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    Por um breve instante, ambos se encararam silenciosamente. De alguma forma, mesmo com o rosto coberto por pelos, as emoções da criatura eram mais visíveis do que as de Tristan.

    “Espera, espera, você falou? Como consegue falar?”, disse a criatura. Mesmo que seu tom fosse muito desumano, Tristan conseguiu perceber a surpresa em suas palavras.

    Apesar da situação inusitada, Tristan não baixou a guarda. Afinal, havia um monstro que podia despedaçá-lo logo atrás dele. Ele decidiu manter aquela conversa apenas porque seus ouvidos pararam de ouvir as raízes se movendo no momento em que falou com a criatura.

    Com um rápido olhar para trás, viu que o monstro-orquídea realmente havia parado de se mover.

    Virando-se para o estranho híbrido, ele disse com um encolher de ombros: “Eu sou humano, humanos falam.”

    Pela expressão da criatura, aquilo parecia ser uma notícia fascinante.

    “Eu nunca encontrei mais ninguém nesta floresta que fosse capaz de falar.”

    ‘Ótimo, sou uma novidade para um híbrido inteligente desconhecido.’

    Tristan achou aquela conversa estranha, mas decidiu tentar resolver a situação de uma maneira diferente da convencional. Também estava temeroso em relação ao poder daquele ser. Sua suposta casa já era uma criatura extremamente difícil de enfrentar, e o dono dela provavelmente não seria alguém simples.

    ‘Mesmo que ela não seja tão poderosa, minha situação já era ruim antes. Se ela ajudar o monstro, estarei ferrado.’

    “Todos os humanos podem falar?”, ela perguntou, parecendo genuinamente curiosa.

    “A maioria, eu acho.”, respondeu Tristan.

    “Então… você realmente mora naquela coisa?”, perguntou, apontando para a flor gigante.

    “Bob não é uma coisa! Ele é um poderoso Verdakyn que minha mãe me deu. E sim, eu moro nele. Ele me protege e lida com ladrões como você!”, disse a criatura, com um toque de irritação na voz.

    ‘Então esse é meu primeiro encontro com um ser senciente da raça das plantas. Que ótimo jeito de conhecer uma raça nova.’

    “O quê? Eu não sou um ladrão.” Tristan tentou tornar sua mentira convincente.

    “Mentiroso! Todos nesta floresta querem roubar meu lago.”

    “Olha, eu nem tentei chegar perto dele. Só vim aqui porque aquele maldito coelho roubou minha mochila.” Rapidamente, lançou um olhar furioso para o coelho-salamandra que se aproximava da criatura, ainda segurando sua mochila.

    “Não chame Buk assim!”

    “Ah, certo, desculpe por isso. De qualquer forma, você deve odiar quando alguém tenta roubar a água do seu lago, certo? Eu também odeio quando alguém rouba o que é meu. Você deve saber como me sinto.”

    A criatura apertou os lábios por um momento, mas depois ficou pensativa.

    “Buk, você realmente roubou as coisas dele?”

    A pequena besta deu um passo para trás, reagindo como se estivesse ofendida. Ela gesticulou furiosamente em direção a Tristan enquanto emitia sons estranhos.

    A doninha humanoide, com partes do corpo de planta, olhou para Tristan com raiva: “Ele disse que você roubou as coisas dele primeiro! Seu mentiroso! Eu sabia que você era um ladrão.”

    Tristan estalou a língua. “Você consegue entender isso?”

    Ele ouviu as raízes atrás dele começarem a se mover.

    “Não lembro de ter roubado nada dele. Deve ser um mal-entendido.”

    O coelho-salamandra revirou a mochila e tirou várias moedas de prata antigas.

    “Vai me dizer que isso é seu?”

    ‘Então, aquela toca era desse maldito.’

    “Ah? Do que está falando? Não vi ninguém por perto dessas coisas. Como eu poderia saber que tinham dono?”, tentou se justificar.

    “Não importa. Você pegou algo que não era seu.”

    “Uhm, seu animal de estimação também fez isso. Acho que estamos quites agora.”

    Tentando convencê-la, Tristan falou: “Olha, que tal você me devolver minha mochila, o coelho fica com as moedas dele, eu vou embora e tudo estará resolvido.”

