Autor: XXX 

    Era 1750 quando eu nasci no morro da Galinha Morta. Uma quebrada muito distante que ficava na parte sul de Los Angeles. 

    O lugar era infestado de zé droguinhas, e as casas da comunidade pareciam cair a qualquer momento pela estruturação de madeira simples, quase apodrecidas pela poluição e desgaste das fortes chuvas. 

    As pessoas nesta região recebiam salários miseráveis, e trabalhavam por largas horas sob condições perigosas e sufocantes.

    A vida por aqui não era nada fácil, então logo que completei 12 anos entrei para a vida do crime. 

    Enquanto assaltava uma padaria de pães, conheci Querolyne, uma garota que morava atrás dos becos da catedral da Inocente Freira. 

    Ela vendia ervas e roubava comida para sobreviver. 

    — Procurando maconha parceira? — perguntou ela. 

    — Sim, claro. 

    — Então me segue que eu tenho até o talo amada. 

    — Aí me espera, estou indo amore. 

    Andei até a sua posição e comecei a segui-la até o beco da catedral, onde ela produzia uma erva da boa. 

    … 


    Quando percebi que tinha talento, e muitos clientes, descobri que Querolyne era bicho solto. Vendia maconha como ninguém da comunidade. 

    Era qualidade, textura e espessura. Uma erva boa com cheiro bom, o famoso verdinho. 

    Nós duas éramos idênticas, e estávamos na mesma situação. Vender drogas ilícitas ou sobreviver roubando. A amizade logo se tornou inevitável. 

    Após ajudá-la por uma semana na fabricação da verdinha, não esperei muito para dar uma ideia a ela. 

    — Eai parceira, que tal nós duas roubar o banco? 

    — Acho top, só fala o lugar amiga. 

    — Isso é o de menos parceira, a minha mãe tem uma casa por aqui perto, vamos até lá para bolar o plano. 

    — Então é ficha parceira, só vamos. 

    Depois que concordou, saímos da quebrada da parte baixa do morro e seguimos o caminho principal, até chegarmos próximos da minha casa. 

    No caminho, presenciamos um barraco que estava ocorrendo na rua. 

    A Janisclaide, Nagba e Ninfana, minhas vizinhas, brigavam aos gritos com um vendedor ambulante. 

    — Como é que é? Maconha estragada, na minha quebrada?! — perguntou Junisclaide. 

    — Isso mesmo gatah — declarou Nagba, apontando para o vendedor. 

    — Foi aquele bem ali! Foi ele mesmo quem vendeu a maconha estragada. — Ninfana apontou em seguida para ele. 

    Janisclaide então se moveu junto com as duas até o vendedor, seus vestidos deslumbrantes de tecido foram arrastados pelo chão sujo da rua. 

    — Pune esse safado — gritou Nagba. 

    — E-Eu, não foi eu… — O comerciante tentou se explicar, mas foi cortado pela fala das mulheres que o acusavam a todo momento. 

    — Venha cá, maldito. — Junisclaide pegou o seu salto alto e caminhou em sua direção, com extrema raiva. 

    Cortando a minha atenção, Cherolyne me cutucou e olhou para mim. 

    — Bora Labrina! Ignora isso, pode acabar sobrando para a gente. 

    — Bora então mana, o clima ficou pesado do nada. 

    Corri junto com ela até a minha casa, mas ainda conseguia ouvir a gritaria das minhas vizinhas de longe. 

    A última coisa que consegui escutar foi o comerciante falando ‘pelo amor de deus’, e um som de grito estorrecedor. 

    … 


    Quando chegamos em casa, chamei a minha mãe, mas não recebi uma resposta. Provavelmente ela ainda estava em seu expediente de trabalho. 

    — Por que não acendemos unzinho, parceira? — Querolyne perguntou, com um isqueiro na mão, pronta para acender o baseado. 

    — Mas amiga, e se a minha mãe chegar?! 

    Eu estava relutante, não podia deixar minha mãe saber que eu fumava. 

    — Deixa de medo amiga, é só um trago. — Ela acendeu a verdinha, deu uma tragada, e me passou em seguida. 

    — Bora então mana. 

    Acabei aceitando pelo impulso, e dei uma longa tragada. 

    Senti uma sensação revigorante preencher todo o meu corpo, e quando olhei para Querolyne percebi que ela também estava na onda. 

