Capítulo 5 - Billy Belly Blue
Autor: Glauber1907
— Olha só para você, que monte de porcaria. — Uma voz masculina soou, em meio a um quarto com baixa iluminação.
Uma figura caminhou alguns passos à frente, aproximando-se de um velho espelho, até que sua face foi revelada. Um rosto desfigurado mostrou-se, com um olho levemente arqueado, enquanto o outro estava baixo e parecia afundado no próprio rosto. A boca seguia num formato transversal e seu nariz parecia inexistente, com apenas as narinas à mostra, era uma visão terrível.
— Por que eu sou assim? Por que eu não nasci normal? — Billy disse, lágrimas fluíam de seu rosto horroroso, qualquer um que o visse nesse estado não teria pena, mas medo.
Billy William, um jovem de 19 anos de idade, nascido com uma doença rara chamada Cranases. Conforme os anos passam mais essa doença deteriora e desfigura seu corpo, sendo seu rosto o mais afetado.
Cansado de chorar, o jovem se afasta do espelho e sai do quarto, chegando a uma sala vazia, então olha para o relógio pendurado na parede. Em uma hora seria seu aniversário de 20 anos, porém, olhando para sua casa vazia, ele não pôde evitar de rir ironicamente consigo mesmo.
— Um monstro merece viver em solidão, talvez isso seja karma? Deve ser por isso que nasci assim. Quem será que eu fui na minha vida passada? A porra do Hitler?! — disse, numa mistura de brincadeira e choro. — Como será que o pai e a mãe estão, eles ainda se lembram de mim? Faz meses que não me ligam.
Inicialmente Billy era uma criança normal, somente aos dez anos que apresentou sinais da Cranases, desde então seu corpo começou a se auto desfigurar, pouco a pouco ficando com uma aparência terrível.
Quando ele tinha quatorze, viu sua mãe entrar em depressão devido a sua condição e seu pai começou a beber para se livrar das frustrações. Não suportando mais o que sua aparência estava fazendo com sua família, resolveu sair de casa.
Sua família não era rica, mas também não era pobre, quando Billy pediu que seus pais alugassem uma casa para ele morar sozinho, foram contra, porém depois de muita insistência de sua parte, concordaram. Apesar de dizerem ser contra, ele pôde ver um certo alívio em seus rostos no dia em que estava partindo, isso o deixou triste.
Seus pais e outros familiares costumavam visitá-lo ocasionalmente, mas conforme os anos passaram as visitas foram lentamente diminuindo, até que um dia pararam.
Ele não os culpava, afinal sabia que sua aparência era algo difícil de lidar, mesmo ele não conseguia suportá-la, então como outras pessoas poderiam?
Sentado em seu sofá, vendo as horas passarem, Billy ficou inquieto. Em pouco tempo seria seu aniversário de vinte anos, e ele estava ali, sozinho naquela casa.
— Que se dane, eu vou comprar algo. — disse, levantando-se.
Sair de casa era algo que ele raramente fazia, por motivos óbvios. Então sempre precisava se precaver. Primeiro colocou uma máscara que cobria seu nariz e boca, então um óculos escuro. Mesmo que seu visual chamasse a atenção e fosse estranho, era algo irrisório em relação a seu rosto.
Eram 14:00h da tarde, caminhando pelas ruas, logo chegou a um supermercado que ficava próximo a sua casa. Depois de entrar pegou uma cesta para colocar suas compras, então passou a escolher alguns produtos.
Chegando na área de frios da padaria, viu um bolo de aniversário recheado, ao ver isso, sorriu ironicamente.
“Por que não? Eu só tenho que tentar economizar pelo resto do mês.” pensou consigo mesmo.
Apesar de seus pais enviarem algum dinheiro todos os meses, era muito pouco, mal era suficiente para suas necessidades básicas. Se comprasse esse bolo, teria que passar alguns dias apertado, mas ele não se importava, sentiu que precisava daquilo. Não do bolo em si, mas do ato de comemorar seu aniversário, mesmo que sozinho.
Depois de pegar o que precisava, Billy se dirigiu para a fila. Para sua surpresa, havia apenas dois caixas funcionando e a quantidade de pessoas era enorme. Olhando para o horário no monitor acima do caixa, ficou deprimido, seu aniversário era em 20 minutos, exatamente às 15:00 e no fim, ele teria que passar numa fila.
Enquanto aguardava sua vez, percebeu duas garotas à sua frente. Ambas eram extremamente bonitas, isso fez seu coração palpitar. Sabendo que ele próprio era uma aberração, nem se atrevia a almejar ter um relacionamento, mas isso não o impedia de sonhar sobre quão bom seria ter uma garota assim ao seu lado.
As garotas perceberam que o mesmo as observava, mesmo com os óculos escuros, era simplesmente evidente. Então começaram a cochichar, não de forma comum, ou brincalhona, mas estavam um pouco inquietas devido ao seu visual suspeito.
De repente, ao olhar o relógio, percebeu que já eram 15h, mais um ano havia passado.
— Feliz aniversário, Billy… — murmurou, para si mesmo, num tom melancólico.
— Oi? Você falou comigo? — Uma das garotas da frente disse, virando-se. Era uma moça loira, com olhos castanhos.
