Capítulo XXII (22) - É Hora do Duelo!
O banquete se encerrou em meio a honrarias, músicas e risadas. Permaneci quieto, imóvel em minha cadeira, indiferente aos brindes e aos olhares curiosos que ainda recaíam sobre mim.
E a hora do duelo finalmente chegou.
Deixei Lefkó junto com o resto dos meus pertences, e entrei na arena de terra batida, enquanto a multidão enchia as arquibancadas de pedra. Pareciam um enxame de formigas distantes, eles murmuravam em expectativa a luta.
Do outro lado, Hua Yuling Jin já me esperava. Vestia uma armadura de couro reforçada por tiras de tecido endurecido, simples, porém eficaz. Seus olhos estavam firmes em mim, confiantes, quase desdenhosos. Nós dois seguramos bastões de madeira, do tamanho aproximado de espadas médias.
O duelo seria de pontuação: quem somasse dez pontos primeiro venceria. Um golpe no tronco valia dois pontos; braços e pernas, um. Desarmar o oponente equivalia a oito pontos. E um golpe direto na cabeça encerrava a luta de imediato, independentemente do placar.
O juiz, um veterano da seita dos Hua Yuling, ergueu a mão, e toda a multidão se calou. Em um silêncio perturbador, no qual todos me encaravam, e questionavam minha sanidade ao lutar com aquelas roupas. Haviam também aqueles, que acreditavam que eu escondia um truque, e não deveria ser permitido de lutar com o meu uniforme.
— Hua Yuling Jin, sobrinho-neto do governador da cidade, Hua Yuling Kai — anunciou o mestre de cerimônias, sua voz ecoou pelo espaço aberto. — Contra o estrangeiro…
Ele ficou em silêncio, os lábios tentavam pronunciar meu nome.
— Thomas Nyrzyr… — falei ao colocar a mão no rosto desapontado.
— O estrangeiro Toma Nasha Lyu — gritou ele para a multidão.
Nasha Lyu? É sério que ele errou meu nome tão feio assim?
Antes mesmo que eu pudesse reclamar da pronúncia do meu nome, o juiz desceu o braço, e proclamou:
— O duelo começa agora!
Eu estava confiante, aquele pobre mortal nunca teria chances reais contra mim. Então, resolvi deixar as coisas mais emocionantes, e não usar as cartas. Afinal, qual a graça de uma luta sem risco de derrota?
Hua Yuling Jin avançou primeiro, em um movimento rápido com o bastão de baixo para cima. Inclinei a cabeça um pouco para trás, e senti o vento passar pelo meu rosto, com o objeto passar raspando pelo meu queixo. Recuar e desviar do ataque de Jin seria fácil se eu quisesse a vitória.
Eu não queria a vitória.
Eu estava em busca de um espetáculo.
Fiquei imóvel, um sorriso debochado no rosto, para a irritação de Jin. Ele fechou as sobrancelhas, e me encarou com ódio visível. Irritado pela minha indiferença e falta de reação ao seu primeiro ataque, ele girou o corpo para aplicar um golpe lateral nas minhas costelas esquerdas.
Jin era bem rápido, isto eu deveria admitir. Sua movimentação e reflexos estavam bem acima de uma pessoa normal. Isso me fazia questionar a verdadeira força de um cultivador, que Jiahao e Song tanto me avisaram anteriormente.
Eu ainda pensava nisso, quando o golpe Jin simplesmente mudou de lado em um piscar rápido de olhos. Ele não estava mais na minha esquerda, era como se seu corpo tivesse teletransportado e confundido os meus sentidos.
Segurei o impacto com uma das mãos. Não esperava tanta força daquele garoto. Fui empurrado para trás, os pés se arrastaram pelo chão batido. Meus sapatos riscaram a terra, junto com uma nuvem de pó. A mão latejava, vermelha, o calor da pancada queimando como fogo. Um coro de aplausos e exclamações tomou a multidão. Jin girou o bastão nas mãos e sorriu, confiante.
