Capítulo 19 - Trato de sangue
12 de Julho
Os raios de sol se derramavam pelo parque de Hill City como tinta dourada escorrendo pelo céu, tocando tudo com uma luz quente e viva. A grama brilhava, macia e convidativa, enquanto sombras dançantes das árvores altas brincavam com as crianças espalhadas pelo campo. Era o tipo de dia perfeito para buscar aventuras.
Benjamin caminhava com passos despreocupados, chutando uma pedrinha de um lado para o outro enquanto observava o parque. O vento bagunçava seu cabelo, mas ele não se importava. As risadas das crianças preenchiam o ar, misturando-se ao som das folhas farfalhando e ao canto dos pássaros, como se estivessem comemorando o sol.
Mais adiante, uma pessoa conhecida estava sentada em um banco de madeira. Ela parecia perdida em pensamentos, com os olhos fixos no horizonte.
O vestido leve que ela usava flutuava levemente com a brisa, enquanto as flores presas em seus cabelos refletiam a luz, como pequenas estrelas enredadas em cachos castanhos. No pulso, uma pulseira de contas coloridas rebatia os raios solares, criando pequenos pontos de luz que cintilavam sobre o banco.
Benjamin chegou chutando uma pedrinha, que foi quicando até parar perto do pé dela. Ficou ali, meio sem jeito, antes de perguntar:
— O que você tá pensando, Amy?
Com os olhos levemente fechados, ela o olhou de forma distraída e soltou um suspiro.
— Tava imaginando como seria ser uma princesa presa numa torre beeem alta. Com um dragão enorme cuidando da porta.
Benjamin fez uma careta engraçada, inclinando a cabeça de lado.
— Um dragão? Mas por quê?
Amy deu um risinho e cobriu a boca com as mãos.
— Sei lá… porque é legal. Mas não um dragão de verdade, tá? Um de mentira. Um que não queima ninguém.
— Ah tá. Porque dragão de verdade ia te deixar toda torrada.
Ela riu alto, dessa vez sem se esconder.
— Isso não ia ser legal. — disse, balançando as pernas. — Mas na minha cabeça, o dragão é só grandão e meio ranzinza… tipo um guarda-costas.
— E aí chega um cavaleiro com espada e te salva?
— Talvez, mas também podia ser uma menina corajosa. Ou um passarinho mágico. Ou… ninguém. Eu podia escapar sozinha.
— Sério?
— Uhum. Nem que eu tivesse que conversar com o dragão primeiro. — Sorriu de lado, o olhar brilhando. — Mas se viesse alguém, quero que seja incrivelmente forte e corajoso como o Capitão Justiça!
Benjamin franziu a testa, confuso.
— Capitão Justiça? Nunca ouvi falar.
— É porque eu inventei ele agora. — Piscou de forma travessa. — Ele é corajoso, inteligente e sempre aparece quando você mais precisa. Ele enfrenta dragões, bruxas más e, claro, salva princesas em apuros.
O garoto ficou quieto com os braços cruzados por um segundo. Parecia pensativo. Seu rosto ficou ligeiramente vermelho.
— Hm… sabe… — começou, olhando pro chão antes de levantar os olhos pra ela. — Eu podia ser esse cara. O Capitão Justiça. Se você quiser, né.
Amy arregalou os olhos, surpresa, e depois riu.
— Você ia me salvar?
— Lógico! — disse, estufando o peito. — Nenhum dragão ia me impedir e nenhuma torre seria alta demais!
Ela bateu palminhas, animada.
— Então agora você é o Capitão Justiça de verdade?
Benjamin deu um passo para trás e botou as mãos na cintura.
— Eu sempre fui. Só tava esperando a hora certa pra aparecer.
Amy riu de novo.
— Ainda bem que chegou. Tava cansada de esperar o herói.
Os dois riram juntos, leves, o som voando pelo parque no embalo da brisa e das folhas que dançavam nos galhos. Benjamin finalmente largou a timidez e deu mais um passo na direção dela, com um sorriso tranquilo.
— Ei, Amy… só pra você saber. Se um dia você precisar de um herói de verdade… eu tô por aqui. Sempre.
Ela olhou pra ele, os olhos brilhando, cheios de um calor bom, daquele que deixava o peito leve.
— Capitão Justiça, meu herói preferido. — falou baixinho, mas com um sorriso que enchia o rosto inteiro. — Agora eu sei que tô protegida.