    Começamos a rir descontroladamente, enquanto uma passava a verdinha para a outra. 

    Uma tragada atrás da outra. 

    Nunca fiquei tão chapada. 

    O tempo parecia passar devagar, a verdinha era tão boa. Me perdi na sensação. Quando recobrei parte da minha consciente, estava cantando com a minha amiga. 

    — 🎶 Iaahhhh! A cidade inteira tá cheia de maconhaaaaa. 🎶 

    — Querolyne, eu sinto que não deveríamos fazer isso.— Interrompendo a canção, eu declarei, preocupada com o tempo que havia passado. 

    — Sim, parceira. Vamos parar de fumar esse beckoso amigoso, já deu. — Ela admitiu, com o beck na mão. 

    — Então amiga, vamos começar. Vou explicar o plano. 

    Antes que eu pudesse explicar o assalto ao banco, ouvi um som próximo da porta de madeira da sala. 

    Virei minha cabeça para o lado e olhei para averiguar. Era a minha mãe. 

    Senti o meu mundo desmoronar, e todas as forças do meu corpo sumiram. Me abandonaram. 

    Como um reflexo, olhei em seguida para Querolyne, mas ela estava na mesma situação. Até mesmo pior, ela tremia da cabeça aos pés. 

    Quando olhei novamente para a minha mãe, percebi que ela fazia uma expressão de nojo. 

    — OLHA QUE BONITO. AS MACONHEIRAS FUMANDO DIAMBA NA MINHA CASA! 

    — Era só um fininho, já estava terminando mãe. 

    — CALA BOCA! 

    — Já mandei chamar os garotos, e as duas vão para uma clínica de reabilitação — declarou, com o olhar fixo sobre nós duas. 

    — Mãe, não, por favor! 

    — Meu Deus mana — Querolyne declarou, com a voz trêmula. 

    — O que vamos fazer parceira? — perguntei para a minha amiga, já temendo o pior. 

    Minha mãe então caminhou até o lado de fora de casa, e dirigiu sua voz para o seu acompanhamente. Ele sempre estava com ela. 

    — Amanhã, certifique-se que essas putas sejam mesmo internadas, Jorge. Eu quero que elas voltem de lá Ex maconheiras e cristãs. 

    — Sim, madame — Jorge declarou. 

    Assim que minha mãe saiu de casa, me dirigi até a Querolyne e a abracei fortemente. 

    — Ai meu Deus mana. Eu não boto fé nisso — declarei, deixando algumas lágrimas caíram na sua roupa. 

    — Calma, vai dar tudo certo amiga. 

    — Meu amor, eu não aceito isso! Temos que agir. — Limpei as lágrimas do meu rosto, e respondi confiantemente. 

    — E o que você quer fazer, loca?! 

    — Escapar! Agora que minha mãe se afastou de casa, precisamos agir! Essa é a hora perfeita parceira. 

    — E pra onde a gente vai amiga? 

    — Eu não sei, talvez uma cidade, ou para Nova York amiga! 

    — Por que lá parceira?! 

    — Uma vez me encontrei com uma maconheira, e ela disse que nova York era o melhor lugar para se viver. 

    — Meu Deus mana, você realmente acredita nisso? — perguntou, com dúvida em seu olhar. 

    — Sim, claro. Eu confio muito nessa senhora, ela não mentiria para mim. 

    — É para lá que eu vou parceira. Podemos aproveitar a vida e o que a natureza pode nos proporcionar nas quebradas da comunidade de lá — acrescentei. 

    Querolyne, ainda que estivesse relutante, concordou comigo momentos depois. 

    Em seguida, começamos a nos preparar. 

    … 


    Eu deixei tudo que tinha para trás, e corri sorrateiramente com ela até a porta de casa. 

    Abrimos a porta e olhamos de canto em canto, por toda a rua. Não havia ninguém, nem mesmo a minha mãe estava lá. 

    Tanto eu, quanto Querolyne, percebemos que tínhamos que agir agora, era o momento perfeito para fugir. 

    Saímos de casa correndo, sem olhar para trás, juntas. 

    Porém, infelizmente após dar alguns passos para fora, a nossa visão à frente foi bloqueada por dois guardas que apareceram de repente. 

