Capítulo 1079 - A Estela
No Porto Bansy, no Mar Sônia.
Depois que Lumian, Franca e Jenna chegaram, viram ruínas sem fim. Todos os prédios ali haviam desabado, com muitas marcas enegrecidas. Animais selvagens agora habitavam a área, ocasionalmente emitindo o chamado “caw caw” dos corvos.
Lumian ouviu da Madame Mágica sobre a destruição de Porto Bansy, mas esta era a primeira vez que ele realmente vinha ali.
— Pelas informações coletadas, este costumava ser o território da família Médici, que acreditava no Deus do Clima. Há uma chance de que a característica de Beyonder do Feiticeiro do Clima possa ser encontrada aqui, mas provavelmente foi levada por aquele Anjo Vermelho, — disse Franca enquanto olhava ao redor.
Olhando para as ruínas de Bansy à sua frente, Lumian sentiu como se estivesse de volta à desastrosa Cordu.
Ele ficou ali atordoado por alguns segundos antes de falar: — Este é um propósito: procurar por aí não vai nos custar muito. O outro propósito é encontrar o local especial que a Madame Mágica mencionou, usar a vela de cera de cadáver e completar o ritual.
Rindo, Lumian continuou: — Já que o Mestre Celestial conseguiu usar a Professora e companhia como médium para localizar o Sábio Oculto e ajudar o Sr. Tolo a encontrar o alvo, o ritual de contrato do Imperador de Sangue também deve ser capaz de encontrar onde está a característica de Beyonder restante, o Feiticeiro do Clima. Como alguém que mal é considerado sua Abençoado, é pedir demais a Ele por este pequeno favor?
— Em teoria, é possível, mas é muito perigoso. Seria melhor acumular contribuições e buscar revelações com o Sr. Tolo. Ele é a maior existência no topo do caminho do Vidente e deve ser capaz de adivinhar pistas sobre a característica de Beyonder do Feiticeiro do Clima restante. — Franca não gostava muito que Lumian corresse riscos desnecessários.
Embora este seja o seu estilo, ele deveria tentar controlar o número de aventuras arriscadas. Jenna assentiu, concordando com as palavras de Franca.
— Você acha que eu não pedi revelações ao Sr. Tolo? Adivinha qual foi a revelação dele? — Lumian sorriu. — Bansy!
— Tudo bem então, — resmungou Franca.
— Vocês duas me ajudem a me proteger de qualquer acidente, — disse Lumian, colocando a mão no peito e curvando a cabeça para rezar ao Sr. Tolo.
Após a oração, ele ativou a aura remanescente do Imperador de Sangue, o selo do Taoísta do Submundo e o furo escuro na palma da mão direita. Guiado apenas por sua intuição espiritual, ele começou a se aprofundar nas ruínas. Franca e Jenna o seguiram várias dezenas de metros atrás, uma de cada lado.
Eles caminharam por quase um quarto de hora quando Lumian parou em frente a um prédio que desabou. As paredes do prédio estavam destruídas, restando apenas alguns pedaços de madeira carbonizada da entrada. No chão, queimado como se por um raio, viam-se duas silhuetas humanas vívidas, vermelho-sangue.
No canto, próximo a essas duas sombras, havia um desenho simples representando um monstro com tentáculos.
— De acordo com as informações fornecidas pelo Sr. Enforcado, este era o posto telegráfico de Porto Bansy… Então está aqui, afinal…
Resmungando, Lumian caminhou até as duas marcas humanas cor de sangue e tirou uma vela semi-solidificada amarelo-avermelhada em um frasco de vidro. Ele então colocou a vela de cera de cadáver sobre as paredes empilhadas e desmoronadas e a acendeu usando a fricção de sua espiritualidade.
Ao ver isso, Jenna e Franca pararam de andar e não avançaram mais. Elas estavam preocupadas que também seriam afetadas pelo cheiro da vela e seriam passivamente atraídas para o ritual de contrato, incapazes de monitorar a situação.
