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    Mesmo a ter sido eu aquele que deu as ordens e primeiro se movimentou, Beatrix e Milan já estão prontos para partir e em frente ao palácio antes de mim.

     Eles estão a conversar casualmente, mas quando me veem rapidamente se endireitam. O Milan apenas assente com a cabeça positivamente, todavia a Beatrix inicia a conversa:

     — Faz tempo que nós não saímos para algo assim, não é?

     — Bom, geralmente saímos juntos apenas quando é algo mais formal, como essa ocasião.

     — Uma vistoria, huh? É realmente só isso? Não faz muito sentido estarmos aqui para isso se for, tem algum motivo maior? — cheia de dúvidas, a Beatrix cruza os braços e me pergunta.

     — É uma vistoria, sim, mas também é uma «passeata»? Se assim podemos dizer — ao me ouvirem, ambos se tomam duma cara com mais dúvida que anteriormente.

     — É uma maneira de apresentar-me e apresentar as minhas armas para todos os meus vassalos…

     Com essa única frase, os irmãos Vulpinus me mostram uma faceta asseverada como se desvendassem o mistério num instante. 

     Modéstia à parte, a minha figura não é conhecida somente na província dos Conflagratus, mas no Império por inteiro. Eu sozinho sou uma arma devidamente perigosa.

     Entretanto, não importa o quão magnânimo eu seja, eu ainda sou apenas um. A ser isso um fato inquestionável, eu preciso dalguma forma desdobrar a minha imagem para possuir maior coesão e coerência.

     Dum jeito simples: da mesma forma em que num baile é preferível a um homem ter duas mulheres belas em cada um dos seus braços, neste caso, é-me preferível ter duas lâminas aguçadas apontadas para a cara de quaisquer uns e que estão totalmente em controle da minha mão de ferro.

     O brasão da Domus Conflagratus não possui estampado a imagem duma manopla cerrada apenas por enfeite, afinal. Isso é dotado dum significado eterno.

     Apesar disso…

     — Por que vós estais com suas armas em mãos? Desde o começo eu avisei que era uma simples vistoria.

     Não há necessidade de ser tão literal assim em expor as minhas armas.

     — Eu vi o Milan com a lança dele em mãos, então decidi pegar a minha varinha também. Só isso ~~ — com risadinhas, e sem dar muita atenção ao que falo, Beatrix responde — Não vais pegar a tua espada? Aurelius.

     — Não, não há necessidade. Enfim… É melhor irmos logo, acabar com esse problema duma vez, mas antes disso: não me diga que essa varinha é nova? Beatrix — o brilho duma varinha de prata com um rubi encrustado se destaca aos meus olhos.

     — É sim! Linda, não? Comprei nessa última semana.

     — Tu não havias comprado uma varinha ao começo deste mês? A prata doutra varinha não se desgastou para tu precisares comprar uma nova, que desperdício de dinheiro…

     A depender do metal que uma arma é feita, ela realça as qualidades mágicas de determinado elemento. Bronze realça Aer/Terra, Prata realça Aqua e Ouro Ignis. Há diversos outros metais com propriedades assim neste mundo tão vasto de Salvatoris.

     — É que eu a vi na vitrine da loja e pensei «Nossa, é tão fofa!» e tive que comprar! — Beatrix atribui o adjetivo de «fofa» para uma arma — Além disso, enclausurar moedas só faz mal para a nossa economia. Dinheiro foi feito para ser gasto!

     — Se não houvesse tanto enclausuramento de moedas nesta nação, nós não precisaríamos preocupar-nos com o fato de que a economia do Regnum Insularum Austri ser o quase o dobro da nossa — Beatrix argumenta em favor de seus caprichos, desta vez a utilizar a teoria quantitativa das moedas.

     Devo admitir, o que ela diz faz há sentido. Uma pequena aula de economia mundial: o fluxo de produção total do Imperium Primarius é estimado em mais de 130 milhões de aurei, a moeda de ouro com maior valor no Império.

     Apesar de não termos um valor exato do fluxo de produção total dos porcos monetários do sul (em fato não temos sequer um valor exato da nossa produção), estima-se que o valor deve ser algo em torno de 250 milhões de aurei. É uma diferença considerável, como ela mesma disse, quase o dobro.

     Então se as moedas fossem mais utilizadas pelos membros da aristocracia, aqueles que mais a possuem e acumulam, teríamos uma maior quantidade de dinheiro a circular e uma menor desvalorização do dinheiro em si.

     Bem, não é como se o próprio Regnum não pudesse utilizar dessa mesma tática para melhorar sua economia. Talvez no final o resultado ainda continuasse o mesmo…

     Só que discutir com uma mulher, e principalmente com a Beatrix, é uma tarefa estonteante, prefiro apenas abster-me dessa peleja em prosa.

     A sair um pouco de perto da Beatrix, eu avisto de longe o servo encarregado da raeda e o chamo para perto. Ao reconhecer-me, ele imediatamente começa a tocar a raeda para a minha direção.

     A raeda que ele traz é o modelo padrão dos Conflagratus. 4 cavalos, a ser 2 cavalos de pelagem branca e 2 cavalos de pelagem negra, o corpo da charrete feito de madeiras leves e pintados num tom de castanho avermelhado, o brasão fixado nas portas laterais e por fim rodas em cor de ouro.

     A única, e grandiosa única, diferença dessa raeda para os modelos comuns que utilizamos, é que essa possui uma bandeira listrada atrelada ao teto. Tal bandeira indica que o patriarca dos Conflagratus viaja nessa charrete ao momento.

     — Amo Conflagratus, que bom poder ajudá-lo. Por favor, entra. Milan, Beatrix, também.

     O servo nos aborda educadamente e finalmente adentramos o espaçoso interior da raeda. Eu primeiro e depois o Milan e a Beatrix em sequência.

     — Milan, Beatrix. Caso queiram, coloquem suas armas no repartimento inferior localizado ao chão. Deixará a viagem mais confortável.

     Ambos seguem o conselho do servo e guardam suas armas. Além disso, com o aconselhamento do servo que atua como cocheiro, ambos realizam outros procedimentos básicos e rápidos.

     A ter tudo terminado, finalmente estamos devidamente preparados para iniciar uma longa e divertida viagem por pontos estratégicos da província Conflagratus.

     Eu me aproximo do cocheiro e lhe entrego um papel com algumas descrições das rotas que iremos em ordem e em qual local tomaremos mais ou menos tempo.

     — Certo, amo Conflagratus. Partiremos imediatamente — ao dizer isso, o servo finalmente começa a bulir para frente nossa comissão.

     Pela janela eu espio o palácio e vejo alguns rostos deveras conhecidos. Flavia, Cecilia e Quinta acenam para mim da varanda do segundo andar do palácio, a se despedirem de mim.

     Ao reparar que elas me viram, eu aceno de volta de maneira suave.  

    Que situação chistosa. Se todas as minhas irmãs estivessem na varanda, eu me assemelharia a um guerreiro que parte de sua casa para uma guerra.

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