Capítulo 18: O Encontro Inesperado

Ryuu caminhava pelas ruas movimentadas da cidade, ainda com a mente distante, processando tudo o que havia acontecido na noite anterior com Kira. O silêncio do encontro e a conexão inesperada ainda ecoavam em sua mente. Ele não sabia ao certo para onde estava indo; apenas queria sair de casa por algumas horas e espairecer. Seus passos o levavam em direção a uma das áreas comerciais da cidade, onde as luzes de neon iluminavam as vitrines com um brilho que fazia parecer que o ciberespaço estava invadindo o mundo físico.

Enquanto caminhava distraído, ele foi puxado de volta à realidade por uma voz familiar, uma voz que ele não ouvia há muitos anos.

— “Ryuu? Não acredito!”

Ryuu parou e se virou rapidamente, o coração acelerado por um instante, tentando reconhecer quem havia chamado por ele. E lá estava, do outro lado da rua, Akira Tanabe, seu grande amigo de infância, alguém com quem ele costumava passar horas jogando videogames e planejando aventuras. Akira não havia mudado muito. Ele ainda tinha o mesmo sorriso despreocupado, embora seu cabelo preto estivesse um pouco mais curto e seus olhos, antes cheios de alegria, parecessem mais sérios agora.

— “Akira!?”, Ryuu respondeu, surpreso. “Cara, quanto tempo!”

Akira atravessou a rua rapidamente e, sem pensar duas vezes, abraçou Ryuu com um sorriso largo. — “Faz muito tempo mesmo! Nem sei quando foi a última vez que nos vimos. O que você tem feito?”

Ryuu retribuiu o abraço e, por um momento, todos os problemas pareciam desaparecer. Encontrar Akira, alguém que conhecia sua vida antes de tudo, era como um respiro de alívio no meio do caos.

— “Ah, você sabe… a vida tem sido meio… complicada”, Ryuu disse, tentando soar casual.

— “Complicada? Você está no lugar certo então. Tóquio sempre foi uma bagunça controlada.”, Akira brincou, mas logo percebeu que Ryuu estava sendo vago. “Vamos, me conta. O que andou acontecendo? Aliás, onde você estava indo agora?”

Ryuu coçou a nuca, ainda processando o fato de ter reencontrado o amigo. “Na verdade, eu estava só andando, tentando limpar a cabeça. Muita coisa aconteceu ultimamente.”

Akira riu. “Então me deixa te acompanhar. Podemos colocar o papo em dia.”

Os dois começaram a caminhar pelas ruas, e a conversa fluía com a naturalidade de amigos que, apesar do tempo e da distância, nunca perderam a conexão. Eles relembraram as aventuras da infância, as horas perdidas nos fliperamas e as brigas bobas que tiveram. Ryuu se sentia mais leve a cada passo, como se estivesse revivendo uma parte de si que havia deixado para trás.

Conforme a conversa evoluía, o assunto acabou tomando um rumo mais sério.

— “Então, Ryuu… Você disse que estava tentando limpar a cabeça. Aconteceu algo grave?”, Akira perguntou, com um tom mais preocupado.

Ryuu hesitou por um momento, pensando se deveria contar ou não. Ele nunca havia sido de compartilhar seus problemas, especialmente quando envolvia coisas pessoais. Mas Akira sempre foi um amigo próximo, alguém com quem ele podia ser honesto.

— “Aconteceu algo ontem à noite”, Ryuu começou, ainda evitando detalhes. “Foi… inesperado, mas foi bom. Eu estive com alguém, e as coisas… aconteceram.”

Akira o olhou de lado, um sorriso surgindo em seu rosto. “Ah, entendi. Então você finalmente se envolveu com alguém? Quem é a sortuda?”

Ryuu desviou o olhar, o rosto levemente corado. “Não é bem assim. Não posso te dizer quem foi, é complicado.”

— “Complicado? Você sempre foi enigmático, mas agora parece que tem mais coisa aí”, Akira brincou, mas percebeu que Ryuu estava tentando proteger algum segredo.

