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    Foi-se oferecido ao Chronos exatamente 1 semana desde os eventos relacionados ao rito de patriarca do meu irmão. Ou melhor, do meu rito de patriarca.

     Felizmente, como arquitetado por mim, não houve nenhum problema grave que não pudesse ser resolvido por pequenas conversas e negociações entre a minha família e outros órgãos responsáveis.

     Meu pai, o ex-patriarca dos Conflagratus, e Flavia, sua consórcia, foram os principais responsáveis a tomar as rédeas do assunto para assegurar a legitimidade dum rito de patriarca tão não ordinário.

     Depois de tantas arquiteturas, posso dizer seguramente que se o meu pai tinha algum receio sobre a sua aposentadoria numa ilha tropical com as suas amantes, agora ele não tem mais.

     Eu pensei em participar das negociações, mas além dos imbróglios que eu já tenho que resolver por ser o novo patriarca, dar a cara nessa situação talvez não seja a cousa mais astuta de realizar-se. Quero minar quaisquer chances que possam gerar dúvidas sobre o que realmente aconteceu…

     E eu disse «pequenas conversas e negociações», todavia não há nada de pequeno nisso. O baque financeiro que nossa família sofreu e sofrerá disso se tornará um problema, caso não remediado.

     500 aurei e 2.000 denarii a serem pagos por 5 anos. 2.500 aurei e 10.000 denarii ao todo ou 1.160.000 asses, caso sejam expressos na moeda de menor valor do Império, esse foi o custo total para os nossos cofres. Isso sem considerar os 12% de juros compostos por ano que elevaria o total por…

     Deixa-me ver, 1.160.000 asses com taxa anual de 12% em 5 anos, 139.200 asses no primeiro ano de juros no primeiro ano… Cerca de 2.040.000 asses ao final da operação, quase o dobro. Isso foi um aviso claro de que devemos pagar o custo duma vez só para não sofrermos de tamanha usura.

     A fim de comparação: um soldado comum ganha 3 asses por dia, 90 por mês e, evidentemente, 1.080 asses por ano. O valor que pagamos à vista pagaria quase o custo total de 1.100 soldados num ano de serviço. Ou duma outra forma mais chula: pagamos à vista mais de 38.000 galões de vinhos comum, aqueles que custam cerca de 30 asses

     Isso não mudará nada no bem-estar da minha pessoa e da Domus Conflagratus como um todo, todavia perder 1 as sequer é algo doloroso. Agora 1.160.000… Tenho que parar de pensar nisso, só irá causar-me mal.

     Pensa no bom lado da história, Aurelius, o custo valeu a pena, agora sou oficialmente reconhecido como o patriarca dos Conflagratus.

     Pelo lado ruim, os Primus se enriqueceram novamente às custa dos Conflagratus

     Nessa última semana ocorreram variados eventos que eu posso sumarizá-los como «interessantes». Além de cartas e visitas de vários representantes oficiais, ou os próprios patriarcas, das diversas casas nobres, de grande ou pequena importância, como os Marinus. Houve duas visitas e encontros particulares me chamaram a atenção.

     Pela primeira vez em 8 anos, eu recebi uma visita da Domus Deciduus, a casa da Valeria, minha noiva. O que será que aconteceu para os pais da Valeria finalmente resolverem conversar comigo?! Imagino o que tenha acontecido…

     O temor impassível que eles possuem de perderem a carta ao paraíso me enoja.

     Estrategicamente eu neguei a visita, a mim é mais interessante eu mesmo visitá-los e finalmente conhecer os progenitores da minha noiva. Conhecê-los verdadeiramente.

     A segunda surpresa, que duma certa forma eu já esperava, foi que eu recebi uma carta da Primeira Princesa do Imperium Primarius: a Constantina. A carta demandava a minha presença no palácio real daqui alguns dias.

     Não posso deixar de comentar que ela foi a única a inverter os papeis nesta situação. Eu sou visitado e pessoas vêm ver-me no momento, afinal, quem é o novo patriarca duma casa tão ilustre como a nossa sou eu. Todavia, a Princesa conseguiu distorcer essa mísera virtualidade para favorecê-la.

     Mulheres nobres a serem mulheres nobres…

     Nesse caso em específico, é mais óbvio ainda dizer sobre o que ela quer falar. Com a minha carta, o rito e nossa conversa em si, eu posso afirmar que ela se tornou curiosa por mim e por meus fazeres.

     Gratamente eu ficaria se nada disso fosse necessário ou presente, mas não tive escolha. Eu tinha que envolvê-la na minha trama iminentemente. Era uma peça para fazer a máquina rodar.

     Talvez eu tenha que começar a pensar em planos de acabar com essa nossa relação recém-criada… Matá-la? Não, não, mas…

     — Mas não é como se isso fosse algo impossível para mim… — sozinho no escritório do patriarca, eu murmuro.

     Mas não agora. Por enquanto, é melhor uma relação de certa forma amistosa com os Primus do que atrair mais atenção duma forma negativa.

