Índice de Capítulo

    “O que é isso?” Tristan perguntou.

    Ele foi à procura do tio de Jaeng e sua família, afinal eles eram os únicos membros da família dele que ele sabia onde poderia encontrá-los.

    Eles ficaram muito aliviados ao saber que ele estava bem, e deram a Tristan uma série de agradecimentos que apenas serviram para atrasar ele e arruinar seu humor.

    Quando ele estava saindo a prima de Jaeng se aproximou dele, ela estendeu suas mãos e com um sorriso no rosto lhe entregou um saco de papel com algo dentro.

    “São bolinhos de feijão, é o meu doce favorito, eu mesma criei a receita, espero que você goste.” Ela disse.

    Tristan agradeceu com a cabeça e se despediu deles.

    Andando pelas ruas ele colocou aquele doce redondo na boca.

    A massa externa era macia e o recheio interno era muito doce com um leve toque cítrico, uma combinação que ele achou muito apropriada.

    Havia vinte bolinhos no saco que ele devorou em menos de um minuto.

    ‘Até que enfim achei um doce bom nesse lugar.’ As pessoas de Zaguhan geralmente tinham preferência por doces de sabor suave e com pouco açúcar. ‘É a primeira vez que eu encontro um doce tão bom quanto aqueles que Margaret fazia.’ Tristan planejou procurar a prima de Jaeng para conseguir mais bolinhos de feijão caso ele não morresse.

    Ele se sentiu de bom humor para enfrentar os horrores da sua próxima viagem.


    Tristan passou os próximos dias atravessando os bosques ao redor de Zaguhan.

    Enquanto viajava, ele notou uma mudança drástica na natureza ao seu redor.

    As árvores finas de tronco vermelho vibrantes já não existiam mais, a paisagem ao seu redor agora estava preenchida de árvores grossas de cor marrom e aparência envelhecida. Não havia mais a alta grama verde no chão, a terra daquele daquele lugar era quase tão seca quanto a de um deserto e um pouco amarelada.

    O céu era pouco iluminado e tinha um aspecto sombrio embora as árvores quase não tivessem folhas, os galhos estavam enrolados uns nos outros como se fosse uma multidão de pessoas se abraçando.

    Raízes grossas e retorcidas estavam espalhadas pelo lugar, o joelho de Tristan bateu em algumas, era um lugar fácil de tropeçar caso alguém não prestasse muita atenção.

    Ele abriu sua mochila de couro e pegou um mapa que havia pegado na biblioteca da seita, ele olhou para um lugar que estava escrito o nome Kū Mù Lín. Era uma região grande o suficiente para caber várias províncias humanas, foi categorizado como uma área bastante perigosa e inabitável para os humanos, as anotações no mapa alertavam sobre a presença de monstros naquele território.

    Ele também viu que era um dos caminhos mais rápidos para chegar nos picos enevoados.

    Tristan caminhou lentamente por aquele lugar, ele planejava esperar o sol ir embora para prosseguir mais livremente.

    O lugar era silencioso, ele não ouviu o barulho de pássaros nem de nenhum outro animal ao redor. Olhando ao seu redor tudo que ele conseguia encontrar eram pequenos insetos.

    Pelas histórias que ele havia lido no seu Fragmento Divino ele sabia que naquela região havia muitas criaturas especialistas em furtividade.

    Tristan se lembrou de um trecho de um conto chamado de Viagem Para a Prisão Amaldiçoada do Oeste VI, ‘Em Kū Mù Lín nenhuma espécie é dominante, todas são presas uns dos outros, naquele lugar amaldiçoado pela seca apenas a floresta é vitoriosa bebendo o sangue dos mortos.’

    Ele virou seu rosto para esquerda e para direita cada vez mais achando aquele silêncio estranho e anormal.

    ‘Seria possível que todos os seres dessa floresta tenham se adaptado para desenvolver habilidades de ocultação e camuflagem?’

    Seu coração apertou com um sentimento de apreensão, seus instintos diziam que aquele lugar seria complicado e que ele precisaria ser cuidadoso.

    Ele caminhou por entre as árvores e arbustos sempre tentando andar em locais com coisas que bloqueassem a visão de possíveis inimigos, além disso ele também usava sua habilidade de diagnóstico de vez em quando tentando localizar pegadas e estimar o tamanho das criaturas que viviam ali.

    Depois de passar um tempo vasculhando toda a área ao redor dele, ele decidiu que era melhor descansar, seria muito mais seguro para ele viajar durante a noite. Ele não conseguia ver a posição exata do sol, no entanto ele sentia uma estranha conexão com as sombras ao seu redor, sua intuição dizia que era metade da tarde agora e por algum motivo ele não tinha dúvidas disso.

    Ele usou sua habilidade de ocultação e caminhou até que encontrou um tronco enorme de uma árvore caída, depois de colocar alguns arbustos ao redor de forma circular para cobrir sua figura ele colocou um pano no centro daquele espaço e deitou.

    Porém, ele não baixou sua guarda, pelos próximos vinte minutos ele focou seus sentidos nos arredores. Só depois que nada aconteceu ele decidiu fechar os olhos e descansar.

    ‘O que irá assombrar meu sonhos dessa vez?’


    Um som de vidro se quebrando chegou aos ouvidos de Tristan, ele olhou para o chão e viu a comida em seu prato espalhada pelo tapete.

    Valerie estava na sua frente com um olhar penetrante para ele e uma expressão de nojo em seu rosto.

    Tristan cerrou seus punhos com raiva. Ele não quis virar seu rosto para a cadeira na ponta da mesa, buscar por qualquer tipo de auxílio daquele bastardo seria completamente inútil, além disso ele preferiria comer cacos de vidro do que fazer isso. No entanto, ele ainda era capaz de ouvir o som dos talheres cortando um pedaço de carne como se nada de errado estivesse acontecendo, isso o irritou profundamente.

