Capítulo 49 - Manto de Chamas II
Bilhões de partículas carregadas, correntes em seus estertores de morte e moléculas de oxigênio alimentando chamas vorazes. Wolfgang empregou uma técnica improvisada para manipular os efeitos subatômicos, gerando uma vibração revitalizante em seu corpo.
Essa vibração, em essência, consistia em energia positiva. Enquanto o fogo ao seu redor era alimentado por partículas carregadas, ele usava a polaridade oposta em uma zona de equilíbrio.
O fogo de Agni dependia de um fluxo contínuo de partículas negativas para manter sua intensidade. Entretanto, ao colidir com as partículas das chamas, a energia positiva gerava fenômenos de neutralização momentânea no nível molecular. Em vez de intensificar a reação de combustão, as partículas foram forçadas a se reorganizar, criando uma formação mais estável e, surpreendentemente, menos destrutiva.
Isso ocorreu porque as partículas cancelaram o excesso de carga negativa nas moléculas de ar, dissipando parte da energia térmica. A dissipação gerou um efeito inesperado ao converter parte do calor em energia regenerativa.
Embora Wolfgang possuísse a notável capacidade de usar energia positiva para minimizar os danos das chamas, elas ainda eram únicas e desafiadoras. Diferentemente das chamas comuns, elas tinham qualidades distintas que impediam a segurança total.
Mesmo o uso de energia positiva para gerar uma corrente regenerativa encontrava limites devido à potência e características peculiares do Fogo de Agni, e ciente das restrições impostas pelas propriedades desse poder, Wolfgang percebeu que era necessário adotar uma estratégia mais astuta para assegurar sua sobrevivência diante disso.
— Imagine uma versão melhor de si mesmo… — murmurou Lewis.
— Hã? — Wolfgang franziu o cenho, confuso.
— Imagine-se mais forte, visualize uma versão que ultrapassa os limites, que domina cada desafio.
— Isso é algum tipo de truque?
As chamas de Agni responderam ao chamado de Lewis com vigor renovado, como se a essência do fogo respondesse diretamente à ferocidade que o consumia. A energia vibrava ao seu redor sob a forma de uma força primordial e visceral que transcendia a esfera física. Havia uma sensação de que até o próprio ar estava vivo, alimentando-se da simbiose entre ele e as chamas, que se expandiam em um espetáculo de poder bruto.
Lewis sentiu o calor correr em suas veias, intensificando sua força. Algo de familiar se manifestava naquela conexão: uma comunhão expressa sem a necessidade de palavras, apenas com a intenção. O garoto não comandava as chamas; ele se movia com elas, como um predador e sua arma unidos por um propósito comum.
Aos olhos de Wolfgang, Lewis não era mais humano. Tudo nele era monstruoso: sua postura, seus olhos ardentes, sua mera presença.
Antes que o alemão pudesse reagir, o agente já estava no ar. O movimento foi rápido demais para ser captado com clareza, mas o impacto foi inconfundível. Seu pé direito acertou o rosto. O som da colisão foi seco e brutal, reverberando nas paredes agora queimadas. Wolfgang foi arremessado para trás, rompendo uma parede como se fosse de papelão.
Pouco tempo depois, os materiais da sala de aula começaram a derreter, transformando o ambiente em um forno. Misturou-se ao ar já sufocante o odor acre de plástico queimado.
Wolfgang aterrissou pesadamente no chão, com os joelhos flexionados para absorver o impacto. Ele não teve tempo de se recompor antes que Lewis surgisse novamente pelo flanco esquerdo. Desta vez, o chute foi direcionado às suas costelas. Seu braço subiu em um bloqueio instintivo, mas foi inútil. A força do impacto atravessou sua defesa, repercutindo em seu tórax semelhante a um trovão interno. A colisão o fez recuar involuntariamente, a dor irradiando por todo o corpo.
Outro ataque se aproximava. Estreitando o passo, Wolfgang estendeu a mão para agarrá-lo pelo tornozelo antes que o golpe se completasse. Com êxito, o jogou contra o chão. O impacto foi devastador suficiente para provocar uma rachadura profunda sob o peso dele. Em seguida, arremessou contra a parede.
Ainda assim, o garoto, cuja vontade de ferro era evidente, conseguiu se equilibrar. Ele ricocheteou com extrema agilidade quando seus pés tocaram a parede.
Aproximou-se do oponente, frustrando as expectativas, apenas para que o braço de Wolfgang envolvesse seu pescoço com a eficiência mortal de uma cobra.
Uma onda de ar saiu de seus pulmões quando o alemão o apertou com mais força. Sua visão foi se estreitando progressivamente à medida que o pânico tomava conta de sua garganta e o mundo ao seu redor se desvanecia em uma escuridão opressiva.