— O que? N-não… Apenas estava… — Billy, que foi pego de surpresa, não sabia como reagir.
Vendo o rapaz se atrapalhando, a garota não conseguiu evitar de começar a rir.
— Meu nome é Mendy, essa é minha amiga, Vanessa. — disse, apontando para a menina de cabelos escuros ao seu lado, que acenou, forçando um sorriso, claramente insatisfeita por sua amiga a apresentá-la para alguém tão estranho. — Como você se chama?
— B-Billy, é um prazer.
Vendo que o rapaz era educado, a garota chamada Mendy se sentiu mais à vontade.
— Eu e minha amiga estávamos nos perguntando, por que você usa tanta coisa? Sabe, tipo, esses óculos escuros, essa máscara.
Billy que ainda estava meio anestesiado, pelo fato de começar uma conversa do nada, se sentiu ansioso.
— É que na verdade tenho uma pele sensível à luz do sol, então sempre uso quando saio de casa. — respondeu. Mesmo não estando acostumado a mentir, sabia que era a melhor solução.
— Mas aqui dentro do mercado não tem sol, por que não tira? Eu e a Vanessa gostaríamos de saber como você é.
— Gostaríamos? — A amiga disse, num tom irônico.
— Sim, nós gostaríamos! — retrucou Mendy.
Ouvindo isso, Billy se sentiu ansioso e nervoso, ele não se atrevia a tirar sua máscara ou óculos, se o fizesse, não duvidava que ambas as meninas sairiam correndo. Mas se não tirasse, seria algo estranho e suspeito. Logo ele se viu numa encruzilhada.
— É que eu não me sinto muito confortável…
— Vamos, para de graça, tira logo. — Mendy disse, rindo.
Vendo o olhar da jovem loira, suor gelado escorreu por suas costas, suas mãos tremiam, de tão nervoso e aflito que estava. Normalmente seu sonho era ter uma conversa com uma linda garota como essa, mas agora isso havia se tornado um pesadelo.
Olhando para a fila à frente, que não andava, Billy sentiu-se ainda mais ansioso. Pensou em até mesmo fugir dali, abandonando suas compras.
Olhando para um cartaz, viu o rosto de um jovem modelo, com mais ou menos sua idade. Ele começou a se perguntar por que o mundo era tão injusto, enquanto ele era uma aberração se escondendo numa casa solitária, havia rapazes tão bonitos por aí.
De repente começou a sentir calor, sentiu que estava abafado e quente. A máscara em seu rosto parecia estar em chamas, sufocando-o.
“Merda, merda, eu estou tendo algum tipo de crise? Calma, respira, respira, devagar.” pensou, tentando se acalmar. Apesar disso, a sensação de calor estava aumentando, tornando-se insuportável.
— Ei, você está bem? Eu estava apenas brincando, não precisa tirar se não quiser. — Mendy disse, percebendo que havia algo de errado com o jovem mascarado.
—N-não, eu estou, estou… — Billy tentou dizer algo, mas seu corpo parecia estar em chamas, então viu sua visão embaçar.
De repente ele não se importou com mais nada e arrancou a máscara em seu rosto. Mesmo que as garotas o chamassem de monstro ou qualquer coisa do tipo, ele não ligava, tudo que queria era respirar direito.
— I-isso…! — Mendy e a garota chamada Vanessa exclamaram ao ver o jovem tirando a máscara e o óculos.
“É isso… Lá vamos nós, vai começar de novo.” pensou consigo mesmo. Ele já havia passado por essa situação inúmeras vezes, sendo chamado de monstro, aberração e inúmeras outras coisas quando mostrava sua aparência.
— Nossa, você é tão lindo. Não deveria se esconder assim, haha. — Mendy disse.
Billy congelou por um momento ao ouvir essas palavras. Ela estava zombando dele? Ou talvez o choque tenha sido tão forte que ela não estava raciocinando bem? Inúmeros pensamentos passaram por sua cabeça, mas ao ver ambas as garotas o olhando sem medo nos olhos, na verdade com até um pouco de surpresa e desejo, Billy viu-se confuso.
— E-eu, preciso ir ao banheiro, poderiam guardar meu lugar na fila?
— Claro.
Depois de dizer isso, Billy correu até o banheiro, sua mente estava uma bagunça, que tipo de situação era essa? Isso nunca havia acontecido antes. Talvez ele estivesse alucinando.
Ao entrar no banheiro, rapidamente correu até a frente de um espelho, assim que o fez, seu corpo congelou.
— Quem… Quem é você?? — perguntou-se, olhando para a figura desconhecida.
A sua frente, estava a imagem de um jovem rapaz, com belos olhos azuis, cabelos castanhos com um rosto simétrico e belo. Levantando a mão, tocou em seu próprio rosto, o reflexo fez o mesmo.
— Como? Isso… Sou eu?
Choque era visto no rosto do belo reflexo, ele não conseguia acreditar. De repente viu-se num transe, encarando e apalpando o próprio rosto.
Ele sempre desejou se tornar uma pessoa normal, com um rosto normal. Agora, sem mais nem menos, esse sonho havia se tornado realidade. Um largo sorriso preencheu sua face, então começou a rir. Logo seu riso se tornou uma gargalhada, um misto de felicidade e loucura, afinal talvez ele apenas tivesse perdido a razão e fosse tudo fosse uma alucinação de sua parte.
