Capítulo 8 - Aurora em Expansão

O som do teclado preencheu o escritório da Aurora Consulting como uma música constante. Jaemin observava, de pé, encostado próximo à porta, enquanto seus funcionários trabalhavam. O ambiente tinha mudado. Algo nele havia mudado.

Ele não era mais apenas o garoto traído e desempregado de algumas semanas atrás. Agora, era o presidente de uma empresa que havia prestado seu primeiro serviço oficial e tinha um time que confiava nele. E, mais do que isso, ele começava a confiar em si mesmo.

O painel azul-claro flutuava ao lado do seu campo de visão:

A presença de Yuna Tak, a funcionária Rank B de design e identidade visual, havia mudado a dinâmica do grupo. Literalmente.

— Park Daehyun, essa combinação de cores me faz querer vomitar — disse ela com uma sobrancelha arqueada, enquanto analisava a proposta visual de campanha.

— Uau, você é sutil como um ataque de rinoceronte à meia-noite — retrucou Daehyun, sem desviar os olhos do monitor.

— Sutil não melhora identidade visual. Eu melhoro. E isso aqui parece feito por um hamster com daltonismo.

— Obrigado pelo feedback carinhoso.

Jaemin riu baixo. Não podia negar: Yuna era afiada, crítica, mas extremamente competente. Desde que chegara, trouxera um ar profissional ao time — e uma nova camada de caos.

Naquele dia, estavam reunidos na pequena sala de reuniões improvisada, com uma mesa de madeira que ainda tinha uma etiqueta de loja colada num dos cantos. Jaemin organizou os papéis sobre a mesa, tomando a frente com naturalidade. Era uma sensação nova.

— Certo. Projeto “Revive Café”. Nosso primeiro cliente comercial. — Ele olhou em volta. — Quero que isso seja mais do que um acerto. Quero que seja um case. Se fizermos bem, abrimos portas para vários outros comércios locais.

Seokjin ajustou os óculos, sempre centrado:

— Fiz uma análise das cafeterias da região. A maioria ainda não se recuperou da pandemia. Existe um nicho aberto para soluções criativas e acessíveis. Podemos ser pioneiros nisso.

— Isso é bom — disse Mirae, rolando a tela do notebook. — Já tenho influenciadores locais dispostos a divulgar a nova identidade visual deles em troca de café de graça.

— Uma moeda universal — comentou Jaemin, sorrindo.

— Café? — perguntou Daehyun.

— Exatamente.

Yuna não riu. Apenas soltou:

— Vou precisar de fotos do ambiente, dos produtos e dos funcionários. Se o lugar for feio, não faço milagres.

— O dono foi super receptivo ontem. Vai deixar a gente fotografar o quanto quiser — garantiu Daehyun.

— Ótimo. Então vamos começar.

Jaemin acompanhou Yuna até a cafeteria no fim da tarde. A luz dourada do entardecer batia em suas feições, revelando uma beleza discreta e segura. Cabelos castanho-claros com um leve toque avermelhado, olhos puxados e uma postura sempre reta.

No caminho, ela falou pouco. Estava concentrada. Mas, ao passarem por um carrinho de doces, parou abruptamente.

— Espera. Você gosta de dango? — perguntou, apontando.

Jaemin piscou.

— Ãhn… nunca comi, na verdade.

— Vamos corrigir isso.

Ela comprou dois e entregou um a ele sem cerimônia.

— Não gosto de trabalhar com gente que nunca comeu dango.

Jaemin aceitou, rindo.

— Isso é um critério de contratação?

— Se não era, agora é. — Ela deu uma mordida. — Hm… textura perfeita. Você tem bom gosto.

— Eu nem escolhi…

— Exato.

Havia algo hipnótico na forma como ela falava. Como se estivesse sempre dois passos à frente na conversa. Jaemin se pegou sorrindo mais do que o normal naquele fim de tarde.

De volta ao escritório, já à noite, Jaemin abriu o painel do sistema.

Yuna se aproximou e se recostou na porta.

— Você tem olhos bonitos.

Jaemin travou.

— O quê?

— Olhos. Dourados. Diferente. Combinam com você.

Ele ficou em silêncio por dois segundos longos.

— …Obrigado?

— Não precisa agradecer. É apenas uma observação estética. Faço isso com tudo.

Mas havia um leve sorriso nos lábios dela ao sair.

Nos dias seguintes, a Aurora se mobilizou por completo. Mirae cuidava da divulgação online, Seokjin fazia os ajustes fiscais com o dono da cafeteria, Daehyun produzia os textos para a campanha, e Yuna… bem, Yuna mandava e desmandava com sua prancheta digital e seu olho clínico.

Em meio a isso, Jaemin se tornava mais presente. Começou a agendar rotinas de acompanhamento, a organizar prioridades, e principalmente, a ouvir. Quando algum dos funcionários se perdia em ideias, ele era o centro de gravidade que os puxava de volta.

No quinto dia de campanha, Seokjin se aproximou:

— Presidente. Recebemos uma nova proposta.

— De quem?

— De um restaurante vegano no mesmo bairro. A dona é amiga do dono da cafeteria.

Jaemin coçou o queixo.

— Isso está indo rápido.

— É o que acontece quando você entrega resultados e não é um canalha.

— Palavras do nosso contador.

— Contador, conselheiro e conselheiro emocional, pelo jeito.

Na sexta-feira, o painel brilhou:

Ele não hesitou:

O painel girou.

Dessa vez, efeitos dourados apareceram.

Jaemin fechou o painel e olhou para a noite pela janela. As luzes da cidade piscavam como se reconhecessem algo.

E, pela primeira vez desde que acordou naquele dia em depressão, sentiu que estava exatamente onde devia estar.

Yuna apareceu ao lado dele, segurando duas xícaras de café.

— Um brinde à primeira campanha.

— Um brinde à Aurora.

Ela sorriu, desta vez sem ironia.

— E talvez… um brinde ao nosso presidente.

Jaemin ergueu a sobrancelha, surpreso.

— Isso é um elogio sutil vindo de você?

— Aproveita. Não vai acontecer com frequência.

Ambos brindaram, e por um instante, o mundo pareceu suspenso.

Sim, o jogo havia começado de verdade. E Kim Jaemin estava jogando para vencer.