— Eles estão vindo! — Grita Askar, se levantando.

    — Relaxa, garoto. — Diz Joe.

    — Não vamos correr? Por qual motivo? 

    — Eles não vão nos atacar. 

    — Como assim, então por qual motivo Beatriz nos disse aquilo?

    — Para nos apavorar. O motivo da equipe de caçada nos perseguir e o motivo de a nossa líder demorar muito mais para conversar com eles, foi por conta disso. Sabemos muito bem que o verdadeiro treinamento é saber capturar alvos eficientemente. Matar eles não seria agradável em alguns dos casos, então só precisamos nos entregar.

    Askar olha à sua volta. Oliver parece estar tranquilo também. No final das contas, parece que tudo está indo bem. Não haverá tantos problemas.

    — Mas a gente vai apanhar para caramba, cara. — Diz Oliver, enquanto suspira.

    — A-apanhar?

    — Eles vão bater na gente até a gente apagar. — Complementa Joe.

    O garoto se apavora, ele lembra da dor que sentiu em sua luta com Julia. Aquela dor que adentrava sua mente e anestesiava seu corpo com tremenda fraqueza em sua carne e alma.

    “Puta merda…”

    Do chão, uma fumaça espessa dispersa no ambiente.

    Joe começa a sorrir.

    — Parece que chegaram.

    Na fumaça, Julian, Julia e Yuri aparecem. Sem falar uma única palavra e em um piscar de olhos, todos eles foram nocauteados em um instante.

    — Isso foi rápido demais, não?… — Diz o garoto, segundos antes de apagar.

    Um lugar vasto, um gramado que percorre todo o horizonte como se não existisse um fim. Um vazio, mas completamente vivo. Seja o que for esse local, ele é completamente distante de completamente tudo que Grace conhece, talvez Gabriel nem sequer saiba onde seja, ou melhor, nenhum dos Vetus conheça. 

    Nada disso importa nesse momento. Askar e seus companheiros nocauteados estão amarrados juntos por uma espécie de corda molenga, mas estranhamente resistente.

    — O que faremos agora, meninas? — Diz Julian, enquanto observa lentamente o sol se esvaindo e o frio do luar noturno adentrando cada vez mais nos poros da pele.

    — Esperar. Como sempre foi. — Respondendo de maneira seca e curta, Yuri simplesmente se senta e não faz contato visual com ninguém.

    — Entendi…

    Um silêncio constrangedor domina o ambiente por horas. A escuridão da noite atormenta os olhos, fazendo-os quererem fechar, mas mesmo assim, ninguém os fecha. 

    Um tédio absoluto, os amarrados também acordaram de seus nocautes, mas logo entendem que falar algo nesse momento é inútil. Até mesmo Askar, que apesar de nervoso, não consegue falar ou perguntar nada.

    O motivo disso é Yuri, que transmite uma sensação de opressão para todos ao seu redor, fazendo um contraponto com sua aparência atraente e agradável. Sua força e habilidades estão em outro patamar, e ela mesma alcançou outro nível.

    E agora, apenas por estar no ambiente, quase como presas, sentindo sua morte, todos estão cada vez mais quietos e tensionados, suas peles arrepiam e seus olhos não conseguem desviar dela. São companheiros de equipe, mas, no fundo, todos sabem que se Yuri desejasse, todos eles se tornariam poeira pela sua força inabalável.

    O frio e a tensão gradualmente pioram, e algo estranho começa a aparecer.

    Nesse local vazio, aparentemente sem vida por longas distâncias, uma luz no horizonte começa a caminhar.

    — Beatriz chegou? — Pergunta Oliver.

    — Não… Ela pediu para eu a trazer ao amanhecer… — Responde Julian, um pouco preocupado com a situação.

    — Parece que temos pessoas por aqui, afinal. — Complementa Yuri, enquanto se levanta e segura sua Katana. — Espero que eu não necessite sacar minha katana.

    Oliver se contorce na corda e começa a reclamar para Yuri.

    — Ei! Solte a gente daqui! Seja o que for essa luz, não era para ela estar aqui! Você sabe disso melhor que ninguém, nunca teve uma vida sequer aqui, apesar de todo esse tempo treinando por perto. Beatriz até fez uma vasta avaliação, lembra? Vamos lidar com isso juntos, merda.

    Ela o olha e, em um instante, a corda que os prendiam é cortada.

