Capítulo 2 – Narville

『 Tradutor: Hiroto 』

Narville.

A cidade mais vibrante e o centro cultural do mundo de Fate.

Foi exatamente na praça central de Narville que X apareceu.

— É barato! Tá fresquinho! Venha conferir essas frutas recém-colhidas!

— Oppa, vamos dar só uma voltinha!

Vozes animadas ecoavam pela praça. O ambiente era acolhedor. Os comerciantes NPCs sorriam com simpatia, e os jogadores aproveitavam o clima leve da cidade ao máximo.

Todos, menos X.

“Tô atrasado!”

O equipamento de ferro reluzente dos outros usuários brilhava intensamente!

Comparado com as roupas básicas de tecido que vestia, aquilo parecia uma armadura lendária. Alguns já ostentavam emblemas de guilda no ombro — uma prova de que estavam oficialmente afiliados a grandes grupos.

X sorriu com frieza.

“Um mês de diferença faz toda a diferença.”

Mesmo em Lin Online, um mês era o suficiente para virar o continente de cabeça para baixo — desde os preços dos itens mais inúteis até os donos de territórios e o ranking das guildas.

E Fate não era um jogo qualquer.

Era o primeiro jogo de realidade virtual do mundo — e, por isso, tornou-se o maior da história. Ainda mais em uma época onde os jogos produzem dinheiro real.

“Assim como os bastardos da War Machine.”

Dinheiro e fama.

Graças a isso, todos os jogadores de elite estavam reunidos em Fate.

X teria que lutar pela supremacia… sozinho.

E com o enorme handicap de um mês de atraso.

Os olhos de X se estreitaram.

“Preciso escolher bem. Missões e level up.”

A lacuna que estava aberta… precisava ser reduzida rapidamente.

Sempre era preciso seguir o melhor caminho.

Que missões estavam disponíveis para iniciantes em Narville?

X puxou suas memórias com precisão.

“Aula de boas-vindas para pegar uma espada de ferro de treino. Treinamento de criação para conseguir um escudo de madeira. E coleta para ganhar uma armadura de couro leve.”

Nenhuma dessas missões dava experiência.

No entanto, permitiam conseguir os equipamentos básicos para iniciar a jornada, além de ensinar noções básicas de aventura. A maioria dos novatos completava essas três missões.

X não estava interessado em seguir o caminho comum.

— Eu não fritei frango até suar em bicas à toa.

Capital acelera o crescimento de personagem!

Com confiança, ele abriu a interface do jogo.

Uma janela do sistema surgiu diante de seus olhos.

A Casa de Leilões!¹

Operada pela empresa Mage, a casa de leilões era conectada ao Fate em tempo real. As transações podiam ser feitas tanto dentro quanto fora do jogo.

Com o sistema de câmbio livre entre dinheiro e ouro, era possível comprar itens com dinheiro real, dependendo das configurações do usuário.

— Vamos ver se tem algo bom…

Ordenando os itens por nível, várias opções chamaram sua atenção. Ele arregalou os olhos ao comparar as estatísticas.

Todavia, os preços eram… surreais.

X franziu a testa e soltou um suspiro irritado.

— Achei que dava, mas isso não passa de uma piada…

Os valores eram ridiculamente altos.

O jogo havia sido lançado há apenas um mês. O mercado estava instável. Os preços da maioria dos itens estavam inflacionados. Até o valor do ouro era ridículo.

— Ninguém vai facilitar minha vida de graça…

Ele não era do tipo que aceitava prejuízo.

Se fosse um item vendido por NPC, ele pagaria sem reclamar. Afinal, estava um mês atrasado, e para alcançar os outros, alguns sacrifícios seriam inevitáveis.

Porém, os vendedores eram jogadores.

E para X, todos os outros jogadores eram concorrentes.

“Você realmente quer que seu dinheiro vá para o bolso dos seus futuros rivais? Jamais!”

— Achei que ia começar devagar dessa vez…

Sem hesitar, fechou a casa de leilões.

Logo em seguida, respirou fundo e seus olhos brilharam.

“Toda jornada de mil milhas começa com um passo, né?”

Assim como no velho Lin Online.

Era hora de recomeçar do zero… e subir até o topo de novo.

Já tinha feito isso uma vez. A segunda seria ainda mais fácil.

Com a decisão tomada, ele se moveu com rapidez. Relembrou o mapa de Narville, que havia estudado previamente.

“O lugar mais próximo da praça central é a forja onde dá pra aprender habilidades de criação, certo?”

As missões básicas estavam espalhadas pela cidade.

Ele seguiu a rota mais eficiente, otimizando cada segundo.

O fim de um trabalho suado.

Tirilim!

Enfim, a última missão de coleta foi finalizada!

O fazendeiro Garil elogiou com entusiasmo:

— Suas mãos são rápidas! A colheita e a limpeza ficaram perfeitas. Para um novato, você tem talento. Que tal trabalhar aqui em tempo integral? Eu pago bem!

Tirilim!

X sorriu com educação.

— Agradeço muito, Sr. Garil. Também tenho interesse em agricultura, mas no momento… quero conhecer o mundo.

Em Fate, tão realista quanto a realidade, a afinidade com NPCs era crucial. Conquistar laços podia trazer benefícios inesperados.

Por isso, X recusou com elegância.

