Índice de Capítulo

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    Quanto mais Aurore ruminava sobre o assunto, mais suas suspeitas se intensificavam.

    Como poderia o impotente Guillaume Bénet subjugar o poderoso Pierre Berry, que possuía nada menos que habilidades sobrenaturais?

    Se o padre fosse de fato favorecido por uma força sombria, a ponto de seu grupo o considerar o seu líder, ele deveria ter sido agraciado com uma bênção há muito tempo e elevado acima das massas comuns.

    Se ele recusasse o benefício, inevitavelmente enfrentaria o ostracismo.

    Nessas circunstâncias, sua posição, autoridade e maquinações empalideciam em comparação ao seu poder ou ao abismo que o separava da divindade.

    Aurore não teve tempo para refletir sobre isso e só conseguiu conceber duas explicações plausíveis.

    Ou Guillaume Bénet não era o verdadeiro líder do pequeno grupo e estava apenas explorando seu status para orquestrar e ocultar a anomalia da Igreja do Eterno Sol Ardente em Dariège.

    Ou ele não estava rejeitando a bênção, mas apenas aguardando a hora certa para alcançar maior poder.

    Nenhuma das explicações era um bom presságio.

    Aurore dirigiu seu olhar para as três ovelhas e perguntou: — Quem era o homem que acompanhou Pierre Berry no ataque a vocês?

    As três ovelhas rabiscaram suas respostas.

    — Niort Bastet.

    — Um pastor chamado Niort.

    — Ele atende pelo nome de Niort.

    “Niort Bastet também alcançou um poder extraordinário?” Aurore conhecia o indivíduo em questão.

    Niort era um pastor de Cordu que frequentemente pastava seu rebanho ao lado de Pierre Berry. Mas ele aparentemente não voltou mais cedo desta vez.

    — Onde está Niort? Eu não o vi na aldeia, — perguntou Aurore.

    As três ovelhas afastaram-se alguns passos e encontraram um novo pedaço de terra não marcada para escrever.

    — Ele está morto.

    — Eu o matei.

    — Nós o eliminamos, mas fomos presos.

    “Ele foi vítima de um contra-ataque?” Aurore assentiu pensativamente.

    — Todos vocês são Beyonders?

    As três ovelhas pararam de escrever em escocês com os cascos e assentiram com a cabeça.

    Aurore os reconheceu sucintamente enquanto corria para processar as implicações.

    “Pierre Berry e Niort Best estão caçando Beyonders. Qual é o motivo deles?”

    “E um deles agora está morto…”

    “Ou as habilidades de Niort eram insignificantes em comparação com as de Pierre, ou eles adquiriram seus poderes através do benefício e estavam longe de ser proficientes em manejá-los. Era certo que as batalhas Beyonder encontrariam complicações…”

    Aurore olhou para as três ovelhas mais uma vez e perguntou: — Vocês sabem por que Pierre capturou vocês?

    As três ovelhas voltaram a escrever.

    — Eu o ouvi falar de Deus e devoção.

    — Pode ser para um sacrifício de sangue.

    — Suspeito que ele queira nos oferecer como sacrifício a um deus maligno.

    “Na verdade, os Beyonders possuem uma espiritualidade notavelmente elevada e características únicas. Eles são muito superiores aos mortais comuns como oferendas de sacrifício, e podem apaziguar deuses malévolos de forma mais eficaz… Pierre Berry e Niort Bastet estavam usando ovelhas pastando como um estratagema para sequestrar Beyonders de outros países para oferecê-los como sacrifícios? É um esquema que pode facilmente escapar da atenção das autoridades locais…” Aurore assentiu imperceptivelmente.

    Ela falou solenemente: — Pierre mencionou o nome honroso daquele deus? Ou melhor, para quem eles estavam orando durante o ritual que transformou vocês em ovelhas?

    As três ovelhas ficaram surpresas, como se estivessem inundadas de lembranças.

    De repente, abaixaram a cabeça e estenderam os cascos em direção ao solo diante delas.

