Índice de Capítulo

    A lâmina avançou por entre as partículas suspensas no ar, mas não rompeu o domínio já estabelecido. A Flor de Lótus girava em torno de Mavie em uma órbita precisa; suas camadas giratórias constituíam estruturas estabilizadas por um campo vetorizado de polarização positiva.

    O atrito entre as forças energéticas criava ondas de distorção em que o ar vibrava em linhas tortas, comprimido pela tensão dos elementos conflitantes. Azuis saturados fundiram-se em tons violáceos profundos ao ritmo de pulsos que traziam a marca de um mecanismo de absorção sistêmica. A Flor de Lótus operava com base em uma conversão energética onde o campo absorvia a força negativa e a transformava em um fluxo vital de ataque em inércia latente. Uma pressão negativa contínua empurrava o espaço interno da barreira, anulando o movimento da lâmina na fração de segundo em que sua ponta cruzou a borda.

    O contato em si não gerou clarões, tampouco impacto. A katana tremulou na mão de Mandy, uma vez que toda a sua força fora extraída. A carga negativa que sustentava seu ataque escapava em filamentos diminutos, sugada pelas pétalas orbitais da técnica inimiga. Uma a uma, elas se fecharam ao redor do aço para encapsulá-lo num invólucro selador que impedia a reemissão energética.

    “Respire!”

    Instintivamente, Mandy recuou, ainda atônita com a súbita neutralização de seu ataque. A katana, mesmo presa nas suas mãos, já não lhe pertencia mais. Era como se a própria arma tivesse se tornado um peso morto em suas mãos.

    Todos os músculos clamavam por uma reação rápida, todavia o pânico aflorava em sua mente como veneno.

    Ela sentiu uma estranha tração. Seu corpo era puxado para frente. Para a lâmina. A barreira a impelia contra sua própria arma, um arrasto gravitacional invertido que a ameaçava tirar do eixo.

    “Respire e se concentre!” 

    Mavie manteve os braços erguidos, os dedos movendo-se sutilmente, controlando a barreira. Sabia que precisava agir antes que Mandy encontrasse um meio de recuperar o equilíbrio.

    — Sieg Heil! 

    Num estalar de dedos, o fluxo alterou.

    A estrutura da Flor de Lótus recolheu as pétalas translúcidas em curva espiralada. O núcleo condensou-se numa esfera temporariamente oclusa, onde o volume de energia absorvida se comprimia até atingir um limiar crítico. Toda carga negativa retida foi redirecionada, reorganizada em alinhamento vetorial, e então ejetada numa onda de retorno.

    Uma massa luminosa concentrada e comprimida ao ponto de fusão interna explodiu à frente, rompendo o espaço entre elas num único pulso e atingindo Mandy em cheio. A trajetória do corpo dela foi desenhada no ar com brutal clareza, como um projétil disparado pela força de um aríete. 

    Seu corpo tombou no chão e quicou sem parar, até a colisão final prendê-la à parede. O mundo girava em torno de eixos desfigurados. Sua audição ia se tornando mais distante. A katana escapou de sua mão juntamente às faíscas energéticas escuras que ainda tremeluziam em ritmos residuais ao longo da lâmina inativa.

    Ao longe, Mavie não se moveu. A barreira se desmanchava em fragmentos de luz suspensos no ar em forma de partículas dissipadas aos poucos. Ela respirava fundo, sentindo a técnica se desfazer por exaustão natural. Sem celebração ou alívio, ficou apenas a certeza de que o ciclo da energia cumprira seu papel.

    A arma, agora sem brilho, repousava no chão, desligada do campo vital de sua portadora.

    — HAHAHAHA!

    A gargalhada de Mavie reverberou pelas colunas imponentes do museu, cortando o ar carregado de poeira e memória como um chicote estalando contra pedra fria. Não havia humor ali, apenas escárnio. A boca coberta por batom carmesim se curvou em um sorriso que não pertencia a um ser humano, mas a algo faminto, algo que se alimentava da dor alheia.

    — Olhe para você. — Sua voz deslizou pelo ambiente, suave como veneno dissolvido em mel. — Tentando lutar, tentando provar que ainda tem algum valor. E para quê? Para morrer aqui, esquecida, como todo o resto que foi esmagado sob o peso da história?

    O salto da bota de couro negro esmagou o ombro de Mandy, cravando-se na carne já arroxeada pelas pancadas anteriores. Um estalo abafado ecoou por seus ossos, e o peso de Mavie forçou-a contra o mármore rachado.