Garil lamentou:

— É, faz sentido… Você é um aventureiro com um futuro brilhante. É uma pena… Mas foi um prazer trabalhar contigo. Por favor, aceite esse pequeno presente meu.

Além da recompensa padrão, Garil deu alguns pães de centeio.

A recusa respeitosa manteve a afinidade intacta.

X assentiu, satisfeito.

“Toda ação gera uma reação.”

No entanto, isso só vale para NPCs.

— Até a próxima, Sr. Garil.

Ao sair da fazenda, X vestiu imediatamente a armadura de couro.

A defesa era baixa, porém era melhor do que nada.

Com a espada de treino presa à cintura — adquirida na missão de recados —, ele se dirigiu ao portão leste de Narville.

Lá, vozes ecoavam:

— Procuramos um aventureiro iniciante para fechar o grupo de quatro!

— Mesmo quem tem dificuldade em caçar sozinho é bem-vindo!

Clima amigável.

Os novatos levantavam a voz, tentando formar grupos. Do lado de fora da vila, começavam a aparecer os monstros de verdade.

“É… enfrentar isso sozinho pode ser difícil.”

Os monstros em realidade virtual eram diferentes.

Mesmo jogadores fortes podiam travar diante deles. Não era comum ir sozinho para o campo logo de início.

Apesar que… X não era um jogador comum.

“Monopolizar EXP e itens é bônus do modo solo!”

Com tranquilidade, ele passou pelo grupo de usuários tagarelas.

Afastou-se e observou os monstros ao longe, nas pastagens.

— Pelo que vi nas informações… não vai ser fácil.

Campos de Narville.

Zona de monstros de baixo nível.

Como ele já sabia, havia coelhos e esquilos — mas os movimentos eram impressionantes. Os jogadores balançavam espadas… e não acertavam nada.

Uma das equipes que tentava caçar suspirou:

— Me dá um hit aí, ou vou pirar!

— Droga, não acertei nada até agora!

X girou os ombros com leveza.

— Claro que não acerta.

Como jogar bem?

Primeiro: acostume-se com os controles.

É preciso tratar o personagem como extensão do próprio corpo. O local de caça e o tipo de monstro são secundários. Se balançar a espada sem jeito, ela não vai atingir nada.

— Esse é o jeito certo de jogar um VR.

Zunf!

Com um sorriso, X sacou a espada.

— É só se mexer até pegar o jeito!

Apesar da tecnologia de Fate ser quase perfeita, ainda havia diferenças sutis em relação à realidade. Levaria em média uma semana para um jogador comum se adaptar totalmente.

X não podia esperar uma semana.

Adicionar mais sete dias ao atraso de um mês? Nem pensar.

Zuun!

Ele começou a balançar a espada no ar.

Com concentração total, mantinha uma cadência firme.

Golpe após golpe.

Uma hora, duas…

O sol se pôs.

A noite caiu.

E os braços de X… nunca pararam.

Suor escorria como chuva. O corpo, encharcado.

Outros jogadores acenderam tochas e cochicharam ao vê-lo.

— Esse maluco ainda tá nisso. Quanto tempo já passou?

— Tem certeza que é humano? Não é um macro?

— Tem macro em Fate? Mas isso aí… tá de outro mundo.

A perseverança de X era surreal.

No meio das especulações, uma notificação brilhou diante dele:

“É esse tipo de recompensa que eu gosto!”

As mensagens removiam toda a fadiga.

Todavia, X ainda era humano — ele precisava de pausas.

Sistema de Saturação.²

Em Fate, quanto menor a saturação, mais lentos os movimentos.

Os atributos caem.

Se chegar a 0% e o jogador continuar sem comer… morte.

— Viu só? Quem é educado nunca passa fome.

X mastigou o pão de centeio que Garil lhe deu.

Ao saciar-se, a força voltou.

Sem hesitar, ele pegou a espada novamente e continuou:

Comer, balançar, balançar, comer.

E assim… o amanhecer chegou.

Tirilim!

Um som sempre agradável.

Ele verificou a notificação:

Ele esperava um aumento nos atributos… mas ganhou uma habilidade!³

“Realmente… agora o golpe tá diferente.”

O incômodo inicial sumiu completamente.

Com o senso atual, era quase impossível errar.

Só então X, satisfeito, baixou a espada.

Outros jogadores o observavam, boquiabertos.

— Parece que esse cara finalmente parou.

— Desde ontem de manhã! Quanto tempo será que foi?

— Não sei o que ele tá tentando… mas é doido.

Doido.

Obcecado.

Possuído.

E como se respondesse a esses murmúrios…

X voltou a encarar as pastagens.

Lá estavam eles: os alvos perfeitos.

— Acho que consegui pegar o jeito. Agora, a caça começa pra valer!

Olhos em chamas.

Nem um traço de cansaço em seu rosto.

1. Em muitos MMORPGs, existe mercado de itens onde jogadores podem trocar moeda do jogo por dinheiro real, ou vice-versa. Isso gera uma economia paralela dentro do jogo. ↩︎
2. Mecânica de Fate: representa fome/energia. ↩︎
3. No estilo RPG, atributos como Força ou habilidades passivas (“Paciência”, “Golpe Preciso”) aumentam conforme esforço repetitivo do jogador, não apenas por subir de nível. ↩︎