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    Tristan se agachou próximo a uma trilha marcada na terra seca e observou as pegadas profundas com atenção. Elas ainda estavam frescas, a poeira nem havia se acomodado por completo.

    ‘Essas marcas… não foram feitas há mais de alguns minutos,’ estimou mentalmente.

    ‘Se eu for rápido, com certeza posso alcançá-los.’

    Mas uma dúvida surgiu. Ele realmente queria encontrar o que quer que estivesse à frente? Era mesmo sábio se aproximar?

    Tristan suspirou, passando a mão pelos cabelos empoeirados. Já havia tomado sua decisão. Se queria entender o que estava acontecendo naquela região, não podia parar agora.

    Além do mais, talvez ele conseguisse coletar mais núcleos vermelhos no caminho de forma fácil como da última vez.

    Começou a seguir os rastros com passos cuidadosos. Movia-se rápido, mas com discrição, aproveitando qualquer rocha, moita ou relevo que pudesse ocultá-lo. De tempos em tempos, parava, cerrava os olhos e usava seus sentidos ampliados para escanear os arredores. O silêncio era seu aliado — e sua maior proteção.

    ‘O que esses caras estão fazendo?’

    Depois de algum tempo seguindo a trilha, finalmente avistou os responsáveis. Eram três criaturas, parecidas com primatas, cada uma com mais de dois metros de altura. Seus corpos musculosos estavam cobertos por runas. Mas o que chamou mesmo a atenção de Tristan foi o que eles carregavam.

    Um gato-das-neves — um felino de pelagem branca e espessa, quase do tamanho de um tigre adulto — estava sendo arrastado pelos monstros. A criatura ainda se debatia, resistindo bravamente, mas estava amarrada com correntes metálicas grossas e pesadas.

    ‘Essas coisas são inteligentes o suficiente para usar ferramentas?’A incredulidade tomou conta dele por um instante.

    Tristan cobriu a boca com a mão, pensativo, memórias antigas passaram em sua cabeça. Criaturas como essas, em histórias, costumavam ser brutais e irracionais. Zumbis, quimeras, lacaios de vampiros… sempre burros e descartáveis. Só os servos de lordes vampiros ou lichs antigos tinham algum tipo de inteligência real.

    Talvez aquelas lendas fossem exageradas. Ou talvez… o criador dessas bestas fosse alguém ainda mais perigoso do que os vilões dos contos.

    Mesmo assim, algo não se encaixava. Todos os Marcados que encontrara até agora possuíam apenas um núcleo vermelho e nenhum mostrara sinais de usar magia.

    ‘No fim das contas, por mais impressionantes que pareçam, essas criaturas não são um pouco patéticas?’

    Compará-las às criações dos grandes vilões das histórias era, até o momento, um elogio que eles não mereciam.

    Talvez ele estivesse errado em suas hipóteses anteriores e havia algo mais envolvido nisso.

    ***

    Tristan decidiu continuar observando para onde os primatas levariam o felino capturado. Manteve-se o mais distante possível sem perder os alvos de vista — o que, graças à sua visão aprimorada, significava uma boa vantagem.

    Se fosse de noite, poderia vigiá-los como um falcão por mais de um quilômetro de distância. Mas com o sol da tarde castigando o céu, sua visão estava menos potente. Ainda assim, conseguia manter alguns bons metros entre ele e as criaturas, o suficiente para se sentir relativamente seguro.

    O problema era a nitidez. Mesmo com seus sentidos elevados, ele só conseguia distinguir os contornos das bestas àquela distância.

    Elas eram rápidas. Em questão de minutos, cruzaram uma planície inteira com agilidade surpreendente.

    Enquanto as seguia, Tristan percebeu algo curioso: os Marcados evitavam cuidadosamente a névoa branca e espessa que cobria partes da região. Sempre desviavam e mantinham distância.

    ‘Eles sentem o que há de errado com essa névoa? Ou será que alguém os instruiu a evitá-la?’

    Com isso em mente, ele redobrou a atenção ao seu redor. Cada detalhe poderia ser importante.