    Ele viu o rosto infantil de Vivian olhando para aquela cena com uma expressão divertida, enquanto Victor estava olhando para os lados fingindo estar distraído com algo.

    Até os servos da mansão ao redor estavam desconfortáveis com aquela cena.

    Só uma pessoa naquela sala poderia ignorar completamente os surtos de Valerie.

    “O que foi? Você se acha bom demais para comer no chão?”, Valerie pegou sua taça de vinho e com isso golpeou a cabeça dele, a taça quebrou e ele sentiu os fragmentos de vidro perfurar sua pele, o vinho roxo pigou de sua testa junto com seu sangue vermelho.

    Inesperadamente a dor parou, mas não foi apenas isso, todos seus sentidos desapareceram, ele não ouvia, não sentia o calor do ambiente nem nenhum odor, seu paladar também havia desaparecido.

    Algo mudou, ele não era mais humano.

    Ele ficou confuso com seu novo corpo, antes ele tinha um corpo macio feito de carne, ossos e sangue, porém agora ele tinha um corpo rígido como pedra, esfregando seus dedos ele achou que pequenos fragmentos dele desgrudaram do seu corpo e caíram no chão como areia.

    Um sentimento de terror nublou sua mente e só parou quando uma onda de dor percorreu seu corpo fazendo ele encarar uma nova realidade, sem perceber ele havia mudado novamente, quando seu corpo colidiu com o chão os cacos de vidro entraram em sua pele fina sem esforço, um líquido gosmento saiu dos buracos de suas feridas.

    Recuperar alguns de seus sentidos trouxe um pouco de alegria a sua mente, no entanto isso não durou muito tempo, quando ele tentou ficar de pé ele percebeu que seus membros haviam sumido, seu novo corpo era muito mais simples do que o antigo.

    “Essa aparência de verme combina bem com você!”, Valerie se divertiu com seu sofrimento.

    Ela chutou o chutou fazendo ele voar para o outro lado da sala e colidir com uma parede.

    Ele se debateu no chão de dor, seu corpo parecia uma prisão inútil.

    Até que algo estranho aconteceu.

    Sua atenção foi roubada por um som estranho. Era como se alguém estivesse batendo em um tambor.

    As batidas estavam ficando mais fortes e mais rápidas.

    Não demorou muito tempo para que ele notasse da onde aquele som vinha, estava dentro de seu peito, era seu coração que estava batendo de forma anormal.

    O mundo dos sonhos desmoronou e Tristan sentiu como se tivesse sido puxado para a realidade. Quando ele acordou, para sua surpresa a estranha sensação que ele sentia não desapareceu.

    Tristan abriu seus olhos, ele sentiu seu cabelo molhado grudado em sua testa e suas roupas úmidas, ele estava encharcado de suor.

    Seus olhos captaram um movimento.

    Olhando para cima ele viu dezenas de pequenos pontos pretos no céu noturno voando.

    Ele precisou de apenas alguns segundos para notar as características daqueles seres.

    Corpo dividido em três partes principais revestido por um exoesqueleto preto, seis patas, asas quase transparentes e um ferrão na parte de trás do corpo.

    ‘Vespas?’ Ele pensou.

    As criaturas na frente dele o lembravam das vespas que ele tinha visto na Terra, mas essas eram muito maiores, cada uma delas tinha o tamanho de um dedo de um homem adulto.

    Percebendo que as vespas estavam vindo em sua direção ele tentou recuar para trás, mas então ele percebeu que sua perna esquerda não respondia seus comandos tão rápido quanto deveria. Ele olhou para baixo e viu uma grande protuberância redonda na sua coxa que se destacava mesmo com suas roupas largas, ali havia um inchaço quase tão grande quanto o punho dele e perfurando sua carne havia uma vespa igual aquelas que voavam no céu.

    ‘Como eu não senti isso?’, ele moveu sua mão direita rapidamente em direção a vespa e usou sua habilidade Dark Blade, cortando o ferrão da criatura.

    ‘Eu preciso sair daqui!’, Tristan puxou o ferrão.

    Sua perna esquerda estava um pouco dormente e seu coração ainda batia tão rápido quanto o de um cavalo em uma corrida.

    Reunindo sua essência na perna direita ele pegou sua mochila e pulou em cima do tronco.

    Com sua lâmina sombria, Tristan cortou as vespas que se aproximavam de forma brutal, com apenas um movimento de seu braço, mais de cinco vespas eram partidas ao meio.

    Ele estalou a língua vendo as outras dezenas de vespas voando no céu vindo em sua direção, isso agitou seu coração, sua perna ainda estava dormente e parecia que suas capacidades regenerativas iriam precisar de um tempo para combater esse efeito.

    Ampliando seu foco e concentrando sua mente ele começou a calcular sua chance de derrotar o grupo de inimigos a sua frente sem terminar aquela batalha incapacitado.

    De repente ele percebeu uma movimentação nas folhas das árvores acima de sua cabeça.

    Seus olhos se arregalaram e um arrepio percorreu sua espinha.

    ‘Porque eles não acabam?’

    Se aproximando como uma nuvem, Tristan viu um número incontável de vespas no céu.

    Ele não se desesperou, embora estivesse suando frio, sua mente estava limpa e sem dúvidas, ele sabia o que deveria fazer.

    Com um pulo para trás, seu corpo girou no ar antes dele atingir o solo. Dando as costas para as vespas ele correu o mais rápido que podia com uma perna comprometida.

    Ele não sabia para onde ir, mas achava que qualquer lugar era melhor do que permanecer ali.


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