— Eu estou armado, e você desarmado… — afirmou Jiahao, enquanto balançava sua espada de um lado para o outro. — Como pretende me derrotar?

    — Da mesma forma que você trouxe sua arma. — Eu sorri, e removi a carta da “Carruagem”, assim que a invoquei, uma espada longa de duas mãos surgiu em minha mão.

    — Hm… este é o seu poder? — Jiahao levou o dedo ao queixo, intrigado. — Vejo que tem proficiência com o metal, assim como eu.

    — Não sei do que você está falando…

    — Vamos ver, se você é tudo isso.

    — Heh… interessante. — O olhar dele cintilou, entre curiosidade e desdém. — Então vamos descobrir se você é tudo isso que demonstra ser.

    No instante seguinte, seu corpo se distorceu como uma miragem. Em um piscar de olhos, Jiahao se duplicou diante de mim, duas cópias idênticas, cada uma carregando a mesma presença sufocante.

    Era a mesma técnica de mais cedo. Duplicar o seu corpo. Tentei notar alguma diferença entre as duas figuras. Elas pareciam iguais, gêmeos, vestidos com a mesma roupas.

    — Lutemos… — os dois Jiahao falaram em uníssono.

    Os dois avançaram em sincronia. Era impossível distinguir qual deles era o verdadeiro.

    Levantei a espada, pronto para defender-me do ataque. O primeiro atacou com um corte diagonal do meu lado direito. Girei minha mão, pronto para defender do ataque. Mas, meu olho captou a aproximação do outro, pronto para me desferir uma estocada na barriga.

    Qual deles eu devia defender?

    Era uma teoria dos jogos. 

    Por um instante, tudo se reduziu a cálculos. Um dilema perfeito, quase uma equação insolúvel. Se o primeiro era apenas a isca, o verdadeiro estaria no segundo ataque, rápido, certeiro, letal. Mas, se Jiahao sabia que eu pensaria assim, então a lógica se invertia: o primeiro era a lâmina verdadeira, e o segundo seria um reflexo criado para enganar.

    Parei de pensar, não podia perder tempo precioso de reação, eu tinha de seguir os meus instintos. Sem mais dúvidas ou pensamentos, eu decidi defender o segundo golpe.

    A lâmina do primeiro Jiahao desceu contra meu rosto com precisão letal… e atravessou-me sem causar dano algum. Apenas uma miragem.

    Sorri satisfeito. Afinal, não havia como eu ter errado, eu defenderia o golpe do verdadeiro Jiahao, e então um contra-ataque perfeito.

    Tudo se encaminhava para esse final. Ou, ao menos, era o que eu pensava naquele momento.

    Mantive a espada erguida, pronto para aparar o ataque do segundo clone. Esperei pelo choque metálico, pelo som do aço contra aço. 

    Nada aconteceu. 

    A lâmina atravessou-me como fumaça, e se dissipou no ar. Outra ilusão.

    Da mesma forma da primeira, a lâmina do segundo ataque era também uma ilusão.

    No instante, que percebi o meu erro, saltei para frente como um gato assustado.

    — Quase… — falou o verdadeiro Jiahao, atrás de mim, a lâmina em estocada.

    — Não eram dois, eram três. — Gargalhei, ao notar o truque. — Muito esperto da sua parte, me mostrou o truque antes, e me fez confiar na existência de que você poderia criar uma única ilusão.

    — Se eu estivesse lutando de verdade, você já estaria morto. — Ele balançou a arma no ar, e se preparou para atacar novamente.

    — O mesmo vale para mim. Afinal, isso é apenas um treinamento, certo? Não queremos ferir um ao outro de verdade.

    — Vejo que tem potencial, este desperdiçado pela sua falta de talento com o Qi. Seu tempo de reação é invejável, e sua velocidade e sagacidade também. Agora vejo como derrotou uma besta mágica sem nenhum reino de cultivo.