— Óbvio que tá! Capitão Justiça nunca deixa uma princesa sozinha.
Em meio à frase, acabou rindo e Amy se uniu a ele. Era um riso que nascia fácil, sem pensar. Por um tempo, tudo ali — o vento, o barulho das folhas, os passarinhos e até o balanço parado — tornou-se parte da história que tinham inventado.
Mas como toda história boa, aquela também teve um fim.
Uma voz distante cortou o ar, vinda do outro lado do parque:
— Amy, hora de vir embora!
Ela parou, os olhos ainda presos nos de Benjamin, e fez uma carinha meio desapontada.
— Mamãe tá me chamando.
Este assentiu devagar.
— Até amanhã, então?
O rosto dela se iluminou novamente, o sorriso ganhando força ao responder com a mesma certeza que tinha ao descrever o Capitão Justiça.
— Sem falta.
Ela correu na direção da voz da mãe, os cabelos balançando ao ritmo de seus passos, enquanto as flores de sua coroa dançavam ao vento.
Benjamin a observou até que desaparecesse de vista, deixando para trás apenas o eco de risadas e promessas de aventuras que ainda estavam por vir.
** ** **
9 de Agosto.
Ela não voltou no outro dia.
A promessa que carregava consigo tinha inevitabilidade do tempo e das obrigações familiares.
Desde o dia em que se separou da única pessoa que foi sua melhor amiga por tanto tempo, a solidão tem sido a companheira mais dedicada de Benjamin.
As cores vivas que antes preenchiam sua vida foram obscurecidas pelo peso da mesmice, que pairava sobre ele como uma sombra espessa.
Todos os dias eram um ciclo interminável de apatia, com as horas passando lentamente como prisioneiros em um relógio que insistia em contar as horas como um cortejo fúnebre.
E, em meio a um abrasador dia de verão, o calor inclemente assolava tudo, prendendo todos em um abraço sufocante.
O tédio que acompanhava esse clima opressivo se tornava mais do que um mero desconforto; se transformava em um veneno sensível, infiltrando-se nos recantos da mente.
Na casa onde a criança residia, ele se encontrava em um estado de inércia, deitado de cabeça para baixo no sofá, com as pernas apoiadas no encosto.
Seus cabelos e olhos castanhos contrastavam com a pele clara, na qual as gotas de suor se formavam na testa, deslizando preguiçosamente.
A brisa que entrava pelas janelas abertas não era suficiente para amenizar o calor, deixando-o imerso em um desconforto quase palpável.
Sem muita ocupação em vista, ou mesmo interesse em encontrar uma, ele permitiu que sua atenção fosse dominada pelos eventos que piscavam no canal de notícias logo após o término do episódio de seu desenho favorito, Ruth, acabou.
Um acidente de carro horrível, o som angustiante de uma criança chorando, um massacre escolar chocante, a ascensão de um grupo fora da lei ameaçador, as conjecturas sobre possíveis invasões alemãs, as infestações do sobrenatural — tudo isso se desenrolava diante dele.
Pensamentos de sobrecarga começaram a se formar em sua mente:
“Isso é chato demais…”
Benjamin sempre foi emocionalmente letárgico, flutuando em dias difíceis em um mar de carências. Sempre que se percebia olhando para o horizonte, observava nuvens distantes e plácidas.
Um bocejo cansado escapou dos seus lábios enquanto seu corpo se esticava involuntariamente, e então, em um instante, ele se encontrava no chão com a cabeça latejando de dor.
— Agh!
A dor aguda o atingiu com força, fazendo-o esfregar o local do impacto com a mão. O som do tombo não passou despercebido pela mãe, que se apressou para a sala para verificar o ocorrido.
— Está tudo bem, Benjamin?
Seus olhos apreensivos, um o tom de verde-esmeralda, examinaram-no em busca de ferimentos.
Seu cabelo louro-mel, normalmente preso em um coque desarrumado, tinha começado a incorporar liberalmente fios de prata em suas mechas. Ela deveria estar na flor da idade aos 26 anos, mas o fato de estar desempregada havia deixado linhas injustificadas de preocupação ao redor dos olhos.
— Ah, sim. Não foi nada. — O sorriso forçado que se seguiu não chegou aos seus olhos.
