Capítulo 77 - Caçadores de Mistério V
Depois de soltar a mão de Ellie lentamente, Sam sentiu a hesitação dela antes de finalmente a deixar ir. Os seus olhos estavam fixos no chão, as pernas encolhidas contra o peito e a respiração ainda instável. Ele queria dizer que precisava de explorar a sala, ver se encontrava algo útil, mas não recebeu qualquer atenção quando se levantou.
Isso magoava mais do que devia.
Passou a mão pela nuca, onde sentia a umidade do suor e do sangue seco misturados na pele. Os dedos trêmulos pressionaram as têmporas por um instante, como se pudessem aliviar a dor latejante que lhe enchia os olhos. Depois, respirou fundo e começou a mover-se.
A Sala de Edição 2B era um caos.
Mesas cobertas por storyboards amarelados e anotações apressadas estavam espalhadas por todo canto, misturadas a copos de café fossilizados e rolos de fita magnética jogados no chão como se tivessem sido descartados às pressas.
Os armários metálicos contra a parede estavam enferrujados, alguns com as portas entreabertas, revelando fitas VHS emboloradas e pastas de documentos que perderam qualquer vestígio de organização.
Sam passou os olhos pelos pôsteres nas paredes, muitos deles desbotados e rasgados. Reconheceu alguns. Produções antigas que marcaram sua infância, desenhos animados esquecidos pelo tempo. Mas um, em particular, chamou sua atenção.
RUTH
A criatura desenhada sorria de maneira perturbadora, um arco branco e largo no rosto completamente negro. Os olhos eram apenas sombras vazias. Vestia um capuz e um cachecol, o corpo envolto em roupas rasgadas e bandagens que davam um ar desleixado e errante. A imagem parecia viva, como se o sorriso se alargasse a cada segundo que Sam fixava o olhar ali.
O coração martelou no peito, mas ele desviou a atenção. Precisava focar no que era importante.
Seus dedos percorreram a superfície da mesa em busca de algo útil. Vasculhou gavetas, empurrou pilhas de fitas e folhas amareladas, até que algo frio e metálico roçou sua mão.
Um gravador. Pequeno, portátil, escondido sob uma pilha de anotações rabiscadas. Parecia estar ali há muito tempo, mas ainda estava em boas condições. As pontas dos dedos hesitaram antes de apertar o botão de reprodução. O chiado inicial fez sua respiração prender na garganta. Então, uma voz soou, baixa, sussurrada, carregada de algo próximo ao terror contido:
— Se você encontrou isso… então talvez ainda tenha tempo. Ruth não é apenas um desenho. Ele está aqui. Eu vi. Eu juro por Deus, eu vi. Não olhe nos olhos dele. Não importa o que aconteça, não olhe. Ele percebe. Ele sente. E quando percebe que você o vê… ele nunca mais te deixa em paz.
Um silêncio se seguiu, pesado e sufocante. Sam sentiu um arrepio subir pela nuca. O peso do gravador em sua mão pareceu dobrar.
— O que foi isso? — Ellie perguntou, a voz embargada pelo cansaço e pelo medo.
— Um aviso. — respondeu, mostrando o gravador. — Alguém que trabalhava aqui. Ele falou sobre Ruth… sobre não olhar nos olhos dele.
— Olhos? Mas essa coisa nem tem olhos!
— Olha, eu… sinceramente não faço ideia. Não sei o que tá acontecendo.
A lâmpada piscou violentamente, como se protestasse contra a presença deles ali.
A sala de edição, apesar de teoricamente segura, dava a sensação de que estavam cercados por memórias distorcidas, fantasmas de algo que jamais deveria ter existido.
— Precisamos sair daqui, Sam. Eu não aguento mais.
O garoto apertou o gravador no punho, como se este fosse a chave para compreender tudo aquilo.
Os músculos do braço tremiam com o esforço de empurrar o armário de madeira, que se arrastava pelo chão de linóleo sujo. A sensação áspera do suor a escorrer pelo pescoço fez com que Sam cerrasse os dentes, num esforço concentrado para afastar a barreira improvisada.
O móvel, o qual outrora lhes havia proporcionado segurança, permitiu-lhes agora sair. Ellie, poucos passos atrás, observava a cena com o peito arfante e os olhos disparados de um canto para o outro da sala, com a sensação de que cada sombra era um prenúncio de algo que se movia na escuridão.
