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    — […] É hora de essa unidade ser responsabilizada aos mesmos padrões que qualquer outra entidade governamental. Basta.

    O zumbido da TV diminuiu até se silenciar.

    Na Sala do Escritório, dentro da sede da agência, o líder da U.E.C encostava-se à mesa, que sobre ela tinha uma placa de identificação com seu nome, Arthur Hall.

    Com os ombros curvados sob o peso da exaustão. O monitor, desligado em seguida, mostrava um reflexo pálido em seu rosto cansado. Um suspiro escapou de seus lábios, carregado de decepção e resignação.

    Levantando a mão. Ele massageou as têmporas em busca de alívio para a dor de cabeça que se aproximava. As decisões tomadas nas últimas horas pesavam sobre ele como um cobertor de chumbo, e a turbulência do momento era palpável no ar.

    Franzindo a testa, levantou uma sobrancelha em sinal de desaprovação. Sua voz, profunda e resignada, ecoou pela sala:

    — Acho que já chega dessa merda. — As palavras soaram como um veredicto final, encapsulando não apenas a frustração do momento, mas também uma pitada de chateação com os eventos recentes.

    Seus olhos, como dois carvões em brasa, olhavam para Mikael e Raven.

    — Palavras vazias, né? — provocou Mikael, com um sorriso sarcástico adornando seus lábios. — Eu só quero ver se eles colocam em prática o que pregam.

    Raven lhe lançou um olhar de repreensão, com seus próprios olhos transmitindo uma mensagem clara: “Cuidado com o que você diz.”

    O sorriso dele se desvaneceu como neve ao sol. Um rubor de constrangimento coloriu suas bochechas enquanto o líder cruzava os braços.

    — Palavras vazias — Arthur falou lentamente, sua voz pingando uma mistura potente de cinismo e fúria mal contida — são como as promessas que esta nação lança como confetes.

    Ele bateu com o punho na mesa, o som ecoando pela sala de conferências estéril. 

    — Nós, mais do que ninguém, já deveríamos ter percebido essas porras pretensiosas. Hill City é uma ferida infecciosa na alma da merda desse país.

    Mikael se encolheu, a raiva pura irradiando de Arthur como ondas de calor. Raven apertou a mandíbula, suas feições ilegíveis. O olhar dele passou por eles, um predador observando a presa.

    — Isso não é um comício, senhores. Não estamos aqui para polir o cacete com chavões sobre compromisso. Precisamos de uma revisão de protocolos completa dessa máquina inchada e egoísta que chamamos de U.E.C. 

    Ele fez um gesto enfático, com os dedos tamborilando na mesa.

    Mikael inclinou a cabeça pensativamente, finalmente quebrando o silêncio:

    — Olha, eu entendo a parte sobre a revisão de protocolos, mas essa ideia de máxima eficiência e controle me parece um pouco autoritária, não acha? Quero dizer, não podemos sufocar a liberdade em nome da segurança. Já assisti a esse filme antes, e ele geralmente não termina bem.

    Enquanto falava, Mikael levantou as sobrancelhas, tentando enfatizar o ponto de vista de uma forma mais leve, mas com um toque de desafio.

    O homem ponderou por um momento antes de responder:

    — Entendo sua preocupação. E ainda assim, precisamos equilibrar segurança e responsabilidade. A eficiência é fundamental para garantir que possamos enfrentar as ameaças de forma bem-sucedida, mas concordo que não podemos cair em práticas que coloquem em risco as liberdades civis.

    Mikael cruzou os braços, ainda expressando uma ponta de desconfiança.

    — Já vimos organizações começarem com boas intenções e, no final, se tornarem uma ameaça maior do que aquela que estavam tentando combater.

    Arthur, percebendo a preocupação dele, consentiu com a cabeça. Ele estava familiarizado com as controvérsias em torno de várias organizações ao redor do mundo que desempenhavam funções análogas às da U.E.C.

    — Sim. — admitiu. — Houve… erros. Desde agências ambientais que acabaram virando fantoches corporativos até forças de manutenção da paz que se tornaram regimes opressores. Já vimos tudo isso antes.

    O tom de Arthur mudou para um tom de crítica contundente.

    — Mas não vamos fingir que o Estado tem as mãos limpas aqui. As próprias instituições que deveriam nos proteger muitas vezes nos prendem com sua interminável burocracia. Elas nos deixam para lidar com as consequências enquanto apontam o dedo e fazem perguntas. 

    — Bem, mas não podemos permitir que fiquemos paralisados pela indecisão e pelo medo de pisar em calos.

    Arthur pegou a xícara de café expresso que estava por perto e seus dedos deslizaram suavemente sobre a alça de porcelana quente.

    — É por isso que nossa unidade opera sob um controle tão rigoroso. Somos constantemente inspecionados, nossas ações são responsabilizadas por um conselho galáctico diversificado. A transparência e a responsabilidade são os pilares de nossa organização, as salvaguardas contra a erosão insidiosa de nossos princípios.

    Aproximando a xícara do nariz, ele inalou o aroma intenso e convidativo. Em seguida, levou a levou aos lábios e tomou um gole, apreciando o sabor forte e revigorante do café. Com um olhar satisfeito, colocou a xícara sobre a mesa e disse:

    — Essa é a melhor coisa que existe.