    Eles usavam armaduras de ferro, e atrás deles havia uma figura de um homem gordo com vestido, que logo se colocou na frente deles. 

    O homem gordo, sem delongas, em seguida esticou os seus ombros e apontou em nossa direção. 

    — Peguem essas duas maconheiras! — ordenou ele, quase como se estivesse gritando. 

    — Sim senhor! 

    Eles marcharam em nossas direções, e nos prenderam imediatamente. 

    — O que eu fiz? — perguntei indignada, enquanto era levada por eles. 

    — O que é isso? — dizia também Querolyne, sendo levada contra a sua vontade, bem ao meu lado. 

    — Me larga desgraça! Eu não fiz nada. 

    — Larga a gente, malditos. 

    — Quietinha vocês duas! — O cara com vestido ordenou, enquanto apontava para a nossa cara. 

    Neste momento, quando estávamos sendo levadas a força, a voz da minha mãe interveio bem de longe. 

    — Eu sou a mãe dela, o que você está fazendo com a minha filha?! 

    — EU EXIGO SABER O QUE ESTÁ ACONTECENDO. 

    Com o grito da minha mãe, eu senti um alívio momentâneo. Finalmente ela estava aqui para me salvar, nunca fui tão injustiçada na vida. 

    Os dois guardas ao ouvirem a voz dela, pararam de se mover, porém ainda continuavamos presas, não nos soltaram. 

    — Você é mãe dela? Mas é claro, irei contar para você o que está acontecendo. 

    — A sua filha e a parceira estão metidas com drogas! Elas andaram comprando drogas ilícitas e comercializaram pelas quebradas do morro da Galinha Morta — declarou, apontando para a minha direção. 

    — A minha filha? Não, impossível — respondeu, com as duas mãos juntas, como uma reação espontânea de medo. 

    — Você não pode prender a minha filha assim! Cadê as provas!? 

    — Ahhh! Você quer provas? Então tome. — O homem esticou sua mão para a direção da minha mãe, e mostrou todas as verdinhas. 

    — Olha essa maconha que encontrei dentro dos pertences das duas!!! — alegou, com a mão coberta de ervas. 

    — Pelos gnomos! A minha filha é uma drogada, céus. Eu não sabia que a situação estava tão grave! 

    Após a declaração, percebi que minha mãe virou a cara para o lado, em decepção. 

    O homem de vestido feminino então prosseguiu, e ordenou os guardas a seguir em frente. 

    — Prendam as duas marginais. 

    — Kyaaaaaa! Não, mãe socorro, me ajuda — gritei em sua direção, mas ela não se moveu. 

    Continuou imóvel, com a cabeça virada para o lado, sem me olhar. 

    Enquanto éramos levadas contra a nossa vontade pelos guardas até a rua, Querolyne começou a falar.  

    — Tá é vacilando parceira? O que a gente faz mana, sua mãe não vai ajudar? 

    — Mana, foi mal, mas parece que minha mãe não vai ajudar mesmo — respondi, com as mãos imobilizadas pelo guarda atrás de mim. 

    — Hã? Como assim amiga? Eu jurava que ela era que nem a gente, da louca. 

    — Tá é me tirando, mana? Que viagem. O que a gente faz agora, amiga? — perguntei, já temendo o pior. 

    Antes que ela pudesse me responder, fomos jogadas na parte de trás de uma carroça que estava na estrada. 

    No momento que entramos nela, os guardas fecharam e trancaram as duas portinhas traseiras, e ficamos impossibilitadas de fugir. 

    A única coisa que podíamos ver era parte das ruas através das grades de ferro que haviam nas paredes. 

    Tentei socar as paredes e abrir o entorno que haviam nos trancado, mas infelizmente não conseguia. Não tinha forças. 

    — Amiga, isso não faz sentido! Como só nois pode ser presa? só tem zé droguinhas na quebrada — retrucou ela, assim que percebeu a situação que estávamos. 

    — Meu Deus mana, eu também não sei. O que a gente faz agora? Eu tô arrasada — declarei. 

    — Aff parceira, vamos esperar. Só espero que não sejamos levadas pra uma clínica ou igreja. 

    — Para de drama mana! Vai dar tudo certo. A propósito, tá com a verdinha aí ainda? — perguntei automaticamente, sem tentar pensar demais na situação. 

    Eu então olhei para as janelas e só pensei em uma coisa, maconha. 