    — Valeu, Yuri. — Diz Joe.

    — Askar. Fique atrás da gente e observe. Você não está pronto se formos brigar. — Julian afaga a cabeça do garoto e o encara com um olhar dócil e meigo de preocupação.

    — Claro… Eu não atrapalharei vocês.

    Todos eles sacam suas armas de forma rápida, enquanto caminham em direção à luz.

    — A gente vai até ela?! — Questiona Askar, assustado.

    — Sim. Iremos. — Responde Yuri, com indiferença.

    Enquanto o grupo caminha lentamente em direção ao desconhecido, aquele brilho exuberante se mostra cada vez mais detalhado. 

    — Puta merda… aquilo… aquilo não são pessoas! A luz! É ALGO! — Grita Joe, de forma alerta e estranhamente assustado, como se sua mente acabasse de receber um choque.

    — Algo? — Pergunta Júlia, que rapidamente entende. — Algo…

    Sem que mais ninguém conseguisse falar mais alguma coisa, todos percebem e entendem o que foi dito. Aquela luz não era uma fonte de iluminação de um grupo de pessoas ou um indivíduo apenas. Esse brilho fascinante é um ser por si só, a luz que emana de maneira forte é algo

    Sua forma é estranha, como se não tivesse um corpo para chamar de seu. Sua semelhança é confusa, como se fosse alguma coisa, mas, ao mesmo tempo, não. Um sentimento nostálgico percorre o corpo de quem a olha. Que, embora tenha um brilho altamente forte, não machuca os olhos de quem a observa. Isso é algo, sendo tudo, mas não sendo nada.

    Julian, sem hesitar, tenta acertar essa coisa, mas sem sucesso. Sua alabarda atravessa a criatura como se tentasse atingir o vazio.

    — Não dá para acertar essa coisa, porra! — Diz Julian, indignado e nervoso.

    — Afaste-se, Julian! — Ordenando seu companheiro com um tom de voz imponente, Yuri toma a frente e Julian apenas obedece fielmente.

    Ela se aproxima, ficando de frente com o misterioso ser que está em sua frente.

    — Caralho… Isso é estranho pra caralho… — Oliver fica em estado de alerta máximo, apesar de sua experiência, ele nunca observou nada assim antes em sua vida, afinal, não existem muitas coisas além de humanos em Grace.

    Todos apenas conseguem olhar. Askar nem sequer consegue se mexer corretamente, mas algo parece diferente.

    Ele observa a criatura de maneira estranha, levemente comparada aos demais, como se olhasse além do que os olhos podem ver, observando o inexplicável.

    Yuri continua parada na frente da luz de maneira forte e inabalável, esperando uma reação. E assim aconteceu.

    A luz se move e entra no corpo daquela que enfrenta de maneira tão rápida que qualquer movimento se torna difícil de ser realizado eficientemente.

    — Senhorita Yuri! — Julian rapidamente tenta se aproximar de sua companheira, mas logo é interrompido por uma grande explosão de luz que joga todos eles para longe.

    Forte e brilhante o suficiente para ser confundida com o dia, seu poder é denso e compacto, mas seu alcance é vasto. No meio de todo aquele gramado, uma enorme cratera com uma enorme área que ultrapassa o tamanho de toda a capital de Grace.

    Todos são atingidos fortemente pelo impacto da explosão, mas sem ferimentos fatais, exceto Askar. 

    O garoto foi atingido e sua pele foi queimada da cabeça aos pés sem nenhuma proteção. Os danos em seu corpo não foram fatais, já que ele estava por trás de Julian, mas mesmo assim, a queimadura é tão intensa que Askar sente como se seu corpo derretesse.

    — Ga…Agh…!! — Suas cordas vocais foram obliteradas. Nada consegue dizer ou fazer. O pequeno apenas cospe sangue e lacrimeja em seu próprio corpo enquanto não consegue se levantar do solo destruído.

    — Maldição! — Júlia levanta irritada enquanto aperta fortemente sua maça, indo em direção à sua irmã.

    — Júlia, espere! Não sabemos o que pode acontecer! — Grita Julian, enquanto procura Askar em algum lugar da destruição.

    — Vai se fuder! Eu mesmo vou acab…! 

    Sem conseguir terminar sua frase, ela observa sua irmã no centro da explosão. Algo está estranho, a garota de cabelo branco parece ser algo diferente, mesmo que tudo seja ela.