    Seu arfar ao tentar puxar ar para os pulmões deixou um gosto amargo de sangue em sua língua. Conforme tentava levantar o corpo, ondas cortantes de dor subiam, como se sua própria estrutura estivesse cedendo ao castigo.

    — Você sabe por que estamos aqui? — Mavie abaixou-se ligeiramente. — Por que a Alemanha nunca perdeu? Porque entendemos o que ninguém mais entende. O mundo pertence aos que o tomam à força. Democracia, liberdade, igualdade… 

    Ela riu novamente, deslizando o polegar pelo próprio queixo, como se limpasse a impureza daquelas palavras. 

    — Ilusões que vocês inventaram para se sentirem seguros. E no fim, o que resta? — Mavie pressionou o peso sobre o ombro de Mandy, inclinando-se para sussurrar junto ao seu ouvido. — Resta poder. Resta quem tem a coragem de matar.

    O brilho pálido da lâmina era refletido pela luz do museu, brilho este a poucos metros do alcance de Mandy. Para ela, mover-se era um esforço tortuoso, pois os músculos queimavam sob a pele marcada por cortes e hematomas. Mesmo assim, seguia adiante, centímetro por centímetro, enquanto Mavie caminhava pelo salão, perdida em sua própria pompa.

    Mavie deslizou os dedos enluvados pela superfície de vidro que cobria os artefatos de guerra. Os objetos, empoeirados pelo tempo, eram resquícios de um conflito que moldara o destino do mundo. Capacetes amassados, condecorações polidas pelo toque de curiosos, baionetas cegas que um dia rasgaram carne viva. Entre tudo aquilo, repousava uma insígnia dourada da Wehrmacht, ainda reluzente sob a luz fraca do museu. 

    Ela a pegou e girou o metal entre os dedos.

    — Engraçado, não acha? Vocês tratam isso como se fosse uma relíquia inofensiva. Como se pudessem reduzir a grandeza do Reich a meras peças de museu. Como se o passado estivesse morto.

    Lançou um olhar de relance para Mandy, cujos lábios carmim se curvavam em um sorriso preguiçoso ao vê-la ainda tentando respirar. A garota não gemia nem suplicava, mas seus pulmões trabalhavam como se cada respiração exigisse um esforço sobre-humano.

    — Mas olhe para você. No chão. Ensanguentada. E eu? De pé. Com meu uniforme intacto. Me diga, isso lhe parece um passado distante?

    A insígnia deslizou de seus dedos e caiu sobre a mesa em um som metálico seco. Seus olhos voltaram-se para o salão, absorvendo as imagens estampadas nos cartazes amarelados: homens loiros e bem-apessoados seguravam bandeiras estendidas, com olhos claros voltados para o horizonte, demonstrando uma determinação inquebrantável.

    Sua caminhada a levou até um grande mapa afixado na parede. O dedo traçou as fronteiras modificadas e os territórios conquistados. França, subjugada ao Reich. Rússia, despedaçada, com seus czares substituídos por governadores leais à causa. A Inglaterra, outrora indomável, agora se mostrava um cão obediente.

    — Moscou caiu primeiro. Depois disso, o que restava da guerra já não passava de um teatro patético. Os aliados insistiram, mas era tarde. E sabe o que foi curioso? — Virou-se ligeiramente, lançando um olhar casual por sobre o ombro. — Quando Washington finalmente sucumbiu, já não havia ninguém para lutar. Os soldados estavam mortos. Os líderes, desaparecidos. Sobrou o quê? Civis assustados, esperando pelo inevitável.

    As palavras fluíam com uma naturalidade cruel, como se estivesse narrando uma história distante, sem envolvimento emocional. Caminhou até outra vitrine, onde descansava um diário de páginas amareladas. Seu olhar se iluminou por um breve instante.

    — Himmler… — sussurrou com reverência que se dedicava a um mártir. — Ele sabia. Sempre soube. A vitória não estava apenas nas armas. A verdadeira guerra era pela mente. Pelo controle absoluto. E conseguimos.

    Enquanto falava, Mandy moveu-se. Milímetro por milímetro, sua mão trêmula se arrastou pelo chão polido, os dedos deslizando pelo mármore frio na direção da katana caída tão perto agora.

