Capítulo 5 – Couro Macio, Chá Quente e um Negócio Lucrativo

『 Tradutor: Hiroto 』

O efeito da carne e do couro de cervo de grau raro era simplesmente incrível.

Uma risada escapou dos lábios de X.

— Equipamentos feitos com couro de cervo macio aumentam pelo menos 2 pontos de agilidade… Acho que vou ter que começar a coletar couro de novo desde o início?

Conjunto de Armadura de Couro Macio de Cervo: confirmado!

Esse era um dos itens que X tinha observado no leilão da primeira vez em que acessou Fate.

A defesa era comparável a de armaduras específicas de classe e com um limite de nível bem baixo.

Ele empunhou a espada sem hesitar.

— Essas criaturinhas lindas…

Os cervos correndo pareciam blocos gigantes de ouro.

X planejava farmar itens até encher o inventário. ¹

Poc! Poc!

E então começou a caça indiscriminada.

Os ataques dele eram rapidamente devastadores. Os cervos não tinham nem chance de reagir — eram abatidos em segundos.

Enquanto recolhia os espólios, ele pensava:

“Na verdade, o próximo passo seria caçar raposas…”

Raposas.

Eram os primeiros monstros que aventureiros iniciantes costumavam enfrentar. Claro, seu poder de ataque era baixo e a resistência também.

Desde que o jogador não entrasse em pânico ou baixasse a guarda, não era exatamente um desafio.

Porém, X decidiu ignorá-las.

— Mesmo com diferença de nível, não é difícil lidar com monstros que não atacam primeiro. Se acertar um ponto vital com força, o inimigo acaba sofrendo com algum efeito negativo!

E ele tinha seus motivos para estar tão confiante.

Graças ao sistema de status que aumentava constantemente sempre que ele comia alguma coisa!

E quando o assunto era controle, X não apenas era confiante — ele era arrogante mesmo.

A verdade é que não era difícil para ele acertar golpes precisos nos pontos fracos dos monstros.

— Heheh…!

Nível subindo.

Itens se acumulando.

X se sentia mais orgulhoso do que há muito tempo não sentia na vida real.

— Continuar assim!

Ele se espreguiçou e sentou-se no chão de terra batida.

Tirou um pão de centeio do inventário… e então parou.

— Pão não aumenta mais os atributos…

No lugar, ele retirou um pedaço de carne de cervo.

Era uma carne de qualidade rara, com marmoreio belíssimo entre carne e gordura.

Slurp!

X limpou a baba.

— Disseram que podia comer cru, né?

CHOMP!

Sem hesitar, deu uma mordida.

— …!

Os olhos de X se arregalaram.

Ele esperava apenas carne crua, porém o sabor era surpreendente! A carne estava firme na medida certa, e o sabor se espalhava pela boca com intensidade!

O sabor era o básico, mas os efeitos… eram essenciais.

— Isso… tá subindo de forma assustadora!

Nunca houve um efeito tão absurdo!

A carne era rara, sim, mas o aumento de força em 5 pontos?

Era equivalente a investir TODOS os bônus de level-up em Força — de uma vez só.

Enquanto mastigava, X pensava:

“Um Gourmet Celestial… é capaz disso.”

Vou chegar ao topo do Fate com minha própria força!

Mesmo dizendo isso, ele sabia que era um objetivo irrealista.

Afinal, X tinha experiência comandando uma guilda de grande porte.

Ele sabia muito bem o quão poderosa uma guilda podia ser.

Todavia, agora… ele era um Gourmet Celestial.

E sua confiança transbordava.

— Vamos recomeçar.

Depois de comer o restante da carne de cervo, ele se levantou. Estava tão focado em caçar, que perdeu a noção do tempo.

Enquanto reunia os itens, franziu a testa.

— …Ainda assim, tem algo estranho, né?

Não havia nenhum outro jogador.

Por mais fundo que tivesse ido, era estranho não ver nenhum usuário sequer.

Ele olhou ao redor.

— Como eu imaginava… isso é incomum.

As árvores formavam uma barreira natural, como uma cerca.

Uma cerca que parecia isolá-lo de outros usuários.

X encontrou um caminho entre as árvores.

— …Não me lembro de ter entrado em um lugar assim.

E não havia outro caminho visível.

Seguiu adiante, ainda confuso.

Obviamente, eliminava qualquer cervo que encontrasse pelo caminho e recolhia tudo.

Frutas que pareciam comestíveis?

Ele simplesmente colocava na boca.

Graças a isso, seus atributos estavam literalmente explodindo.

Seus status estavam além do que se espera para alguém de nível 13.

Sua vida máxima era superior a de um Paladino — a classe com maior HP base.

Isso por si só já era um absurdo.

Força e agilidade? Muito acima das classes de combate no mesmo nível.

Mesmo que alguém colocasse todos os pontos bônus em resistência, não chegaria perto.

— Eu tô quantos passos à frente?

X assobiava alegremente.

— Já jogou algum jogo tão divertido assim? Quase me dá vontade de fazer uma reverência pro homem misterioso que me deu aquela bala…

Aliás…

— Por que ele me trouxe pra esse lugar?

