Capítulo 100 - Milagres e Sacrifícios (8)
Os discípulos estavam paralisados, sem saber como reagir diante daquele poder.
‘Será que os responsáveis por isso estão no nível dos nossos mestres?’
Esse pensamento passou pela cabeça de todos, provocando um frio no estômago.
O tremor cessou e, por um instante, o silêncio dominou o ambiente. Os jovens permaneceram imóveis, sem saber o que fazer.
Algum tempo depois, começaram a cochichar entre si.
“O que faremos agora?” Du Jiang perguntou a Yan Rui, apreensivo.
“Esperar. Só podemos meditar e recuperar um pouco da nossa essência. Não temos chance contra aquilo … o que quer eles sejam, não do jeito que estamos”, murmurou Rui.
Irritado com a situação, Liang Wei comentou:
“Só esperar? E quem garante que eles não estão preparando alguma coisa contra a gente?”
“Você tem alguma sugestão melhor?” Rui retrucou, sua voz suave mascarava sua irritação na escuridão.
Wei ficou em silêncio, impotente.
Algumas horas se passaram. Os discípulos meditaram durante todo esse tempo e conseguiram recuperar parte de suas energias. No entanto, sem qualquer alimento, o cansaço persistia. A fome já começava a incomodar.
Graças aos cultivadores da Seita do Lago da Serenidade, ao menos a sede podia ser saciada. Embora criar água em um lugar tão seco consumisse muita energia, eles se esforçavam. Ainda assim, a responsabilidade de sustentar os outros começava a pesar nos cultivadores da Água piorando seus ânimos.
“Então? Estão conseguindo?” Yan Rui perguntou a Shan Luong e seu grupo.
Embora ninguém conseguisse ver nada, o esforço dos cultivadores da Terra era evidente pelos gemidos deles.
Seus rostos estavam contraídos, os punhos cerrados se erguiam enquanto uma energia laranja os envolvia, eles tremiam com o esforço.
“Não”, bufou Luong, desistindo. “Toda essa área está impregnada por uma essência da Terra muito poderosa. Mal consigo mover a poeira do chão. É um nível de controle completamente diferente do nosso!”
‘Inúteis!’ pensou Rui, frustrado, roendo a unha enquanto tentava imaginar uma solução.
Três deles estavam desacordados, e outros três mal conseguiam usar seus poderes. A situação era crítica.
Sem outras opções, Rui decidiu tentar conversar com seus captores.
“Vocês sabem quem nós somos? Cada um aqui pertence a uma família nobre da cidade de Zaguhan. A minha, por exemplo, é dona de diversas minas de diamantes! Posso recompensar vocês generosamente se nos deixarem sair!”, disse ele, com confiança no próprio status.
Barulhos começaram a ecoar acima deles — pareciam portas se abrindo e se fechando diversas vezes. Yan imaginou que estavam rindo dele.
“Não damos a mínima para o que sua espécie possui. Seus tesouros inúteis e deuses profanos nada significam diante da Mãe Terra.”
Yan Rui ficou confuso.
Eles não eram humanos?
‘O que eles são, então? Algum tipo de monstro inteligente?’
A ideia parecia absurda.
“Seus… Zaguhan é uma das cidades mais poderosas além da fronteira leste! Vocês têm ideia do que vai acontecer quando nossas famílias descobrirem o que estão fazendo?” Shan Luong gritou, furioso.
“É isso mesmo! Nossos mestres e toda a seita não vão perdoar vocês! Vão fazê-los desejar a morte!” Tu Zhen se juntou a ele, reforçando a ameaça.
Eles acreditavam que aquilo bastaria para assustar seus captores.
No entanto, a resposta foi bem diferente do que esperavam.
O chão sob seus pés se ergueu como uma onda de terra viva. Todos que estavam de pé começaram a ser esmagados.
“Humanos! Esqueceram quem é nossa protetora? Não temos medo de vocês!”
O ar escapou de seus pulmões. Eles podiam sentir as costelas prestes a se romperem. O desespero tomou conta.
‘Seria esse… o fim?’
“Parem com isso! O que meu pai disse a vocês?”