Lumian sentou-se de pernas cruzadas e começou a Cogitação.
O incenso de aroma adocicado se difundiu no silêncio, penetrando gradualmente em suas narinas, causando coceira nos ossos e inchaço nas veias. De repente, um véu de névoa escura surgiu diante de seus olhos. Diferentemente de rituais de contrato anteriores, a alma errante de Lumian foi imediatamente tomada por uma força invisível e puxada para as profundezas da névoa no momento seguinte.
Girando, virando.
Lumian rapidamente se recuperou e se viu em uma casa espaçosa e iluminada, com fileiras de assentos em ambos os lados, ocupada por várias pessoas que pareciam estar esperando. Algumas dessas pessoas estavam vestidas normalmente, enquanto outras tinham trajes bem estranhos. Lumian ainda não tivera a chance de examiná-las de perto quando um grito soou ao seu lado: — Atenção, abram caminho!
Lumian não entendeu e se virou com um olhar perplexo, encarando um homem que acabava de entrar pela porta.
O homem vestia uma camisa branca, um colete preto e uma cartola — um visual que combinava com o estilo “oriental” que Franca havia descrito. Ele segurava um pedaço de papel na mão. Lumian deu um passo para o lado para deixar o homem passar, observando-o correr em direção à frente do salão sem olhar para trás.
Toc, toc, toc — o som do telegrama ecoou naquela direção.
Lumian então percebeu que se tratava de uma agência telegráfica e que as pessoas estavam esperando por respostas. Muitas das pessoas que esperavam já haviam voltado o olhar para ele. Lumian puxou o capuz para esconder o rosto. Comparado ao fascínio de uma Demônia, usar roupas estranhas não era um grande problema.
Do lado de fora do telégrafo, a cena de repente ficou animada.
Havia prédios de vários andares, de vários estilos, ruas largas e, ocasionalmente, automóveis pretos e os riquixás amarelos que Franca mencionara passando. Entre a multidão agitada, alguns usavam camisas, ternos e chapéus, outros usavam túnicas longas e quipás, alguns de camisas brancas e becas pretas com calças largas e sapatos de cano alto, com a cintura saliente como se escondessem pistolas, e alguns com a cabeça envolta em pano vermelho e segurando cassetetes curtos, enquanto outros usavam vestidos longos com babados e renda, ou saias justas com fendas nas laterais…
Lumian de repente sentiu que aquilo era tão próspero quanto Trier.
Ding-ding.
O som claro ecoou enquanto um trem de dois carros, sustentado por trilhos suspensos, passava rapidamente. Essa cena era muito familiar para Lumian — ele já sabia que aquilo se chamava bonde.
Entretanto, diferentemente do que ele tinha visto antes, os passageiros do bonde eram todos bastante normais, suas vestimentas eram indistinguíveis das dos pedestres nas ruas, e nenhum deles tinha uma cabeça normal, arrastando uma espinha sangrenta e ossuda.
“O local que inseri é diferente da rua anterior? Ou talvez essa rua estivesse originalmente escondida e exija métodos especiais para ver ou entrar? Meus vários atributos especiais, combinados com os problemas em Bansy, me trouxeram mais diretamente a esta metrópole?” murmurou Lumian enquanto olhava ao redor.
Mesmo entre as pessoas puxadas em riquixás, não havia mulheres com rostos cheios de pus e machucados escondendo-os com leques. Além de não entender a língua ao seu redor e da escassez de pessoas que se parecessem com sua aparência, Lumian não via problemas na cidade movimentada à sua frente.
Em termos dos efeitos do ritual de contrato, isso poderia ser considerado um fracasso, pois ele não ganhou nada e não tocou em nenhum mistério.
Depois de refletir por um tempo, com a sensação de ser jogado em uma terra estrangeira sem um bom tradutor, Lumian seguiu a orientação de sua própria espiritualidade e gradualmente se afastou do próspero centro da cidade, entrando em becos mais estreitos.
