Capítulo XXVIII (28) - Barril!
— Barril! — gritei, com um sorriso satisfeito no rosto, e a carta do cavaleiro de paus na mão.
O chão tremeu e se abriu. Terra, raízes e poeira voaram pelo ar quando um objeto metálico e cilíndrico saiu da fenda no chão. O objeto soltou um gás branco pela sua parte de cima, e em um estrondo, explodiu no ar.
A explosão teve a força de um trovão.
Por um instante, uma luz branca intensa iluminou a clareira, semelhante à luz do dia. E em seguida, a onda de choque junto com o barulho de um raio vaporizou aqueles que estavam mais próximos.
Eu, apesar de estar bem próximo da explosão, não fui afetado por ela. Apenas senti um fraco calor e o vento que levantou meu cabelo.
— Vamos… — Passei a mão pelos cabelos desarrumado, e os ajeitei com calma. — Eu quero algum desafio…
Ninguém se aproximou. Nenhum grito de guerra, nenhum avanço heroico.
Somente passos hesitantes, e os completos olhares de medo.
Suspirei, decepcionado.
Eu esperava uma resistência mais feroz da parte deles.
— Barril… — proclamei, ao usar quase todas as cargas da habilidade.
Ao meu redor, dezenas de novos barris semelhantes ao primeiro emergiram do solo, e cercaram toda a clareira. A superfície metálica deles brilhou por um instante.
Em sincronia, eles detonaram em uma única onda de choque.
Uma muralha de som e vento explodiu para todos os lados. Poeira, lascas de madeira, fragmentos de pedra e terra subiram como uma nuvem de tempestade. Quando o estrondo cessou, a clareira estava irreconhecível: dezenas de crateras, árvores mutiladas, o aroma de pólvora dominando o ar.
A poeira demorou a baixar.
E quando ela se dissipou, revelou que quatro dos meus oponentes sobreviveram ao ataque intactos.
Renyan e os outros três anciãos não haviam sofrido nenhum dano aparente.
— Muito bem, quem vai ser o primeiro? — questionei para eles, enquanto passava a mão no casaco para limpar a fuligem.
Renyan foi o primeiro a avançar. Sua espada vibrava, quase viva, e transbordava uma vontade de me partir ao meio. A intenção assassina era tão intensa que parecia ganhar forma no ar. Mas antes que ele pudesse dar mais um passo, o ancião ao seu lado colocou a mão firme no peito dele, e o impediu de avançar mais.
— Renyan, deixe isso conosco — disse o ancião, com uma confiança tensa, quase dissonante do medo em seu olhar. — Esse cultivador demoníaco não pode ser enfrentado com métodos comuns.
Levantei uma sobrancelha, e os encarei com uma expressão debochada.
“Cultivador demoníaco?”, questionei nos meus pensamentos.
Os três anciãos deram alguns passos à frente, enquanto Renyan — frustrado — se apoiou na espada cravada no chão, esperando o desfecho com impaciência.
Suas longas túnicas amarelas estavam intactas, apesar da sujeira e da fuligem das explosões. Não era um bom sinal para mim. Significava que os barris explosivos não causaram dano neles, todavia, eu ainda tinha que provar essa minha teoria.
— Barril! — Era a minha penúltima carga dessa técnica com a habilidade do Cavaleiro de Paus.
O objeto saltou na frente deles.
Os anciãos reagiram imediatamente, mãos em selos rápidos, e uma luz dourada envolveu seus corpos em uma película fina, quase translúcida. A explosão conseguia quebrar a barreira, porém, toda a energia cinética da explosão era dispersada nela. Os três continuaram intactos.
Seus rostos se encheram de confiança. O uso da minha habilidade para o teste de uma simples teoria, inflou os seus corações de ego.
— Seus truques com as artes das trevas só funcionam com discípulos inferiores! — bradejou um deles, ao avançar com as palmas brilhantes contra mim.
Ele atacou com seus punhos estendidos, em uma sequência de três socos rápidos, direita, esquerda e esquerda novamente. Joguei meu corpo para trás, sem demonstrar dificuldade para desviar.
