Capítulo 541 – Confiança Simples
“Como minha reputação se espalhou tão rápido? Mesmo que o rumor de que eu estava caçando Burman tenha chegado a Porto Santa dois dias antes do Pássaro Voador, o mandatário teria que levar um tempo para determinar onde eu moro, a autenticidade das notícias…” Lumian estimou alguns dias antes que alguém procurasse seus serviços, e isso levou seus pensamentos à antinatural “Madame”.
Ele se levantou e disse a Lugano: — Convide aquela Madame para entrar.
Com essas palavras, Lumian abaixou-se para pegar o distinto chapéu de palha dourado da pequena mesa redonda. Ele pretendia tornar a imagem de Louis Berry mais memorável, adicionando um toque de estilo à sua persona.
Rapidamente, Lugano acompanhou uma mulher na faixa dos trinta até a sala.
Ela usava um vestido branco largo adornado com flores vermelhas, acentuando suas curvas.
As mulheres de Porto Santa, em contraste com a região de Dariège, do outro lado da montanha, preferiam trajes glamourosos e elegantes, incorporando uma estética romântica e liberada, refletindo o gosto tradicional do Reino de Feynapotter.
A mulher, com longos cabelos castanhos presos e uma pele saudável, entrou sem uma empregada. Seus olhos azuis, emoldurados por cílios grossos, focaram em Lumian, que segurava o chapéu de palha dourado.
Seus lábios vermelhos se moveram e, embora Lumian não conseguisse entender cada palavra, o nome “Louis Berry” era perceptível em sua pronúncia.
Prontamente, Lugano iniciou a tradução.
— A Madame diz: Honorável Monsieur Louis Berry, ouvi sobre sua caçada ao Bruxo Demoníaco. Gostaria de saber se você está disposto a ajudar minha família a resolver um problema.
O olhar de Lumian mudou da pulseira de pedras de joias no pulso da senhora para seu rosto lindo e maduro.
— Qual o seu nome?
— Giorgia — respondeu a senhora depois que Lugano traduziu.
Lumian repetiu, reconhecendo o nome da senhora com um sorriso,
— Madame Giorgia, o que a senhora gostaria de me confiar?
Giorgia ouviu atentamente a tradução de Lugano e falou em escocês com um leve sotaque local: — Uma criatura maligna apareceu na minha casa. Preciso da sua ajuda para eliminá-la.
Lumian, embora entendesse a essência, aguardou a tradução de Lugano lançando seu olhar para ele.
Quando Lugano transmitiu as palavras de Giorgia em intisiano, Lumian riu e disse: — Desculpe, esqueci de convidar a bela Madame para se sentar.
— O grande aventureiro Gehrman Sparrow nos ensinou que boas maneiras são muito importantes.
Gesticulando em direção ao sofá, Lumian se acomodou no puff, tentando acariciar a cabeça de Ludwig, como um padrinho.
Ludwig rapidamente mudou de posição, evitando a tentativa de Lumian de tratá-lo como uma criança.
Enquanto Giorgia se acomodava em uma poltrona, Lumian, sacudindo seu chapéu de palha dourado, inclinou-se para frente.
— Já que é uma criatura maligna, por que você não encontra um clérigo da Igreja Mãe Terra para lidar com isso?
Giorgia olhou para Lugano e ouviu atentamente.
Ela franziu os lábios grossos e respondeu em escocês:
— Não queremos que a Igreja saiba disso. Isso prejudicará a reputação da nossa família.
“É por isso que você está confiando em mim, um estrangeiro que irá embora depois de assistir ao ritual de oração do mar? E isso depois de confirmar minha habilidade de lidar com aquela criatura maligna…” Lumian, ponderando sobre essa escolha, desviou o olhar de Lugano. Após uma breve pausa, ele perguntou: — Conte-me mais sobre aquela criatura maligna.