    — Morta! Amiga, você quer marola agora? 

    — Lógico, parceira. 

    — Então é ficha — respondeu ela, com o isqueiro e a verdinha que havia guardado no bolso. 

    — Aqui amiga — entregou nas minhas mãos. — Já que estamos presas mesmo, vamos aproveitar que essa é da mexicana. 

    — Sim parceira, vamos na fé. Essa é da louucaaa — concordei, com o beckoso amigoso nas minhas mãos. 

    Enquanto fumavamos, sentimos que a carroça havia começado a se locomover. Só fomos na onda, sem ligar muito. 

    A gente estava presa, não podíamos fazer mais nada. O melhor era esperar até chegar no local da prisão. 

    No caminho, conseguimos ver praias maravilhosas, cenários psicodélicos e todo o verde deslumbrante do mundo. Parceiro, será que isso é uma lombra? 

    … 


    Quando a carroça parou, imediatamente fomos levadas para as celas do presídio de Santa Raymunda Lorraine. 

    A pior prisão de todas as galáxias. 

    Passamos por diversas celas, até os guardas que estavam nos acompanhando pararem em uma cela do 1° andar. 

    Eles abriram a cela e nos jogaram com certa agressividade dentro dela. 

    Em seguida, trancaram o cadeado e foram embora, como se nada tivesse acontecido. 

    — Nossa amiga, o que aconteceu? Tô me sentindo chapadona — perguntei, limpando as minhas roupas da sujeira residual do chão. 

    — Deve ter sido o beck parceira, a nossa noção de tempo foi pro além. — Querolyne respondeu apoiada no banco de pedra que havia na cela. 

    — O que a gente faz parceira? Não tem como fugir do presídio de Raymunda Lorraine, estamos acabadas amiga — declarou ela, com medo que ficássemos presas para sempre. 

    Ao escutar a sua fala, dirigi minha cabeça para a sua direção e disse de forma confiante: — Amiga, eu tenho os meus macetes, vai dar tudo certo. Confia em mim, que é só onda. 

    — Você tem seus macetes, jovem? Quero ouvir também. 

    Em resposta, uma voz feminina no canto da cela veio em minha direção. 

    Virei-me de lado, e notei a figura de uma mulher de manto que estava sentada no outro banco de pedra que havia na cela. 

    — Aí meu deus parceira, tem uma freira aqui — gritei assustada. 

    — Amiga do céu, será que isso é uma miragem? — Querolyne perguntou com os olhos arregalados, sem acreditar. 

    — O efeito da diamba deve tá ativo ainda amore, mais que lombra psicodélica diferente — respondi, ligeiramente em choque. Ainda que fosse uma miragem, era bem realista. Chegava a ser até mesmo chocante. 

    — Não sou uma miragem, gatas! Acordem. 

    Assim que escutei a sua voz novamente, me aproximei e sentei no mesmo banco de pedra que ela. 

    Analisei o seu rosto. Uma mulher que devia ter por volta de 25 a 30 anos. Vestia uma roupa de freira, e era extremamente pálida, como se um espírito maligno tivesse a possuído. 

    — Meu nome é Quel’nthalas, sou uma freira da maconha queridas. Prazer em conhecê-las, amadas — apresentou-se após se levantar e fazer uma reverência, extremamente formal. 

    Ainda que eu tivesse assustada, percebi que ela era realmente de verdade. Logo, junto com a minha amiga, me apresentei também. 

    — Que nome foda, Quel’nthalas. Meu nome é Labrina, prazer em conhecê-la. 

    — Aquela ali do outro lado é a a Querolyne — acrescentei, apontando para a minha amiga. 

    — Eai tia, tudo na paz? — perguntou Querolyne.  

    — Tudo na lombra gata. 

    — Então amada, o que você tá fazendo aqui? Você é uma freira, não deveria estar presa em um presídio — perguntei para ela imediatamente. 

    Será que ela foi presa por engano? Aí meu deus… tadinha. 

    — A minha situação é uma vibe, uma onda estranha parceiras. Eu apenas defendi a legalização de toda a maconha, e a distribui em todo o Brasil. 

    — Apesar da minha aparência, eu não sou religiosa de verdade. Na realidade, sou contra a religião queridas, então não tenho uma. 

