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    O pequeno apartamento nos subúrbios de Tokyo tinha paredes descascadas e um cheiro constante de mofo, mas era tudo o que Ryuu e Kira podiam pagar com o pouco que tinham conseguido carregar na fuga. Jin estava deitado no único quarto, ainda inconsciente, com aparelhos improvisados monitorando seus sinais vitais. A tensão no ar era palpável, e os dois sabiam que não poderiam ficar ali por muito tempo.

    Ryuu observava a rua pela fresta de uma cortina velha, tentando identificar qualquer sinal de movimentação suspeita. A Resistência provavelmente já sabia que eles haviam fugido com Jin, e era questão de tempo até serem encontrados. Ele fechou os olhos por um momento, respirando fundo, tentando afastar os pensamentos de culpa que o assombravam desde que entregara as informações em troca de Kira.

    Atrás dele, Kira estava sentada no chão, desmontando e remontando seu equipamento, um gesto repetitivo que a ajudava a pensar. Ela não havia dito muito desde que chegaram ao apartamento, mas o silêncio dela era ensurdecedor para Ryuu.

    — Está tudo bem?, ele perguntou, sem se virar.

    Kira parou por um momento, mas não ergueu os olhos.

    — Não sei. Talvez nunca esteja.

    Ryuu sentiu o peso das palavras dela, mas não sabia o que dizer. Ele se virou para olhá-la, vendo como a luz fraca da lâmpada realçava os hematomas em seu rosto. Cada marca era um lembrete do que ela havia sofrido, e cada vez que olhava para ela, a culpa aumentava.

    — Kira…, ele começou, mas foi interrompido pelo som de Jin se mexendo no quarto. Ambos se levantaram rapidamente e foram até ele.


    Jin abriu os olhos lentamente, piscando contra a luz fraca do quarto. Ele parecia confuso, mas sua expressão logo mudou para alívio ao ver os dois.

    — O que ta acontecendo? Onde a gente está?, Jin perguntou, a voz rouca e fraca.

    Ryuu assentiu, sentando-se na beira da cama.

    — Estamos em um lugar seguro, por enquanto. Você precisa descansar.

    Jin tentou sorrir, mas o gesto foi interrompido por uma tosse.

    — Seguro?, ele disse, entre a tosse. — Vocês sabem tanto quanto eu que a KairoCorp não tem limites. Eles vão nos encontrar.

    Kira cruzou os braços, encostando-se na parede. Sua expressão era dura.

    — Então precisamos nos preparar. Não podemos continuar fugindo para sempre.


    Enquanto Jin adormecia novamente, exausto, Ryuu e Kira voltaram para a sala. Kira parou perto da mesa, mexendo distraidamente em uma das ferramentas enquanto olhava para Ryuu.

    — Você ainda pensa na sua escolha?, ela perguntou, quebrando o silêncio.

    Ryuu não respondeu imediatamente. Ele se sentou em uma cadeira velha, passando as mãos pelos cabelos.

    — Penso. Mas não me arrependo. Salvar você… era a única escolha que eu podia fazer.

    Kira o encarou, seus olhos avaliando-o cuidadosamente. Finalmente, ela deu um pequeno sorriso, algo entre a tristeza e o alívio.

    — Obrigada, Ryuu. Por não desistir de mim.

    Ele olhou para ela, surpreso com as palavras. Kira geralmente não demonstrava tanta vulnerabilidade, e aquilo o tocou mais do que ele esperava.

    — Nunca vou desistir de você, Kira. Estamos juntos nisso.


    Mais tarde naquela noite, Ryuu continuava a vigiar a rua enquanto Kira dormia no sofá. O peso da responsabilidade ainda era esmagador, mas pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu que não estava sozinho.

    Ele sabia que a luta estava longe de terminar. A KairoCorp continuaria a caçá-los, e a Resistência não seria misericordiosa com traidores. Mas, por enquanto, eles tinham uma chance. Uma pequena faísca de esperança nas sombras que os cercavam.

    E ele estava disposto a protegê-la a qualquer custo.

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