Após uma breve pausa, Giorgia contemplou e então compartilhou: — Parece um lagarto sem cauda. Ele atacou todos na casa, matando algumas empregadas e criados e devorou seus corpos.
— Os guarda-costas da nossa família atiraram nele e o feriram, mas não conseguiram matá-lo porque ele tem escamas muito fortes. Só conseguimos persegui-lo até o porão e trancá-lo.
— Pensamos que ele morreria lentamente de fome e sede. Para nossa surpresa, quase duas semanas depois, ele ainda está vivo e tentando arrombar a porta do porão.
“Não parece muito perigoso. Eles poderiam repeli-lo com armas de fogo comuns… Eles não mencionaram por que o lagarto apareceu. Parece que é por isso que eles não estão dispostos a procurar a Igreja da Mãe Terra e o governo local para lidar com isso…” Lumian comparou cuidadosamente as poucas palavras que ele entendeu com o conteúdo traduzido por Lugano e confirmou que o guia não havia embelezado ou modificado nenhum conteúdo.
Lumian então perguntou casualmente: — Houve alguma vítima entre os guarda-costas?
Giorgia, após a tradução, balançou a cabeça lentamente.
— Nenhuma fatalidade. Dois ficaram feridos, mas nada grave. Sim, aquele monstro fez com que a sala inteira parecesse ter sido arrastada para o fundo do mar, afetando os movimentos normais.
“Como se arrastado para o mar profundo… De fato, há certos fenômenos Beyonder, mas eles parecem relativamente fracos… Fundo do mar…” O interesse de Lumian foi despertado enquanto ele perguntava seriamente sobre os detalhes.
Após uma série de respostas, Giorgia disse gentilmente: — Monsieur Louis Berry, estamos dispostos a lhe pagar 15.000 risot, mas você tem que prometer não tornar esse assunto público.
“15.000 risot de ouro? De acordo com sua descrição, o monstro vale no máximo 5.000 risot de ouro. Os 10.000 restantes devem ser um dinheiro para calar a boca, certo?” Lumian sorriu e disse em escocês ruim, — Claro.
Levantando-se de seu assento, Lumian anunciou em intisiano: — Quero observar a situação no local.
Giorgia se levantou e ouviu a tradução de Lugano.
Ela não ficou surpresa com o pedido de Louis Berry. Familiarizada com aventureiros e caçadores de recompensas, ela entendeu a importância de avaliar a situação em primeira mão e fazer preparativos completos. Isso significava sobrevivência ou sucesso para as elites.
— Agora? — Giorgia buscou confirmação.
Lumian compreendeu a palavra e afirmou em escocês: — Agora.
Enfeitando seu chapéu de palha dourado, ele foi até a porta, acrescentando em intisiano: — Prepare também um jantar suntuoso para mim, meu afilhado e meu tradutor.
Giorgia, um pouco surpresa com a tradução, observou a partida de Lumian. Ela não conseguia se livrar da sensação de que esse aventureiro possuía uma qualidade distinta em comparação com aqueles que ela havia encontrado antes.
…
Porto Santa, Rue Saint Lana.
Ao nordeste da cidade ficavam vilas de vários andares adornadas com jardins, gramados e estábulos.
A residência de Giorgia ocupava o número 21 desta rua. A vila de cinco andares ostentava paredes externas marrom-avermelhadas, adornadas com estátuas de anjos e santas da Igreja Mãe Terra, junto com símbolos representando ondas e pesca.
Usando seu característico chapéu de palha dourado e segurando a mão de Ludwig, este último carregando uma mochila escolar vermelha, Lumian seguiu atrás de Giorgia, acompanhada por sua empregada e seu criado. Juntos, eles entraram no salão da vila, que também servia como uma espaçosa pista de dança sob um teto alto e abobadado.
Quando Lumian entrou, sentiu olhares invisíveis sobre ele vindos das grades circulares dos andares superiores.