A fresta da porta revelou o corredor adiante, um véu de penumbra cobria as paredes manchadas pelo tempo. Sam preparou-se para dar o primeiro passo quando sentiu um arrepio nas costas. Não um daqueles arrepios naturais, fruto do medo latente, mas um aviso primitivo, um sussurro do instinto que gritava perigo.
Algo estava atrás dele.
Ellie engoliu em seco, o rosto pálido como a morte a refletir um horror que queimava na sua garganta qual grito sufocado. O seu olhar estava em Sam.
— Mas que porra é essa…?
O ser inclinou a cabeça de lado, a boca se curvando ainda mais em uma expressão que poderia ser um sorriso, se fosse menos monstruosa.
— Olhe para mim.
Ellie deu um passo para frente, as mãos tremendo ao tapar os ouvidos.
— Não… Não ouve ele! Não olha!
Sam queria correr, mas as pernas estavam presas ao chão. A sensação de ser observado pelo vazio daqueles olhos era como ser despido, arrancado de si mesmo até restar apenas medo e fragilidade.
— Há quanto tempo vocês estão aqui? — disse, sua voz deslizou pelo ar como veludo embebido em veneno, suave, mas impregnado de algo corrosivo. — Minutos? Horas? Não importa. Tempo se perde rápido por aqui. Como suas mãos, seus olhos, sua própria noção de quem você é…
A criatura se aproximou um passo.
Um estalo ecoou quando Sam forçou os músculos a obedecerem. O pé finalmente se ergueu, puxando seu corpo junto. A adrenalina rompeu a paralisia com brutalidade. Agarrou o pulso de Ellie e a puxou com força.
— Vamo!
Ambos dispararam pela porta, tendo tropeçado na própria pressa. O som de algo que se arrastava veio logo atrás, alto e animalesco.
Sam não olhou para trás. Não era necessário. A coisa que os seguia não podia ser parada.
O chão desgastado fazia um ranger ensurdecedor sob os passos apressados. O ar quente e viciado ficava ainda mais espesso à medida que o pavor dilatava os pulmões. Suas silhuetas eram recortadas contra a luz mortiça de lâmpadas que piscavam como olhos agonizantes.
A poeira flutuava em feixes de luz suja, papéis amarelados eram vistos colados às paredes por teias de aranha espessas como algodão doce. Os pés deles esmagaram vidros quebrados, cada estalo ecoando como um tiro no silêncio opressor.
— Aqui! — Sam gritou e puxou Ellie por um braço que já começava a ficar flácido de exaustão.
Ela tropeçou numa bobina de filme abandonada, com os joelhos ao bater no chão de linóleo rachado. A cena foi capturada pela câmara que Sam transportava: Ellie agachada, os olhos arregalados voltados para trás, onde a criatura se arrastava através de um movimento líquido e desarticulado, como se os seus ossos fossem feitos de borracha derretida.
— Vem, levanta!
A garota agarrou sua mão, as unhas cravando-se em sua pele como garras. Correram em direção a um vulto de luz mais forte no fim do corredor – uma janela quebrada revelando escadas de metal espiraladas.
— Segundo andar! — Ellie ofegou, os pulmões queimando com cada passo.
A criatura riu, um som que parecia brotar das próprias paredes.
— Corram, corram… mas pra onde?
Sam alcançou as escadas primeiro. Ellie subiu atrás. A câmera balançou, capturando flashes do abismo abaixo – a criatura subindo as escadas não como um perseguidor, mas como um predador, os membros alongados envolvendo os degraus como tentáculos.
O segundo andar era um labirinto de salas de edição abandonadas, portas entreabertas revelando equipamentos cobertos por panos brancos como lápides. O cheiro de mofo era mais intenso aqui, misturado a um odor adocicado de carne em decomposição.
— Ali!
Sam apontou para uma portas numeradas que alinhavam-se como lápides, até que uma placa descascada indicou a Sala de Projeção Cinematográfica. A agarrou pelo braço e trouxe para dentro.
A sala era um templo em ruínas para a sétima arte. Cadeiras de veludo rasgado inclinavam-se em fileiras fantasmas, e um projetor antigo, coberto por um pólo branco, dominava o centro.
Rolos de filme pendiam de prateleiras como intestinos expostos, seus conteúdos decompostos em fitas escuras e quebradiças. A tela de projeção, rasgada no meio, balançava levemente, como um véu em um funeral.
— Tranca, tranca!
Ellie encostou as costas na porta, os dedos procurando uma tranca que não existia. Sam empurrou uma fileira de cadeiras contra a entrada, os músculos queimando. A câmera, ainda ligada, pendurada em seu pescoço, capturava cada tremor de suas mãos.
