Índice de Capítulo

    Dois dos monstros se jogaram contra eles, pulando em uma velocidade que Jonas não acreditava ser possível. Por puro reflexo, ou sorte, ele desviou se jogando no chão, a tempo de escapar do abraço da criatura, que atravessou a ponte, caindo no outro lado. Túlio, no entanto, não foi tão rápido. O monstro o agarrou, e eles caíram na água. 

    Antes que Jonas tivesse tempo de se preocupar com o amigo, outros monstros que continuavam na água abriram suas bocas, e tentáculos se projetaram delas. 

    “Línguas”, Jonas percebeu. 

    Uma delas acertou Graça, que começou a ser puxada pelo monstro, quando esse afundou na água. Leandro tentou segurá-la, mas conseguiu apenas ser arrastado junto. Outra agarrou o braço de Erick, que desesperadamente a golpeou com a espada até que o monstro o soltasse, em seguida foi em socorro de Graça e Leandro, que já estavam dentro da água e essa altura. 

    Jonas tentou se erguer, porém algo agarrou seu braço, o puxando também. Seria arrastado pelo monstro até o fundo, mas outra coisa o segurou. Ele olhou para cima, e viu Orland o segurando sozinho. O homem agarrou a língua do monstro com uma mão, e a retorceu com a outra. Girando o corpo, ele puxou a criatura, a lançando pelo ar em um arco, até que ela batesse com um estrondo na beirada de terra da trilha, soltando Jonas. 

    Ele ouviu outro coaxar, e um dos monstros saltou da água em uma velocidade absurda na direção do cavaleiro, que o agarrou com o os braços abertos, o lançando contra o chão com uma força assombrosa, que fez os ouvidos de Jonas tremerem com o impacto. 

    O monstro arfou, tentou se virar, mas o cavaleiro desceu com o pé sobre sua cabeça, espalhando uma gosma verde escura pelo chão. 

    Jonas ficou pasmo. “Como pode ele ser tão forte?” 

    — Pare de me olhar como uma estátua, vá ajudar os outros! — berrou ele, enquanto esquivava da língua de outro monstro. 

    “Quanto dessas coisas havia”, Jonas se perguntou ao se levantar, esquivando-se de um dos monstros que pulou em sua direção. Ele olhou para ambos os lados, onde Erick, que balançava a espada, e Leandro separavam três criaturas de Graça, que estava encolhida, tremendo, no chão, e depois, para onde Túlio brigava na encosta com dois monstros, que tentavam agarrá-lo. A água batendo em seus joelhos. Um dos monstros enrolou a língua em seu pescoço, enquanto outro estava agarrado sobre ele. Jonas se moveu para ajudá-lo, mas parou ao vê-lo soltar a língua do monstro de seu pescoço com as próprias mãos, e puxá-lo em sua direção, como o cavaleiro havia feito antes, erguendo seu pé contra a criatura, que caiu no chão com um som miserável. Ele agarrou a outra, que estava atracada em sua cintura, a esmagando em seus braços. 

    Jonas assistiu aquilo com espanto, até que um grito do outro lado chamou sua atenção. Um monstro tinha derrubado Erick no chão, enrolando sua língua em volta de sua cabeça e o puxando para trás. Jonas não viu a espada em suas mãos. Leandro estava em um combate físico com outros dois, ainda tentando mantê-los afastados de Graça. 

    Jonas estava prestes a correr até eles quando escutou um coaxar vindo atrás de si. 

    Ele pulou para o lado, deixando o monstro agarrar o ar no lugar onde antes estava, e pousar na sua frente. A criatura olhou para ele, se pondo sobre as patas traseiras, em uma postura curvada, inflando a parte de baixo de seu queixo. Parecia um sapo, porém muito maior. Chegando próximo ao peito de Jonas em pé. 