    Por alguma razão inexplicável, Aurore sentiu que a temperatura havia despencado e o sol estava obscurecido por nuvens escuras, enquanto uma brisa fria da montanha passava.

    As três ovelhas começaram a escrever.

    A intuição espiritual de Aurore soou um alarme poderoso, levando-a a gritar: — Espere!

    As três ovelhas levantaram a cabeça e olharam para ela.

    Em algum momento, lágrimas vermelho-sangue brotaram de seus olhos e seu pelo estava manchado e medonho.

    No momento seguinte, voltaram a escrever.

    Aurore se virou e correu em direção à cerca.

    Quando saiu do curral e olhou para trás, as três ovelhas foram banhadas pela luz do sol.

    Se não fosse pelas manchas de sangue nos seus rostos, tudo parecia completamente normal.

    Thump, thump… O coração de Aurore continuou batendo forte.

    Ofegante, ela deu um suspiro de alívio.

    “Se eu não tivesse aprendido a lacrar minha visão e vislumbrar coisas que não deveria ter visto, não teria reagido a tempo…”

    Ela pegou um frasco de pólvora negra e espalhou-o sobre o curral das ovelhas.

    As palavras gravadas no solo desapareceram como se fossem feitas por uma mão invisível.

    Quanto às manchas no rosto das ovelhas, Aurore achou um desafio eliminá-las usando feitiços, então ela evitou se aproximar delas e apenas as lavou com água.

    Ela temia que as três ovelhas fossem diferentes de antes e abrigassem perigos latentes.

    No Antigo Bar, Lumian estava sentado, bebendo absinto verde-claro, o cotovelo direito apoiado casualmente enquanto examinava a sala.

    Ele procurou pela misteriosa mulher, mas ela não estava em lugar nenhum, nem Ryan, Leah e Valentine.

    Lumian não sabia quando a mulher chegaria e, quanto aos três últimos, presumiu que estivessem vagando pela aldeia, conversando ociosamente.

    Pierre Berry, que acabara de beber seu copo de absinto, pegou um novo líquido verde-claro e balbuciou: — Tive a chance de me casar.

    — É mesmo? — Lumian zombou: — Quem gostaria de casar com um pastor?

    Pierre suspirou e respondeu: — A maioria das pastagens em que pastamos pertencem a proprietários de propriedades rurais ou de aldeias próximas. Se quisermos pastar, teremos que pagar um imposto ou nos casar com uma garota da aldeia e nos estabelecer lá.

    Lumian sorriu. — Isso é uma coisa boa para um pastor.

    Pierre tomou um gole de absinto e olhou de soslaio para Lumian.

    — Aquela garota deve gostar de você e não pedir dote.

    — Certa vez, uma mulher pensava que eu não era mau e não se importava por ser um pobre e um pastor. Ela estava disposta a se casar comigo. Ela era muito tola?

    — Sim. — Lumian acenou com a cabeça honestamente.

    Pierre tomou outro gole de absinto e ficou em silêncio por um longo tempo antes de dizer: — Mais tarde, ela morreu. Ela trabalhava em uma fábrica no subúrbio e adoeceu devido à exaustão. Fui a várias catedrais, fiz com que os padres rezassem por ela e procurei médicos para tratá-la, mas foi inútil. Depois daquele dia, percebi uma coisa.

    Lumian perguntou, tomando um gole de absinto: — O que foi?

    O ressentimento brilhou no rosto de Pierre quando ele respondeu: — Aqueles que possuem carne e cagam pela bunda não podem nos absolver de nossa situação!

    Lumian perguntou: — Então, aqueles sem carne e aqueles que não cagam pela bunda aceitáveis?

    Pierre riu. — Esses são santos e anjos, mas eles se dignarão a olhar para nós?

    Lumian fez uma careta. — Então por que você foi à catedral procurar o conselho do padre? Ele não apenas possui carne e caga pela bunda, mas também se entrega aos prazeres carnais com as mulheres.

    Pierre virou a cabeça para Lumian e lançou um olhar de soslaio.