— Vai dar certo… — Ele mentiu, mais para si mesmo.
Fora, o arrastar parou. Por um instante, só o som da respiração ofegante preencheu o ar. Então, um estalo. Outro. Dez.
A porta estremeceu sob o impacto de múltiplos corpos. As cadeiras deslizaram centímetros, e fendas surgiram na madeira.
— Tem mais delas… — Ellie sussurrou, os olhos fixos nas garras que surgiam pelas rachaduras.
Sam correu até à janela no fundo da sala, onde as cortinas podres se desfiavam nos seus dedos. Do lado de fora, um telhado inclinado de zinco reluzia sob a lua, seguido por um vão de três andares até ao asfalto.
— Tem que pular!
Ellie olhou para o vão, os pés recuando instintivamente.
— Eu não consigo… — A voz dela falhou enquanto as pernas tremiam.
Os golpes na porta intensificaram-se. A madeira rachou e uma cabeça alongada, com olhos negros como poços, entrou na sala. Outras seguiram-na: cinco ou seis criaturas, de bocas escancaradas, onde se viam fileiras de dentes serrilhados.
— Ellie, agora!
Ao estender a mão, Sam sentiu os dedos suados deslizarem nos dedos dela.
Os olhos da menina encheram-se de lágrimas. Por momentos, ela hesitou.
— Eu vou escorregar… Eu vou…
A porta desabou. As criaturas invadiram a sala num torvelinho de membros espalmados. Sam saltou para a janela, agarrado à borda do telhado com os dedos.
— Não tenho muito tempo!
Ellie correu em direção a ele, mas uma garra envolveu seu tornozelo e a derrubou no chão.
Ele virou-se, e a câmara capturou o momento com um realismo viscerativo.
Uma das criaturas ajoelhou-se sobre Ellie, e as suas garras cravaram-se nos seus ombros até o sangue jorrar em arroios escuros. Outra das criaturas deu uma dentada no seu antebraço, torcendo-o até o osso estalar como graveto seco. Ellie gritou, um som que começou humano e terminou num guincho animal, à medida que mais criaturas mergulhavam no seu torso.
— Não!
Seu pescoço foi fechado por uma garra, e suas unhas se enterraram em sua jugular. O último som que emitiu foi um gorgolejo quente, vermelho e vital. Seus olhos, ainda claros sob a máscara de sangue, pousaram em Sam. Já não havia medo ali. Restava apenas cansaço. Apenas alívio.
Uma criatura agarrou seu maxilar e o arrancou com um estalo úmido.
Sam tentou voltar, mas o telhado tremeu sob seus pés. Flashes foram capturados pela câmera: o céu noturno, o impacto, o rosto de Ellie congelado em um último instante de dor e resignação.
A queda foi breve: um telhado de zinco inclinado o recebeu e seu corpo deslizou até colidir com um parapeito de concreto. O equipamento filmou a criatura na janela, de rosto agora uma máscara de fúria pura, antes que ela rolasse para uma sarjeta escura e desaparecesse na noite.
Por um instante, ele não se moveu. Não porque não queria, mas porque não podia. O corpo se recusava a responder. Todos os músculos estavam rígidos, presos entre a exaustão e a dor.
A quietude era pesada. Mas não era um silêncio pacífico. Era um vazio. Um buraco negro sugando tudo ao redor.
A imagem de todos os seus amigos permaneceu em sua mente como uma cicatriz que nunca fecharia. Seu rosto estava congelado naquele último instante, com os olhos arregalados entre dor e resignação, os lábios entreabertos como se quisessem dizer algo — mas não houve tempo.
Não houve tempo para nada. As criaturas a tomaram. Ela desapareceu, arrastada para a escuridão do prédio, e ele não pôde fazer nada. Assim como Noah. Assim como todos os outros.
O peito subia e descia descompassadamente, e foi quando percebeu que estava hiperventilando. Toda vez que respirava, era como se inalar o próprio ar fosse um castigo. Suas mãos se cravaram no chão ao lado do corpo, buscando algum tipo de realidade, alguma âncora para impedir que se afogasse no próprio desespero.
E não havia âncora. Não havia nada. Com um tremor, ele forçou o corpo a se levantar. As pernas falharam na primeira tentativa, mas ele apertou os dentes e insistiu. Um pé de cada vez. O suor e o sangue colavam sua camisa à pele, e um gosto cítrico amargo se espalhava pela boca.
Quando finalmente ficou de pé, algo que antes estava ofuscado pelo horror lhe foi revelado: ele estava do lado de fora.