Depois de algum tempo e de extravasar, começou a se acalmar. Foi só então que notou algo, devido ao choque anterior, não havia percebido isso, mas o seu rosto era familiar.
— O modelo de antes, do poster… — Nesse momento Billy notou que sua aparência era muito semelhante ao jovem modelo que viu na propaganda, suas características faciais eram 70-80% iguais.
— O que está acontecendo? O que isso significa? — murmurou consigo mesmo.
Foi então que Billy lembrou de algo, até um momento atrás ele estava desejando ser como aquele rapaz, então seu rosto começou a arder. Um pensamento estranho veio a sua mente, algo instintivo, então pensou na garota loira com quem estava conversando, Mendy.
Crack! Cronck!
De repente um calor preencheu seu corpo, sons estranhos começaram a ser emitidos em todas as partes de seu ser, logo uma dor o atingiu, mesmo sendo breve, foi extremamente estranha, como se algo em si tivesse mudado.
Ao levantar o rosto novamente, viu algo inacreditável, o reflexo a sua frente havia mudado. Ele estava vendo Mendy, a garota que acabou de conhecer, ou melhor, ele próprio havia se tornado a Mendy.
— O que é isso? O que eu sou?! — disse, tocando seu rosto, um olhar perturbado estava estampado em sua expressão.
De repente, Billy olhou para baixo, apenas para ver algo estranho. Duas saliências ocupavam o lugar onde outrora foi seu peito. Com as mãos trêmulas, apalpou o volume, sentindo um toque macio e delicado sob a roupa.
Ao sentir isso, seu coração acelerou. Sem pensar duas vezes, arrancou a blusa que estava vestindo, o que apareceu a sua frente foi um par de seios, perfeitamente redondos.
Com a mão esquerda, apalpou o seio esquerdo e com a direita, o peito direito. A sensação firme e macia que preenchia completamente suas palmas era viciante. Desde adolescente ele sempre sonhou em tocar os seios de uma garota, ele só nunca imaginou que a garota em questão acabasse sendo ele próprio!
Pensando sobre sua mudança estranha, ele pensou em algo. Se ele tinha seios, o que havia acontecido com suas partes baixas? De repente sua curiosidade foi picada.
Abrindo o botão da calça jeans, depois descendo o zíper e a cueca, então viu algo estranho, ou melhor, não viu o que deveria estar lá. Ele havia realmente se transformado numa mulher!
Assim como ele estava aturdido, em seu próprio mundo, alguém abriu a porta do banheiro e entrou. Um homem, de cerca de 25 anos, parou, chocado. A sua frente, estava uma linda mulher loira, seminua.
— Ei… Esse é o banheiro masculino, o que você está fazendo?
Billy ficou em choque, ele havia esquecido completamente onde estava. Era um banheiro público de supermercado, ele não deveria ter tirado suas roupas ali. Além disso, sua aparência agora era a de uma mulher!
Vendo que a mulher loira ficou em silêncio, estática, o homem sorriu.
— Ei, talvez você tenha algum tipo de fetiche em banheiros masculinos? Vendo como você está com o zíper assim, você estava brincando por aqui? — O homem falou, mas não obteve resposta. — Você tem namorado? Está com alguém?
“Namorado?” Billy sentiu-se estranho com a pergunta, ele nunca teve sequer uma namorada, e agora estavam perguntando se ele tinha um namorado?
De repente o homem se aproximou de Billy, e segurou seu braço.
— Ei docinho você tá querendo né?
— O que? Não sei do que você tá falando.
— Qual é, não se faça de sonsa. — disse, então puxou Billy pelo braço.
— Pra onde você ta me- — Antes que ele pudesse terminar, o sujeito o arrastou até o último box do banheiro, trancando-se lá com ele, então começou a tirar a roupa.
Quando Billy pensou em dizer algo, o sujeito avançou em sua direção, pressionando-o contra a parede. Então sentiu uma forte dor na região da virilha, foi só então que se deu conta do que estava acontecendo. Ele estava tendo uma relação forçada! Não só isso, era sua primeira vez, e não era com uma garota, pois ele próprio era a garota!
Uma estranha sensação o inundou, assim como um forte calor. Ele não sabia porque, mas seu corpo estava se sentindo bem.
Algum tempo depois o sujeito parou de pressioná-lo, então afastou-se.
— Isso foi incrível, linda.
Billy estava aturdido, seu corpo estava numa mistura de êxtase, fraqueza e vergonha. Então sentiu um forte calor espalhando-se por todo seu ser.
Crack! Crack!
O homem, que estava a frente de Billy, estava com uma expressão arrogante e cheia de si, mas de repente seu rosto mudou.
— O que… O que é isso?!
A sua frente, o rosto da bela mulher loira começou a mudar, desfigurando-se, os seios murcharam e seus cabelos loiros compridos começaram a encolher. O homem presenciou toda aquela cena com horror.
—M-monstro! — gritou, abrindo a porta do box, ainda com as calças baixas ele tentou correr, apenas para tropeçar e cair. Com um rosto em pânico levantou-se, enquanto corria com todas as forças, saindo do banheiro.