    — Através da minha roupa, estou mostrando respeito a uma planta, a maconha. O meu salvador é a verdinha, ainda mais os do bom. 

    Assim que terminou de declarar, eu e a minha amiga começamos a chorar. Ficamos emocionadas. Quel’nthalas era igual a gente. 

    Apesar de comercializarmos a verdinha, o objetivo dela era diferente. Propagar um ideal no mundo. Uma mente brilhante e pura, que pensamento nobre. 

    Estar presa significava que estava na mesma situação que a nossa, injustiçada. 

    Terminado de limpar algumas lágrimas que escorriam pelo meu rosto, eu declarei para as duas presentes na cela. 

    — Nós não podemos ficar aqui! temos que agir, precisamos sair do presídio de Raymunda Lorraine. 

    — Como assim amiga, o que a gente vai fazer? — Querolyne perguntou extremamente nervosa. 

    Eu sabia que ela estava com medo de falhar novamente, igual da última vez que tentamos fugir da casa da minha mãe, Xirax. 

    — Você ainda tem os verdinhos que pegou no pé de shunk 1 da sua casa, parceira? 

    — Eles não nos revistaram. Aqui mana, se a gente for enrolar na seda dá uns 10 beckosos amigosos. — Querolyne pegou toda a erva que tinha nos bolsos e colocou no banco. 

    — Gatas, vocês tão bolando um plano pra fugir daqui, mas realmente vai dar certo!? — perguntou Quel’nthalas, com os olhos brilhantes e fixados nas ervas do banco. 

    — Parceira, eu acho que você deveria ouvir Labrina, ela é babado. Ela sim sabe das coisas, isso sim é ficha — afirmou Querolyne para a feira que ainda parecia duvidar da minha capacidade. 

    — Então manas, vamos para o plano. Vocês lembram daquele guarda com cara de ladrão que tava vasculhando toda a região? Por que a gente não faz o seguinte… 

    Comecei a explicar o plano para as duas, precisávamos fugir urgentemente dessa prisão, quanto mais cedo, melhor. 

    … 


    Depois de alguns dias, começamos a colocar o plano em ação. 

    — Vamos fugir hoje mesmo! Está tudo no esquema — declarei. 

    Em seguida, acendemos três becks amigosos na cela, até que o guarda com cara de ladrão que estava vasculhando o local notasse o cheiro. 

    Esperamos pacientemente enquanto fumavamos, até o guarda se aproximar da nossa grade. 

    Assim que ele notou que estávamos fumando, ele correu até a nossa cela. 

    — O que vocês estão fazendo? — gritou em nossa direção, com a voz alterada. 

    Olhei para o seu rosto e percebi imediatamente que seus olhos estavam hesitantes. 

    Como esperado. 

    Seu olhar não podia me enganar, ele também queria fumar. Suas expressões diziam mais do que mil palavras. 

    Antes de sermos jogadas na prisão, ele havia me perguntado se eu tinha uma verdinha comigo. 

    Eu negei imediatamente, não queria compartilhar! Ainda mais em uma prisão. Onde eu conseguiria mais? Em nenhum lugar. 

    — Estamos fumando uma panca, quer um também amore? — perguntei calmamente, sentada no banco com as pernas cruzadas. 

    — C-Como vocês ousam?! Onde conseguiram essa marola? 

    — Isso importa parceiro? Vamos fumar um beckoso amigoso, esse daqui é dos loucos. 

    — Olha a minha amiga ali no canto da cela, ela fumou hoje de manhã e já bateu uma lombra. Eu tô impactada — acrescentei, tentando convencer ele a todo custo. 

    Quando acabou de escutar, ele olhou para Querolyne que fingia estar caidinha no chão com o beck na mão.  

    — Passa um aí marginal, e-eu vou inspecionar para ver se é verdade mesmo! — disse ele, com a voz baixa. 

    Ele esticou a mão em minha direção, e logo passei a verdinha para ele entre as grades de ferro. 

    Ele abaixou um pouco a cabeça e deu uma tragada profunda. 

    Foi nesse momento que olhei para a irmã Quel’nthalas e acenei com a cabeça. 

    — Essa é da mexicana gato, é da boa. A minha irmã Laquanda tem uma plantação de Skunk aqui por perto, são dezenas e até milhares desse tipo — confessou a freira, aproximando-se das grades. 