    O monstro se retraiu sobre as patas traseiras, e então saltou sobre Jonas, que se esquivou novamente, rolando pelo chão. Antes que ficasse em pé, no entanto, algo agarrou o seu braço. “A língua.”, percebeu, “Dessa vez não”. Ele tentou puxá-lo, como vira o cavaleiro, e até Túlio fazerem, porém, para sua decepção, se mostrou mais fraco do que eles. Seu braço foi puxado com tanta força que parecia prestes a ser arrancado. Ele se inclinou para trás, para suportar o puxão, quando a pressão se aliviou e ele caiu. O sapo tinha pulado em sua direção. 

    “Ele é esperto o bastante para isso?”, pensou surpreso. 

    Jonas o chutou, sentindo a perna doer com o impacto. Para algo rugoso e flácido, a pele do bicho era muito dura. Mas a criatura também pareceu ter sentido, pois recuou. Jonas se levantou a encarando. Ela ainda estava entre ele e os outros. 

    O monstro inflou novamente o seu pescoço, contraiu a cabeça, e depois abriu a boca. Jonas se preparou para desviar, esperando a língua, porém o que o atingiu fora um líquido verde que cobriu todo o seu corpo. Era viscoso, grudento, e tinha um cheiro atroz. Jonas se retraiu desorientado, e então o monstro pulou novamente, acertando sua barriga com força. Jonas sentiu seus pés se erguerem do chão, então suas costas foram de encontro ao solo. 

    Não havia caído na água, ao menos. Não conseguia ver devido a gosma em seus olhos. Ouvia os gritos dos que estavam ao seu redor, conseguia diferenciar cada voz e o que elas diziam. Graça rezava, Túlio praguejava, Leandro urrava. Ouviu-os até que um som agudo sobrepujou todos os outros. 

    Então sentiu algo gosmento envolver seu pescoço e apertá-lo. A língua, percebeu. O monstro o estava enforcando da mesma forma que aconteceu com Erick antes. Não conseguia enxergar direito devido a gosma, mas Jonas sentia o peso da criatura em cima de si, estava praticamente grudada ao seu corpo. Os braços dele estavam livres. Em brigas de rua, isso era tudo o que importava. Ele tateou o monstro até sentir o que era a boca da criatura. 

    Ele enfiou o braço dentro dela. O monstro se contorceu, se debatendo, aumentando o aperto, deixando Jonas quase sem ar, mas ele continuou forçando seu braço garganta adentro. 

    Mais gosma verde era expelida pelo monstro no rosto de Jonas, ardendo contra a sua pele. Era quente, viscosa e nojenta. 

    O aperto em volta de sua garganta perdeu força. Jonas usou toda a força que tinha dentro de si para virar-se, pressionando o monstro contra o chão. Ainda com um braço até o cotovelo dentro da criatura, Jonas passou sua outra mão por sua cabeça até encontrar algo gelatinoso, e enfiou os dedos dentro. A criatura grunhiu, coaxou e morreu. 

    Jonas levantou-se, limpando a gosma de seu rosto, lembrando-se que devia ajudar Erick. 

    Quando se virou para olhar, Erick estava sentado, pálido e ofegante. Em volta dele, tinham corpos de monstros, dilacerados. Mais à frente, viu Graça ainda caída no mesmo lugar. Leandro agachado ao seu lado, e em pé, estava o cavaleiro, segurando a espada. 

    Jonas sentiu um calafrio em sua nuca. O praguejar de Túlio enquanto saia da água o distraiu. 

    — És bem forte para um camponês, Túlio — O cavaleiro falou. 

    Túlio fungou. 

    — Sempre fui forte — respondeu entre dentes. 

    — Bom saber disso — Orland respondeu, limpando a espada suja contra o braço. 

    Ele caminhou na direção de Jonas, que sentiu sua mão tremer. “Ele nos escravizou, ele não podia pegar a espada”. 

    — Ah, senhor… — Graça falou, olhando para o cavaleiro — obrigada, por nos salvar. 

    O homem apenas acenou com a cabeça e continuou seus passos até Jonas. 

    — Tome, segure-a. 

    — Hum? Você não vai…? — Ele se atrapalhou com as palavras, confuso, quando o cavaleiro lhe entregou a arma. 