Billy presenciou toda aquela cena aturdido. Tocando seu rosto e corpo ele sentiu algo de errado, não havia mais seios, e pôde sentir que sua boca estava torta, ele havia se tornado seu ‘eu normal’.
Reunindo suas forças, vestiu suas roupas, então caminhou até a frente do espelho, então constatou que sua antiga aparência medonha havia retornado.
Seu coração caiu por um momento em desespero, mas logo se acalmou. Então passou a pensar no modelo do cartaz que havia visto antes, logo alguns sons estranhos soaram, ele viu tudo com seus olhos. Todo o processo de sua aparência deformando-se e alterando-se, até se tornar um jovem rapaz com um belo rosto.
Billy estava aturdido, sem saber como estava fazendo aquilo. Mas logo deu dois tapas em seu rosto, tentando recuperar o foco.
— Eu tenho que sair daqui… — pensando sobre o que havia acabado de acontecer, sentiu-se estranho. Mas rapidamente ajustou suas roupas e saiu do banheiro.
Quando voltou à fila, as duas garotas não estavam em lugar algum. Mesmo que tenha acontecido tanta coisa, havia passado apenas alguns poucos minutos, mas deveria ter sido suficiente para ambas já terem ido embora.
— Ei, aqui. — De repente ouviu algo, olhando para a entrada do mercado, viu Mendy acenando com a mão, então aproximou-se. — Imaginei que você não estava se sentindo bem, então passei suas compras pra você — disse, entregando algumas sacolas.
Billy ficou aturdido, ninguém jamais fez algo assim por ele.
— Me desculpe pelo incomodo, vou procurar algum caixa eletrônico e já te pago.
— Não precisa, se você quer me pagar, que tal ir lá em casa hoje? Eu e uns amigos vamos beber e conversar, seria interessante ter você lá. Certo, Vanessa?
— Claro, seria muito bom. — A garota chamada Vanessa disse, um sorriso encantador em seu rosto, completamente diferente do tratamento anterior.
— Tudo bem então… — Depois de concordar, Billy pegou o endereço das meninas e despediu-se.
Algum tempo depois, ele estava em sua casa. Parado em frente a seu espelho, a aparência do jovem modelo ainda mantinha-se.
— Que porcaria está acontecendo comigo? — disse, sua mente estava aturdida e em choque com tudo que aconteceu mais cedo.
Apesar de chocado e da estranha experiência de antes, um estranho sorriso abriu-se em seu rosto. Tudo que Billy sempre quis foi ser uma pessoa diferente. Ele não sabia como, nem porque, mas isso havia realmente acontecido!
Pegando seu celular, começou a pesquisar coisas como mudança de aparência, mudança de corpo e coisas do tipo.
Depois de mais de uma hora pesquisando, viu um artigo que chamou-lhe a atenção.
— “Os morfos estão entre nós” O que isso significa? — perguntou-se, então logo começou a ler.
O artigo dizia que algumas pessoas nasciam com a estranha habilidade morfo, um condição física que permitia o indivíduo transfigurar seu corpo a seu bel prazer. Não só mudando a aparência externa, era mais como uma mudança molecular. Os morfos eram como pessoas normais, mas quando atingiam a maturidade aos vinte anos, tornavam-se conscientes de suas habilidades.
Apesar de tratar sobre os morfos de forma levemente científica, o artigo também era extremamente agressivo e falava que eram criaturas perigosas que não hesitavam em tomar a identidade de pessoas.
Apesar do longo artigo com uma série de informações, a maioria dos comentários era de ridicularização. Muitos chamando o autor de louco ou que deveria ter tomado alguma substância alucinógena. Alguns até diziam que ele era tão doente que deveria escrever uma webnovel.
— Tomar a identidade? — Billy pensou, um turbilhão de pensamentos passando por sua cabeça.
Indo até a frente do espelho, pensou em seu ídolo, Thoma Ti, um famoso cantor de músicas pop. Assim que o fez, sua aparência de jovem modelo começou a se transformar e mudar. Sua pele escureceu, cabelos faciais cresceram em seu rosto.
Em poucos segundos ele havia se transformado numa pessoa completamente diferente. Um homem negro com cavanhaque.
— Eu sou Thoma Ti! Não acredito. — falou, entusiasmado. — Mas não esta certo, mesmo que sejamos iguais minha voz é compl-.
Cof! Cof!
Antes de Billy pudesse terminar, sua garganta ardeu e uma leve tosse o atingiu.
— O que foi… Isso? — Ouvindo sua própria voz, ficou perplexo, estava identica a seu ídolo. — E se eu…
Logo Billy começou a cantar alguns trechos das músicas mais famosas de Thoma Ti, para sua surpresa ele conseguia imitar em quase 90% o tom vocal. Só não era perfeito devido a nunca ter tentado cantar, mas tinha certeza que se praticasse ficaria perfeito.
— Então é isso que eu sou, um Morfo? É tão incrível, é tudo que eu sempre quis, tudo que eu desejei.
Billy estava anestesiado de felicidade, finalmente ele poderia ser uma pessoa normal! Viver uma vida normal como todos os outros.
Olhando para o relógio, viu que era quase o horário que marcou com Mendy e Vanessa, então apressou-se para se arrumar. Como nunca havia ido nesse tipo de interação social, não sabia o que vestir. Então simplesmente pegou suas roupas mais novas.
