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    Ao sair da biblioteca Beatrix me saúda, aparentemente ela estava a me esperar.

     Talvez ela tenha algo importante a dizer-me. Ultimamente estão a usá-la como um espécime de mensageira para mim. Será que eles têm tanto medo assim de iniciar uma conversa sem nenhum aviso prévio comigo?

     Ou será que usam a Beatrix para limitar as minhas opções de desculpas para não ouvir o recado? A própria Beatrix me alertou disso ontem.

     Tenho a impressão que é a segunda opção…

     — O que tu estavas a conversar com aquela garota? Consegui ver daqui ela em prantos… — com curiosidade em seus olhos, e a contrariar a minha ideia de que ela vinha dar um recado importante, Beatrix me pergunta.

     — Ora? Ciúmes? — pergunto ironicamente.

     — Ciúmes? Garoto… — Beatrix ri da situação.

     A segurar o tecido de seu vestido ela dá 4 pequenos passos para frente, ver isso me fez lembrar de um passarinho a dar pequenos pulos de um lado para o outro… Após seus «pulos» ela se estaciona em minha frente.

     Beatrix coloca seu pé direito atrás de seu talão esquerdo, ou ao menos é isso que o meu ouvido e memória me dizem ao ouvir os sons das pontas de seus saltos.

     Ela dobra ambos os joelhos para a minha direção, suas mãos seguram o vestido lateralmente, a puxá-los a cima de modo que um arco é formado pelo tecido que fora puxado. Sua cabeça também se inclina para baixo em minha direção.

     — Por que eu deveria ter ciúmes? A minha vida inteira, quando eu quero algo eu simplesmente vou lá e pego — diz uma Beatrix sorridente, enquanto realiza a tradicional pose de cortesia.

     — Por que tamanha confiança?

     — Pela imagem que eu observo no espelho todos os dias! — com a mão na cintura e segura de si mesma ela diz.

     — Que espelho gentil.

     — Não é? Ele faz o favor de refletir a realidade — ela joga, com as pontas de seus dedos, os seus cabelos para o lado e continua a andar em minha frente.

     É, eu perdi essa discussão.

     — Eu estava a falar sobre poemas, e, bom, sobre a nossa vida em geral.

     — E por isso que ela chorou? — Beatrix questiona com uma feição indiferente.

     — Sim, sobre os problemas dela em geral.

     — Tu poderias tentar ser mais gentil com ela, não poderias? — faço uma aposta desesperançosa.

     — Se ela tentasse comportar-se mais como um ser humano, como uma condessa eu poderia — sem pestanejar Beatrix me responde.

     Beatrix é uma viscondessa e Valeria é uma condessa. Beatrix é minha verna e Valeria é minha noiva. Beatrix tem 17 anos e Valeria tem 18 anos.

     Apenas essas informações são suficientes para afirmar quem deve respeito a quem, isto é, na teoria.

     Entretanto, nós vivemos no mundo prático, não no teórico. Não é incomum ver a Beatrix a dizer sermões para uma vexada Valeria.

     — Não sou uma moça má, Aurelius. Sei que ela, assim como todo mundo, possui seus particulares problemas. Problemas da vida — Beatrix volta no assunto a se explicar.

     — É um dilema corriqueiro lidar com tais problemas. Todos nós fazemos nosso melhor para tentar lidar com eles

     — Todos nós, menos ela. Ela simplesmente aceita, é deplorável — com leves traços de repulsa em sua feição, ela termina.

     — Deplorável… — eu redigo sua última palavra.

     A animosidade que Beatrix possui por Valeria creio eu que não seja maldade, mas uma inconformação com a realidade em si. Orgulho de um nobre, um ensinamento básico da nobreza, não é apurado no feitio de agir da Valeria.

     Mas a Valeria realmente tem culpa disso? Beatrix. Eu sei que tu sabes as cousas que acontecem na Domus dela. É realmente necessário ser tudo assim?

     — Enfim, esqueça ela. Diga-me o que aconteceu entre tu e o Lucius? Foi… deveras cômico ver o teu pai a quebrar a porta porque ele não respondeu nenhum dos chamados das servas — a desviar-se da conversa, Beatrix brinca.

     — Quebrar a porta? Haha! — eu me espanto com a informação recebida e dou uma breve risada.

     Isso deve ter acontecido enquanto eu dormia, fico surpreso que não me acordaram para dar explicações além de meu bilhete.

     — Teu pai te procurou em teu quarto, mas ao não encontrá-lo ele desistiu. Deve ter pensado que tu não estavas em casa.

     Oh, isso explica muita cousa.

     — Dormir na biblioteca é uma nova tendência, eu diria. —faço uma piada.

     — Mas como tu sabias que eu estava aqui? — com uma dúvida em mente eu me direciono à Beatrix.

     — Ah, sobre isso… a Senhora Conflagratus que disse ter visto tu aqui mais cedo, ela me pediu para após tu teres acordado eu falar contigo e dizer para ir até o quarto dela. Ela deve querer falar contigo sobre o ocorrido.

     Eu não estava errado, Beatrix realmente veio para cá dar um recado. Desta vez daquela mulher.

     — Se ela sabia onde eu me encontrava, por que ela não contou ao meu pai quando ele me procurava?

     — Não sei, Aurelius. É a tua mãe, talvez ela quisesse dá-lo um tempo de descanso ou poupá-lo dum encontro com o teu pai no momento.

     Bom, a conhecer ambos isso faria sentido…

     — Tu… irás vê-la? — Beatrix me fixa com seus olhos verdes.

     — Bom, o que mais posso fazer? É preferível a mim eu falar com ela do que com o meu pai sobre o que aconteceu.

     Poupa-me tempo e falação desnecessária no ouvido desta maneira. Apesar de que também tem seus malefícios…

     — Certo, certo. Meu trabalho aqui está feito. Se tu precisares de mim eu provavelmente estarei na sala de artes. Adeus — Beatrix diz enquanto se distancia, com a mão levantada a acenar.

     — Adeus.

     Conversar com seus pais sobre suas notas na escola, de quem é a vez de limpar o quarto, sobre suas tarefas pendentes, o porquê de teu irmão estar desmaiado em sono profundo dentro do próprio quarto devido à falta de quintessência que ele gastou completamente contigo após discussões e batalhas calorosas…  

    Ai, ai, ai… isso tudo é tão chato!

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