Fora do prédio. Sam conseguiu.
Sozinho.
O pensamento recaiu sobre ele como uma tonelada de tijolos. Embora não trouxesse alívio, era um peso esmagador.
O vento frio da noite soprou contra seu rosto, mas não trouxe qualquer conforto. Não limpou o cheiro de sangue seco em suas roupas. Não apagou a sensação de corpos caindo, de carne sendo rasgada, de ossos estalando.
Ele olhou para o horizonte. O mundo lá fora continuava indiferente, os carros ao longe seguiam seus caminhos, e as luzes dos prédios cintilavam como se nada tivesse acontecido. Como se ninguém tivesse morrido naquela noite.
Mas ele sabia. E, por Deus, jamais esqueceria. Um riso curto e vazio escapou de sua garganta.
— Então é isso…
Queria gritar. Queria esmurrar o chão até quebrar os punhos. Queria voltar e salvá-los daquele inferno. Mas não podia. Ele era o único sobrevivente.
Isso era pior do que morrer.
A tela do notebook tremulou por um segundo antes de congelar na última cena. O vento balançava seus cabelos desgrenhados, e a cidade ao fundo continuava indiferente, alheia ao inferno pelo qual ele havia passado.
Emilly inclinou-se na cadeira giratória ao lado da cama. Cruzou os braços na altura do peito e lançou um olhar breve para o garoto, atenta à forma como seus dedos se apertavam contra a beirada do cobertor. Ele não piscava.
— Então… — A voz dela quebrou o silêncio, mas sem delicadeza. Não havia necessidade de suavizar aquilo. O menino já tinha visto o pior. — Você jura que foi exatamente assim? Nada alterado? Nenhum erro na gravação?
Sam piscou, os olhos ainda presos na tela. O brilho azul do monitor destacava as olheiras escuras sob seus olhos.
— Sim… Eu lembro de cada detalhe.
Emilly soltou um suspiro baixo e desviou o olhar pelo quarto.
Era um cômodo pequeno, coberto por pôsteres de animes e action figures organizados em uma prateleira estreita. A escrivaninha estava uma bagunça: caixas de jogos empilhadas, mangás abertos e um copo de refrigerante pela metade. Sam era apenas um garoto. Um garoto que, de alguma forma, havia saído vivo de algo que nem ela, veterana da U.E.C., saberia explicar completamente.
Do outro lado do quarto, Nicholas mexia distraidamente nos pertences do garoto, abrindo gavetas e revirando alguns livros jogados no chão. Ele não parecia interessado na gravação, pelo menos não da forma correta. Ele era assim: disperso, debochado, mas eficiente quando necessário.
Foi quando ele puxou um conjunto de capas duras e devidamente conservadas que um sorriso curto apareceu em seu rosto.
— Olha só o que temos aqui… — Ele ergueu os três volumes como se fossem relíquias preciosas. — Rebirth – O Despertar, A Ordem Espiritual e O Desejo Depois da Morte. Tem um bom gosto. Você é um romântico, um exorcista ou um fã de pancadaria?
Sam desviou o olhar do monitor pela primeira vez.
— Uh… romântico. As histórias são boas.
Entre os dedos, ele girou as capas sobre as quais observava as artes.
— Essa primeira aqui… Romance, aposto que tem um triângulo amoroso e algum trauma pra resolver. A segunda… coisa sobrenatural, provavelmente cheia de espíritos atormentados e rituais. E essa última… ação? Algo me diz que tem muito ensinamento sobre arte marciais.
— Você não está errado… — Sam abaixou a cabeça, quase sorrindo. — Mas não tem triângulo amoroso em Rebirth, e… às vezes me identifico com o Seiji.
Antes de colocá-las de volta na prateleira, Nicholas as analisou detidamente.
— Justo. Mas é engraçado também. Você viveu uma história fodida e ainda consegue gostar de ler sobre essas coisas paranormais. Eu teria jogado tudo fora.
Sam deu de ombros e desviou o olhar.
— Pelo menos nas histórias dá pra fingir que existe um jeito de ganhar no final.
Emilly revirou os olhos.
— Dá pra parar de fuçar as coisas dele? Estamos aqui por um motivo.
Nicholas ergueu as mãos em rendição.
— Relaxa, só estou conhecendo melhor o nosso sobrevivente.
A agente suspirou e se sentou ao lado de Sam, cutucando seu ombro de leve.
— Olha… não sei o que você espera que aconteça agora, mas a gente acredita em você. A agência acredita em você. Esse vídeo vai ajudar a entender o que aconteceu naquele prédio e… — Ela hesitou. — E talvez nos ajudar a impedir que aconteça de novo.