— Artes das trevas? — murmurei ao saltar para trás para ganhar uma certa distância, o pescoço de lado, e senti ele estalar. — Eu nem demonstrei a verdadeira técnica dessa carta…
Os anciãos moveram suas mãos em uma sincronia invejável, enquanto proclamavam cânticos sagrados.
Uma mão gigante surgiu acima de mim, uma palma translúcida meio amarelada. Ela tentou me esmagar como um inseto embaixo dela.
Não desviei o olhar deles, e mantive meu sorriso presunçoso.
A mão caiu sobre mim, e atravessou meu corpo, sem machucar um único fio de cabelo.
— Uma ilusão? — Eles se questionaram em voz alta, ao olhar para todos os lados.
— Eu estou bem aqui, vivo e intacto. — Bocejei para eles em provocação.
Em vez de tentar entoar novos cânticos e invocar mãos gigantes para me esmagar, eles avançaram em unidade. Um tentou me atingir pelo flanco, outro pela frente, o terceiro saltou por cima tentando me acertar com um golpe descendente.
— Barril… — Invoquei a carga final dessa técnica para os forçar a se proteger.
Funcionou.
Os três interromperam o ataque conjunto e ergueram novamente a barreira protetora.
A técnica era curiosa: a camada luminosa reagia como uma membrana orgânica, absorvia o impacto e dispersava a energia, sem deixar nenhuma marca.
Era a primeira vez que eu a via em ação. Provavelmente funcionaria bem contra nossas armas de fogo, uma hipótese interessante, mas impossível de confirmar naquele momento, já que eu não poderia usar a carta da “Carruagem” pelo resto do dia.
Eles então se reuniram para entoar um segundo cântico. Uma dezena de palmas douradas, menores que a primeira, surgiu ao meu redor. Todas atravessaram meu corpo sem causar qualquer efeito. Enquanto as investidas inúteis continuavam, levei a mão ao queixo, ao tentar pensar logicamente se a técnica principal da carta do Cavaleiro de Paus poderia produzir um resultado diferente contra os seus escudos luminosos.
A habilidade dos barris explosivos era somente uma das muitas manifestações possíveis daquela habilidade. As técnicas associadas ao Cavaleiro de Paus eram, essencialmente, variações do mesmo princípio: destruir o inimigo de forma avassaladora, até que nada restasse, seja pela explosão externa, seja pela destruição interna.
Distraído nos meus pensamentos internos, nem percebi a aproximação de uma pedra lançada na minha direção. Tive um pequeno espaço de reação para me jogar no chão, e desviar do impacto.
Olhei para um dos anciãos, com duas mãos douradas aproximadamente do tamanho dele, que escavavam a terra em busca de projéteis para lançar contra mim.
— Então é isso! Suas artes demoníacas têm uma fraqueza tão obvia! — Ele riu, como se tivesse descoberto algo espetacular.
— Que artes demoníacas? — Coloquei a mão na cabeça e revirei os olhos, indignado e confuso.
— Não tente se esconder! Jiahao nos contou tudo! — Ele bradejou novamente com outra risada.
Fiquei sem palavras por um segundo. Do que diabos aquele cara tava falando?
Suspirei irritado, e balancei a cabeça, já tinha cansado daquela cena teatral causada por eles.
— Huk — Iniciei a contagem para a ativação da outra técnica da habilidade, em um ritmo pausado e calmo.
— Sua língua profana não vai invocar seus cânticos demoníacos! — ele atirou uma pedra na minha direção.
— Iskay… — Desviei do projétil sem problemas, e comecei a correr na direção dele;
— Não chegue perto! — Duas novas pedras surgiram em sequência, lançadas pelas mãos douradas que orbitavam seu corpo.
— Kimsa! — Completei, ao me aproximar dele sem grandes esforço, seus ataques desordenados eram bastante patéticos.
Saltei por cima dele. Suas mãos materializadas tentaram me agarrar, mas falharam como sempre. Toquei seu peito no ar e caí atrás dele, sem perder o ritmo.
— Tick, Tick… — murmurei, ao fazer uma contagem regressiva com os dedos.
Ele ficou congelado por um instante, sem entender o que eu havia feito.
— O que você… — O ancião ainda tentou conjurar alguma frase.
— Boom! — interrompi sua frase, um sorriso maléfico no rosto.

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