    — Vocês perderam por serem fracos. Incapazes de fazer o necessário. Incapazes de entender que o mundo pertence àqueles que tomam e só usam palavras vazias para justificar a submissão.

    Suas botas ecoaram pelo salão enquanto passava por manequins uniformizados, vestindo as réplicas das fardas que um dia marcharam sobre os campos da Europa. Manteve o olhar fixo em Mandy, observando a forma como a garota, mesmo quebrada, ainda rastejava.

    — Sabe o que mais me diverte? — Mavie virou-se lentamente e cravou o olhar na figura ensanguentada diante dela. — Vocês perderam porque eram fracos. Porque não tiveram coragem de fazer o necessário. Agora, seu passado virou peça de museu. Seu povo, sombras do que já foram.

    Mandy cerrou os dedos ao redor do cabo da katana. O metal frio pulsava contra sua pele, como se reconhecesse a urgência do momento. 

    Sob a luz pálida do museu, a lâmina brilhou, refletindo as vitrines quebradas e os destroços espalhados pelo chão de mármore rachado. 

    O peso sobre seus músculos não era apenas físico, mas existencial. Estava ali, viva, contra todas as probabilidades, suportando um destino que não havia escolhido, mas que, naquele instante, tornava-se inevitável.

    — E eu? 

    Mavie virou-se, sobrancelhas ligeiramente erguidas, a confiança intacta. Seu olhar carregava a certeza de uma vitória escrita antes mesmo do primeiro golpe.

    — Sou o futuro.

    O mundo congelou por um instante. O ar carregava um magnetismo denso, a iminência do caos.

    A lâmina se moveu.

    Não houve tempo para reação por parte de Mavie. Um segundo antes, sua mão estava ali. No segundo seguinte, o membro decepado girou pelo ar, antes de cair no chão com um ruído abafado. Os dedos ainda crispavam no vazio, um reflexo atrasado da ordem perdida.

    O choque demorou a chegar. Os olhos dela desceram lentamente, como se seu cérebro não conseguisse processar a informação. No antebraço, onde antes havia carne, músculos e ossos interligados em um mecanismo perfeito, restava um pedaço irregular de carne, dosando o jorro de sangue em espasmos ritmados. 

    O corte fora limpo, mas não instantâneo — Mandy sentiu a resistência da lâmina ao atravessar os tendões, enquanto o osso cedia sob a força aplicada.

    O sangue escorria pela manga do uniforme, pingando no piso.

    — Ah?

    Ela piscou, o rosto um misto de incredulidade e algo próximo ao fascínio. Elevou o coto sangrento e observou a ferida qual curiosidade anatômica. Seu peito subia e descia em tremores contidos, não de dor, mas de um êxtase doentio.

    A língua deslizou pelo canto dos lábios, coletando o fio de sangue que escorria de um corte secundário em sua bochecha. O gosto ferroso lhe trouxe um arrepio sutil.

    — Interessante.

    Os olhos dela se estreitaram ao encarar Mandy, que permanecia de pé, os ombros tremendo pelo esforço, mas a lâmina erguida, firme, desafiadora.

    — Você conseguiu. Poderia ter decepado minha cabeça. Mas o que me surpreende mesmo é que ainda esteja de pé.

    Mandy engoliu em seco, sentindo a adrenalina vibrar em suas veias como um relâmpago prestes a fulminá-la de dentro para fora. Seu corpo já não respondia por instinto, mas por pura teimosia.

    Os olhos de Mavie resplandeceram com um equilíbrio entre irritação e desejo mórbido de saber.

    — Isso é bem estressante.

    Mandy expirou devagar, ignorando a sensação de vidro triturado dentro dos pulmões.

    — Você fala demais. — disse, a voz veio baixa. Um cansaço primitivo, uma exaustão que não vinha apenas da luta, mas de tudo que aquela mulher representava.

    Mavie inclinou a cabeça, estudando-a, esperando mais.

    Mandy não a fez esperar.

    — Você se vê como um farol da história, como se o mundo estivesse predestinado a curvar-se diante de você. Mas tudo que vejo é um cachorro de coleira tentando morder o dono.

    O sorriso da alemã vacilou.

    A garota deu um passo à frente.

    — A Alemanha venceu a guerra, mas nunca conquistou o mundo. Nunca dominou a América porque, no final, vocês eram só vermes rastejando por cima dos escombros que criaram. E acredite, se o mundo tivesse que escolher entre vocês e o caos, prefeririam o caos.