O olhar dela, aguçado com a intuição de uma mãe, desviou-se para a tela da televisão. Um calafrio mórbido tomou conta de si enquanto os restos de uma imagem perturbadora tremeluziam no brilho.
— Benjamin…
Ele sabia o que estava por vir. A vergonha floresceu em suas bochechas, colorindo-as de um vermelho opaco.
— E-eu não tô vendo isso!
— Não tô, né? — Repetiu, frustração tingindo seu tom. — Esse não tô parecia bastante inapropriado para um garoto de quatorze anos.
Ela atravessou a sala em direção à TV. Com um clique decisivo, ela desligou.
Benjamin lançou-lhe um olhar taciturno.
— Não é como se eu tivesse escolhido ver isso. — Murmurou, mais para si mesmo do que para ela. — Os caras da escola estavam falando disso.
Sua mãe suspirou, a raiva se transformando em uma onda de preocupação.
— Eu sei, querido. — disse, sua voz suavizando. — Mas às vezes, seus amigos não são os melhores juízes do que é certo ou errado. Podemos conversar sobre isso. O que quer que você tenha visto, não há problema em me contar.
Se sentou na beirada do sofá, deixando um espaço confortável ao seu lado.
— Ah, verdade! — Seu tom mudou para um mais leve. — Você não soube? Amy voltou para a cidade hoje!
A cabeça de Benjamin se animou, uma centelha de interesse brilhando em seus olhos.
— Sério?
— Seríssimo! Ela vai ficar com sua tia por algumas semanas. Lembra? Vocês dois costumavam ser inseparáveis.
Levantando-se do chão, ele ajeitou a camiseta amarrotada e olhou pela janela, observando a rua. Talvez Benjamin só precisasse de uma pequena mudança de cenário e de uma chance de se reconectar com uma influência positiva naquele momento específico.
— Eu posso?
— Claro, meu filho. Desta vez vou deixar você ir.
— Tá bom então!
Ele se dirigiu à porta, mas antes de cruzá-la, a voz da sua mãe voltou a ecoar:
— Não demore, está ouvindo?
— Sim, mãe.
Com um último aceno, Benjamin saiu pela porta. Com uma sensação de finalidade que o pegou de surpresa, ele a fechou, fazendo uma promessa que não tinha certeza se poderia cumprir. Era essencial sair de casa para se afastar da rotina opressiva que ainda parecia uma segunda pele.
Hill City se abriu à sua frente, caminhando pelas calçadas sob o sol inclemente. Seus olhos se desviaram para o céu, procurando conforto nas nuvens esporádicas que se moviam sobre a tela azul pura do céu.
Embora ele parecesse sozinho, havia uma leve mudança na maneira como ele se portava, uma pequena redução no peso que normalmente carregava, pois Amy era uma amiga como nenhuma outra, em seu jeito discreto. Ela era um santuário contra o mundo exterior frequentemente opressivo, uma conexão única para alguém tão retraído como ele.
A agitação da cidade, no entanto, se transformou em um zumbido distante quando uma voz rouca ecoou.
— Ei, garoto.
Era um sussurro, mas parecia ter explodido no espaço vazio ao lado dele.
Se virou, com o coração martelando contra as costelas. O mundo ficou embaçado por um momento, a multidão de pedestres sem rosto se dissolvendo como a névoa da manhã. Em seu lugar havia uma única figura, um jovem com um ar de mistério.
Ele não era muito mais velho do que Benjamin, talvez dezoito ou dezenove anos. Os cabelos castanhos claros, quase dourados ao sol da tarde, emolduravam um rosto com um sorriso conhecedor. Os olhos escuros, inteligentes e curiosos, tinham uma intensidade inquietante. Sua roupa era uma mistura casual: uma jaqueta preta desabotoada sobre uma camisa branca bem passada, com as mangas levantadas para revelar antebraços fortes. A calça de moletom cinza completava o cenário, mas, de alguma forma, a maneira como ele a usava indicava um poder oculto.
Havia algo nele, uma profundidade em seu olhar que falava de segredos e conhecimentos esquecidos. Ele avaliou Benjamin com um olhar enervantemente perceptivo, como se enxergasse através dele, julgando não apenas uma criança magricela na calçada, mas o poço oculto de emoções que se agitava por baixo.
Um arrepio percorreu a espinha de Benjamin. Esse não era um encontro casual. Esse estranho, com sua saudação enigmática e sua presença inquietante, era uma anomalia no cotidiano da cidade. E, por alguma razão inexplicável, não conseguia desviar o olhar.
