Mayane estava fatigada de tanto utilizar sua habilidade ocular. Os ferimentos de Alfred estavam se cicatrizando, mas ainda possuía grandes dores por todo o seu corpo.

    — May…ane, vá socorrer os caçadores, eles precisam mais do que eu — sussurrou de dor, quase desmaiando novamente.

    Mayane começou a ficar mais preocupada com a saúde do general. — Sr. Alfred, eu não irei deixar você aqui sozinho. — respondeu enquanto se esforçou mais para ampliar a cura. — Você é o general e eu não vou deixá-lo aqui para morrer.

    Alfred suspirou, talvez de segurança ou desistência, não se sabe… mas fez de tudo para se manter acordado. — O inimigo é perigoso… Yorr é perigoso demais…

    Sua voz ainda estava fraca, sendo difícil discernir o que ele havia dito. — Tente não falar muito, controle a sua respiração. A cura funciona melhor.

    Alfred apenas suspirou e tentou reequilibrar a sua respiração, com o corpo trêmulo e cheio de cãibras que o faziam ficar inquieto. Pancadas se tornaram manchas roxas, e o sangue que estava cobrindo parte do seu pescoço e barriga, antes seco, agora começou a se tornar apenas poeira vermelha.

    Mayane suava frio tentando manter a mesma consistência da cura funcionando corretamente. “Como ele sobreviveu com esses ferimentos?”, pensou ela. 

    Tudo estava correndo bem.

    TRIIIIISCK!!!

    barulhos de vidros se tornaram ensurdecedores. O som se propagou até onde os dois estavam. Mayane ficou em estado de alerta, tremulando as mãos. — O quê foi isso? 

    — Yorr… — respondeu o general.

    Mayane olhou para Alfred, e seu olhar dizia tudo. Bem abertos e com as sobrancelhas franzidas ao centro, e retina trêmula. — Ele… não m-morreu? — gaguejou.

    Alfred tentou responder, mas a dor o manteve calado.

    Mas Mayane ainda continuou o curando, com todas as suas forças. Entretanto, se o ser sombrio não tivesse aparecido.

    Um corpo coberto por uma energia negra semelhante a uma sombra com vida própria, onde seu olho se tornou apenas um único ponto branco sem lamentações. Era um vazio nunca antes visto.

    Um rapaz amaldiçoado pelas vozes, completamente corrompido pela ganância de poder. Sua respiração podia ser confundida com gemidos dolorosos com pequenas pausas. — huuurgh… — respirava com um som de sofrimento.

    — Yorr, não faça isso, você não é esse tipo de pessoa. Por favor, para com isso — implorou Mayane, lacrimejando.

    A pobre garota já não sabia mais o que fazer, Alfred estava fora de cogitação de entrar em combate novamente enquanto as pernas da curandeira estavam paralisadas de choque. O que restava era chorar.

    A sombra estendeu o braço e apontou o dedo para ela, — Yorr era apenas uma casca humana que precisava ser preenchida pelo seu desejo de ser o centro de tudo. Rum, que motivação mais vazia —  falava o ser sombrio com várias vozes e tons de voz mescladas em uma só.

    Aquelas palavras, aquela voz… arrepiou o corpo da moça como uma aura de um Deus antigo a sua frente.

    — Deixe o corpo deste homem prosseguir para seu fim, garota — pronunciou com frieza.

    Mayane com um pingo de coragem, cessou a magia de cura e com todas as forças de seu corpo se levantou, — Eu não vou deixar você continuar fazendo isso, sua coisa idiota! — bradou dando um passo para perto do ser.

    Ele apenas a encarou, — Hoh… — Um leve sorriso cruel, junto a um suspiro de pena.

     — Então serão duas almas julgadas ao inferno de uma vez só — falou com um tom de lamentação.

    Então, a sombra estalou os dedos da mão apontada. Mayane que estava a sua frente, foi consumida por uma mancha preta que que a fez se tornar apenas poeira. Um fim indolor.

    Alfred tentava se levantar, mas sem sucesso, — Desgraçado!!! — gritou cuspindo sangue.

    O corrompido apenas colocou o dedo na frente de sua própria boca, — silêncio.

