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    Após muito mexer com documentos e registros da minha Domus, eu estou finalmente livre temporariamente para atuar nessa grande peça chamada de «vida».

     Ainda é cedo, felizmente, e o Sol não aparenta querer parar de ser o grandioso Sol por sequer um segundo nessa bela primavera em que estamos.

     Bem, eu digo que eu estou livre de maneira temporária, mas não sei se posso dizer isso mesmo que «temporariamente». Esse clima ensolarado num Domingo é uma situação perfeita para fazer uma grande vistoria na província.

     Essa vistoria, bem como visita, é uma forma de reafirmar os antigos laços dos Conflagratus com todo e qualquer cidadão da província, independente se forem nobres ou meros plebeus. Não posso ser o proconsul da província apenas no papel, afinal.

     E como o novo patriarca dos Conflagratus, no caso, eu, foi decidido duma maneira tão não ortodoxa, creio eu que seja mais necessário que o normal assentar o terreno e passar segurança para todos os subordinados.

     Com o Lucius, o filho, na iminência de ser o patriarca, já haviam sido feitas todas as conversas que confirmavam a renovação de parcerias e acordos. Após a morte dele talvez pensassem que tais validações seriam anuladas, todavia eu fiz questão de assegurar que todos esses tratos sejam ainda mantidos nessa última semana.

     Eu poderia tentar renegociar todo e cada um dos contratos assinados, mas isso não teria um custo benefício tão bom assim. Seria apenas mais dor de cabeça para mim num momento onde tenho que tratar de diversos grandes problemas.

     Ademais, há dois motivos para que eu não perca tempo com isso. Primeiramente, os contratos feitos são inegavelmente injustos, mas injustamente viesado para nós: os Conflagratus.

     Mesmo o contrato em que nós mais «perdemos», ainda é no mínimo uma diferença de 51% versus 49% (e devo dizer que não conheço nenhum contrato que nós ganhemos apenas por pouco assim).

     Segundamente, todas as novas negociatas e renovações não foram efetuadas pelo Lucius filho, mas sim o Lucius pai, o ex-patriarca dos Conflagratus.

     Eu posso ter quaisquer reclamações sobre o meu pai e alguns vícios deles. Posso injuriá-lo de diversos nomes e apelidos, contudo é inegável que esse velho tarado por mulheres novas e vinhos é de fato competente.

     Portanto, eu não tenho preocupação alguma em continuarem tais acordos do jeito que estão. E por eu ter agido sobre esse assunto de maneira tão célere, deixei pouco espaço para alguns nobres mais astutos tentarem minimizar um pouco as perdas dos acordos de outrora.

     E essa minha visita também funcionará para assegurar mais ainda os acordos previamente assinados.

     Só que apesar de ter eu dito tudo o que eu disse, se a oportunidade de melhoras nos acordos ocorrer, agarrá-la-ei e farei um bom uso. Criar novos laços mais fortes não é nada mal, afinal.

     Ao sair do meu escritório, eu imediatamente chamo uma verna que estava por perto a limpar a janela:

     — Bom dia, jovem Conflagratus. No que eu posso auxiliá-lo? — a verna serenamente me aborda.

     — «Jovem»? — com uma nítida irritação na voz, eu a questiono.

     Não é como se eu estivesse realmente irritado, mas tenho que construir e manter uma imagem sólida de que em eu sou agora. Não mais um «Jovem Conflagratus».

     — M-Mil perdões, amo Conflagratus — a verna prontamente clama por perdão e abaixa a cabeça repetidas vezes — Por favor, perdoa essa serva insolente! — a humilhar-se mais ainda, ela continua.

     Também não é para tanto assim… Mesmo que ela seja uma verna, ela é ainda uma nobre. Ela me deve submissão, mas num nível mais adequado.

     Eu não sei de qual Domus ela é ou é relacionada, provavelmente duma Domus de barões qualquer para trabalhar num serviço mais baixo. Todavia, repito-me, ela ainda é nobre.

     Só que pedir para ela tratar-me de maneira mais igualitária seria tão errado quanto o comportamento dela, vamos apenas ignorar que esse início de interação aconteceu…

     — Reconheço o teu perdão. O que eu quero é que tu digas ao Milan e à Beatrix que eles me esperem na portada do palácio de imediato. Também quero que tu contates algum outro servo e o ordene preparar uma raeda — começo a dizer minhas ordens.

     — Compreendido, amo. Permita-me perguntar: qual lugar será o teu destino de viagem? E devo ordenar acompanhantes em bigas para a tua proteção em viagem?

     — Não há destino, será apenas uma vistoria por toda a província de Conflagratus. E não há necessidade de proteção adicional, apenas o Milan e a Beatrix são o suficiente.

     Posteriormente a ter escutado todas as minhas falas e respondido periodicamente com expressões de afirmações como «Compreendido», «Entendido» a serva sai em fuga para realizar suas ações requisitadas.

     Ando um pouco em direção à janela que a serva limpava, está realmente bem cuidada. Abro a janela e me sento no peitoril da mesma.

     — Um dia tão bonito e ensolarado como esse… E eu a resolver cousas tão chatas.  

    A prece se mantém. Espero que no final tudo valha a pena.

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