    Ela juntou as mãos e olhou para o guarda do outro lado, e prosseguiu com a persuasão. 

    — Se nós fumarmos juntos, a tragédia e o coração doloroso vão ser curados. 

    — A paz da alma, a estabilidade do corpo, e o equilíbrio do mundo. Tudo isso pode ser mantido contanto que nós juntemos os nossos corações por essa causa nobre. 

    As palavras da minha amiga me deixaram surpresa, ela conseguia dizer com tanta naturalidade que nem parecia que estava desesperada em fugir. 

    — Sei que está tentando resistir, mas por favor, se liberte! Sei que você está aguentando por muito tempo, e deve ser muito doloroso trabalhar em um local como este. — Quel’nthalas terminou a conversa às lágrimas, e usou suas mãos para cobrir parte de seu rosto. 

    A todo momento que ela falava, eu não conseguia saber se aquilo era mentira ou verdade. A atuação de Quel’nthalas foi perfeita… Quer dizer, isso realmente foi uma encenação? 

    Eu real oficial não sabia. 

    Assim que fixei minha visão em torno do guarda novamente,  percebi que ele estava chorando também. Quer dizer que o plano funcionou? Meu Deus, tô passada. 

    — V-Você tem razão, e-eu preciso me libertar, não aguento mais viver assim, sempre fazendo a egípcia e fingindo não escutar ou tomar decisões — manifestou o guarda, com uma voz de choro frenética. 

    — Meu sonho sempre foi fumar uma panca enquanto servia à rainha Lombrinata terceira Natastine, do império britânico. 

    — Só de me imaginar sendo nomeado cavalheiro imperial, enquanto sirvo a rainha, isso me deixa extasiado! 

    ~ Imaginação do guarda ~ 

    Quando terminou de dizer, eu olhei para a Quel’nthalas e voltei novamente a minha atenção para o guarda. 

    — É sério parceiro? Que sonho bala. Então, por que não fumamos um beck e vazamos desse lugar cheiradões, fumando uma panca? 

    — Pode crer, só espera um minuto. 

    Ele enfiou sua mão no bolso da calça e tirou uma chave pequena de lá. 

    Momentos depois ele abriu o cadeado da cela, e nos libertou. Estou morta! Quer dizer que o plano realmente funcionou? Fiquei só a alegria. 

    — É ficha amore. Não sabia que você era da louca, que nem a gente senhor — respondi incrédula, ainda sem acreditar que o plano tinha dado certo. 

    — Não confundam as coisas, marginais. Isso é uma troca! Eu liberto vocês, em troca vocês me dizem a plantação de Skunk da irmã Laquanda. Eu ainda preciso seguir o meu sonho, ser um cavalheiro real. 

    — Sim parceiro, vamos na onda então — respondi imediatamente, mesmo sabendo que não havia uma irmã Laquanda. Era fruto da armação do plano. 

    — Querolyne, vamos! Não podemos ficar aqui, eles podem encontrar a gente. 

    — Vamos parceira, é ficha — respondeu a minha amiga. 

    … 


    Depois que saímos da cela, o guarda, Paulo latejando, nos guiou pelo presídio da Lorraine Raymunda, até chegarmos a um lugar seguro. 

    Por algum motivo, estava sendo moleza passar pelos corredores. Alguma coisa de errado estava acontecendo, mas também não fazia diferença. 

    — Estamos quase chegando manas — disse Paulo latejando, nos guiando sorrateiramente. 

    — Eu só tenho a agradecer ladrão, mas aonde a gente tá indo? — perguntei, com certa ansiedade e inquietação. 

    — Estamos seguindo um caminho secreto, que sempre uso para ir na irmã Lamilda. 

    — A irmã Lamilda dos cogumelos mágicos? — perguntou Quel’nthalas. 

    — Essa mesmo mana, essa mulher é uma benção! Só ela pra te ajudar — respondeu o guarda. 

    — Mas a irmã Lamilda morreu há 5 anos. 

    Quando a nossa irmã freira disse isso, o guarda parou de andar e olhou para trás, em nossa direção. 

    — EU SEI, EU TÔ MENTINDO. E-EU VOU ENTREGAR VOCÊS PARA OS SUPERIORES, EU SINTO MUITO. 

    Depois que ele gritou subitamente, eu respondi em seguida desesperada também. Sem saber mais o que fazer. 

