Capítulo XXIII (23) - Não Conte Para Ninguém
O golpe veio de cima, como um martelo enfurecido. O punho brilhante de Hua Yuling Jin colidiu contra o meu antebraço, e a dor explodiu de imediato, um impacto que reverberou até o ombro. Meus pés afundaram na terra batida, e deixaram marcas profundas.
Então é isso…
Sorri, apesar da dor.
Era como se o tempo estivesse parado, com Jin flutuante acima de mim, e o meu braço lutando para não ceder ao impacto. Senti o chão rachar, e a força sendo deslocada para a minha perna.
Aquele garoto… era muito mais forte do que eu havia imaginado.
O peso se tornou insuportável. Em um estalo seco, meu corpo foi lançado para trás, arrastado como se fosse um boneco. A explosão do impacto ergueu uma nuvem densa de poeira e areia, que se espalhou pela arena como um véu sufocante.
Em meio ao turbilhão cinzento, a plateia perdeu-nos de vista. Restavam apenas os gritos abafados e o som dos corações batendo em expectativa.
Me levantei um tanto atordoado, eu sentia o sangue na boca, as costelas quebradas, e todo o meu corpo doía com o golpe.
Da poeira e da neblina, Jin se aproximou, o sorriso confiante, ele já tinha a certeza da vitória.
Era a minha chance, ninguém ia notar. A neblina cegaria meus movimentos, e eu ainda manteria meus poderes em incógnito.
— Observe atentamente, só vou mostrar uma única vez… — falei, ao passar a boca no ombro e limpar o sangue. — E não conte a ninguém sobre isso, ou você será um homem morto…
Jin congelou. O medo tomou conta de seus olhos, esmagando a confiança que carregava segundos antes. Ele esperava encontrar um adversário à beira da derrota, não alguém que ainda sorria confiante.
— “A Força”! — proclamei em voz alta, ao remover a carta do baralho.
A carta, cujas bordas eram banhadas a ouro, mostrava uma charge do atual Imperador da minha nação, que segurava o mundo e o partia em dois. As bordas douradas cintilaram sob a poeira suspensa, o brilho expandiu-se em um sopro de vento, e espalhou ainda mais o véu que nos ocultava da multidão.
— Vou explicar apenas uma vez… — Girei os ombros, e senti a energia percorrer meu corpo e levar a dor embora. — O nome verdadeiro da habilidade contida nessa carta é Fibonacci. Complexa demais para uma explicação detalhada, por isso vou resumir para você.
Esperei uma resposta dele, todavia Hua Yuling Jin permaneceu em silêncio. Em seus olhos, eu não via mais confiança, eu encarava o medo. E nada me trazia mais satisfação que ver o temor no coração dos meus oponentes.
— A cada cinco segundos minha força irá aumentar exponencialmente, até eu derrotar você…
A poeira começou a se dissipar. Do outro lado da arena, o público voltou os olhos para mim, atônitos. Todos achavam que o golpe dele havia acabado comigo. Mas não, eu continuava de pé, firme, enquanto o peso da desvantagem agora recaía sobre Jin.
— O duelo mais longo com essa habilidade durou dois minutos e onze segundos. Você? Não chega a um minuto. — Sorri, presunçoso.
— Eu já venci! — gritou Jin, tentando cobrir o próprio medo com bravatas. — Meu próximo golpe será o seu fim! Está tentando me desestabilizar?
Ele avançou em fúria. Eu apenas cocei a orelha. Já se passara meio minuto desde a ativação da carta.
— Idiota… eu só estou ganhando tempo.
Jin saltou, e repetiu o ataque de antes. Desceu sobre mim como um raio, mas sua mão esmagou a terra. Eu não estava mais lá.
— Trinta e cinco segundos… — murmurei, ao surgir ao seu lado com um sorriso renovado. — Idiota, eu já disse para você e vou repetir novamente, eu só estou ganhando tempo.
Cerrei o punho e me preparei para esmagar seu rosto. Mas era cedo demais, Hua Yuling Jin ainda tinha reflexos para reagir.