A nova voz era completamente diferente das anteriores. Suave, doce, quase tão agradável aos ouvidos quanto a dos cultivadores da Água.
“SANTA!” gritaram as outras vozes, em pânico.
“Por favor, nos perdoe por nossa insolência!”
A terra que os esmagava cedeu de repente, libertando os discípulos.
A surpresa de ainda estarem vivos só era superada pela possível identidade da nova figura.
Um Santo realmente estava ali?
***
Tristan corria o mais rápido que ele conseguia, sem olhar para trás, podia ouvir o som de dezenas de passos pesados batendo no chão vindo em sua direção.
Ele seguiu em direção à fenda mais estreita que havia notado durante a fuga. Mergulhou nela. Ali, as bestas maiores não conseguiriam segui-lo.
Estrondo.
Algo colidiu com força contra a entrada da fenda. Tristan virou-se para ver o que estava acontecendo. Um carneiro gigantesco batia com a cabeça na rocha, tentando entrar.
Tristan sentiu um breve alívio.
‘Tente quanto quiser, nunca será capaz de me seguir por aqui.’
Mas então, pulando por cima do carneiro, ele viu seis macacos sem pelos entrarem na fenda.
Tristan manteve a calma. Lembrou a si mesmo que provavelmente eles não eram capazes de usar magia.
Seria difícil, mas ele acreditava que poderia lidar com aquilo.
Porém, mais deles começaram a aparecer atrás dos primeiros.
Um, dois, três, quatro…
Agora eram dez.
E, pelo que se lembrava, muitos mais ainda poderiam surgir.
A situação estava ficando perigosamente complicada.
Tristan canalizou a essência da Luz por seu corpo, aumentando sua velocidade várias vezes. Os macacos eram rápidos — muito mais rápidos que um humano comum — mas jamais conseguiriam alcançar um cultivador da Luz.
Pelo menos enquanto ele ainda tivesse essência.
***
Tristan correu por vários minutos sem parar. Agora se encontrava em uma planície. Seu corpo estava exausto. Sua essência, quase esgotada. Sua velocidade começava a voltar ao normal.
Ele se perguntava se as bestas tinham desistido de persegui-lo.
Talvez aquele feiticeiro finalmente o deixasse em paz.
Virou-se para conferir. E lá estavam eles — a centenas de metros de distância — os primatas ainda vinham atrás dele.
‘Malditos persistentes.’
E, para piorar, um gato-das-neves e o mesmo carneiro gigantesco também podiam ser vistos ao longe. Eles estavam bem mais distantes, mas eram velozes. Logo o alcançariam.
‘Como eles ainda conseguem me acompanhar?’
Sua magia de ocultação, que antes o salvara, agora parecia ineficaz contra eles.
Tristan voltou os olhos para a frente, procurando por um caminho, um esconderijo — qualquer lugar que pudesse lhe dar alguma vantagem, se tivesse que lutar por sua vida.
Seus olhos, banhados de escuridão, examinaram o terreno à frente.
‘Ali!’
Avistou uma ravina. Não era estreita o suficiente para impedir as bestas maiores de entrarem, mas talvez dificultasse seus movimentos.
Ela tinha um formato estranho — lembrava uma meia-lua — mas não havia tempo para pensar nisso agora.
Tristan ofegava, e seus passos tornavam-se cada vez mais lentos. Seu corpo já estava encharcado de suor quando adentrou a ravina.
Ela se estendia por quase um quilômetro. Ele avançou algumas centenas de metros antes de perceber que as bestas também haviam entrado.
Parou e sentou-se numa pedra, respirando com dificuldade.
Como previra, o carneiro e o felino chegaram primeiro. Mas seus corpos grandes tinham dificuldade para se mover naquele espaço irregular.
Tristan pensou por alguns segundos.
Empunhou sua espada e se preparou. Sentou-se novamente e começou a respirar profundamente, tentando acumular o máximo de essência possível. Meditar por tão pouco tempo só lhe renderia algumas gotas — mas era melhor que nada.
Após alguns segundos, ouviu passos apressados ecoando pelas paredes da ravina. As batidas contra o chão se tornavam cada vez mais próximas.
Os primatas estavam vindo.
E eles conseguiam se mover ali com facilidade.
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