    — Obrigado… — respondi, sem saber ao certo se era uma ofensa, ou um elogio.

    Jiahao sorriu de canto, mas seu olhar não perdeu a frieza. Ele girou a espada uma vez, e o vento cortante assobiou ao redor da lâmina.

    — Não agradeça tão cedo. Ainda não acabei com você.

    — Então, conforme-se, você não vai acabar comigo. — Lambi os beiços.

    Ele balançou a cabeça confuso.

    — Essa frase ficou mais legal na minha cabeça — respondi, um pouco constrangido.

    Jiahao atacou com bravura. E as nossas lâminas colidiram em fúria. Ele era bem forte, e eu mal conseguia resistir aos seus ataques.

    Uma gota de suor escorreu pela minha testa, enquanto a espada “Dao” dele se aproximava perigosamente do meu rosto.

    Girei o cabo, e o empurrei para longe, para recuperar o fôlego.

    — Cansado? — Ele riu, ao me ver limpar o suor da testa com a manga do casaco. — Um cultivador…

    — Calado! — Tentei um ataque meio desesperado, mais para fazê-lo parar de falar, do que de qualquer chance de vencer.

    Ele bloqueou meu golpe sem maiores dificuldades. E pressionou seu peso contra mim. Era difícil de resistir, ainda mais que eu estava com a carta da “Carruagem” na sua forma de arma branca, longe de ser a mais adequada, a sua forma de arma de fogo era muito superior. A única justificativa para o uso de uma arma branca com a carta, era se eu estivesse de bateria de um grupo maior, ou com outro portador do baralho.

    O peso da lâmina de Jiahao esmagava a minha defesa. O aço da espada vibrava em minhas mãos, para minha sorte, eu sabia que não havia risco de partir. Porém, se eu estivesse com uma espada normal, já teria quebrado minha lâmina.

    “Se eu continuar tentando força contra força, vou perder…” pensei, enquanto o suor escorria pelo meu queixo.

    Com um giro brusco, soltei parte da pressão, e desviei a lâmina dele em vez de resistir. A força do golpe o fez avançar um passo à frente. Aproveitei o momento para recuar novamente e recuperar o fôlego.

    — Se cansa muito fácil… — Jiahao me encarou, e girou a lâmina no ar. — Como pretende lutar com Hua Yuling Jin com esse físico?

    — Eu matei um tigre com uma pele impenetrável, você acha mesmo que vai ser tão difícil assim? — Eu abri os braços, e fiz uma pose arrogante. — Esse treinamento é inútil, não vai me ajudar em nada!

    — Ainda acho que suas chances são minímas. — Ele fixou os olhos em mim, principalmente na minha espada, cujos ornamentos eram bem diferentes das dele. — Façamos o seguinte, se você conseguir me acertar um único golpe, voltaremos para a cidade no mesmo momento.

    — Feito.

    — Confiança não lhe falta, garoto. — Ele sorriu de canto, mas o tom continuava gelado. — Apenas tenha o cuidado nescessário para que essa confiança não te enterre junto com a sua língua afiada.

    — Um único golpe, você disse? — Levantei a espada, e a diretamente para o peito dele.

    — Um único golpe — repetiu, sem ter noção da minha astúcia.

    Preparei uma nova investida, pronto para ser bloqueado por Jiahao outra vez, porém, havia um truque guardado na manga.

    Nossas espadas se encontraram com estrondo. No mesmo instante, soltei a mão esquerda do cabo e lancei um soco direto contra o estômago dele. Como previ, sua reação foi rápida: aparou o golpe com a mão livre.

    Essa não era a minha verdadeira estratégia, era apenas uma isca.

    — Um golpe é um golpe! — gritei, ao desferir um chute certeiro em sua perna de apoio.

    Jiahao olhou para baixo, surpreso por um instante, antes de explodir em gargalhadas.

    — Heh… muito bem. — Ele recuou, ainda rindo. — Vamos voltar. Você me divertiu bastante, garoto!

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