    Ele caminhou lentamente até Alfred, rindo do medo que consumia o corpo do general. — Pobre velho, sem esperança nenhuma no olhar. Mas farei gritar por Deus para ele te salvar.

    — Deus te faria voltar de onde veio, criatura ridícula — respondeu.

    Alfred começou a se rastejar com seu braço curado, tentando ganhar tempo.

    — Então faça isso, clame pelo nome dele, enquanto eu estou aqui para combatê-lo.

    O corrompido sorriu parando ao lado do corpo do general, ele desferiu um chute na barriga do velho.

    — Aaaargh… — gemeu de dor embrulhando seu estômago, evitando vomitar.

    Ossos se quebraram e os órgãos foram completamente feridos.

    — Quanta falta de displicência, você realmente é um monte de bosta — debochou chutando-o novamente. Desta vez na região do fígado.

    PLAFFT!!!

    Outro chute amargo que desencadeou uma série de gritos. Alfred não possuía forças para pedir ajuda, a não ser para gritar. — S-s… — tremulava sua voz.

    — O quê? Não estou ouvindo — debochou mais uma vez. O ser agarrou Alfred pelos cabelos e o levantou.

    Eles estavam cara a cara. O olhar profundo do corrompido adentrava na alma do general que o encarava com desprezo. — Fale! — ordenou a sombra.

    Alfred mexeu a boca com dificuldades, como se estivesse mastigando algo, e de repente…

    Tchpt!!

    Um cuspe espalhado de sangue sob a cara da criatura.

    O olhar dizia tudo — raiva, agonia e muito nojo sobre o semblante de Alfred.

    O pobre guerreiro virou sombra em completo silêncio, se espalhando pelo abismo do reino. Yorr corrompido ficou imovel com os olhos tremendo com sentimentos de ego fraturado e ódio. Ele limpou sua face escura e olhou para o céu.

    Enquanto isso nas muralhas pós morte do Dragão…

    Loky preparava as ataduras de Nyck, visando melhorar seus ferimentos nos braços. — Você é muito teimoso, Nyck, deveria estar no castelo descansando.

    O caçador da Trupe riu e discordou, —  Não concordo com sua ideia. Eu tinha uma divida a pagar com esse dragão.

    Yzael estava sendo carregado por dois caçadores defensores, desacordado e com o rosto pálido.

    — Esse cara é… pesado Mitch — reclamou Rafael.

    — Continua caminhando idiota, e ve se para de reclamar — retrucou seu parceiro também com dificuldades aparentes em leva-lo.

    Magnus apareceu no meio dos detritos da muralha carregando o corpo de Silver, um cena trágica. Os olhos daquele cara durão lacrimejavam.

    Logan também surgiu entre os escombros com ferimentos gravíssimos e com a visão turva. 

    — Eu acho que deveríamos fazer uma varredura — sugeriu Shaw carregando em seus ombros um de seus parceiros caçadores.

    Loky ficou surpreso com Shaw e com sua aptidão em batalha. — Você conseguiria fazer isso por mim? Estou com uma tremenda dor de cabeça por causa da minha habilidade.

    Shaw assentiu e lançou seus ganchos para o alto, subindo quase cinquenta metros de altura. Ele abriu suas asas de planagem para se manter no alto em busca de alguma vítima.

    Ele fez isso algumas vezes, até encontrar outra figura no céu, como uma sombra…

    — Mas que merda!

    Shaw desativou as asas e se lançou com os ganchos para o chão.

    Yorr corrompido surgiu nos céus, acompanhado com asas longas como se fossem foices com diversas lâminas. A figura olhou para toda aquela devastação.

    Shaw correu avisar Loky e os outros. Mas já não havia motivos para isso, todos os caçadores perceberam a presença do monstro.

    Eles olhavam para o céu, observando o que parecia ser o apocalipse. Todos boquiabertos, inexpressivos… sem forças para lutar contra aquele ser maligno.

    Ele anunciou envolto de outras várias vozes sofridas, — Vocês morrerão,  e irão sofrer até que a última gota vermelha de sangue se torne apenas poeira.

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