Índice de Capítulo

    Em breve acontecerá a alvorada. Todas as entidades que nutrem o espírito da vida despertarão e começarão a agir como sua natureza demanda. Mas é ainda breve para isso.

     Então, o que fazer nessa brevidade? A biblioteca me parece uma afável e sugestiva resposta para a pergunta do momento. Saio da cozinha, portanto, e inicio a trajetória para a biblioteca.

     Com algum livro em mão pretendo fazer a digestão, contudo, não somente dos alimentos que há pouco consumi.

     — Afinal, eu tenho muitas cousas a pensar e refletir sobre o que eu exatamente fiz…

     Pouco após sair da cozinha, ao meu destino chego. A biblioteca desta casa é grotesca, comparável em tamanho e acervo às bibliotecas reais.

     Ademais, não somente nisso ela é grotesca. A arquitetura de mármore de cor branca com ornamentos azuis e dourados em conjunto de outros detalhes e móveis feitos de madeira nobre. Estiloso, grotesco, belo e barrocoso.

     Isso tudo também é motivo para fazer a Valeria amar esse lugar. Venusto tal como uma pintura do museu real.

     Por sinal, eu tenho que ter uma conversa com a Valeria em breve. Nem eu, muito menos ela, gostaríamos de ter esse tipo de arenga tediosa sobre noivado e futuro, todavia é necessário.

     Não que eu queria ser maldoso ou objetificá-la, mas a Valeria é de certa forma o meu passaporte para emancipação desta Domus… Sem ela eu ainda teria que ficar subordinado e preso a cá, pior: subordinado ao meu irmão.

     Bom, isso é conversa para depois. E quando digo depois, quero dizer realmente depois que todos os eventos finalmente acontecerem.

     Sem pressa, sento e me acomodo em uma das cadeiras da mesa cascata na biblioteca. Qual livro pegar? Há tantas opções e tantos que eu já li…

     Resolvo pegar o romance do Grande Rei Vermelho e a Grande Rainha Branca, uma solução prática para o meu problema. Bom, romance? Conto? Lenda? Relato histórico? Sinceramente não sei, todavia sei que é divertido ler.

     A história dum homem e duma mulher que se amavam profundamente, amavam-se perfeitamente. Ambos aventureiros, ele um exímio usuário de Ignis e Aer, além de espadas. Ela, não muito menos, uma exímia usuária de Aqua e Terra,mas também uma curandeira.

     O interessante de suas histórias é a jornada quase sobre-humana que passam em busca dum propósito maior. Sabe-se há muito tempo que é possível desafiar os deuses, do Caelum ou do Infernus, a fim de receber alguma bênção, privilégio ou até mesmo maldição deles.

     Apesar disso, com exceção da história desses dois indivíduos, não se conhece ninguém que tenha logrado glória na estúpida ideia de desafiar um deus, independente de que seja ele um deus do céu ou inferno.

     O suposto rebis de suas epopeias foi a permissão às criaturas de usufruírem o bem mágico e a criação de 2 outros elementos que fogem do esquema usual de magia. Suposto…

     Coloco a mão sobre capa do livro, ela é velha e desgastada, em fato o livro como um todo é velho e desgastado. Contudo, é estiloso. Uma estética peculiar das cousas da antiguidade.

     Abro a primeira página e começo a ler:

     [Capítulo 1: Casamento

     O masculino é quente, volátil, ativo e possui qualidades diversas, mas é imperfeito. O feminino é frio, fixado, passivo e possuis qualidades diversas, contudo também é imperfeito.

     O masculino precisa encontrar-se como másculo e despejar-se-á a sua feminilidade dos seus atos não másculos em alguém. Bem como o feminino em puro e pleno contrário realizar-se-á.

     Nomeamos tal evento como casamento, o nome disso é em fato casamento e não poderia ser chamado doutra cousa. A perfeição é obtida através da recusa e aceitação, aceitação da essência, recusa da não essência, mas aceitação de que algo não essencial não é ruim e a recusa do desperdício da essência dalgo que pode vir a ser útil.

     E quanto mais másculo a essência for, maior será necessário a passividade da neutralização. Ó grande Rei Vermelho! Diga-me, quem é a mulher que teu amor recebe? Ó grande Rainha Branca! Diga-me, como és tão bela como a Lua?

     O amor é por sempre o sentimento mais forte. O amar é por sempre o ato mais nobre.]

     Eu tenho conhecimento que a ancestralidade dos pais duma pessoa dita fortemente a sua capacidade mágica, mas pondero se isso poderia ditar mais ainda do que se pensa atualmente.

     Seria esse o grande propósito do casamento?

     [Capítulo 2: Núpcias

     Enxofre. Mercúrio. O ativo necessita agir para tornar-se algo real, o passivo necessita receber para atingir potencial. Ó, Lua! Deixa-me ser teu marido! Ó, Sol! Eu devo submeter-se a ti! Passa-me o nigredo, passa-me como albedo, passa-me o citrinitas, torna-me rubedo!

     Sim, nós vemos. Materiais sulfurosos e mercuriais em tudo.

     E por 7 dias e 7 noites houve reação. Nunca houve reação igual.  Pois, isso tudo é apenas mais um processo para atingir e obter a grande obra prima.

     Não há nada mais primoroso do que a criação duma vida.]

     Rapaz… 7 dias e 7 noites? Isso é muito, não é? Algumas horas de reação não seria o suficiente? Mas que libido!

     Apesar das graças, na medida em que vou a ler suas histórias um sono começa a surgir, será um indício do famoso cochilo após a ceia? Seja o que for, eu o aceito.

     Eu havia dito que não iria dormir tão cedo assim, nem mesmo hoje, mas aparentemente eu estava errado. Nada supera a força do sono pós-refeição, eu sou apenas um pobre coitado sonolento diante dela.

     Fecho o livro. Fecho os olhos. Deito minha cabeça sobre a mesa e começo a dormir, contrário ao que eu pensei de que não descansaria ainda hoje. É, hoje foi realmente um dia cansativo.

     Performar peças é algo realmente cansativo.

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