Índice de Capítulo

    Hill City Public Library — 23h30.

    O sino da biblioteca tilintou atrás deles quando a porta de vidro se fechou. O cheiro de papel envelhecido e madeira encerada ainda pairava nos cabelos de Mandy, como se cada livro que ela folheara tivesse deixado um pedacinho de si ali.

    — Ah, só mais um capítulo de Moby Dick, vai. — disse, quase manhosa, os olhos brilhando de empolgação. — O Ahab pode esperar só mais um pouco pela baleia, não pode?

    Lewis soltou uma risada curta, sacudindo a cabeça, já esperando por isso.

    — A gente já ficou horas lá dentro. Meu estômago tá quase pedindo socorro.

    Mandy deu um tapinha leve no ombro dele.

    — Só porque eu gosto de uma história boa…

    — Você gosta tanto que acho que, se pudesse, morava dentro de um livro.

    — Talvez eu morasse mesmo. — Encolheu os ombros e sorriu de lado. — É mais fácil lidar com monstros de tinta do que com os da vida real.

    Lewis jogou as mãos no bolso.

    — É… mas por mais que você fuja, uma hora tem que voltar, né? O mundo não vai parar de girar só porque você tá em outra galáxia.

    — A realidade tá mais pra segunda-feira eterna do que pra planeta girando. Lá dentro era bom. Quieto, diferente… Quase dava pra esquecer que a gente tá em um caos.

    O silêncio era pontuado apenas pelo clique rítmico dos sapatos na calçada e pelo zumbido distante dos grilos. Acima deles, um milhão de pequenos diamantes brilhavam na imensidão escura do céu noturno, refletindo o brilho nos olhos de Mandy. 

    Mas mesmo sob o manto sereno da noite, ela não pôde deixar de notar a ruga marcando uma linha entre as sobrancelhas de Lewis. 

    — Pela sua cara — cutucou gentilmente pelo ombro. —, parece que tem algo de errado.

    Lewis estremeceu ligeiramente, como se tivesse saído de um devaneio. Um sorriso irônico apareceu no canto de sua boca.

    — Huh? Ah, na verdade não é nada. 

    Tentou encolher os ombros com indiferença. Mas a natureza forçada do gesto pouco fez para dissipar o peso que parecia pressioná-lo.

    — Vamos, Lewis. — Persistiu, sua voz cheia de preocupação. — Nós nos conhecemos há tempo suficiente para você não reprimir as coisas pra mim. Parece que você está carregando o peso do mundo em seus ombros.

    — Você tem ideia do que tá acontecendo por aqui? Tantas coisas estranhas. Pessoas agindo de forma tão bizarra. Isso… me dá arrepios na espinha.

    — Arrepios na espinha? — Franziu a testa, avaliando-o por seu desconforto no rosto. — Não me diga que você está com medo do que quer que esteja acontecendo nesta cidade.

    — Não é medo, é mais como um incômodo geral. Como se algo estivesse fora de sintonia.

    — Já lidamos com tantas situações esquisitas. Achei que você estivesse acostumado com a ideia de que a normalidade está fora de cogitação.

    À medida que caminhavam, Mandy reparou que Lewis estava constantemente olhando para trás, como se estivesse antecipando algo.

    — Espere um pouco, você tem medo de que algo nos siga? Um monstro, talvez?

    Lewis revirou os olhos.

    — Não, é só que… com toda essa estranheza no ar, não custa nada ficar alerta.

    — Pfft! Alerta para o quê? Fantasmas urbanos?

    O garoto grunhiu, mas um pequeno sorriso escapou.

    Ela notou o receio nos olhos dele, mas não recuou. Estendeu a mão, esperando que ele a aceitasse no próprio tempo.

    — Se a gente ficar parado aqui, ninguém vai sair do lugar.

    Lewis olhou para a mão estendida. Mais do que uma mão, era um convite para permitir-se confiar, ainda que um pouco. Mordeu o canto da boca, envergonhado. Seu olhar caiu no chão entre as rachaduras da calçada, sem encontrar uma desculpa.