Depois de soltar o ar devagar, como se estivesse esforçando-se para processar as palavras dela, Sam disse:
— E se já tiver acontecido de novo?
Emilly e Nicholas trocaram um olhar breve, mas não responderam. Nenhum deles queria dizer a verdade. Porque a verdade era que ninguém sabia.
Houve uma batida suave na porta. Sam levantou a cabeça quando sua mãe entrou no quarto, com um copo d’água na mão.
Ela era uma mulher de presença firme. Pele negra, olhos escuros que pareciam sempre enxergar mais do que as pessoas queriam mostrar. Os cabelos afro estavam presos para trás com uma faixa larga, e ela usava um casaco jeans sobre uma blusa simples, combinando com calças justas e tênis brancos.
— Senhora Summer, certo?
— Sim.
— Nicholas Andrew. Trabalho com ela. — Apontou para Emilly.
Ela franziu os lábios, claramente esperando mais do que isso, mas decidiu não insistir. Emilly tomou um gole da água antes de voltar ao assunto.
— O vídeo que seu filho nos mandou é a prova que precisávamos. Já está nos arquivos da agência, e nossa equipe vai investigar o que aconteceu naquele prédio.
Bailey soltou uma risada curta e cética.
— E vocês vão conseguir alguma resposta? Ou vão só sumir com a história e fingir que nada aconteceu?
Nicholas abriu a boca para responder, mas Emilly o cortou com um olhar afiado.
— Vamos descobrir o que aconteceu, e se houver qualquer risco de que isso aconteça de novo, vamos impedir.
Sam, que até então parecia distante da conversa, levantou a cabeça e se endireitou na cama.
— Então eu vou com vocês.
O silêncio que se seguiu foi tão pesado quanto a notícia de um enterro. Nicholas arregalou as sobrancelhas e então soltou uma risada baixa e debochada.
— Ah, não. Espera. Você tá falando sério?
— Eu sou a única pessoa viva que sabe o que aconteceu lá dentro.
O homem soltou o ar pelo nariz e balançou a cabeça.
— Cara, me escuta. Você já assistiu filme de terror o suficiente pra saber como isso termina. O idiota que sobrevive ao primeiro massacre sempre acha que é uma boa ideia voltar pro lugar que quase matou ele, e adivinha? Ele morre. Geralmente rápido e de forma bem merda.
A mãe de Sam endireitou os ombros e o olhou para como se estivesse prestes a jogá-lo pela janela.
— Você pode tentar não falar do meu filho como se ele fosse um personagem de filme ruim?
— Só tô falando a verdade, senhora Summer. Esse cara escapou por pouco, e agora quer meter a cara de novo numa coisa que claramente tentou matá-lo.
— Ele tem nome.
— Ah, claro. — Riu-se, seco. Voltou com o olhar para o garoto e disse: — Você quer ir. Um moleque de… quantos anos mesmo? Dezesseis?
— Dezessete.
— Nossa, que diferença. Então você quer voltar para o meio daquela merda toda? Ótima ideia. Da última vez, seus amigos foram rasgados no meio. Dessa vez, quer que seja você?
A mãe de Sam endureceu a expressão e deu um passo à frente.
— Não fale assim com meu filho.
— Tá. Só tô sendo realista. O moleque quase morreu. Agora quer um repeteco?
Emilly revirou os olhos e cutucou seu no ombro com força suficiente para fazê-lo se afastar um pouco da estante.
—Para de agir como um babaca, por favor. — disse, sem paciência. — Ele sobreviveu. Isso significa que ele sabe mais sobre isso do que qualquer um de nós.
— Saber não significa poder fazer alguma coisa, Emilly. Você quer arrastar um adolescente pra mais um pesadelo e ver no que dá?
Sam apertou os punhos ao lado do corpo.
— Eu não sou um moleque qualquer. Eu estive lá dentro. Eu vi as coisas que vocês só ouviram falar. Se tem alguma chance de entender o que está acontecendo, de impedir que aconteça de novo, então eu quero ajudar.
Nicholas suspirou pesadamente, passando a mão no rosto.
— Tá bom. Vai em frente. Você quer quase morrer de novo? Beleza. Só não me peça pra fingir que é uma boa ideia.
A mãe de Sam olhou para o filho, preocupada, mas não tentou impedi-lo. Ela sabia que ele já havia tomado sua decisão. E que, de alguma forma, nada no mundo o faria mudar de ideia.
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