    Uma energia poderosa, forte e imponente.

    — Estão bem? — Pergunta ela, com um tom suave, sem olhar para ninguém.

    — Claro. Estamos bem, uma explosão dessa não mataria a gente. 

    — Entendo.

    Oliver começa a correr em direção a algo, desesperado.

    — Askar! Porra! Askar!

    Todos se viram imediatamente em direção aos gritos no meio da vastidão do silêncio e vazio, seja por curiosidade ou preocupação.

    — O que aconteceu com o garoto, Oliver? — Pergunta Joe, enquanto caminha levemente rápido em direção aos dois.

    — Você é idiota, porra? O garoto tá completamente destruído! Ele não aguentará se continuar assim!

    — Puta merda… o garoto! — Fala Julian, que se aproximou rapidamente. Ele desvia o olhar enquanto tampa o rosto para evitar encarar.

    Askar tem toda sua face derretida, com sua boca completamente rasgada, seus olhos não conseguem fechar as pálpebras, suas roupas foram destruídas e sua barriga reabriu suas feridas anteriores. Suas pernas estão em carne viva e seus braços parecem ter tido seus músculos retirados à força, com uma aparência completamente destruída.

    — Ele vai morrer. — Sem remorso, Júlia o olha como se fosse um animal de estimação que faleceu em um trágico acidente.

    — Julian, traga nossa líder para nós. Por favor. — Ao contrário de sua irmã, Yuri parece estar querendo salvar Askar, que luta para se manter acordado apesar de sua dor.

    — Y-Yuri, como você está?… Deixa para lá. Eu vou tentar, mas você sabe que ela se recusa a permanecer parada no meu TR antes do necessário, independente do que seja. Ela acredita firmemente que aqui é seguro… todos achávamos isso.

    — Apenas faça. — Encarando-o com um olhar frio e sem sentimentos, ela não está pedindo para Julian. Yuri ordena.

    — Tsk…  Certo. É pelo garoto, afinal. Ele é muito jovem para morrer assim.

    Julian se concentra e fica calado por segundos. Uma névoa preta no chão se torna cada vez mais forte, mas nada sai dela. 

    — Estou te dizendo, merda! Ela se recusa a permanecer! Essa cabeça dura!

    Yuri se aproxima da névoa e insere sua mão dentro dela, a qual é repelida.

    — Senhora Yuri! Isso não vai funcionar! Essa é a saída, não conseguimos entrar desse jeito.

    — Então abra uma entrada para o outro lado. Agora.

    — M-Mas…! A senhorita Beatriz vai cortar nossas cabeças!

    — Julian, eu estou mandando. Apenas faça o que eu digo. — Com um tom de ameaça, ela o olha com intenção forte de matar.

    — Puta merda!… Ok, ok! 

    A névoa aparece fortemente em forma de redemoinho, que gradualmente se dispersa e cobre todos rapidamente.

    — Vamos para casa mais cedo hoje, hein. — Murmura Joe, com um tom sarcástico.

    Em um piscar de olhos, tudo se clareia. O chão terroso se torna mais ríspido, a iluminação é aconchegante, o ar é menos puro e tudo se torna levemente mais barulhento. Apesar desse clima de sossego, uma voz não tão calma assim ecoa.

    — Vocês não deveriam estar aqui agora.

    — L-Líder! Fomos atingidos por uma luz, ou sei lá o que era aquela merda! O Askar está morrendo! Cure ele, por favor! — Diz Oliver, enquanto levanta o garoto nos braços.

    — Uma bola de luz? Você tá de sacanagem comigo? 

    — Líder, por favor! Olha como ele está! Não tem como fazermos isso com ele, você sabe!

    Yuri toma novamente a frente e se aproxima.

    — Líder Beatriz. Todos fomos afetados por uma espécie de luz que andava, ela entrou em mim e agora somos um só. Por favor, compreenda, todos poderíamos ter morrido.

    Encarando Yuri, Beatriz parece estranhar tudo isso, embora seja inegável que o garoto está em um estado grave.

    A líder então se aproxima e começa a curar Askar, que lentamente adormece enquanto cicatrizes aparecem em seu corpo.

    Beatriz se mostra levemente espantada, isso não é um ferimento comum.

    “Não está curando completamente?…” 

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