— “Digamos que essa pessoa… faz parte de algo maior. Não posso entrar em detalhes, só estou tentando entender tudo que aconteceu. Foi meio rápido.”, Ryuu suspirou, ainda relembrando os momentos com Kira.

— “Nem fudendo que você se envolveu com mafiosa Ryuu”, diz Akira em um tom irônico, “N-não, eu não sou de fazer isso cara”, respondeu Ryuu rapidamente negando com a cabeça.

— “Relaxa cara hahaha, só to te zoando”, responde Akira rindo.

Akira então, rapidamente se recompõe, preocupado com o amigo.

— “Cara, isso parece complicado mesmo. Mas, sabe, às vezes essas coisas acontecem. Só não deixa o mundo em que você está agora te afastar de quem você é.”, Akira aconselhou, o tom agora mais sério.

Ryuu balançou a cabeça, concordando. Mas algo nos olhos de Akira parecia diferente, como se ele soubesse mais do que estava dizendo.

— “Mas e você, Akira? O que você anda fazendo? Faz tanto tempo… Não tenho ideia de onde você estava.”

O sorriso de Akira se desfez lentamente. Ele olhou para o chão por um momento, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas.

— “Bom… a vida me levou a um caminho um pouco inesperado. Acho que essa é a melhor forma de dizer.”

— “Inesperado como?”, Ryuu perguntou, curioso.

Akira suspirou antes de responder, como se estivesse relutante em dar a notícia.

— “Eu estou trabalhando para a KairoCorp.”

As palavras de Akira fizeram o mundo de Ryuu parar por um momento. Ele tinha acabado de se abrir sobre a noite anterior, e agora descobria que seu amigo de infância estava diretamente ligado à corporação que ele tanto evitava. O nome da KairoCorp carregava um peso enorme em sua vida, e por um instante, Ryuu sentiu seu corpo enrijecer.

— “Você está trabalhando para a KairoCorp?”, Ryuu repetiu, tentando manter a calma.

— “Sim, mas não é nada do que você deve estar imaginando”, Akira apressou-se em explicar. “Eu sou apenas gerente de negócios. Lido com contratos e negociações… nada de operações ou desenvolvimento tecnológico. É um trabalho comum, Ryuu. Eu não estou envolvido em nenhuma das áreas mais… digamos, complicadas.”

Ryuu estudou o rosto de Akira, procurando algum sinal de que ele estivesse mentindo, mas Akira parecia sincero. O sorriso amigável havia voltado, e ele estava tentando tranquilizar o amigo.

— “Então você não tem nada a ver com o que acontece… no ciberespaço? Nada de inteligência artificial ou projetos secretos?”, Ryuu perguntou, ainda cauteloso.

Akira riu. “Cara, eu só assino papéis e coordeno reuniões. A KairoCorp é enorme, sabe? E a maioria de nós está apenas tentando ganhar a vida como qualquer outra pessoa. Eu nem mesmo entendo muito sobre o que eles fazem nas divisões de tecnologia.”

Ryuu relaxou, sentindo o peso da tensão diminuir. Akira sempre foi um amigo confiável, e se ele dizia que não estava envolvido em nada obscuro, Ryuu acreditaria. Afinal, ele sabia que a KairoCorp era gigante, e não era difícil imaginar que nem todos os funcionários estivessem cientes das coisas mais secretas.

— “Certo… bom saber que você está longe desse tipo de coisa”, Ryuu disse, aliviado. “Mas ainda assim, cara, trabalha na KairoCorp? Eu nunca teria imaginado.”

Akira deu de ombros. “Eu também não. Mas é um emprego estável, e eles pagam bem. Quem sabe eu consiga uma promoção e te chame para uma entrevista?”, Ele brincou, dando uma piscadela.

Ryuu riu junto, sentindo-se mais tranquilo. Eles continuaram andando e conversando, mas a revelação de Akira ficaria guardada na mente de Ryuu. Mesmo que Akira dissesse que seu trabalho era inofensivo, a conexão com a KairoCorp ainda o incomodava um pouco. No entanto, por agora, ele escolheu acreditar no amigo e focar no reencontro.