    Depois de muito tempo seguindo as criaturas, o tédio começou a bater. Tristan cogitou voltar — até que o terreno mudou. Após cruzar fendas e trilhas tortuosas, os passos das bestas o levaram até um desfiladeiro escondido.

    A visão que teve ali o fez prender a respiração.

    Era como um zoológico bizarro. Criaturas de todos os tipos estavam reunidas: bípedes, quadrúpedes, e outras com dezenas — ou até centenas — de pernas.

    Ele aumentou o foco de seus sentidos para tentar entender melhor. Algumas das criaturas lhe pareceram familiares.

    ‘Aquela centopeia… é igual à que atacou a vila dos cogumelos.’

    Havia também outro felino semelhante ao gato-das-neves, mas este era enorme, quase do tamanho de um elefante.

    Tristan continuou observando. Lebres, vermes gigantes e muitas outras criaturas estranhas compunham o grupo.

    Logo, percebeu um padrão: todos estavam dispostos em fileiras, como um exército. A maioria imóvel, parecendo estátuas. Algumas, no entanto, patrulhavam o local ou carregavam presas capturadas.

    Havia muitas criaturas que ele acreditava que seria fácil para ele derrotar, se ele conseguisse um núcleo vermelho por cada uma delas, ele conseguiria uma riqueza que poderia fazer bastante diferença em seu futuro.

    Claro, ele precisaria descobrir alguma forma de isolá-los.

    ‘Uhm… pra onde eles estão indo?’

    Os primatas começaram a sumir de sua linha de visão, forçando Tristan a se mover. Procurou rapidamente um ponto alto e encontrou uma rocha que poderia lhe oferecer uma visão melhor. Subiu com cuidado, atento a qualquer vigia ou movimento suspeito.

    Ainda estava a uns quinhentos metros das criaturas. Considerava que era uma distância segura.

    Do alto da rocha, finalmente viu. Uma caverna escondida, e algo dentro dela se mexia — parecia um portão se abrindo lentamente.

    Tristan ficou alerta.

    ‘Fui detectado?’

    Preparou-se para correr, os músculos tensos. Então uma figura pequena emergiu do portão. Tinha o tamanho de um humano, mas seu corpo era estranho. Ele tinha braços, mas não dava para ver as pernas.

    ‘Aquilo são… folhas?’

    A forma era pequena demais e repleta de detalhes difíceis de distinguir à distância, o que só deixava a cena ainda mais inquietante.

    ‘Uhm…’

    Tristan envolveu o corpo em sua magia de ocultação, a Escuridão mascarou sua presença, decidiu se aproximar mais. Desceu da rocha e seguiu lentamente, agachado, controlando a respiração, pulando de sombra em sombra.

    Conforme avançava, viu os Marcados depositarem os animais capturados diante da figura misteriosa. Ela ergueu as mãos e começou a traçar símbolos no ar, dedos dançando com movimentos precisos.

    ‘O que ele está fazendo?’

    Tristan deu um passo. Depois outro.

    De repente, a figura parou de se mover. Ficou imóvel por um instante… então virou-se, diretamente na direção de Tristan.

    ‘Merda.’

    O corpo de Tristan estava oculto mas o estranho ainda o encarava.

    Tentou manter a calma. Talvez fosse coincidência. Talvez o estranho apenas tivesse olhado naquela direção por acaso.

    ‘Talvez ele não seja alguém ruim…’

    Mesmo com esse pensamento, a essência já percorria seu corpo, pronto para agir.

    E então, o pior aconteceu.

    A figura ergueu um braço e uma formação mágica apareceu diante dele. Dois círculos concêntricos, repletos de runas, símbolos e formas geométricas complexas começaram a brilhar intensamente.

    ‘Maldição!’

    Era um array mágico. Tristan reconheceu na hora.

    Antes que pudesse pensar duas vezes, girou o corpo e começou a correr, os sentidos em alerta máximo. E então viu, pelo canto dos olhos, as runas no corpo de todos os Marcados acenderem — um brilho ameaçador — e, em perfeita sincronia, todas aquelas criaturas voltaram suas cabeças na direção dele.

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