Bem quando estava prestes a sair, congelou abruptamente, então lembrou que ainda estava com a aparência de seu cantor favorito. Começou a rir constrangido, que tipo de cena ele faria ao sair com o rosto de uma super celebridade?
Logo retornou ao rosto do modelo, que era a aparência que as garotas conheciam.
Ao chegar à festa, Billy sentiu-se tímido, mas logo foi recebido por Vanessa e Mendy, as duas garotas foram extremamente gentis. Não só elas, mas várias outras garotas estavam sendo muito simpáticas, puxando conversa e brincando. Chegou a um ponto em que os rapazes pareciam até descontentes com a situação.
“Isso tudo é por causa do meu rosto?” pensou, era a primeira vez que ele sentia orgulho de sua aparência.
O rosto monstruoso que tinha até então, foi enterrado no fundo de sua mente, ele nunca mais queria se tornar aquele Billy, pois agora ele era um novo Billy.
Em meio a bebidas e conversas, sua mente chacoalhou, tudo girava.
Mesmo que a contragosto das demais garotas, Mendy o levou para o quarto. Logo Billy viu-se nu, de frente para uma linda garota.
Sentindo o toque macio, o calor em seu corpo e a expressão que ela fazia, ficou imerso num torpor de prazer. Essa era sua primeira vez, ou melhor, a primeira vez como um homem.
“É assim que é estar com uma mulher.” Os movimentos bruscos de seu corpo, enquanto a olhava nos olhos, fazia seu coração disparar. “Foi isso que ele sentiu?” pensou, lembrando-se do acontecido no banheiro. Nesse momento ele estava na mesma posição que aquele homem, olhando para o mesmo rosto.
Vendo isso, Billy não conseguia culpá-lo, se ele estava tão atraente naquele momento quanto Mendy estava agora podia compreender o que era ser tomado pelo desejo. Algo o qual ele nunca havia provado antes.
Ironicamente ele, que sempre achou que jamais se relacionaria com alguém, foi muito além do que as pessoas comuns experimentaram. Durante o dia ele teve sua primeira vez como uma mulher e, durante a noite, como um homem.
Depois daquele dia, Billy sentiu que queria provar o que tinha de melhor no mundo. Sentiu que não precisava mais se esconder numa pequena casa suja, ele poderia ser uma pessoa livre.
Nos próximos dias ele saiu, conheceu pessoas diferentes, se tornou pessoas diferentes. A cada dia ele usaria um rosto novo, tentando conseguir novas experiências.
Inicialmente ele sempre usaria rostos masculinos, por vergonha do que aconteceu em sua primeira transformação. Além disso, ele havia nascido como um homem, logo aquilo era estranho.
Porém, ao se recordar de sua primeira vez como uma mulher, sentiu um calor adverso e intenso, muito mais forte do que em suas experiências masculinas. Então decidiu arriscar-se.
Numa noite saiu com um rosto e corpo feminino, conheceu alguém em um bar noturno e naquela noite, teve sua segunda experiência como uma mulher. Apesar de estranho e vergonhoso, sentiu que as sensações eram muito mais fortes e prazerosas.
Logo, seis meses se passaram. Sentado no sofá de sua casa, Billy tinha um sorriso no rosto, atualmente ele usava a aparência de um jovem rapaz maduro e elegante.
— Essa vida finalmente está valendo a pena, tudo que eu passei não foi em vão, hahaha.
Enquanto ria de velocidade, seu telefone tocou, quando viu o numero, sua expressão congelou, era seu pai. Em meses sua família nunca o contatou, nunca entrou em contato.
Quando tinha a aparência monstruosa, sentiu que era indigno de estar ao lado deles e que só causaria mal, então contentou-se em viver isolado.
Depois, quando obteve a sua habilidade morfo, resolveu assumir uma aparência estranha a seus pais e ver como estavam, então ele finalmente entendeu porque não o visitavam mais. Eles haviam tido uma criança, um novo filho.
Depois de ter um novo filho, era como se ele não existisse mais, ele era uma aberração que deveria ser esquecida. Saber disso deixou Billy triste e com raiva, mesmo que estivesse feliz com sua nova vida como um morfo, isso ainda era um peso em seu peito.
— Alô, pai? — disse, hesitante.
— Billy… Como você está? — Uma voz grossa e familiar soou no telefone.
— Estou bem, pai. Apenas seguindo com a vida. — Apesar de estar vivendo uma vida melhor, ele não se atrevia a falar de sua habilidade, nem mesmo para sua família.
— Bem Billy, tem algo que preciso falar…
Naquela noite seu pai contou que estavam passando por dificuldades financeiras e teriam que parar de mandar-lhe dinheiro. Ele suspeitou que havia algo de errado quando o dinheiro não caia em sua conta no dia certo, até então estava sobrevivendo com sobras de comida. Até então, devido às suas descobertas recentes, não foi um problema, mas tudo mudou depois dessa ligação.
Ouvir aquilo fez seu coração doer, fez seu coração sangrar, isso porque seus pais não sabiam que ele tinha desenvolvido a habilidade morfo e que agora poderia ser uma pessoa normal, então o que seu pai disse não foi diferente de dizer que estavam o abandonando, o largando para morrer sozinho. Como uma pessoa com sua antiga aparência poderia sobreviver?