— Tenho que admitir — falei ao coçar a cabeça, e encarar a vibrante multidão. — Isso é bastante impressionante.
— Vou acabar com você.
— Você vai tentar…
Eu respirei fundo, e senti o braço tremer levemente. Ele não era somente um garoto mimado com reflexos rápidos, havia técnica e treinamento em seus golpes. Porém, até aquele momento, era apenas isso.
Hua Yuling Jin atacou novamente, com mais fúria e intensidade do que antes. O suor que escorria por suas mãos brilhava levemente, como se estivesse abençoado. Foi mais rápido do que eu esperava, em poucos instantes ele a centímetros de mim.
Levantei o bastão para bloquear o golpe, e escutei o som da madeira rachando. A vibração percorreu todo o meu braço, e senti o impacto reverberar até o ombro. Num estalo seco, meu bastão se partiu em dois.
— Oito pontos para Hua Yuling Jin! — gritou o juiz, e a multidão inteira ovacionou em gritos entusiasmados.
“Oito pontos? Sério?”, pensei imediatamente, aquilo não estava certo. Ele não havia me atingido.
— Ei, que roubo é esse? — questionei, ao erguer o pedaço de madeiral que sobrara em minha mão.
— Ele desarmou você, estrangeiro. São oito pontos. — O juiz abriu um sorriso debochado, mais zombeteiro até do que o próprio Jin.
— Acabou, estrangeiro! — rugiu Jin, sem me dar tempo de protestar.
Ele avançou sem piedade, girou o bastão em um corte rápido e certeiro, e mirou o meu tórax.
Oito pontos… só precisava de mais dois. Qualquer outro golpe e eu estava derrotado. Bem, se eu estava em busca de emoção, era a minha chance. A chance de uma virada espetacular.
Joguei o corpo para trás, com um gingado rápido que me fez desviar no último instante. Jin não recuou; atacava em sequência, golpes sucessivos, cada vez mais rápidos, como se estivesse decidido a esmagar-me antes que eu pudesse sequer respirar.
A plateia vibrava em estase a cada golpe desviado por mim. Quanto, a Jin, apenas se frustrava mais, e começava a ser levada pela raiva, com ataques impulsivos e sem coordenação.
Observei essa vulnerabilidade em seus movimentos, e claro, me aproveitei dela. Ele fez uma estocada, e nesse momento, avancei um passo à frente em vez de recuar. Minha mão direita se ergueu e agarrou o bastão em pleno ar. Meus dedos se fecharam firmes sobre a madeira.
— O quê…? — ele sussurrou, incrédulo.
Com a minha mão esquerda, desferi um soco direto no seu estômago. Jin resistiu ao impacto, e me empurrou para o lado. E espetacularmente, saltou para longe, um salto de quase cinco metros para trás sem muito esforço.
— Dois pontos para Toma Nasha Lyu! — anunciou o juiz, sua voz agora fria, quase sem emoção.
Eu fechei os olhos por um instante, respirando fundo para não me irritar com aquela pronúncia miserável. Nasha Lyu? Sério?
Mas não tive tempo para reclamar. As arquibancadas tremiam com o entusiasmo, o povo gritava e batia palmas.
Apontei para Jin, confiante:
— Venha de novo. Eu arrancarei sua arma e vencerei o duelo.
Dessa vez, Jin não hesitou. Olhou por um breve instante para o bastão de madeira em suas mãos, e, em um gesto inesperado, atirou-o ao chão.
A arena ficou em silêncio.
— Está desistindo? — virei-me para o juiz, erguendo as mãos. — Então são oito pontos para mim. Ele está desarmado.
O juiz apenas balançou a cabeça, impassível:
— Você não o desarmou.
— Como não? Ele está desarmado! — retruquei, indignado.
— Devia prestar mais atenção na luta — gritou meu adversário, em um ataque rápido.
Olhei de volta para Jin, já tarde demais. Meu adversário havia saltado por cima de mim, e agora caía em queda livre para me atingir.
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