Índice de Capítulo

    Tristan analisou o discípulo da Seita do Corpo e Espírito da Carpa do Sul. Embora as roupas longas dificultassem sua observação, ele julgou que o jovem não era muito atlético e que seu corpo não deveria ser muito desenvolvido. Ele supôs que a pessoa à sua frente não era um artista marcial dedicado, e, quando seus olhos passaram pela faixa branca ao redor do abdômen dele, suas preocupações desapareceram.

    “Como você ousa se chamar de escultor?” Uma voz feminina falou, atraindo sua atenção novamente.

    Depois de perder seu interesse pelo discípulo da seita que lhe trouxe lembranças ruins, Tristan virou o rosto para a lady de vestido verde, tentando entender seu confronto com os funcionários da loja.

    “Senhorita Nauchang, por favor, se acalme. Se você não está satisfeita com sua escultura, podemos fazer outra.” Chiu disse, tentando apaziguar a situação.

    “Não há nada de errado com essa escultura. Sou o melhor escultor de Zaguhan desse lado da cidade há mais de vinte anos. Até o lorde da cidade já elogiou meus trabalhos. Quem essa jovem pensa que é para questionar meu talento como escultor?” O funcionário mais velho ao lado de Chiu disse.

    “Por favor, senhor Jinbue, não piore as coisas!” Chiu sussurrou, enquanto ajeitava seus óculos.

    “Como assim nada está errado com essa escultura? Você está querendo dizer que meu rosto é assim? Você não sabe de que família eu sou? Meu nome é Neilin, da família Nauchang. Minha avó foi uma conselheira do antigo lorde da cidade. Como um mero artesão como você ousa discordar de mim?” Ela fechou seu leque roxo com força, apontando-o na direção do escultor Jinbue como se fosse golpeá-lo.

    “Senhorita Nauchang, por favor, espere. Você não acha que essa reação possa ser um pouco exagerada?” disse Chiu.

    “Uma reação exagerada? Na próxima semana será meu vigésimo terceiro aniversário. Tudo que eu queria era uma escultura para minha festa, mas isso não será possível com uma escultura gorda desse jeito!” ela disse, rangendo os dentes.

    Tristan olhou para onde Nelin apontou. Ele viu uma escultura de corpo inteiro em um tipo de rocha que parecia mármore branco.

    ‘Gorda?’, as palavras dela trouxeram confusão à sua mente. Observando a aparência dela, ele julgou que seu peso provavelmente estaria abaixo da média, enquanto a escultura representava uma cópia bem precisa das proporções do corpo dela.

    Ele achou aquela conversa inteira sem sentido.

    “Tem certeza de que você não gostou da escultura? Ela parece boa para mim.” Chiu disse, tentando argumentar com ela.

    “Ela não se parece nada comigo! Minhas bochechas não são tão redondas, e meu nariz não é tão achatado assim”, ela virou o rosto para Mohan e disse, “Você concorda comigo, não é? Essa escultura é muito diferente de mim, eu não estou certa?”

    O corpo de Mohan tremeu um pouco. Ele olhou para a escultura e depois para Neilin. “Sim, claro, completamente diferente!” o tom de sua voz soou um pouco fino.

    “Senhor Jinbue, você não poderia fazer as alterações que a lady deseja?” Chiu perguntou.

    “Minhas esculturas são perfeitas, e eu tenho orgulho disso. Elas refletem a realidade com precisão, não há nada de errado com elas!” o velho escultor afirmou, com indignação em sua voz.

    “Você ousa recusar os pedidos de uma dama da Família Nauchang?” A voz de Neilin era afiada como uma lâmina.

    “Se eu criticar essa loja, ninguém nunca mais pisará aqui…” As palavras de Nelin foram interrompidas quando seu corpo foi empurrado para o lado. Ela deu alguns passos desajeitados antes de recuperar o equilíbrio.

    “Oh! Como ousa!” Neilin pronunciou essas palavras enquanto olhava para o lado, tentando identificar quem a havia empurrado.

    “Jovem mestre Dusk?” falou Chiu, surpreendido.

    “Olá, senhor Moeh. Vim ver se minhas coisas já estavam prontas.” Tristan falou.

    “Quem é você, pirralho?” O companheiro de Neilin disse, com irritação na voz.

    Ele olhou para as costas de Tristan, reconhecendo sua seita imediatamente devido às roupas que ele usava. Seus lábios se curvaram em desprezo.

    “Acha que pode interromper os assuntos de uma nobre dama e sair impune?” ele disse, aproximando-se.

    “Como um mero discípulo da Seita da Espada Voadora ousa agir de forma tão arrogante diante de mim?” seu rosto estava com uma carranca profunda. “Você sabe quem é a mulher que você empurrou? Ela é a companheira de Juen Mohan. Vou colocar você em seu lugar, bastardo!”

    Mohan agarrou o ombro esquerdo de Tristan, apertando-o com uma força não natural.

    Tristan virou o rosto, cerrando os olhos, ele olhou para Mohan e disse, “Tire suas mãos de mim.”