    Os olhos da mulher assumiram uma frieza cortante.

    — Cuidado com suas palavras.

    — Você devia ter tido esse cuidado primeiro.

    Pressionou o cabo da katana com força. O chão ao seu redor estava coberto de destroços e sangue, e a atmosfera estava carregada de algo que ia além da simples luta.

    Mandy, contra toda a lógica, ainda respirava.

    — O truque é encontrar o equilíbrio certo.

    O que para outros soaria como um conselho abstrato soou para Mandy como uma reafirmação. Com o corpo ainda trêmulo do impacto anterior, ela encontrou uma âncora na respiração compassada por meio de um ciclo regulado de inalação e exalação, o qual não apenas oxigenava os músculos, bem como reorientava a consciência.

    A colisão previamente alimentada por energia negativa entrou em pane. A polaridade inversa instaurada por Mandy começou a se estabilizar, reativando o movimento das cargas e desativando as lesões internas provocadas pela descarga da Flor de Lótus. A força do impacto se dissolveu em uma cascata de partículas que ardiam no ar, reduzidas a centelhas inofensivas, ainda ativa em fragmentos ao redor de seus músculos.

    A colisão entre forças opostas não as anulava completamente, apenas permitia que o corpo redirecionasse a pressão acumulada para uma válvula de alívio. A combinação de foco mental, controle respiratório e liberação harmônica de energia positiva transformava seu próprio organismo em uma unidade viva de transmutação energética.

    — Quero te dar um aviso…

    Seu olhar voltado à Mavie era intenso, cortando a fachada da alemã como uma faca afiada, revelando qualquer fio de confiança que ela pudesse ter abrigado.

    — Sugiro que abrisse bem os olhos, pois sua guarda estava lamentavelmente baixa.

    Afrontou-a com essas palavras cruelmente ditas tal como agulhas que feriram o orgulho avantajado da alemã.

    — Ou quem vai te desmembrar sou eu.

    A katana resplandeceu ligeiramente em suas mãos, readquirindo densidade energética.

    Mavie tentou emanar ainda mais de sua energia negativa para aumentar seu nível, mas percebeu que estava falhando.

    — Deve estar cansada, não é?

    Os olhos de Mandy eram duas fendas escuras, esculpidas pelo terror e moldadas por uma vontade férrea, perfurando como estiletes afiados. Suas íris, poços negros de determinação inquebrantável, reverberavam a tempestade interna que a consumia.

    Não havia misericórdia naquele olhar, somente a promessa brutal de uma catástrofe iminente. Era um olhar ardente que aniquilava a complacência de qualquer um que ousasse desafiá-la.

    Esse era o momento pelo qual ela havia esperado.

    Antes que Mavie pudesse dizer algo, ela foi silenciada pelo último ataque nomeado:

    ⌊ Corte do Vácuo ⌉

    Na visão de Mandy, a katana era uma extensão inevitável de seu próprio ser. O cabo moldava-se ao contorno de seus dedos, e a madeira revestida absorvia o calor de sua pele. 

    Ela prendeu o ar nos pulmões e baixou o centro de gravidade. Seu joelho esquerdo absorvia o peso, enquanto o direito permanecia levemente à frente, posicionado para o arranque. Seu tronco se inclinava em um ângulo apropriado que mantinha o eixo de rotação alinhado com o quadril. Todas as fibras musculares se contraíam em prontidão elástica para se converterem em uma mola prestes a se soltar.

    Em vez de logo fluir o ar para fora, a energia negativa era comprimida dentro do núcleo abdominal e rodopiava em microturbilhões que interferiam na própria atmosfera, a qual rejeitava a presença de um fator que violava sua coesão, contorcendo-se em repulsa.

    Ao finalmente expelir o ar pela boca, o espaço circundante estremeceu. A vibração não fazia parte do mundo físico; vinha da estrutura subjacente da realidade, moldada por forças invisíveis. Energia negativa se condensava ao seu redor conforme partículas subatômicas reagiam à sua presença por reconhecê-la como uma entidade antinatural. 

    A distância entre os corpos deixou de existir pelo breve instante em que foi devorada por uma fenda impalpável na tessitura do real. Entre um piscar de olhos e outro, Mandy redefiniu a posição do próprio corpo, encurtando o intervalo entre sua localização inicial e o destino com a lâmina.