— Entendo, dificuldades financeiras, certo? Certamente criar um novo filho deve ser caro. — disse, com uma voz incomum, numa mistura de tristeza e raiva.
— O que? Como você…
Antes que seu pai pudesse terminar, desligou o telefone. A partir daquele dia ele estava sozinho, não havia mais ninguém além dele.
Na manhã seguinte abandonou sua casa, levando apenas as roupas do corpo e seu celular. Ele não tinha nenhum bem de valor, ou qualquer coisa que quisesse levar consigo.
Caminhando pelas ruas, perdido e aturdido, não sabia o que fazer ou como prosseguir a partir dali.
— O que eu faço? Talvez arrumar um emprego? Com essa aparência não deve ser um problema, mas… Eu sinto fome agora… — Sentindo seu estômago roncar, sabia que não poderia trabalhar um mês inteiro para receber seu pagamento, até lá já teria morrido de fome.
Indeciso sobre o que fazer, Billy vagou até o anoitecer. Nesse ponto sua fome e sede era tanta que suas mãos estavam trêmulas. Naquela noite dormiu ao relento numa pequena praça.
No dia seguinte o mesmo se repetiu, não suportando mais a fome o devorando, entrou em um pequeno restaurante, então pediu por uma série de pratos e bebidas. Somente ao terminar de comer e beber, que viu-se enrascado, desde que seu pai não depositou dinheiro naquele mês, ele não tinha mais um centavo sequer.
— Merda, e agora? — disse, nervoso consigo mesmo.
Depois de algum tempo, sentado sem pedir nada, o garçom começou a lançar olhares estranhos para o jovem rapaz caucasiano, principalmente depois de ver que o mesmo parecia ansioso.
— Senhor, faz mais de uma hora que não pede nada, gostaria de fechar sua conta? Posso trazer sua comanda.
Ouvindo isso, Billy congelou.
— Certo… Pode trazer.
Depois que o garçom saiu, sentiu sua barriga cheia de comida embrulhar. Então levantou-se e foi até o banheiro. Nesse ponto, o garçom que estava no balcão fazendo a comando olhou de canto de olho, atento.
Trancando-se no banheiro, Billy não sabia o que fazer. Se ele saísse agora, o garçom pediria que pagasse por tudo que comeu e se descobrisse que não tinha dinheiro, com certeza chamaria a polícia. Atualemente seu rosto era completamente diferente de seus documentos, se fosse pego pela policia não saberia explicar.
— Espera, e seu eu…
Depois do rapaz ficar quase meia hora no banheiro, o garçom começou a ficar irritado, então chamou o gerente.
— Então o garoto quer sair sem pagar?
— Isso mesmo senhor, ele está no banheiro agora.
— Bem, vamos resolver isso.
Os dois foram acompanhados do segurança, parando a frente do banheiro.
Bam! Bam!
— Rapaz, saia daí agora. Se não pagar sua conta, nem pense em sair.
De repente a porta abriu-se, quando o garçom viu a pessoa que saiu, ficou chocado. Uma linda mulher loira.
— Com licença? — A jovem disse, com um rosto franzido.
O gerente olhou de forma questionadora para o garçom, ele havia dito que era um rapaz no banheiro.
— Desculpe, talvez tenha havido um engano aqui. Um rapaz que fez alguns pedidos entrou nesse banheiro, achamos que ele queria sair sem pagar.
Ouvindo isso, ficou levemente surpresa.
— Não sei do que estão falando, só vim nesse lugar para esperar meu namorado, marcamos aqui.
— Senhora, você tem certeza que não tem mais ninguém aí dentro?
— Huh! Que tipo de tratamento é esse? Não vou ficar mais nesse lugar um minuto, vou ligar para o meu namorado e marcar em outro lugar, num restaurante mais decente. — A jovem gritou, bufando de raiva.
Enquanto a mulher saia, o garçom notou algo, a roupa que ela usava parecia ser masculina, muito parecida com a do jovem de antes. Ele pensou em dizer algo, mas logo ouviu os gritos do gerente, enfurecido com a confusão.
Saindo do lugar, Billy estava encharcado de suor frio, ele nunca mentiu ou roubou na vida, ainda mais mentiras como essa, mas agora ele fez ambas as coisas, ao mesmo tempo.
Apesar de estar se sentindo um pouco mal, também estava cheio de adrenalina. Ele nunca havia pensado em usar sua habilidade morfo para conseguir coisas. Logo uma série de pensamentos passaram pela sua cabeça.
— Essa é minha habilidade, meu dom. Depois de viver tanto tempo sofrendo, eu mereço isso! Eu vou conseguir tudo que eu quero, tudo que eu mereço!
A partir de então, Billy começou a usar sua habilidade das mais diversas formas. Às vezes conseguindo jantares grátis de rapazes assumindo a aparência de uma linda garota. Às vezes fingindo ser um jovem rico em uma loja de roupas, então saia com uma aparência feminina, carregando as roupas que havia pego.
Ele aprendeu a mentir, a dissimular, a atuar, conseguindo tudo que queria com sua habilidade.
Em um certo dia, depois de passar mais de uma semana observando o dono de um comércio, ele o viu saindo do local de trabalho. Aquela foi uma oportunidade, ele entrou no comércio com a aparência do homem e foi direto para seu escritório.
