Capítulo 20 – Mulheres e flores são sinônimos. Detêm texturas, visuais e cheiros diferentes, algumas desagradáveis – parte 3
Ao sair da biblioteca Beatrix me saúda, aparentemente ela estava a me esperar.
Talvez ela tenha algo importante a dizer-me. Ultimamente estão a usá-la como um espécime de mensageira para mim. Será que eles têm tanto medo assim de iniciar uma conversa sem nenhum aviso prévio comigo?
Ou será que usam a Beatrix para limitar as minhas opções de desculpas para não ouvir o recado? A própria Beatrix me alertou disso ontem.
Tenho a impressão que é a segunda opção…
— O que tu estavas a conversar com aquela garota? Consegui ver daqui ela em prantos… — com curiosidade em seus olhos, e a contrariar a minha ideia de que ela vinha dar um recado importante, Beatrix me pergunta.
— Ora? Ciúmes? — pergunto ironicamente.
— Ciúmes? Garoto… — Beatrix ri da situação.
A segurar o tecido de seu vestido ela dá 4 pequenos passos para frente, ver isso me fez lembrar de um passarinho a dar pequenos pulos de um lado para o outro… Após seus «pulos» ela se estaciona em minha frente.
Beatrix coloca seu pé direito atrás de seu talão esquerdo, ou ao menos é isso que o meu ouvido e memória me dizem ao ouvir os sons das pontas de seus saltos.
Ela dobra ambos os joelhos para a minha direção, suas mãos seguram o vestido lateralmente, a puxá-los a cima de modo que um arco é formado pelo tecido que fora puxado. Sua cabeça também se inclina para baixo em minha direção.
— Por que eu deveria ter ciúmes? A minha vida inteira, quando eu quero algo eu simplesmente vou lá e pego — diz uma Beatrix sorridente, enquanto realiza a tradicional pose de cortesia.
— Por que tamanha confiança?
— Pela imagem que eu observo no espelho todos os dias! — com a mão na cintura e segura de si mesma ela diz.
— Que espelho gentil.
— Não é? Ele faz o favor de refletir a realidade — ela joga, com as pontas de seus dedos, os seus cabelos para o lado e continua a andar em minha frente.
É, eu perdi essa discussão.
— Eu estava a falar sobre poemas, e, bom, sobre a nossa vida em geral.
— E só por isso que ela chorou? — Beatrix questiona com uma feição indiferente.
— Sim, sobre os problemas dela em geral.
— Tu poderias tentar ser mais gentil com ela, não poderias? — faço uma aposta desesperançosa.
— Se ela tentasse comportar-se mais como um ser humano, como uma condessa eu poderia — sem pestanejar Beatrix me responde.
Beatrix é uma viscondessa e Valeria é uma condessa. Beatrix é minha verna e Valeria é minha noiva. Beatrix tem 17 anos e Valeria tem 18 anos.
Apenas essas informações são suficientes para afirmar quem deve respeito a quem, isto é, na teoria.
Entretanto, nós vivemos no mundo prático, não no teórico. Não é incomum ver a Beatrix a dizer sermões para uma vexada Valeria.
— Não sou uma moça má, Aurelius. Sei que ela, assim como todo mundo, possui seus particulares problemas. Problemas da vida — Beatrix volta no assunto a se explicar.
— É um dilema corriqueiro lidar com tais problemas. Todos nós fazemos nosso melhor para tentar lidar com eles
— Todos nós, menos ela. Ela simplesmente aceita, é deplorável — com leves traços de repulsa em sua feição, ela termina.
— Deplorável… — eu redigo sua última palavra.
A animosidade que Beatrix possui por Valeria creio eu que não seja maldade, mas uma inconformação com a realidade em si. Orgulho de um nobre, um ensinamento básico da nobreza, não é apurado no feitio de agir da Valeria.
Mas a Valeria realmente tem culpa disso? Beatrix. Eu sei que tu sabes as cousas que acontecem na Domus dela. É realmente necessário ser tudo assim?
— Enfim, esqueça ela. Diga-me o que aconteceu entre tu e o Lucius? Foi… deveras cômico ver o teu pai a quebrar a porta porque ele não respondeu nenhum dos chamados das servas — a desviar-se da conversa, Beatrix brinca.
— Quebrar a porta? Haha! — eu me espanto com a informação recebida e dou uma breve risada.
Isso deve ter acontecido enquanto eu dormia, fico surpreso que não me acordaram para dar explicações além de meu bilhete.
— Teu pai te procurou em teu quarto, mas ao não encontrá-lo ele desistiu. Deve ter pensado que tu não estavas em casa.
Oh, isso explica muita cousa.
— Dormir na biblioteca é uma nova tendência, eu diria. —faço uma piada.
— Mas como tu sabias que eu estava aqui? — com uma dúvida em mente eu me direciono à Beatrix.
— Ah, sobre isso… a Senhora Conflagratus que disse ter visto tu aqui mais cedo, ela me pediu para após tu teres acordado eu falar contigo e dizer para ir até o quarto dela. Ela deve querer falar contigo sobre o ocorrido.
Eu não estava errado, Beatrix realmente veio para cá dar um recado. Desta vez daquela mulher.
— Se ela sabia onde eu me encontrava, por que ela não contou ao meu pai quando ele me procurava?
— Não sei, Aurelius. É a tua mãe, talvez ela quisesse dá-lo um tempo de descanso ou poupá-lo dum encontro com o teu pai no momento.
Bom, a conhecer ambos isso faria sentido…
— Tu… irás vê-la? — Beatrix me fixa com seus olhos verdes.
— Bom, o que mais posso fazer? É preferível a mim eu falar com ela do que com o meu pai sobre o que aconteceu.
Poupa-me tempo e falação desnecessária no ouvido desta maneira. Apesar de que também tem seus malefícios…
— Certo, certo. Meu trabalho aqui está feito. Se tu precisares de mim eu provavelmente estarei na sala de artes. Adeus — Beatrix diz enquanto se distancia, com a mão levantada a acenar.
— Adeus.
Conversar com seus pais sobre suas notas na escola, de quem é a vez de limpar o quarto, sobre suas tarefas pendentes, o porquê de teu irmão estar desmaiado em sono profundo dentro do próprio quarto devido à falta de quintessência que ele gastou completamente contigo após discussões e batalhas calorosas…
Ai, ai, ai… isso tudo é tão chato!
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.