    — Não é nada demais… só tô meio nervoso, só isso. Dá pra ir andando.

    Mandy ergueu uma sobrancelha, o canto da boca se curvando num meio sorriso.

    — Nervoso? Você tá me olhando como se eu tivesse pedido pra você atravessar um campo minado. É só minha mão, Lewis.

    Ela balançou os dedos devagar, brincando, mas com um olhar que dizia que entendia mais do que estava dizendo.

    — Anda, pega logo. Não morde.

    Lewis demorou mais um instante para finalmente entrelaçar os dedos nos dela por receio de admitir que precisava daquilo.

    — Você faz isso com todo mundo?

    — Claro. Faço questão de traumatizar pessoas tímidas. — respondeu com um sorriso, puxando-o.

    — Isso devia ser ilegal. 

    — Só anda, drama king. O museu tá esperando.

    ** ** **

    As portas do Museum – Black Hills Institute estavam abertas, com um convite para Mandy e Lewis adentrarem. Mesmo tarde, o lugar se revelou um tesouro oculto para eles explorarem. Com suas obras de arte de eras passadas, o local se transformou em um depósito de preciosidades.

    As pinturas murais narravam lendas silenciosamente, ao passo que cerâmicas e esculturas capturavam instantes fugazes na corrente do tempo. Todos os objetos possuíam uma história única, oferecendo aos apreciadores uma jornada ao passado remoto e resgatando lembranças que transcenderam a marcha dos séculos.

    — Nossa! Uma cidade tão pequena com um lugar tão chique!

    Mal iluminada por holofotes, a galeria era um banquete para os sentidos. As paredes, pintadas de um azul celeste profundo que aprofundava as sombras da noite, exibiam uma mistura eclética de arte.

    Mandy estava fascinada. Seus olhos corriam de um detalhe ao outro para não deixar escapar nenhum. Parou diante de uma escultura de formas tortas, uma figura híbrida entre humano e animal, feita de material áspero, com manchas escuras no metal.

    — Isso me lembra aquelas criaturas esquisitas das histórias que eu lia quando era pequena.

    Lewis parou ao seu lado, com as mãos nos bolsos, e encarou a escultura para tentar enxergar o mesmo que ela via.

    — Nossa, e como cresceu.

    Mandy virou o rosto, arqueando uma sobrancelha com fingida indignação.

    — Ah, cala a boca. — disse, empurrando-o levemente com o ombro. — Cresci o suficiente pra saber que essas coisas ainda me encantam.

    — E é isso que eu acho legal. — Sorriu de canto, ainda observando a peça. — Você continua achando beleza até nas coisas mais bizarras.

    — E você continua tentando entender o porquê, sem nunca conseguir. — retrucou, dando uma risadinha leve.

    Cada peça exibia uma elegância única, adornada com ornamentos discretos mas inegavelmente significativos. Uma placa discreta acompanhava cada peça, com uma mensagem incisiva gravada: “Não toque, mas aprecie com os seus olhos.”

    Este aviso silencioso, eloquente em sua simplicidade, estabelecia uma barreira invisível que evitava qualquer intrusão indevida. No entanto, a mensagem não se destinava apenas aos visitantes, mas também aos próprios habitantes da cidade.

    A sua missão era preservar o inestimável para os séculos vindouros. Cada exposição era mais do que uma obra de arte; era uma ligação viva à história, um patrimônio partilhado.

    À medida que ambos percorriam as obras cuidadosamente dispostas, Mandy sentiu uma admiração inesperada invadir-lhe o ser. Um choque percorreu-lhe a espinha, um arrepio quase sutil que lhe fez eriçar os pêlos da pele. Era um entusiasmo genuíno, puro e não planejado, que se enraizou profundamente na sua alma.

    — Nossa!

    Quando se deparou com os imponentes esqueletos de dinossauros, não conseguiu conter sua expressão de fascínio.

    — Olha isso, Lewis, olha! — chamou-o, apontando para as estruturas dos dinossauros. — Eles são como celebridades geológicas!