     Um passo de cada vez, mas sempre um passo de cada vez. Com a posse do Patria potestas eu tenho uma base forte o suficiente para conseguir alçar-me em direção dos meus planos e atos cônscios.

     O direito do Patria potestas é algo tão surreal que não sei se consigo repassar em palavras o que ela realmente significa.

     Ainda mais no caso dos Conflagratus, que além de toda a importância histórica que nós possuímos, o patriarca dos Conflagratus também é o proconsul da província dos Conflagratus.

     Ou seja, a posse do Patria potestas em nosso caso garante um poder além do poder de controlar uma família de marqueses, garante o poder de controlar uma província do Império por inteira.

     Ao voltar no contexto de nossa família: se por um capricho meu eu quiser deserdar todas as minhas irmãs da família, eu posso. Se eu quiser fazê-las se casarem com vários outros nobres em posições estratégicas, eu posso.

     Não somente minhas irmãs, mas quaisquer uns que dalguma forma sejam, ou subordinados estejam, aos Conflagratus. Eu poderia destruir incontáveis pequenas Domus que a nós servem há décadas fielmente, destruí-las apenas por capricho.

     Certamente, poderia haver muita remonstrância contra mim e meus atos. Protestos, revoltas e cousas como tal. Todavia, nada poderiam fazer de verdade. Afinal, eu sou o patriarca e tenho o Patria potestas em mãos. Um poder de proporções magistrais que se mostra inabalável.

     O Imperium Primarius argumentaria em meu prol a dizer que para a ordem ser mantida, o Patria potestas deve ser obedecido em todos os casos. O Collegium Religiosi para mim também seria favorável, afinal, o Patria potestas é uma Divina providência.

     E é, justamente, por ter tamanho poder em mão que eu tenho que começar a articular formas de proteção, ação e controle para mim, mas principalmente para os meus objetivos.

     Apesar de todos os benefícios citados e subentendidos que eu agora expliquei, ainda há algo que me incomoda desde o dia em que descobri a existência de tal direito.

     O Patria potestas te transforma num espécime de deus, mas um deus limitado ao espaço de influência e ação da sua Domus. Dificilmente um patriarca conseguirá obter influência de maneira direta em casos alheios aos seus subordinados, é uma forma de limitação do poder que foi imposta para todos nós.

     Tu podes até utilizar várias peças para jogar por ti em situações e lugares que tu não te encontras lá, contudo isso ainda é algo limitado e nunca é o ideal. Queres que um problema seja resolvido da melhor maneira possível? Atua diretamente nele. É uma regra.

    «Por que eu gostaria de prender-me a um título inútil que no final apenas me manteria preso a essa província?», eu me recordo das palavras que disse para o Lucius em nosso embate.

     Apesar de eu estar a realizar um ato naquela hora, essa frase é verossímil duma maneira incomodante…

     Eu já venho a pensar nisso há muito antes, antes de eu sequer ter posto em prática o meu plano de usurpação. «Como eu conseguirei manter uma influência e ação global direta na posição de patriarca?».

     Há maneiras simples de resolver esse problema, e justamente por isso que elas são prontamente descartadas. Como abdicar do título de patriarca, algo que não faria sentido a ter em cabeça tudo o que eu fiz para obtê-lo.

     Ou simplesmente jogar para o alto todas as responsabilidades que um patriarca tem e sair numa aventura de herói para salvar o mundo! A pensar bem: ideia genial, eu não deveria descartá-la!

     — Ugh… o que ler e assinar documentos por dias não faz um homem dizer? — com alguns registros históricos do Conflagratus em mãos, eu suspiro de cansaço — Apesar de que isso não seria de todo o mal…

     Após muito refletir e teorizar, eu finalmente cheguei numa resposta agradável para o problema da minha pessoa. Essa resposta envolve a Flavia, o Milan e possivelmente magos do Instituo Magia ou plebeus.

     Entretanto isso é algo para o futuro, deixar-me-ei ao futuro nesse quesito…

     Ademais, sinto que eu receberei uma visita daqui a pouco. Quinta, a minha irmã. Desde que o Lucius morreu, ela vem ao meu escritório periodicamente para jogarmos latrúnculo ou outros jogos de tabuleiro.

     Lembro-me que ela tinha esse costume não comigo, mas com o Lucius. E agora que tudo isso aconteceu…

     De certa forma, lá no fundo, eu sei que isso é um lembrete dos deuses para que eu nunca me esqueça de o que eu fiz. Nunca me esqueça das consequências do meu ato maléfico, a lamúria e mal que eu fiz várias pessoas sentirem e sentir até agora.

     — Ahhhh… — com as minhas mãos para cima, eu me estendo completamente na cadeira.

     — Isso é tão infantil, mas que besteira! Afinal…

     Quem é que disse que eu me sinto mal pela lamúria alheia? Quem é que disse que eu ligo para o mal que eu causo? Por que sequer eu deveria ligar?

     No final, eu sou um Conflagratus e eu sei qual é o meu dever neste mundo tão injusto. E se a despeito de toda a dor e lamúria que eu causar, se eu conseguir o que eu quero e almejo… É só isso que realmente importa.

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