    Um sorriso malicioso se fez nos lábios de Mikael enquanto observava Arthur, o qual aparentava estar satisfeito com sua bebida.

    — Você finalmente aprendeu a fazer uma xícara de café decente. — disse ele, rindo. — A vice-líder finalmente te ensinou algo útil.

    Arthur deu de ombros, fingindo indiferença.

    — Ah… Darcy não é tão ruim assim. — respondeu, com um sorriso brincalhão. — Mas admito que ela sabe fazer uma boa xícara de café que deixa qualquer italiano de queixo caído.

    Mikael se inclinou para a frente, com um ar conspiratório nos olhos.

    — Então, me diga a verdade… Você deu em cima dela para aprender a fazer café, não foi?

    Ele se engasgou com o café e seus olhos se arregalaram de surpresa.

    Ahem

    A conversa entre ambos foi interrompida por um pigarro seco. Raven, que até então se mantinha em silêncio, observando a troca de ideias entre os dois, decidiu intervir.

    — Entendo a necessidade de aumentar a eficiência, mas não podemos ignorar o papel crucial que a confiança do público desempenha em nossas operações. Se iniciarmos uma onda de restrições às liberdades em nome da segurança, corremos o risco de criar um ambiente permeado pelo medo e pela desconfiança. Isso não apenas prejudicaria nossa imagem pública, mas também teria um impacto negativo na eficácia de nossas ações.

    Seus olhos, como faróis em uma tempestade, olhavam firmemente para o Arthur, transmitindo a magnitude da importância de suas palavras. Ao lado dela, Mikael, reconhecendo a sabedoria que emanava de Raven, sorriu presunçosamente, direcionando seu olhar para o mesmo. Em seu gesto, surgiu uma mensagem clara: “Ela está certa, e você sabe disso”.

    — E considerando a história controversa de algumas organizações semelhantes — continuou —, não podemos ignorar os perigos inerentes à centralização do poder. É essencial que implementemos mecanismos para evitar abusos e garantir a transparência de nossas ações. Uma revisão dos protocolos é necessária, sim, mas com um foco especial nesses aspectos cruciais.

    Arthur, que a estava ouvindo atentamente, pronunciou-se:

    — Você levantou questões muito importantes. A confiança do público é a base do sucesso de qualquer organização e nunca devemos permitir que ela seja corroída.

    Ele se virou para Mikael, que o estava observando, com os olhos expressando uma mistura de admiração e concordância.

    — O que você acha?

    Mikael, de sorriso ainda maroto no rosto, respondeu:

    — Essa mulher nunca fica com frio porque está sempre coberta de razão.

    Arthur riu e acenou com a cabeça, validando o que dissera.

    — Muito bem. Vamos revisar os protocolos com cuidado extra, prestando atenção especial aos pontos levantados. É crucial que a Unidade continue a ser vista como uma organização confiável pela população, um porto seguro em tempos turbulentos.

    Um sorriso sutil se formou nos lábios de Raven, um sinal de satisfação com o acordo que havia sido obtido.

    — A propósito, você fez o relatório da missão em Hill City? — perguntou Arthur.

    Ela piscou os olhos algumas vezes, recuperando a compostura.

    — Ah, sim, senhor. — Ela retirou a pasta contendo o documento de dentro de seu sobretudo e a colocou sobre a mesa, deslizando-a gentilmente para o lado dele. — Aqui está.

    Com um olhar de antecipação, Arthur pegou a pasta e a abriu, começando a folhear as páginas cuidadosamente, fazendo uma breve consulta. A cada página que virava, sua expressão ficava mais séria e concentrada.

    Depois de alguns minutos, finalmente olhou para eles.

    — Perfeitamente. Vocês podem sair.

    Suas palavras foram curtas e precisas, com um tom final. Em um aceno de cabeça, ambos se dirigiram à saída.

    A porta mal havia se fechado quando outro funcionário entrou apressado, sem cerimônia. Sua expressão trazia uma mistura de ansiedade e urgência.

    — Senhor, temos um problema. Foi enviado um convite para uma conferência de imprensa… Sobre os estragos em Hill City.

    Arthur soltou uma risada seca, quase sarcástica, enquanto se inclinava na cadeira.

    — Uma conferência de imprensa? — Ele repetiu, com uma incredulidade amarga. — Como se o circo já não estivesse grande o suficiente.

    O funcionário hesitou, ciente de que a irritação dele podia escalar rapidamente. Mas Arthur prosseguiu, afundando as mãos nos bolsos da sua calça enquanto girava a cadeira para encarar a janela.

    — Eles querem me colocar no banco de réus agora, é isso? Vamos lá, me chamem de culpado em público. Como se a solução para a merda toda fosse dar uma coletiva, jogar algumas palavras ao vento e fingir que as coisas não saíram do controle. — Ele virou-se abruptamente para o funcionário, com o rosto marcado por uma mistura de exaustão e cinismo. — E quem vai me questionar, hein? Um bando de oportunistas, ávidos por um escândalo.

    O homem engoliu seco, escolhendo cuidadosamente suas próximas palavras.

    — Parece que eles querem respostas. O Conselho está pressionando.

    Arthur soltou um suspiro longo, esfregando a têmpora com os dedos.

    — Tá, porra. Marque a merda da conferência. Que venha o show.

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