    Era um tesouro de conhecimento, uma cápsula do tempo enraizada na rua principal de Hill City.

    Nenhum artifício, nenhum truque elaborado; era uma resposta visceral às maravilhas que se revelavam diante dela. 

    — É… Nunca pensei que um dia ia ver isso de tão perto. Meio surreal.

    Mandy girou sobre os calcanhares, encarando os outros fósseis com brilho nos olhos.

    — Dá uma sensação estranh, tipo… eles viveram de verdade. Isso aqui não é só coisa de filme. Tá tudo aí, debaixo da nossa cara. A história toda escancarada.

    — Parece até mentira que esses bichos andaram por aí, e agora… tão aqui, empalhados.

    — Ossados. — corrigiu, rindo. — Empalhados é pra bicho empalhado mesmo.

    — Você entendeu. 

    — Sempre imaginei como seria ter um dinossauro de estimação. Sair pra passear com um tricerátopo. Imagina a cena?

    — Eu só consigo imaginar o caos. A cidade inteira em pânico, prédios desabando. Não sei de onde você tira essas ideias.

    — Ah, para. Um bebê dinossauro então. Aqueles bem pequenos. Fofinhos, sabe? No máximo do tamanho de um cachorro.

    — Um filhote de raptor? Acho que você tá assistindo muito desenho.

    — Ok, admito que talvez não seja tão prático quanto parece. — disse ela, entre risos. — Mas vai, só de imaginar já melhora o dia.

    — Isso é verdade. — respondeu, olhando de novo para o fóssil gigantesco. — Difícil sair daqui igual a como entrou.

    Conforme exploravam, os fragmentos de meteorito chamaram a atenção da menina.

    — Você já viu um desse? É como ter um pedacinho do universo bem aqui na Terra!

    Lewis sorriu em relação à empolgação, que estava quase saltitante.

    — Tô vendo que a emocionada aqui é bem nerd também.

    — Claro que sim! — Riu-se e, percebendo que estava admitindo isso, tentou se corrigir: — N-não! Quero dizer, não é todo dia que podemos ter uma experiência como essa. Imagine só as histórias que essas pedras poderiam contar se pudessem falar.

    As rochas brilhantes, remanescentes de um evento celestial distante, pareciam ter um fascínio misterioso. A ideia de ter uma parte do espaço na sala a encheu de admiração e curiosidade.

    — Tô amando esse lugar!

    Esperava-se que o museu transmitisse o gosto pela descoberta e a satisfação da compreensão. Era a expressão mais pura da curiosidade intelectual. Cada estátua, relíquia e obra de arte deveria ser respeitada, não apenas como um testemunho do passado, mas como um lembrete das regras que regem o mundo.

    Enquanto suas mentes se enchiam de fascinação e contemplação, Lewis desprendeu-se da mão de Mandy e se aproximou de uma estátua, a qual expunha detalhes anatomicamente corretos, mas não convencionais, que normalmente eram omitidos. Uma risada escapou dele, uma expressão de surpresa e diversão ao perceber uma representação artística do corpo humano de maneira tão inusitada.

    — Essa estátua realmente se expõe, não é? — Apontava para a parte íntima. — Olha o trequinho que esse cara tinha.

    — Parece que você está vendo tudo isso pela primeira vez. — Um sorriso discreto enfeitou seus lábios. — Essas estátuas, pelo que me lembro, são da Grécia Antiga. Eram formas tipicamente idealizadas, sabe, para efeito artístico? Talvez um pouco… enfatizadas demais em algumas áreas.

    — Tá, mas o meu é maior que o dele.

    Seus olhos se arregalaram momentaneamente de vergonha.

    — Olha só, eles realmente tiveram coragem de retratar essa coisa com tanta… sinceridade. Eu nunca conseguiria fazer isso sem rachar o bico.

    Mandy se aproximou e, sem hesitação, desferiu um chute certeiro em sua região genital, com força avassaladora.

    — Merda! — gritou, desabando no chão em meio a contorções de dor. — Isso foi um golpe baixo!