Com o rosto do dono, ninguém o parou ou o questionou. Então, dentro do escritório, chamou o gerente. Pediu que o homem reunisse todo o dinheiro do caixa e entregasse a ele. Apesar de confuso, o sujeito fez como pedido. Tendo o dinheiro em mãos, Billy foi embora.
Vendo a somatória de mais de vinte mil sem suas mãos, um largo sorriso preencheu seu rosto. Com aquilo ele nunca mais precisaria se esgueirar por aí.
Naquele mês Billy alugou um apartamento de luxo para si. Apesar de dizer que nunca mais roubaria, ele logo viu-se num ciclo vicioso. Todas as semanas ele estudaria uma pessoa rica diferente, transformando-se em pessoas ao seu redor. Então conseguiria informações a seu respeito e como conseguir dinheiro com isso.
Algumas vezes ele roubaria, outras vezes chantagearia, algumas vezes ele até pedia dinheiro emprestado fingindo ser um familiar. Dessa forma ele logo se transformou num criminoso, conseguindo tudo que queria. Logo, dois anos se passaram.
Boatos espalharam-se pela cidade, sobre uma gangue de criminosos que roubava dos mais ricos. Algumas vezes os membros dessa gangue se apresentavam como Billy, outras como Belly e às vezes como Blue, então as pessoas os nomearam como Billy Belly Blue.
Ninguém sabia quantos membros tinha essa gangue, ou como eles agiam, apesar disso o nome Billy Belly Blue tornou-se conhecido, todos os mais ricos temiam ser alvo, evitando que pessoas desconhecidas entrassem em seu meio social.
Sentando na luxuosa sala de estar, bebendo uma taça de vinho, um jovem moreno sorria.
— Huh, se vocês me vissem agora, pai, mãe. Eu não preciso de vocês, eu tenho tudo que preciso, tudo. — disse, rindo. Apesar da risada, sentia seu peito pesado.
Billy havia conseguido algum dinheiro e conforto, além disso, se ele quisesse se deitar com um homem ou mulher, ele o faria facilmente. Ele tinha tudo que queria, tudo que sonhou. Apesar disso, sentia-se sozinho, sem alguém para chamar de família.
No mesmo condomínio que Billy vivia, dois homens estavam num quarto escuro, olhando para telas de computador.
— Parece que o alvo está em seu apartamento. Ja temos a confirmação? — Um dos homens perguntou, um sujeito com uma cicatriz no rosto.
— Sim, ja confirmei. Com certeza é um maldito morfo. Temos rastreado essa coisa a meses, finalmente encontramos onde ele se esconde. Verifiquei o registro de todas as câmeras de segurança, a cada poucos dias ele sai com um rosto diferente, não há dúvidas — O outro homem respondeu.
Ouvindo isso, o sujeito com a cicatriz sorriu, seu rosto mostrava uma certa brutalidade.
— Então vamos acabar com isso.
— Senhor, pela investigação, esse morfo tem feito alguns crimes, mas ele nunca matou. Qual procedimento vamos adotar? —
O homem com a cicatriz tinha uma expressão escura.
— Se ele matou ou não, não me importa. Se ele é um morfo, precisa morrer.
Billy estava em seu apartamento, tomando banho em sua luxuosa banheira. De repente, a energia caiu.
— Que merda é essa? — Levantando-se apressado, pegou um celular, para iluminar o local. — Droga, eu pago tanto dinheiro por esse apartamento e ainda deixam faltar luz, que piada.
Saindo do banheiro, foi em direção ao quarto para vestir algumas roupas. Porem, quando estava passando pela sala ouviu algum barulho.
Boom!
De repente a porta abriu-se, assustando-o. Então viu dois homens, armados, entrando no local. Billy sentiu seu coração encher-se de medo, sem pensar duas vezes correu.
Bang!
Um dos homens disparou, ele sentiu uma forte dor no peito direito e algo quente e molhado espalhando-se por seu corpo.
“Não… Não!”
Desesperado, correu para a varanda, enquanto o fazia sentiu sua visão nadar. Alguém estava tentando matá-lo e havia atirado nele!
Trancando as portas atrás dele, continuou correndo, porém, quanto mais o fazia, mais sua visão embaçava. De repente, tropeçou e caiu. Sua visão começou a nadar e seu corpo parecia estar fraco e sem forças.
— Então é assim? Assim que eu vou morrer? Hahahaha, que deprimente. — disse num tom baixo.
Pensando sobre sua vida, como ele viveu a maior parte em reclusão e depois de conseguir sua habilidade passou a viver roubando dos ricos, afundando-se num mar de desejos carnais e materiais. No fim, percebeu quão fútil isso foi, ele não havia conseguido nada, não havia deixado nada para trás.
Lembrando de sua família, seu pai, sua mãe e seu irmão. Ele nem havia conhecido seu irmão mais novo, isso causou-lhe remorso. Lágrimas começaram a fluir de seus olhos, então começou a chorar como uma criança.
— Eu… Não quero morrer!
Os dois homens levaram algum tempo, mas logo arrombaram as portas. Entrando no quarto, que tinha a varanda aberta. Viram um corpo deitado no chão, de bruços. Era um jovem rapaz, a ferida em seu ombro esquerdo era visível.