— Vou te fazer uma oferta que você não pode recusar.
Seu intestino se apertou, um instinto primitivo gritando para ele correr. No entanto, o olhar do homem, um olhar que parecia perfurar sua alma, manteve-o enraizado no local.
— Eu… eu não acho que…
A voz de sua mãe ecoava em sua cabeça, um apelo constante de “não fale com estranhos, não aceite nada deles”. Mas a presença do homem exalava um fascínio não natural, uma compulsão que fazia o desafio parecer como nadar contra uma corrente violenta.
Um sorriso malicioso apareceu nos lábios dele.
— Você tem certeza absoluta? — Seu tom tinha um traço de humor, como um predador brincando com sua vítima.
Uma sensação de enjoo surgiu na garganta de Benjamin. Não apenas a circunstância era peculiar, mas ele também sentia uma pressão crescendo dentro de sua cabeça, uma constrição que lhe tirava o fôlego e o impedia de pensar com clareza.
Seus joelhos dobraram e ele caiu na calçada, com falta de ar. O medo transformou-se em aquiescência desesperada.
— A-ah… Tá… — Engasgou, sua voz quase inaudível por causa de sua respiração irregular.
Um suspiro de alívio escapou de seus lábios quando a pressão reduziu.
— Então você deseja se tornar algo como um herói, não é?
As palavras do estranho penetraram o subconsciente de Benjamin, como se ele pudesse ler seus desejos mais profundos.
Mesmo sem pronunciar uma palavra, Benjamin confirmou com um movimento de cabeça.
Não havia escolha senão esta.
— Eu compreendo que sua condição não é a melhor, mas eu posso ajudá-lo.
Resistir a essa proposta, percebeu ele, poderia ser uma oportunidade única, algo que não se repetiria.
— Como assim…?
— Qual é o seu nome?
— … Benjamin Moore.
— Ah, Benjamin… Pequenas ofertas muitas vezes fazem uma grande diferença, concorda?
O silêncio dele se prolongou, uma pergunta silenciosa pairando no ar. O sorriso do homem vacilou por um momento fugaz, um lampejo de impaciência cruzando suas feições antes de ele reafirmá-lo.
— Olha, Benjamin, posso ver que você passou por uma situação difícil. Mas tenho conexões, oportunidades nas quais você não acreditaria.
O olhar da criança se voltou para trás, procurando uma saída. No entanto, suas palavras, acompanhadas de uma promessa de escape, exercia um medo e fascínio terríveis.
— O quê?
O homem se inclinou ainda mais, sua voz caindo para um silêncio conspiratório.
— Digamos apenas, Benjamin — seus olhos brilhavam com algo semelhante à excitação. —, você poderia ter uma vida totalmente nova. Uma vida com… um propósito.
A testa dele franziu. Propósito. A palavra parecia estranha, abstrata. No entanto, uma parte dele, a parte que ansiava por algo mais do que o ciclo interminável de tédio e solidão, agarrou-se a isso. Ele não entendia a oferta do homem, o custo desse “propósito”, mas o desespero em suas entranhas o atormentava.
— Eu… quero isso.
A resposta escapou de seus lábios antes que ele pudesse impedi-la, um pedaço de esperança lutando contra o medo que se enrolava em seu estômago.
O sorriso do homem voltou, desta vez mais amplo, mais genuíno. Ele deu um tapinha no ombro de Benjamin, a força fazendo o menino estremecer.
Ele ansiava gritar, fugir dessa experiência desconfortável. Mas ele foi mantido imóvel por uma estranha inércia. A oferta refletia o vazio que lhe consumia o estômago, ambígua e cheia de ameaças não ditas. Essa possível escapatória de sua angústia atual era uma fusão medonha e distorcida.
O tom do estranho mudou antes que Benjamin pudesse expressar o quanto estava ficando angustiado. O homem se inclinou para mais perto e sussurrou:
— Para fazer isso, no entanto, você terá que machucar as pessoas mais próximas a você — Sua voz era rouca e baixa.
O pânico subiu pela garganta de Benjamin, sufocando a pergunta que se formou em seus lábios. As palavras do homem destruíram a frágil esperança que florescia em seu peito.
