Capítulo 53: Resgate

Tristan se aproximou do jovem minerador.

Quando as pessoas ao seu redor o viram, afastaram-se, abrindo caminho. Era como se uma força invisível ao redor dele repelisse as pessoas.

O minerador, respirando cansadamente, engoliu um pouco de saliva quando o garoto pálido o olhou fixamente com olhos sombrios e profundos.

“Como era a besta que atacou vocês?” Tristan perguntou ao minerador.

O jovem minerador pareceu confuso com a pergunta, mas sua postura mudou quando ele olhou para as roupas de Tristan. Ele tremeu e sua face se contorceu em uma expressão de medo e terror antes de falar:

“Eu não consegui enxergar direito porque, quando o desmoronamento começou, a maioria das tochas se apagou. Só percebi que havia um número incontável deles.”

Sinais de dor apareceram em seu rosto. “Eles fizeram um som alto e estridente que me fez sentir como se meu cérebro fosse explodir.”

Tristan franziu os olhos, notando que o jovem parecia ter dificuldade para falar, mas assumiu que isso se devia ao trauma.

O minerador continuou: “Eles também podiam voar e eram muito rápidos. Quase achei que fossem fantasmas.”

O rosto do jovem minerador ficava mais branco conforme as lembranças voltavam. Ele ainda estava longe de ser tão pálido quanto Tristan, mas comparado a uma pessoa normal, sua aparência não era nada boa.

“Eu… eu vi aqueles monstros… carregarem meus companheiros para cima e despedaçá-los no ar… o sangue deles se espalhou como chuva…” A fala do jovem minerador foi ficando mais lenta, e parecia que ele mal conseguia se manter de pé.

“Ei, você está bem?” Tristan perguntou.

O jovem cambaleou e desmaiou no chão.

“Ahhh!” Algumas pessoas na multidão gritaram.

“O que aconteceu?”

“Por que ele desmaiou?”

“Ele foi amaldiçoado! Ele trouxe a maldição para cá!” Uma voz envelhecida falou.

Tentando ignorar o barulho, Tristan se agachou, colocando a mão no peito do rapaz, e usou sua habilidade de diagnóstico nele.

[Tyrannical Eye]

Ele se concentrou enquanto guiava a essência da Luz, fazendo-a percorrer o corpo do minerador caído.

Logo, Tristan franziu a testa e uma expressão confusa surgiu em seu rosto.

Ele se moveu para a perna direita do minerador e levantou um pouco a calça, encontrando uma ferida que parecia uma marca de mordida, com dois buracos grandes que deviam ser das presas principais e outros menores ao redor.

Yue se aproximou dele e perguntou:

“O que aconteceu? Ele estava ferido? Foi isso que o fez desmaiar?”

Com uma expressão pensativa, Tristan balançou a cabeça. “Essa ferida é pequena demais para desmaiar um homem adulto, e nem está sangrando. Não sei por que ele desmaiou.”

Ele refletiu por um instante e disse: “Talvez as presas da fera tenham algum tipo de veneno? Ou ele pode ter pegado alguma doença que se espalha rápido.”

“Ele vai ficar bem?” Yue perguntou, olhando com pena para o minerador.

Tristan encolheu os ombros.

“Existe algum curandeiro por aqui?” Ele perguntou.

“Já chamamos a vovó NinpNin. Ela deve chegar em breve.” Um homem no grupo ao redor deles disse.

Tristan acenou lentamente, analisou o jovem minerador mais uma vez e comentou:

“Ele não parece estar piorando.” Ele acreditava que o minerador poderia sobreviver, mas evitou dar esperanças de forma tão direta.

Levantando-se, Tristan começou a se afastar, perdendo o interesse naquela situação, sua mente já ocupada com algo mais intrigante.

‘Os mineradores tiveram o azar de escavar perto de um ninho?’

Ele pensou nas estranhas criaturas que o jovem minerador descrevera com tanto medo antes de desmaiar.

‘Monstros voadores que vivem em cavernas… que tipo de besta poderia ser? Ele disse que as criaturas faziam um som terrível, então talvez estejam relacionadas ao elemento Ar? Ou talvez sejam outras bestas das trevas, já que parece que viviam nas sombras.’ Ele hesitou um pouco sobre essa última parte. ‘Nah, esse tipo de criatura é muito raro; quais seriam as chances de encontrar uma besta da escuridão apenas algumas semanas depois de ter encontrado uma tribo desse tipo?’

Um sentimento de curiosidade começou a brotar em sua mente.

Ele balançou a cabeça: ‘Não, devo focar na minha missão atual. Preciso encontrar aquelas ervas, melhorar meu cultivo e ganhar muito dinheiro.’

Ele decidiu o que era melhor, mas algo ainda o impedia de afastar aqueles pensamentos.

‘E se for outra besta das trevas? Ver outras criaturas desse tipo pode ser uma chance inestimável. Ter exemplos reais de como usar a Escuridão com um ser que aprende isso naturalmente pode ajudar bastante na minha compreensão sobre esse elemento.’

Enquanto ele ponderava profundamente, os cidadãos do lado de fora das muralhas discutiam entre si sobre seus próprios dilemas.

“Você viu o que aconteceu? Ele desmaiou do nada.”

“Alguém precisa ver se os outros ainda estão vivos!”

“Se eles foram atacados por monstros, é provável que já estejam mortos.”

“O que faremos? Precisamos encontrar os outros!”

“Que chance nós temos se essas criaturas aparecerem?”

“Não é melhor esperar que os guardas lidem com isso?”

“Você é IDIOTA?”

Os murmúrios abafados da multidão chegavam nitidamente aos ouvidos de Yue. Ela cerrou os punhos, sentindo o suor úmido em seus dedos e um frio no estômago.

Respirando fundo, ela disse:

“Cidadãos de Zaguhan! Não se preocupem! Eu, Zhou Yue, discípula do Segundo Dao Voador da Seita da Espada Voadora, ficarei responsável por resgatar as pessoas presas nas minas.”

Suas palavras cortaram os murmúrios da multidão como uma faca, e um silêncio tomou conta do local. Yue olhou para todos à sua frente. Se uma garota comum da sua idade dissesse algo assim, seria ignorada ou ridicularizada.

Mas o uniforme de sua seita fazia com que as pessoas depositassem nela uma fé quase irracional.

Ela se sentiu desconfortável vendo seus olhares brilhando para ela.

Por fora, manteve uma fachada de confiança e coragem, mas, por dentro, seu coração batia mais rápido do que nunca.

Ela olhou ao redor, buscando apoio.

Seus olhos procuraram seu amigo.