    Retorcia-se no piso, confrontando a realidade agonizante do que era possivelmente a pior dor que um homem pode experimentar.

    — E você acha isso engraçado também? — Riu-se baixinho, suas feições refletindo uma mistura de diversão e crueldade. — Nem foi tão forte assim.

    — Droga… você é maluca.

    A risada dela ressoou como uma melodia estranha em meio ao cenário de tormenta. Ela manteve seu olhar firme, apesar da cena dolorosa que se desenrolava.

    — Vai, levanta daí. Não posso ficar esperando você para sempre.

    Com um esforço tremendo, Lewis conseguiu se erguer, suas pernas claudicantes.

    — Você nunca tinha visto algo assim antes, né?

    Havia um brilho de curiosidade genuína nos olhos de Mandy enquanto ela observava as atrações.

    — Uh… quero dizer, não interprete mal minhas palavras, não estou insinuando que você saiu de uma caverna. — Procurou estabelecer um equilíbrio entre o humor e o respeito, evitando deixar uma má impressão. — É apenas uma observação casual.

    Ofereceu-lhe um sorriso simpático, quase conspiratório. Lewis fitou-a com uma mistura de desconfiança e apreciação. 

    — Bem… — Hesitou por um momento, suas palavras parecendo pesar em seus ombros, como se fossem uma confissão longamente guardada. — Minha vida até agora tem sido um constante ciclo de treinamento e luta. Meu pai me colocou nisso desde que eu era uma criança, me fazendo atingir o limite do que ele acreditava ser o auge. Ver algo tão diferente como isso… é uma experiência completamente nova.

    A família, com sua intrincada rede de tradições e valores, influenciou profundamente a vida daqueles que tiveram a sorte – ou o azar – de crescer em seus misteriosos salões.

    Desde o primeiro vislumbre do mundo, a filosofia da família foi incorporada aos corações e mentes de seus membros, tão certa quanto as sombras que se arrastavam silenciosamente pelos cantos das salas de treinamento.

    Em essência, a crença central era clara: sonhos e ambições não deveriam ocupar os pensamentos de uma pessoa, a menos que tivessem sido temperados nas chamas de um treinamento rigoroso e de uma dedicação inabalável.

    A visão de mundo separava nitidamente os que estavam dispostos a pagar o preço pela excelência dos que estavam satisfeitos com a conformidade.

    A mensagem era clara: “Sem o suor do treinamento e a determinação do esforço, os sonhos se transformam em meras ilusões”.

    — E não é só isso, também é a primeira vez que me deparo com pessoas tão diferentes como você e a equipe da agência.

    Enquanto Lewis falava, uma pitada de tristeza oculta era evidente em seus olhos. Isso ofereceu uma breve visão de sua jornada, das expectativas e das responsabilidades que o impulsionaram.

    — É uma verdadeira mudança de ritmo para você. — respondeu Mandy, com um leve toque de simpatia em sua voz. — Acho que todos merecemos experimentar algo que nos tire da rotina. Algo que nos faça sentir vivos.

    Havia um brilho de entendimento, uma conexão silenciosa com a busca por algo além da obrigação e do dever. Era uma exploração das próprias paixões e curiosidades, algo que Lewis estava apenas começando a descobrir.

    — E olha, mesmo a Raven iria gostar disso. Sei que a Raven pode parecer uma mulher séria, e ela é, sem dúvida, mas tenho muito a agradecê-la. — Mandy sorria à medida que expressava a gratidão que sentia pela mesma. — Se não fosse por ela, eu não estaria agora vivendo essas coisas e conversando com você sobre elas. É por isso que acredito que ainda há um coração gentil nela, mesmo que não perceba.

    Complementavam-se mutuamente, embora tivessem personalidades distintas. O desempenho corajoso de Raven permitiu a Mandy ultrapassar as dificuldades e descobrir uma nova perspetiva de vida, repleta de desafios inusitados.