    As partículas ao redor, ao serem sugadas para preencher o vazio deixado, colapsaram entre si, gerando uma linha fina de distorção visual.

    Mavie piscou. 

    Nesse lapso, Mandy repousava atrás da alemã, com a katana suspensa no ar. O corte ocorrera no instante anterior ao tempo. A garota, ofegante, somente agora retornava ao mundo que os outros ainda habitavam.

    A lâmina já havia concluído sua função antes que qualquer sinapse externa processasse o início do ataque.

    O fio atravessou pele e músculos como se cortasse seda.

    Por um segundo cruel, o corpo ainda não compreendia o que a mente já sabia segundos depois. Os olhos de Mavie arregalaram-se, os lábios abriram-se como se uma palavra pudesse escapar, mas não houve som.

    Seus dedos agarraram o próprio crânio em um reflexo vazio, tentando sustentar o inevitável. Então, a gravidade fez sua parte.

    O sangue jorrou em arcos simétricos, criando espirais carmesins no chão devido à pulsação. A cabeça despencou, girando no ar como um planeta fora de órbita. Os olhos, ainda refletindo a última incredulidade, encararam o próprio vazio, buscando um mundo que já não existia.

    Ainda imóvel, Mandy sentia o calor do sangue espirrado sobre sua pele, junto à katana ainda estendida na posição final do golpe. Seus músculos tremiam, não por causa do esforço, mas pela brutal verdade do que ela acabara de fazer.

    A garota não sentiu alívio. Não sentiu triunfo.

    — O sangue ariano… nunca será… extinto…

    Seus olhos, embora inertes, fixaram-se além, em um futuro concebido por ela, onde seus ideais prevaleceriam. As palavras desvaneceram-se como veneno que se escoa lentamente, deixando apenas um silêncio tão gélido quanto a escuridão que a consumiu.

    — Consegui… — Mandy demorou um momento para recuperar o fôlego. — … consegui.

    Outrora possante, seu corpo e mente cediam à fadiga avassaladora, uma força tão forte e implacável que nem um fragmento de resistência conseguia escapar-lhe. Cada fio de músculo, desgastado e tenso, era um testemunho das lutas que enfrentara. Claro que conquistar as últimas reservas de energia significava uma elevação do corpo e da mente, um monumento ao cansaço imposto.

    — Vamos lá… eu posso lidar com isso.

    Mandy, inabalável diante da realidade, enfrentou as limitações de sua humanidade. Envolveu-se com coragem e tenacidade numa difícil dança de luta, no entanto, o peso crescente acabou por deixar as suas pernas trêmulas.

    Pela brecha na parede aberta por Lewis e Wolfgang entrou um recém-chegado. 

    Seus olhos fixaram-se instantaneamente na imagem desolada da menina. Um turbilhão de emoções agitou-se dentro de si, enquanto a inquietude apertava seu peito. 

    Movida por uma urgência compassiva, aproximou-se dela. A sua presença procurava ser um bálsamo para a adversidade que a envolvia.

    À beira de cair, Mandy encontrou apoio quando foi apanhada pelos ombros. Quando ela cabeça para vê-la, um sorriso gentil dançou no seus lábios, olhando para ela como se esta fosse uma luz suave quebrando a escuridão.

    — Tia Raven… — murmurou, as palavras sussurradas entre suspiros exaustos, mas carregadas de reconhecimento caloroso. — Oi…

    Embora Mandy estivesse respirando pesadamente, também se sentia incrivelmente grata e à vontade na companhia de Raven. 

    Num momento de compreensão mútua, os seus olhos uniram-se e transmitiram uma linguagem sem palavras de compreensão e afeto que ultrapassava as palavras.

    Os olhos de Raven caíram sobre a forma letárgica de Mavie, e uma coisa ela entendeu: Mandy tinha-se erguido como uma força imparável, enfrentando sozinha um inimigo tremendo. 

    Ela sentiu uma onda de orgulho, não só pela sua coragem, mas também por ver que aquilo era um monumento à força e determinação de Mandy face a este obstáculo.

    — Sempre acreditei nisso. — afirmou Raven. — Você é uma pessoa forte.

    Ouvir essas palavras foi uma bênção e uma forma de afirmação de sua própria força. Seus olhos viram o brilho da resiliência que sempre esteve dentro dela, e a força de seu espírito brilhou como uma estrela, desaparecendo assim que ela fechou os olhos.

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