Os estilos arquitetônicos de ambos os lados se tornaram mais peculiares: batentes de pedra, grossas portas de madeira preta e muros altos com pátios profundos. Lumian tentou estender a mão direita para tocar um poste de madeira, mas viu sua palma passar por ele.
“Estou em um estado de Corpo-Alma agora? Não, deveria ser um estado espiritual e mental puro, mas ainda posso ser visto pelas pessoas ao meu redor…” Lumian analisou enquanto continuava caminhando, navegando por entre fios emaranhados, varais e escombros empilhados aleatoriamente, até chegar a uma área com muitas residências.
A primeira coisa que chamou sua atenção foi uma torre de madeira de formato estranho. Era muito parecido com o núcleo de névoa que ele tinha visto em rituais de contrato anteriores, mas sob a luz do sol, a torre de madeira havia perdido sua indescritível sensação de terror e melancolia. Em frente à torre marrom havia grandes casas e árvores verdes, tudo cercado por um muro amarelo, impedindo que alguém o escalasse.
As portas duplas de madeira abertas na entrada principal recebiam um fluxo constante de pessoas entrando e saindo, todas parecendo cidadãos comuns.
“Era isso que Franca chamava de templo?” Lumian ponderou por um momento e então seguiu a multidão até a área cercada pelo muro amarelo. Ele fingiu estar passeando enquanto se aproximava gradualmente da torre de madeira. Ao longo do caminho, ele notou que os “monges” deste templo estavam divididos em várias categorias, com trajes muito diferentes, e não pareciam interagir muito uns com os outros.
Os dois grupos mais numerosos eram: um usando túnicas azuis e chapéus altos, lembrando o estilo do Mestre Celestial, e o outro com cabeças raspadas, usando túnicas cinza opacas ou túnicas internas amarelas com vestimentas externas vermelhas.
Quando Lumian chegou a um ponto próximo à torre de madeira, dois tipos de “monges” bloquearam seu caminho em sucessão.
Embora não entendesse o que os “monges” estavam dizendo, ele entendeu a mensagem: — Pare!
Lumian não discutiu e voltou-se para o prédio por onde acabara de passar. Durante esse processo, ele observou discretamente o ambiente, notando que muitos “monges” estavam dispersos ao longo do caminho que levava à torre de madeira, alguns abertamente, outros secretamente, mostrando sinais de uso de poderes Beyonder.
“Eles estão protegendo a torre de madeira, não permitindo a entrada de estranhos?” Ao tomar essa decisão, Lumian abandonou a ideia de tentar se teletransportar para lá ou usar o mundo dos espelhos.
Se a torre de madeira fosse de fato o local central indicado pelo ritual de contrato, os guardas estariam preparados contra tais métodos!
Pensando em como havia entrado na torre através de um contrato mental, Lumian encontrou um local escondido e tentou replicar aquele estado. Assim que completou a Cogitação, ele subitamente levitou, flutuando em direção à torre de madeira através da névoa escura que subitamente se espalhava, sem qualquer obstrução.
Logo, Lumian chegou ao seu destino, mas foi bloqueado por uma força invisível, conseguindo apenas descer, preparando-se para entrar pela porta.
A sensação de flutuar desapareceu rapidamente, e a névoa escura envolvente se dissipou. Desta vez, Lumian viu claramente a situação na entrada da torre de madeira. Ali havia uma estela de pedra desgastada pelo tempo.
Lumian não conseguiu decifrar o texto na estela, mas entendeu seu significado como se fosse por meio de comunicação espiritual.
A inscrição dizia: “Reuni o poder do mundo, reduzi pela metade as fileiras dos bravos, prendendo o dragão malévolo aqui, reprimi a calamidade que ele causou.”
“Erigido pelo Quinto Mestre Celestial.”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.