— Ah…
— Olha, às vezes é preciso quebrar alguns ovos para fazer uma omelete, entende o que quero dizer? Esta oportunidade não é para os fracos de coração. Requer… sacrifício.
Sacrifício. A palavra parecia ainda mais ameaçadora do que “machucar”. A mente de Benjamin conjurou imagens terríveis de violência, de traição. Ele não tinha certeza do que o homem queria que ele fizesse, mas a mera sugestão de machucar alguém, principalmente aqueles que ama, provocava arrepios na espinha.
— Não! E-eu não quero fazer isso!
A proposta repulsiva estava no ar, desafiando todo o bom senso. Era inconcebível que alguém sensato aceitasse algo tão terrível em troca de benefícios.
O seu sorriso desapareceu, substituído por uma feição repugnante.
— Se você recusar — seu tom caiu para um tom áspero venenoso —, eu vou simplesmente quebrar você, garoto. Farei com que deseje estar implorando por restos em algum beco esquecido. Esta cidade, esta bela e inesquecível cidade, se tornará seu pesadelo pessoal. Cada rosto que você vir, cada som que ouvir, será um lembrete constante de seu fracasso, uma fome que nenhum pão mofado poderá satisfazer
Gesticulou em direção à paisagem urbana.
— Este mundo não recompensa a fraqueza, pelo contrário, ela é devorada. Você pode escolher ser apenas mais um entre tantos, ou pode decidir se sobressair da mediocridade e fazer parte do jogo dos grandes. Mas lembre-se, ficar em cima do muro não é uma escolha.
Ele apontou um dedo, pressionando-o contra o peito de Benjamin.
— As engrenagens já foram acionadas. Negar é o mesmo que se render. E nesse mundo, a rendição tem seu custo. Um custo memorável, que vai deixar sua marca muito depois de você ter esquecido meu rosto.
Sua voz tornou-se mais suave, um contraste perturbador e melífluo às suas palavras intimidadoras.
— Mas você não é obrigado a escolher esse caminho. Ainda pode se unir a algo maior, algo que o resgatará da miséria e o erguerá. Basta um leve empurrão na direção correta, um pequeno sacrifício por uma existência além dos seus sonhos mais audaciosos.
O sorriso dele reapareceu, uma paródia amarga de simpatia. Ele deixou a decisão suspensa no ar, como um fardo opressivo sobre os ombros já pesados de Benjamin.
— Você não gosta de pesadelos, certo?
O medo guerreava com uma necessidade desesperada e primordial de sobrevivência. A oferta do homem, antes uma esperança vacilante, agora cheirava a uma barganha distorcida. O “investimento” tornou-se uma dívida esmagadora e o “propósito” um caminho tortuoso para um futuro mais sombrio do que qualquer pesadelo.
Paralisado, o rosto de Benjamin refletia pânico, uma ansiedade que corrompia seu corpo e alma. Portanto, diante dessa terrível ameaça, sua resistência desmoronou, levando-o a consentir sob o olhar sombrio do mesmo.
Mas havia algo mais escondido do que o medo em jogo. Uma sensação de impotência e uma compreensão crescente de que ele estava diante de algo maior do que qualquer coisa que já tivesse enfrentado.
O desconhecido o envolveu como um véu de escuridão, sua oferta diabólica e suas ameaças ecoando na mente de Benjamin.
Enquanto ele lutava contra o terror que o dominava, um riso abafado escapou dos lábios do estranho. Era o eco de um pesadelo, a risada sinistra de alguém que estava além da compreensão humana.
Os dedos se estenderam, e o toque do indicador do desconhecido foi como um relâmpago que riscou o céu da mente de Benjamin.
Uma onda avassaladora de energia invasiva percorreu suas sinapses, provocando uma transformação dramática em seu estado mental. Era como se as fundações de sua lógica estivessem sendo minadas, substituídas por um domínio alienígena que quase o transformava em um marionete controlado por uma mente distorcida.
A agonia que essa invasão mental poderia causar era incalculável, mas algo estranho ocorreu.
O desconhecido retornou, um sorriso lúgubre gravado em seu rosto cínico e impiedoso. Seu olhar estava mergulhado em cinismo, e seus traços eram os de um mestre em manipular vidas como peças de um tabuleiro.
— Sacrifique todos aqueles da família que você ama e fortaleça a autoridade do Rei, porque essa realidade está em ruínas, e apenas a mão do Rei pode restaurá-la.
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