumiram diante do branco. E um granizo caiu sob o capacete de um dos guerreiros…

    — Ah, parece que começou a chover granizo — falou o guerreiro. Logo mais uma pedra caiu em seu capacete, maior que a primeira. 

    — Que caralhos — respondeu a si mesmo irritado.

    Ele olhou para o céu e logo começou a ver a chuva de pedras. Yzael estava nos flancos das muralhas, evacuando os moradores e melhorando a artilharia, mas logo sentiu o peso de uma pedra de gelo.

    — Hum? — murmurou olhando para o céu. Ele pegou aquela fragmento frio e analisou. Ele olhou para cima novamente e ativou seu poder.

    Não viu nada demais por enquanto, apenas pequenos granizos. Mas em meio àqueles inofensivos detritos gélidos, uma enorme pedra de gelo se fez no céu, prestes a cair em cima de uma das charretes de armamentos de um de seus homens. 

    Ele se assustou e rapidamente o avisou. — Cuidado, saia de perto desta charrete!! — enquanto corria na direção do guerreiro.

    O rapaz ouviu, mas quando parou para ver o céu acima, seu último olhar foi para uma grande pedra gélida, que o esmagou completamente. Os braços e órgãos foram lançados, acompanhados por um barulho poderoso.

    — Puta que pariu! — gritou, chamando a atenção dos outros companheiros. — Tem algo errado aqui!

    Ele ativou sua habilidade e percebeu, milhares de granizos em meio ao nevoeiro do céu que cresceram constantemente até ficar do tamanho de um barril.

    — Porra, estamos fodidos… Vocês ai!! — ordenou os guerreiros da sua trupe. — Se protejam abaixo dos telhados, agora!

    Sem parar para contestar, imediatamente todos largaram seus afazeres e correram até as casas mais próximas. 

    Logo a chuva se tornou um turbilhão barulhento, onde guerreiros corriam pelas suas vidas. PRAFT, PROFT, PROWW.

    Tendas, estábulos e outras casas começaram a ser destruídas. 

    — Uff uff uff — Corria um soldado olhando para cima, mas logo se bateu com outro desesperado.

    — Sai da minha frente seu bosta! — atacou um de seus companheiros.

    Os dois então logo foram esmagados por mais uma pedra de gelo enorme que se estilhaçou em pedaços, atingindo outros guerreiros.

    Yzael corria com um companheiro desacordado em seus ombros, tirando-o do perigo iminente. Seus olhos estavam um pouco turvos devido ao poder.

    Por sorte, ele e o seu companheiro conseguiram se proteger em uma casa velha, mas que também foi atingida pelas paredes pela chuva.

    Todo o Reino de Reitz se tornou uma enorme pilha de gelo estilhaçado. Os inúmeros guerreiros da linha de frente se tomaram por um caos hipnótico sem saber o que fazer.

    — De onde tá vindo isso!? — gritou Roger, mirando o canhão para o nada, na expectativa de achar a criatura. 

    — Eu não sei… — respondeu Roberto, se protegendo embaixo de uma carretilha de armamento.

    Bucky logo apareceu, usando o seu poder de fogo para criar uma linha de chamas no céu, a fim de destruir o gelo.

    — Rapazes, saiam e vão para um lugar seguro. Aqui já se tornou impossível de ficar — ordenou, cuspindo fogo nos granizos.

    Roger e Roberto saíram de suas posições e correram em direção a escada que levava para o chão do Reino.

    Mais alguns cuspes de chamas e o gelo parou…

    Bucky ficou sem entender, e Roger junto com Roberto também olharam para cima. Um silêncio tomou conta do turbilhão sangrento que acabara de começar. 

    — Acabou… do nada? — murmurou Bucky. 

    Longe dali, Yzael percebeu o final da tempestade. Ele olhou para cima por um momento, garantindo que não havia perigo. Ele chamou os guerreiros sobreviventes e saiu daquela casa que já estava completamente destruída. 

    — A chuva… acabou assim de repente? — indagou um dos guerreiros.

    — Isso foi só um vislumbre do final… amigo. Pelo que parece temos uma visita inesperada.

    Eles tremeram… menos Yzael que buscava ver alguma coisa além do nevoeiro.

    Bucky ouviu um barulho pesado, como um bater de asas… ele olhou para além do reino, forçou os olhos e não encontrou nada. Apenas respirar ofegante de algo conhecido como demônio. 

    Seus olhos se encaravam, finalmente a criatura havia dado as caras. Bucky paralisou as pernas completamente, a fim de vislumbrar a beleza da criatura furiosa apenas em busca de vingança. 

    Os pêlos acinzentados, o olhar de penitência e dentes pontudos cheios de saliva. “O… diabo”, pensou.

    Silenciosamente o dragão abriu sua boca e uma orbe gélida se formou. Os olhos de Bucky se tornaram brancos com a luz gerada pelo fatal.

    Num silêncio curto, tudo se acabou. A muralha havia sido destruída com uma enorme barreira glacial.

    Os destroços voaram junto aos restos mortais de Bucky, Roger e Roberto. Os armamentos foram inúteis, com ressalva de uma coisa, as dinamites…

    Acendidas pelo fogo de Bucky como último ato heroico, os barris de dinamites explodiram ferozmente, gerando também uma nuvem de fumaça escura.

    O primeiro rugido surgiu do além, mostrando que o terror havia chegado.

    — Merda!!! — falou Nyck, rangendo os dentes. — Aquela criatura chegou. Pessoal, preparem as bestas e os canhões todos na direção da explosão. Atirem sem piedade.

    Todos fizeram sua ordem e miraram em um único ponto, flechas e bolas de canhão foram disparadas a todo vapor para matar aquele monstro.

    “ Yzael, Loky… só temos vocês….”, pensava apreensivo.

    Enquanto isso no Castelo…

    — Maldito, eu não acredito que estava efetuando minha confiança em você, garoto estúpido — bradou confrontando Yorr.

    O rapaz riu, junto com outras vozes. — Confiança é algo que não se pode ter nos dias de hoje, velho.

    Alfred olhou o dedo de Yorr, vendo o anel. — Eu não acredito, onde achou isso? — indagou.

    — Ah — falou olhando para o anel. — Tá dizendo essa coisa aqui? Achei no porão de armamentos. Não fizeram nem o trabalho de esconder.

    — Yorr, seu idiota. Se você portar esse anel, ele vai dominar a sua mente — avisou, se aproximando.

    Yorr contorceu seu pescoço involuntariamente. — Você não sabe de nada, general idiota.

    Os dois começaram a caminhar em círculos pelo saguão ao redor da mesa. — Minha mente possui diversas vozes sem ser a deste anel. Com ele, poderei dominar a todos e pôr debaixo dos meus pés.

    — Está falando de uma ditadura, seu bastardo. Ser um general não é apenas comandar a guerra, mas liderar um povo.

    Yorr lançou uma espada de pedra do nada na direção de Alfred, como resposta. O general desviou por pouco. — Yorr… você deixou seu ego dominá-lo por completo apenas para obter poder…

    Alfred retirou a espada de sua bainha e apontou para o guerreiro. — Se for para matá-lo e me livrar deste meu erro, assim farei.

    Yorr sorriu. — Finalmente!

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