Um dos homens chegou próximo, então chutou o corpo.
— Parece que ele morreu de hemorragia.
— Hah, melhor para nós. Mas só por garantia… — disse o homem com a cicatriz, apontando a arma.
Bang! Bang! Bang!
Disparou três vezes contra o corpo no chão, todas na cabeça.
— Isso era mesmo necessário? O morfo ja estava morto.
— Não, mas eu queria.
De repente, o corpo do jovem morto no chão começou a derreter. Ambos os homens assustaram-se, então se afastaram. Logo tudo que restou foi um monte de liquido.
— Que merda foi essa?
— Não faço ideia, já matei alguns morfos, mas essa foi minha primeira vez com algo assim. — O homem com a cicatriz disse, com um rosto confuso.
— Tanto faz, vamos embora. Logo a policia chega, temos que apagar as evidências. — O outro homem disse, olhando o relógio em seu pulso.
— Certo… — Enquanto olhava para o lugar onde outrora havia um corpo, algo veio a sua mente. — O tiro que eu dei, acertou o peito direito? Ou o esquerdo? — O sujeito com a cicatriz perguntou.
— O que? Do que você tá falando? — De repente ambos ouviram sons de sirene ao longe, suas expressões mudaram, então correram para fora do lugar.
Antes de sair, o homem com a cicatriz deu uma última olhada para o chão, então foi embora.
…
Alguns anos depois.
Em um parque, um jovem rapaz parecia inquieto. Olhando para as pessoas que cruzavam para lá e pra cá, sentiu-se triste e cansado.
Suspira.
— Eu odeio a minha vida. — disse, num tom aborrecido.
— Alguem tão novo e jovem como você não deveria dizer algo assim.
Uma voz soou atrás de si, virando seu rosto, viu uma linda mulher o observando. Ela vestia um vestido florido e tinha um belo sorriso. O jovem ficou aturdido por um momento, mas balançou a cabeça.
— Você nem me conhece dona, ser jovem não é sinal de ser feliz.
— Oh, por que você diz isso? — A moça perguntou, com um sorriso no rosto, sentando-se ao seu lado.
O jovem a olhou, sem entender, Por que uma bela mulher como ela começaria uma conversa com alguém como ele? Talvez ela só estivesse entendiada?
— Você quer mesmo saber?
— Claro, por que não? — A mulher respondeu, com um sorriso gracioso.
Vendo isso, o rapaz confirmou, ela era apenas uma transeunte entediada que queria conversar. Pensando nisso, ele não viu mal em contar um pouco sobre si, afinal quando ele levantasse desse banco e fosse embora, nunca mais se veriam novamente.
— Bem, é por causa dos meus pais, sabe, eles põem muita pressão em mim. Sempre me sufocando, não me deixam sair com meus amigos, não me deixam me divertir, eles não me deixam viver. Porra, eu ja tenho 16 anos. — o rapaz disse, irritado.
— Talvez eles só estejam preocupados com você.
— É, eu sei, mas isso não torna menos irritante. Acho que é tudo por causa dele, do meu irmão.
— Seu irmão?
— Sim, eu tinha um irmão. Ou pelo menos é o que me falaram, já que não tem fotos dele em lugar algum.
— Oh, e o que aconteceu com ele? — A mulher perguntou, curiosa.
— Não sei… Ele desapareceu. Às vezes pego minha mãe chorando sozinha, lembrando dele.
A sobrancelha da mulher arqueou levemente.
— Como isso aconteceu?
— Bem, parece que ele tinha uma doença rara. Devido a isso resolveu morar sozinho. Um dia o pai teve que fechar seus negócios por causa do governo multando-o. As coisas parecem ter ficado apertadas, então o pai ligou para ele, explicando o motivo de não poder ajudá-lo naquele mês. Então o pai e a mãe iriam chamá-lo para voltar a morar conosco, mas antes que pudessem fazer isso, meu irmão desligou e nunca mais entrou em contato. Mesmo quando foram à velha casa em que ele morava, só encontraram um lugar vazio. Eles o procuraram por muitos anos, mas no fim nunca o encontraram. — O garoto explicou, quando terminou de falar, olhou para a mulher, apenas para se surpreender.
— Moça, por que está chorando?
A mulher tinha um par de lágrimas, que escorriam por suas bochechas delicadas.
— Nada, só achei uma história triste. — respondeu, enxugando as lágrimas em seu rosto.
— Nossa, você é bem sensível. Mas sim, acho que é um pouco triste. — O rapaz disse, sem saber como prosseguir, então pegou seu celular, olhando para a hora se surpreendeu. — Bem, está tarde, tenho que ir, ou a mãe vai surtar de novo.
— Entendo, não a deixe esperando, vá em segurança.
O garoto se levantou, então antes de sair, olhou para a mulher de vestido florido.
— Obrigado por me ouvir, acho que me sinto melhor. Por sinal, eu não te disse o meu nome. Eu me chamo Bob William´s, como você se chama?
A mulher que estava sentada, surpreendeu-se, mas então sorriu. Seu olhar gentil encontrou-se com o do garoto.
— Meu nome? Bem, as pessoas costumam me chamar de Billy, Billy Belly Blue, mas você… Pode me chamar de irmã mais velha.
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