    — Você não consegue compreender. Ele possui uma certa intelectualidade que pode redimir nossas almas.

    — Intelectualidade? — Lumian lutou para entender o termo.

    Pierre tomou outro gole de seu absinto verde-claro, aparentemente alheio à pergunta.

    Lumian não se atreveu a insistir no assunto e, em vez disso, perguntou: — Ouvi dizer que você visitou a catedral ao meio-dia. Por que voltou à tarde?

    O sorriso caloroso de Pierre iluminou seu rosto quando ele respondeu: — À tarde, pode-se conversar com pessoas que pensam como você.

    Ele não negou que visitou a catedral ao meio-dia.

    Lumian deu um suspiro de alívio, sabendo que, por enquanto, ninguém mais reteria suas memórias e interromperia o fluxo da história.

    Ele suspeitava que Pierre Berry tivesse visitado a catedral ao meio-dia para conversar com o padre antes da discussão em pequeno grupo marcada para a tarde.

    Após a conversa fiada e com o sol se pondo no horizonte, Lumian e Pierre Berry se despediram e retornaram às suas respectivas residências.

    Pons Bénet, o irmão mais novo do padre, emergiu abruptamente com alguns bandidos e obstruiu o caminho de Lumian até que ele alcançasse um caminho isolado.

    O musculoso Pons Bénet, de cabelos negros e olhos azuis, olhou para Lumian e sorriu maliciosamente.

    — Você era bom em brincadeiras à tarde, não? Perdendo nosso tempo na catedral. Se o padre não estivesse lá, eu teria batido em você, hein! Bastardo, venha comer o XX do papai Pons.

    Inicialmente surpreso com a tolice desse imbecil, Lumian ficou exultante.

    O julgamento dele e de Aurore estava correto. No loop anterior, Pons Bénet provavelmente não tinha adquirido habilidades sobrenaturais antes do funeral de Naroka e, portanto, não tinha sensação de perigo.

    Ele realmente se atreveu a obstruir o caminho de um Beyonder!

    Sem hesitar, Lumian se virou e saiu correndo, com Pons e seus capangas em sua perseguição.

    Porém, assim que saíram da trilha entre dois prédios, perderam de vista a presa.

    Pons Bénet examinou os arredores e ordenou aos seus subordinados: — Espalhem-se e procurem.

    Ele considerou impossível que Lumian tivesse fugido tão rapidamente e acreditou que estava escondido nas proximidades.

    Os bandidos se dispersaram e vasculharam a área em busca de possíveis esconderijos, deixando Pons Bénet sozinho na entrada da trilha.

    Lumian, que havia subido ao segundo andar do prédio adjacente, riu e saltou na direção de Pons.

    Bang!

    Pons foi jogado no chão com uma força tremenda, ofegante e momentaneamente incapacitado.

    Se Lumian não tivesse se contido e o atingido diretamente, ele poderia ter quebrado vários ossos.

    Lumian levantou-se, segurou os antebraços de Pons e sorriu para ele, dizendo: — Venha, vamos nos conhecer melhor.

    Antes que Pons pudesse oferecer qualquer resistência, Lumian puxou-o e deu-lhe uma joelhada.

    Os olhos de Pons quase saltaram das órbitas e seu rosto se contorceu em agonia.

    Thud!

    Lumian o soltou, permitindo que o homem caísse no chão como um camarão.

    Ele então se virou e disparou pela trilha, desaparecendo de vista antes que os bandidos voltassem.

    Na cozinha, que também funcionava como área de estar e jantar em tempo parcial,

    Lumian atualizou sua irmã sobre sua situação.

    — Pierre Berry visitou a catedral à tarde… Está confirmado que Pons Bénet ainda carece de superpoderes.

    Aurore assentiu levemente e contou sua própria experiência, particularmente o perigo inexplicável no final.

    Lumian ponderou por um momento antes de comentar: — Aquela mulher enigmática afirmou que certas entidades podem corromper alguém simplesmente por reconhecer a existência delas.

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