    O cavaleiro apenas o olhou com aborrecimento, esperando que ele terminasse a frase. 

    — Nada, deixa para lá — disse por fim. 

    Orland apenas suspirou, passando por ele. 

    — Já perdemos tempo demais aqui, vamos. 

    — Ei espera, temos que descansar, ela precisa descansar — Leandro protestou. 

    — Se descansarmos aqui, seremos atacados pelos animais que sentirem o cheiro do sangue — Orland respondeu de forma ríspida, acenando com a cabeça para os monstros mortos. 

    — Tá, mas que porra eram aquelas? — Túlio perguntou. 

    — Sapos-goliath, um bom sinal. 

    — Como assim bom sinal? — Jonas indagou. 

    Não via nada de bom no que aconteceu. 

    — Se eles apareceram, quer dizer que saímos do território dos dentes de adaga, então anime-se Túlio, filho de Fagner, sairemos dessas terras em breve — Ele declarou, e depois voltou a andar, sem voltar a falar. 

    Túlio bufou, praguejou, e o seguiu. Leandro ajudou Graça a ficar em pé, e ambos começaram andar. 

    Jonas olhou para onde Erick tinha sido deixado sozinho. Ele parecia exausto, mesmo que não muito machucado. 

    — Cara, você tá bem? — Jonas perguntou. 

    — Sim — Erick respondeu com uma voz contida. — Apenas estou cansado. 

    Túlio surgiu, reclamando. 

    — Aquele merda me mandou te carregar — falou. — Disse que você não conseguiria andar direito no momento. 

    Erick pareceu por força em suas pernas para se levantar, mas nada aconteceu. 

    — Acho que é isso mesmo — disse com certo embaraço na voz. 

    E assim, com Túlio levando Erick apoiado em um ombro, e Leandro praticamente conduzindo Graça com uma mão, eles retornaram a sua marcha. 

    Jonas ouviu barulhos vindos de trás. Sons animalescos. O cavaleiro estava certo, um banquete se iniciara com a carne das criaturas, pouco depois de eles partirem. Os sons da carne sendo rasgada, e os ossos sendo partidos reverberava pelos seus ouvidos. Ossos, e carne do que antes fora os monstros que os atacaram. Muitos deles, se não todos, mortos pelo cavaleiro empunhando a espada que agora Jonas levava. 

    Tudo fora tão chocante. Um momento antes eles estavam lutando por suas vidas, agora andavam como se nada tivesse ocorrido. 

    Não exatamente. 

    Jonas estava exausto, assim como Túlio e Leandro. Graça estava assustada, e Erick mal se aguentava em pé, sua pele pálida, ele parecia doente. Apenas o cavaleiro continuava inalterado. 

    Jonas se aproximou de Leandro e Graça. 

    — Como vocês ‘tão’? — perguntou. 

    — Não sei dizer, aqueles bichos pareciam saídos de algum filme de terror — Leandro respondeu, olhando pro chão. 

    Ele caminhava com cuidado enquanto ajudava Graça. 

    — Glória a Deus por aquele cavaleiro — A senhora exclamou. 

    — Sim, ele fatiou os monstros como se não fossem nada — Leandro disse, parecendo se animar. 

    Jonas se lembrou do homem arremessando os monstros de um lado para o outro. 

    — Sim, ele é bem forte. Salvou vocês e o Erick. 

    — O Erick? — Leandro levantou uma sobrancelha. 

    Jonas acenou com a cabeça, sentindo-se um pouco confuso. 

    — Eu não sei o que tu viu, mas quando olhei pra ele, o monstro tava em pé num momento, e foi fatiado em dois no outro. E o cavaleiro nem perto tava — Leandro afirmou. 

    — Mas, o monstro o derrubou, e ele tá todo cansado. 

    Leandro apenas deu de ombros, sacudindo a cabeça para os lados. 

    Confuso, Jonas olhou para Erick, que arrastava os pés enquanto se apoiava nos ombros de Túlio. Eles continuaram a caminhar pela trilha em silêncio. 

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