X estava convencido de que aquele homem era o responsável.

Depois de comer a bala, teve uma visão.

Quando recobrou a consciência, já estava aqui.

Era uma dedução lógica.

— Não acho que ele me daria remédio e depois me deixaria morrer…

X estreitou os olhos.

Brilho!

No fim do caminho, algo brilhava ao longe.

X correu para ver do que se tratava, e então uma notificação surgiu.

— Local esquecido?

Era um lago belíssimo, emanando uma luz prateada.

Ele parou na frente do lago.

— Será que isso tem alguma relação com a classe Gourmet Celestial?

Um local esquecido… para uma classe esquecida.

Devia haver uma conexão.

Ele contornou o lago. Cervos bebiam água ali — escaparam da morte porque X estava distraído.

— Não parece ter nada de especial…

X coçou o queixo.

Não havia informações suficientes para adivinhar qualquer coisa. Porém, uma coisa era certa: o lago prateado tinha algo a ver com sua missão de classe.

— Se não fosse importante, nem teria sido marcado como lugar esquecido…

Mas ele balançou a cabeça.

— Mesmo que eu entenda, agora não tenho capacidade.

Missões com dificuldade indeterminada são ótimas…

Mas agora era hora de upar.

Ele puxou a espada e olhou os cervos.

— Essa água é tão gostosa assim?

A frase “nem cachorro se atrapalha comendo” veio à cabeça.

Mesmo sendo X, ele hesitou em atacar os cervos sedentos, ficando curioso.

— …Vamos beber.

Por que não tinha pensado nisso antes?

Ele era um Gourmet Celestial.

Talvez houvesse algum efeito absurdo escondido naquela água.

X se ajoelhou e enfiou o rosto no lago prateado.

GULP!

— …Habilidade?

Surpreso, o corpo de X começou a brilhar.

Ele franziu o rosto diante da luz intensa.

Logo, quando a claridade desapareceu, vozes estranhas ecoaram.

— Ei, foca aí! Tu acertou agora há pouco.

— Foi mal, não achei que a flecha ia errar…

— Tranquilo, mano. Deixa que eu seguro o agro. ²

Jogadores.

X olhou em volta e respirou fundo.

— Uff… finalmente saí.

Aquele não era um lugar em que se caía por acidente.

Ao voltar à consciência, ele conferiu a nova habilidade:

— Aposto que ela me leva direto pro Lago Prateado.

Se essa habilidade existia, era mais uma prova de que esses locais eram importantes.

Mas então… algo o fez lembrar do inventário cheio.

— Preciso voltar pra Narville primeiro.

A loja geral do Rubin estava, como sempre, lotada de jogadores.

NPCs e usuários discutiam valores, barganhavam e brigavam por moedas.

— Dois ouros bastam por tudo, incluindo as peles de coelho, né?

— Dois ouros?! Amigo, ajuda aí… Fiquei caçando por quase uma semana! Isso nem paga o pão…

— Cliente, a gente também não tira dinheiro do chão, né?

— Mas só isso de ouro?!

Um jogador com o rosto desanimado.

Rubin acariciou seu bigode elegante.

— Ugh… tá bom, tá bom. Aceito.

— Obrigado pela preferência, senhor!

O vencedor da barganha… era sempre Rubin.

Era difícil para novatos sem reputação conseguirem bons preços.

— E então, qual é a do próximo cliente?

— Estou aqui pra vender couro de cervo e outras coisas.

— Couro de cervo é bem requisitado, sempre compramos… mas a oferta aumentou muito ultimamente, então o preço caiu. Você entende, certo?

X sorriu.

— Hmm… acha que vai mudar de ideia depois de ver?

Separando apenas algumas peças que usaria para fabricar equipamentos, ele colocou o restante do couro macio de cervo diante de Rubin.

Mesmo à primeira vista, dava pra notar que era de qualidade muito superior.

Os olhos de Rubin brilharam.

— I-isso é couro macio? Um, dois, três… quantos tem aqui? Senhor, poderia esperar um instante?

Rubin desapareceu rapidamente, balançando o bigode, e voltou com uma xícara de chá.

— Aceite esse chá enquanto finalizo o pagamento. Você… por acaso tem mais dessas peles? Esse tipo de couro é raríssimo! Altos oficiais compram em grandes quantidades. Vamos pagar muito bem, claro!

Couro macio de cervo.

Dizia-se que aumentava a afinidade com NPCs comerciantes.

E talvez, pelo grande volume, o efeito já estivesse aparecendo.

Vendo os olhos suplicantes de Rubin, X sorveu um gole do chá.

“Cheiro bom… e efeitos melhores ainda.”

X conferiu as notificações e então respondeu, firme:

— 1 ouro por unidade.

— U-um ouro cada?

— Se pagar esse valor, posso trazer quantos couros quiser.

A negociação começava agora.

1. “Farmar” é repetir batalhas para acumular itens, experiência ou dinheiro em jogos online.[↩]
2. “Agro” é a mecânica em que um monstro escolhe atacar o jogador que mais chama sua atenção, geralmente quem causa mais dano ou provoca.[↩]