    — COMO ASSIM NOS ENTREGAR, MULHER? QUE LOMBRA É ESSA. 

    — É para o bem de vocês! Essa vida perigosa de crime precisa acabar. Assim que eu entregar vocês, vou conseguir a localização do pé de shunk da irmã Laquanda!! 

    — Aí meu Deus, como você é falso!!! A gente te considerava,  e você nos desconsidera ladrão — respondi, sem acreditar. Que decepção. 

    — Agora já era! Eu preciso mudar de vida, desculpa. 

    Assim que Querolyne e Quel’nthalas perceberam a situação que estávamos, elas caminharam rapidamente até Paulo latejando, e o empurraram com força contra a parede que estava no corredor. 

    Elas empurraram com tanta força que fizeram ele desmaiar. O que está acontecendo? Pelos gnomos! 

    Eu só fiquei parada, sem acreditar no que estava acontecendo. Ele morreu? Não, não pode ser. 

    — Labrina! Acorda mana, precisamos correr agora, antes que nos peguem — disse Querolyne, ao me cutucar e me tirar do transe em que eu estava. 

    — Precisamos correr agora, gatas! Eu tenho um mal pressentimento sobre isso — declarou Quel’nthalas, puxando a minha mão e da minha amiga. 

    Com a adrenalina do momento, acabei correndo junto com as três, sem ao menos saber para onde estávamos indo. 

    Não havia guardas ou pessoas no percurso, talvez por ser um caminho secreto? Eu não sei. 

    Nós corremos em frente a todo vapor, sem olhar para trás. 

    … 


    Após caminharmos por horas, conseguimos achar a entrada do presídio. Não havia ninguém na porta. 

    Na realidade, a porta de madeira da saída parecia um pouco desgastada. Como se fosse uma porta dos fundos de um barzinho qualquer. 

    Talvez fosse por isso que não havia guardas? Bem, não importava mais a essa altura do campeonato. 

    A única coisa que queríamos era fugir, e não pensar demais sobre isso. 

    No momento que passamos pela porta, os alarmes do presídio soaram como se fossem a trombeta do fim do mundo, botando pânico na cabeça de geral. 

    Corremos incessantemente, sem olhar para trás. Uma freira da maconha e duas garotas atrás, tentando acompanhá-la. 

    15 de agosto de 1762, foi nesse dia que conseguimos escapar do presídio de Lorraine Raymunda, a pior prisão de todas as galáxias. 

    … 


    Para que nossa fuga desse certo, tivemos que passar pela lombra ocidental, e seguir pelo vale dos esquilos saltitantes, sem se bater com os homem do presídio. 

    Quando estávamos longe o suficiente da prisão, em um lugar seguro, nós nos despedimos. Cada uma seguindo o seu próprio rumo. 

    Ainda ofegante pela corrida, eu comentei: — Então é isso comunidade, conseguimos fugir da prisão! Já é irmandade. 

    — O que você vai fazer agora Quel’nthalas? 

    — Vou fazer atividade pra não virar saudade. Pretendo seguir rumo pro Brasil, propagar conhecimento dos bons. 

    — Talvez eu até abra uma loja comercial em São Paulo, gatas. Eu ainda não sei, vou mandar uma mensagem pra vocês qualquer coisa. 

    — Que isso mulher, mas que lombra. Eu e a Querolyne vamos seguir para New York e dominar as bocas das quebradas de lá, vai ser ficha parceira — respondi, com certa confiança. 

    Ainda que estivesse incerta pelo futuro, eu sabia que tudo iria acontecer na onda. Era só seguir o fluxo que nada podia dar errado. 

    — Antes de irmos, por que não sentamos na grama e fumanos o resto dos becks que sobraram? — perguntou Querolyne, retirando dos bolsos as verdinhas. 

    — Só agradeço por você fortalecer o meu corre. Vamos dar uma tragada mana. Vem Quel’nthalas. 

    — Pode crer irmã. 

    Depois que fumamos, conseguimos ver fadas, sereias e até algumas naves alienígenas na atmosfera. Cenários psicodélicos jamais vistos, todas as cores do mundo misturadas. 

    Parceiro, será que isso é a lombra? 

    Que fuga de prisão genial. 

    Fim. 

    1. pé de maconha[]

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