    Mandy sempre admirou Raven pela sua habilidade e sobriedade, mas também pela sua generosidade em momentos de necessidade. Tornou-se a razão pela qual a garota pôde continuar a ter estas experiências extraordinárias – Raven não pensou duas vezes em pôr a sua própria vida em perigo para a salvar. A sua relação, que se desenvolveu nas circunstâncias mais difíceis, transformou-se num laço forte e inestimável.

    A cidade desvaneceu-se ao longe. O tempo, por um instante fugaz, pareceu congelar, permitindo que duas almas se encontrassem numa dança de pensamentos e emoções.

    Mandy e Lewis, apesar das suas diferenças e das circunstâncias que os rodeavam, partilharam um raro momento de compreensão entre si.

    — Para me dar um chute no saco você boa também, né?!

    As palavras carregavam um toque de ressentimento, indicando que ele ainda não superara a humilhação anterior.

    — Ah, isso doeu em mim igualmente, tá? Mas eu sou ótima em esconder a dor, ao contrário de você.

    — Se você fosse um homem, entenderia de verdade o quanto dói.

    — Ah, por favor!

    O comentário sarcástico de Mandy ecoou, suas feições contendo uma pitada de escárnio.

    — Quer mesmo discutir isso? Acho que você nem tem ideia do que está falando.

    — Estou mais do que disposto, aliás, já tenho um plano para te colocar no lugar.

    — Bem, todos os seus planos até agora parecem ter falhado, e esse não será diferente.

    Ambos, imersos em um misto de rivalidade e respeito, travavam uma conversa repleta de nuances. No entanto, havia sempre um momento para que um comentário ácido fosse lançado.

    — Tudo que você parece saber fazer é falar. Mal posso esperar para ver se suas ações acompanham suas palavras.

    — Não acredito que você realmente queira isso, ou está pedindo para conhecer seu fim? Parece que não valoriza muito a vida.

    — Eu vou pedir apenas uma coisa, que seja justo e sem jogadas sujas, entendeu? Isso é o mínimo que eu espero.

    Os olhos da garota se estreitaram enquanto ela parava de se mover, encarando Lewis com uma expressão que mesclava perplexidade e exasperação.

    — Você tá falando sério?

    — Claro, por que não estaria?

    Havia um tom de dúvida no ar, uma incerteza pairando sobre a conversa enquanto estes tentavam decifrar a intenção um do outro.

    — Agora não é o momento de fazer o que você quer, cacete!

    — Aham, tá…

    Algo indescritível misturado com podridão invadiu suas narinas, deixando-o alerta ao mesmo tempo. 

    — Huh? — Franziu o nariz. — Que cheiro é esse?

    — Cheiro? Como assim?

    — Tem algo aqui. — Examinou a área ao redor. A curiosidade, tingida com uma boa dose de ansiedade, brilhou em seu peito. — Espere por mim, já volto.

    Um odor desagradável arranhou sua garganta, um cheiro metálico que atacou seus sentidos como pregos enferrujados. Era um cheiro persistente, que exigia investigação.

    O cheiro nauseante ficava mais forte a cada passo, levando-o a um corredor abandonado onde pairava um ar pesado e partículas de poeira oscilavam em um fraco e solitário feixe de luz.

    A porta no final, torta e entreaberta em suas dobradiças corroídas, indicava uma escuridão mais densa e antiga do que a mera ausência de luz. Ele a abriu com um empurrão e o rangido ecoou no ar estagnado. A visão que encontrou em seus olhos não era de uma beleza recuperada, mas de um quadro grotesco. O que antes era um armazém mundano havia se transformado em uma necrópole improvisada, exalando uma mistura de decadência e esquecimento.

    Corpos jaziam espalhados pelo chão empoeirado, com a carne seca aderindo aos ossos. O carpete desgastado, que já fora bege, agora era um mosaico de poeira e sombras. As paredes de tijolos antigos estavam úmidas e escorregadias, ecoando os rituais macabros que conferiram a este canto abandonado do museu sua nefasta vitalidade.

    — O… O que diabos está acontecendo aqui?

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