    Ela pensou nisso com receio e disse: “Você não pode ir embora. Minha mãe me disse que aqueles que tentam roubar do lago devem virar alimento para Bob. Não posso desobedecer minha mãe; isso me faria uma filha ruim.”

    “Bem, sua mãe falou para não deixar aqueles que tentaram roubar o lago ir embora, mas eu não tentei roubar do lago, certo? Peguei algo do seu coelho. Sua mãe falou algo sobre isso?”, ele esperava que não.

    “Isso é verdade. Eu não tinha encontrado Buk naquela época, então não havia como minha mãe falar algo sobre isso.”

    Com um rosto animado, ela disse: “Certo, peça desculpas a Buk e eu deixarei você ir!”

    “Pedir desculpas ao bastar… ao Buk?”

    Ela balançou a cabeça afirmativamente.

    “Então, se eu fizer isso, você vai me deixar pegar minha mochila e ir embora?”

    “Claro.”

    Tristan respirou profundamente, escondendo sua irritação. Olhou para a pequena criatura e, de alguma forma, viu uma expressão presunçosa em seu rosto.

    “Me desculpe.”, disse baixo.

    “Não dá para ouvir.”

    Revirando os olhos, Tristan falou: “Me desculpe, Buk, por pegar suas coisas acidentalmente.”

    “É Buk!”

    “Tanto faz.”, ele sussurrou.

    Ela se aproximou do coelho e estendeu as mãos em direção à mochila de Tristan. O coelho a entregou com má vontade. Com a mochila em mãos, ela caminhou até Tristan.

    “Aqui está. Não foi tão difícil se desculpar, certo?”

    Agora que estavam a apenas alguns metros de distância, Tristan analisou melhor o corpo dela. As pernas e os braços eram curtos em comparação com seu tronco alongado.

    Ela tinha aproximadamente a altura de um humano adolescente, o que a tornava mais de duas vezes mais alta que ele.

    Os dedos das mãos e dos pés eram estranhamente semelhantes aos humanos, assim como outros traços do corpo. Olhar para ela provocava uma sensação bizarra.

    Os pelos na parte da frente eram brancos, e os das costas, castanhos. Ela também tinha um longo rabo peludo.

    Obviamente, o que mais chamava atenção eram as partes de planta fundidas ao seu corpo, como raízes e espinhos.

    Tristan pegou sua mochila. “Adeus.”, disse brevemente enquanto se afastava.

    ‘Espero nunca mais vê-los.’

    Mas a voz dela o deteve.

    “Ah, hey, espera!”

    Cerrando os olhos, irritado, ele parou. Olhando para trás, perguntou: “O que você quer?”

    Um pouco sem jeito, ela disse: “Eu peguei este bragaio escavador. Não quer um pouco?” Apontou para o cadáver de uma ave enorme em suas costas.

    “Ah?”, ele estava confuso.

    “A carne dele é bem macia. É meu animal favorito nesta floresta. Acho que você deve gostar.”, disse timidamente, com ansiedade no olhar.

    Depois de encará-la por um momento, ele finalmente respondeu: “Sinto muito, mas não tenho tempo para uma refeição. Preciso sair dessa floresta o mais rápido possível.”

    “O quê? Por quê?”, ela perguntou decepcionada.

    “Eu venho de fora desta floresta. Preciso atravessar esse lugar logo. Não posso perder tempo aqui.”

    Ela arregalou os olhos ao ouvir isso. Entusiasmada, disse: “Se você precisa sair desta floresta rápido, eu posso te ajudar. Conheço um atalho que pode te levar para fora em alguns dias.”

    Tristan olhou para ela com desconfiança. “Sério? Por que você iria querer me ajudar?”

    Com a cabeça baixa, ela respondeu: “Gostaria que me falasse um pouco sobre como é a vida lá fora. Eu nasci aqui e nunca saí deste lugar. Você é a primeira pessoa com quem já falei, além da minha mãe.”

    Pensando nisso, Tristan perguntou: “Como é esse caminho alternativo?”

    “Por meio dos túneis subterrâneos que levam à Vila dos Cogumelos.”, respondeu, fazendo o coração dele tremer.


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