Meu soco direito encontrou o punho esquerdo dele, e o impacto foi tão brutal que dividiu a neblina ao meio, como se abríssemos uma fenda no ar. Ficamos presos naquele impasse, músculos tensos, cada um tentava empurrar o outro para trás.
— Eu tenho duas mãos! — gritei, ao mover meu braço esquerdo em direção ao estômago dele.
Jin reagiu rápido, e interceptou o golpe com a mesma velocidade. Agora estávamos travados, mão contra mão, força contra força.
— Eu também tenho uma testa. — Recuei o pescoço e o acertei com uma cabeçada seca.
O estalo ecoou pela arena. Jin cambaleou para trás, atordoado, os olhos piscando em confusão.
— E cabeça dura também. — Deixei escapar meu maior sorriso.
Quarenta e cinco segundos, nove ativações da habilidade de Fibonacci. Minha força já era trinta e quatro vezes maior que no início da luta. Eu tinha total confiança, que a batalha havia acabado.
Antes que ele pudesse recuperar o equilíbrio, avancei. Meu gancho de direita explodiu contra seu queixo, e o corpo de Jin foi lançado para o alto. Saltei junto, para acompanhar o seu voo.
— Impacto Profundo! — Assim como ele havia feito comigo antes, era a minha vez de retribuir.
Meu punho se cravou em seu abdômen, e a força do golpe partiu o ar em um estrondo. Descemos juntos, como um raio, e o impacto contra o solo fez o chão da arena tremer. A terra se abriu em fissuras ao redor, e levantou uma cortina de poeira ainda mais densa.
Senti o efeito da carta desaparecer, eu havia derrotado meu adversário.
— Vitória por nocaute… — murmurou o juiz, quase engasgado com as palavras, ao se aproximar do corpo de Hua Yuling Jin. O jovem não reagia, derrotado pelo impacto.
Por um instante, silêncio absoluto. Então, a arena explodiu em gritos ensurdecedores, alguns em euforia, outros em pura indignação. Os aplausos e vaias se misturavam na plateia.
Levantei o olhar para os assentos privilegiados, onde os olhares que realmente importavam estavam fixos em mim. Jiahao sorria de orelha a orelha, satisfeito como se a vitória fosse dele. Já o patriarca Kai, da família Hua Yuling, me encarava com um desprezo frio, os olhos estreitos como lâminas. Para ele, minha vitória não passava de uma afronta.
Dos Hua Yuling, apenas Xiuying não conseguia disfarçar sua reação: um pequeno brilho de admiração atravessava sua expressão. Todos os outros mantinham os rostos duros, como se a derrota de Jin fosse também uma ferida coletiva.
Caminhei lentamente para fora da arena, sentindo a poeira grudar no suor da pele. Atrás de mim, os servos corriam para socorrer o caído Jin, abanavam seu rosto e tentavam reanimá-lo. A dor das costelas quebradas havia voltado, eu estava bem mais ferido do que eu gostaria.
— Estou liberado para partir? — perguntei, ao erguer a voz em direção aos assentos de honra, sem desviar o olhar de Hua Yuling Kai.
— Tenho palavra, estrangeiro. — O patriarca respondeu com a rigidez de um juiz implacável. — Você venceu o duelo. Poderá partir em paz. Porém, jamais retorne a esta cidade.
— Será um prazer… — murmurei, e inclinei-me em uma reverência respeitosa, ainda que contra a vontade. Em seguida, voltei-me para Jiahao. — Senhor Wen Qishu, foi uma honra ter sido hospedado em sua casa. Agradeço também pelos livros. Acredito que as moedas que lhe paguei serão mais do que suficientes para cobrir meus incômodos.
— Não ficará para a luta de Lingxin? — perguntou Jiahao curioso.
— Não, senhor. — balancei a cabeça. — Tenho que me preparar para a viagem.
Caminhei para fora da arena, ao mesmo tempo que Lingxin se preparava para entrar em combate.
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