    “Um estrangeiro? Além de não respeitar a hierarquia das seitas, você ainda é um rato invasor…” De repente, suas palavras não foram mais ouvidas; seus olhos vagaram pela pequena figura de Tristan. Com sua pele anormalmente pálida, seus olhos e cabelos pretos como carvão, além do fato de ser um estrangeiro com uma fisionomia muito diferente das pessoas daquela região, ele não era alguém facilmente esquecível.

    Uma expressão de reconhecimento apareceu no rosto de Mohan.

    “Você!” Ele engoliu em seco.

    Lembranças do exame de admissão da Seita do Corpo e Espírito da Carpa do Sul, que ocorreu alguns meses atrás, passaram por sua mente, fazendo-o recuar um passo.

    “O que você está fazendo? Não vai colocar esse estrangeiro no lugar que ele merece?” Ela lançou um olhar furioso para Tristan, mas seus olhos se arregalaram quando viu a faixa vermelha em seu corpo. Ela se afastou dele e foi para trás de Mohan.

    “Ele é apenas uma criança. Não seria honrado da minha parte brigar com alguém tão jovem.” Mohan disse, sem jeito.

    “Mas, mas e a minha escultura? O que faremos a respeito disso?” ela insistiu.

    “Podemos resolver isso depois. Talvez ainda reste tempo para encontrar outro escultor.” Ele disse, enquanto a guiava gentilmente para fora.

    Chiu e Jinbue ficaram em um estranho silêncio enquanto Chiu arrastava Neilin, mas a voz de Tristan mudou a atenção deles.

    “Então, as coisas que eu pedi estão prontas?”


    Tristan atravessou as muralhas e foi em direção às favelas em volta do centro da cidade. Ele olhou ao redor e, com um pulo, subiu em cima de uma pequena casa. Ele se pendurou no telhado com uma mão e pegou uma cortina que estava tampando uma janela com a outra.

    Pulando por cima das casas, ele foi em direção às áreas mais pobres daquele lugar. De vez em quando, ele olhava para as pessoas abaixo. Seu rosto virou em direção a um mendigo caído no chão. ‘Muito velho’, ele pensou.

    Ele continuou observando os moradores de rua enquanto procurava por algo, até que viu uma pequena figura. Uma criança sentada em um beco chamou sua atenção, mas logo ele se decepcionou quando viu seu corpo magro, pele pálida e manchas vermelhas no corpo. ‘Esse não serve, próximo.’

    Depois de mais um tempo procurando, ele achou que havia encontrado o que procurava: três jovens estavam perambulando pelas ruas enquanto olhavam atentamente para as pessoas que passavam por aquele lugar.

    Olhando para a aparência deles, Tristan pensou ‘Eles devem servir.’

    Ele enrolou a cortina ao redor do corpo, escondendo cada parte do traje da sua seita, e pulou do telhado. Tristan passou a mão no cabelo, escondendo os olhos com a franja, e caminhou em direção às ruas. Ele pegou algumas moedas de prata e começou a contá-las despreocupadamente.

    Não demorou muito para que alguém se aproximasse dele.

    “Ei, garoto, você está perdido? Precisa de ajuda?”

    Tristan olhou para frente e viu um garoto jovem que parecia ter quase a mesma idade que ele. O garoto magro estava usando roupas velhas e rasgadas; seu rosto tinha algumas espinhas, e alguns de seus dentes estavam faltando.

    Fazendo uma expressão de surpresa e confusão, Tristan olhou para os lados. “Uhm, onde eu estou? Eu estava fazendo minha caminhada matinal pelo distrito das artes quando me distrai um pouco. Esse lugar parece estranho.”

    Ele coçou a cabeça e perguntou, “Acho que acabei me perdendo. Você sabe em que direção fica o distrito das artes ou o parque de Jade?”

    O garoto à sua frente fez uma expressão confusa. “Não conheço nenhum lugar aqui com esses nomes. Você é do centro da cidade?”

    Tristan acenou.

    “Bem, então você está muito longe de casa. Nós estamos fora das muralhas.”

    A boca de Tristan abriu e seus olhos se arregalaram um pouco.

    “Não pode ser. Como irei voltar para casa?” Tristan colocou as mãos no rosto, tentando fingir estar em pânico.

    “Não se preocupe!” O garoto disse, “As pessoas me chamam de Diji, eu conheço bem esse lugar, eu posso te ajudar a voltar para sua casa.”

    “Sério? Você parece uma pessoa gentil, obrigado espíritos, eu tive muita sorte. Prometo que recompensarei você por sua ajuda.” Tristan falou tentando parecer uma criança inocente, mas seu tom de voz continuou monótono e frio.

    “Aqui, me siga, não vai demorar muito, conheço um atalho que vai nos levar para as muralhas muito rapidamente.” Diji apontou para um beco.

    Ao ver o lugar imundo e sombrio a sobrancelha de Tristan levantou.

    “Esse lugar parece estranho, tem certeza que aqui é caminho seguro?” Ele perguntou para Diji.

    “Não se preocupe, eu passo por aqui todos os dias, não há nenhum problema aqui.” Diji respondeu.

    Enquanto caminhava em direção ao beco, Tristan viu de relance os outros dois garotos se aproximando atrás dele.


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