“É de fato uma casa com várias famílias dividindo o mesmo teto. Há algumas pessoas…” Lumian refletiu, escolhendo não olhar para cima, sorrindo interiormente.
Os observadores ocultos permaneceram escondidos. Giorgia então convocou dois guarda-costas legalmente armados, levando Lumian e a comitiva até o segundo porão, onde a porta preta como ferro estava bem fechada.
Como se sentisse alguém se aproximando, a porta bateu como se tivesse sido atingida por uma força poderosa.
— Está lá dentro — afirmou Giorgia, apontando para a porta de ferro com uma expressão complicada.
Lumian, entendendo sem precisar de tradução, apertou seu chapéu de palha dourado e ordenou: — Leve meu afilhado para a sala de estar para a sobremesa do jantar.
Enquanto falava, ele caminhou em direção à porta de ferro subterrânea sem olhar para trás.
Ao ouvir a tradução de Lugano, Giorgia e a empregada guiaram Ludwig às pressas de volta à superfície. Um guarda-costas alcançou Lumian, sua expressão séria, e lhe entregou uma chave preta como estanho.
Sem demora, os dois guarda-costas sacaram seus revólveres, posicionando-se para mirar na porta de ferro, impedindo que o monstro escapasse.
Lumian metodicamente inseriu a chave na fechadura, destrancando-a.
Ele jogou a chave de lado e, sem esforço, abriu a porta de ferro com uma mão.
Num instante, a figura do monstro apareceu.
Um lagarto humanoide, adornado com escamas brilhantes e robustas, encontrou os olhos de Lumian. Onde não havia escamas, pele lisa e sinistra de cobra estava exposta.
Os olhos do monstro eram verticais e brilhavam com uma luz quase transparente. Sua boca abrigava dentes afiados que formavam um vórtice ameaçador.
Simultaneamente, Lumian sentiu o ar ao seu redor ficar mais denso, como se algemas o envolvessem, claramente impedindo seus movimentos normais.
A umidade dava a sensação de mergulhar no fundo do mar, suportando pressão de todas as direções.
O lagarto humanoide avançou, e o corpo de Lumian se inclinou em direção ao inimigo como se fosse puxado por um vórtice.
No entanto, o sorriso óbvio em seus lábios persistiu enquanto ele calmamente tentava girar.
De repente, um poder latente surgiu dentro dele, permitindo que ele se libertasse das restrições do ar.
Lumian girou rapidamente o corpo, balançando o punho direito por baixo.
Instantaneamente, chamas vermelhas, quase brancas, saíram de seu punho, espalhando-se para seu antebraço, lembrando uma serpente de fogo deslumbrante.
Estrondo!
O soco atingiu o peito e o abdômen do lagarto humanoide, fazendo com que as chamas se comprimissem.
Estrondo!
O lagarto humanoide foi lançado voando, com escamas cristalinas salpicando de seu peito e abdômen, resultando em um ferimento enorme.
Lumian não o perseguiu. Com uma mão no bolso, ele mudou seu punho direito para uma palma e gentilmente empurrou para frente.
Bolas de fogo vermelhas, quase brancas, se materializaram diante dele, assobiando na ferida no peito e abdômen do lagarto.
Estrondo!
O monstro se desintegrou, sua carne e sangue se espalhando pelo chão.
Lumian observou por alguns momentos antes de ajustar seu chapéu de palha dourado. Ele se virou e caminhou em direção às escadas que levavam à superfície.
Os dois guarda-costas armados e vigilantes mantiveram sua postura original, ainda atordoados, incapazes de compreender o que havia acontecido.
Lumian não os “avisou” enquanto subia as escadas.
Ao ouvir a explosão, Giorgia, no chão, saiu do salão com Lugano e se aproximou da escada. Ela viu Lumian subindo.
— Você confirmou a situação? — Madame Giorgia perguntou preocupada.
Lumian respondeu com um sorriso: — Está resolvido.