— Está sentindo a pressão, garotinho? Eu diria que está ficando sem sorte também. — zombou, intensificando seu aperto de mão. — Vamos lá, me mostre algo além de um pouco de fogo e chutes desajeitados.
Wolfgang, notando que a resistência de Lewis estava começando a fraquejar, reforçou a sua força. Um sorriso sádico adornava seu rosto enquanto ele escarnecia:
— Não é engraçado como a vida pode mudar rapidamente? Um momento atrás você estava em chamas e agora está prestes a se apagar como uma vela. Você parece um idealista de merda.
Embora enfrentasse um desafio quase intransponível, Lewis sabia que não poderia vacilar. Todas as suas células carregavam o peso do treinamento intensivo que havia recebido na U.E.C. Não foram apenas as táticas de combate que o moldaram; a agência o equipou com uma mentalidade forjada sob a pressão de situações extremas. Um mantra sutil de sobrevivência corria em suas veias, norteando seus movimentos quando tudo ao seu redor ameaçava desmoronar.
A convicção instilada durante anos de preparação pulsava em sua mente, recordando-o de que nenhum adversário, por mais formidável que fosse, era invencível. Acreditar nisso não era apenas uma questão de fé, mas de sobrevivência — uma verdade à qual ele se agarrava firmemente à medida que o perigo aumentava.
Ele observava cada detalhe ao seu redor, absorvendo as nuances do espaço. Estimou os ângulos, mediu o peso de cada movimento e identificou pontos fracos invisíveis. O som de sua respiração era controlado, assim como a sincronização de cada batida de seu coração com os pensamentos em sua mente.
Com a testa franzida, Lewis reuniu sua força, concentrando-a nos braços enquanto seus músculos se enroscavam. Seus antebraços estavam gravados com uma rede de veias pulsantes que saltavam sobre a pele com o esforço crescente, uma intensidade que logo se espalhou para a cabeça, onde as veias se destacavam.
Seus dedos deslizaram ao longo do interior do braço de Wolfgang, aproveitando um momento inesperado para identificar um ponto de pressão crucial.
Esta visão momentânea deu-lhe uma vantagem estratégica.
Torceu o corpo numa rotação precisa, indo na direção oposta à mão do soldado. Este giro rompeu o estrangulamento, libertando-o finalmente.
Explorando a rotatividade, as suas mãos encostaram-se ao chão, apoiando o corpo. De forma ascendente, os seus pés, um atrás de outros, moveram em direção ao queixo, atingindo-o respectivamente.
Reposicionou-se, fluidamente, para desferir outro pontapé no abdômen, gerando uma força que o impulsionou para trás, ricocheteando contra os armários.
Com uma explosão de força, rodopiou o corpo vertiginosamente em torno do seu eixo central. Esta iniciativa não só lhe deu um aumento significativo de potência, bem como serviu para que apontasse exatamente o pé diagonalmente à clavícula do oponente.
Apesar de Wolfgang pretender defender-se com um braço, a força da colisão foi demasiado grande para que fosse atirado violentamente para o chão, onde o seu peso fez com que a estrutura se destruísse.
Por reflexo instantâneo, mobilizou a força muscular dos seus membros superiores, impulsionando o seu corpo para trás em manobra de evasão ligeira.
Com uma margem estreita, ele escapou do golpe iminente que visava seu peito, usando o impulso para se distanciar do perigo imediato.
Recuando ao longo do corredor, observou a cortina de chamas que se desenrolava à sua frente. Como um predador competente, Lewis emergiu daquela dança ardente, estendendo-se como uma ameaça incisiva, determinado a capturar a sua presa em fuga.
O efeito das chamas fez com que a temperatura naquele espaço se alterasse à medida que Lewis avançava. Algo começou a modificar-se irrevogavelmente em tudo o que entrava em contato com o seu caminho flamejante.
Os azulejos do chão sucumbiram ao calor intenso, perdendo a sua integridade estrutural e solidificando-se numa massa nebulosa. Os papéis e cartazes das paredes deformaram-se e contraíram-se, vítimas do abraço escaldante. A consequência disso fez com que até as lâmpadas do teto balançassem, libertando gotículas de plástico fundido que ficaram incandescentes.
Seu rastro crepitante dava a impressão de uma estranha visão de distorção e metamorfose, enquanto o calor parecia agitar o próprio ar.
Enquanto recuava, Wolfgang viu uma escada ao seu lado, à beira das chamas vorazes, uma oportunidade rara que ele aproveitou e subiu para o segundo andar.
O corredor do primeiro andar foi reduzido a um espetáculo horrível e miserável, incendiado em uma conflagração de chamas arrebatadoras.
“Minha pele ainda arde, mas creio que posso resistir o máximo possível. Mesmo assim, não estou certo de que seja suficiente para confrontar este demônio em forma humana.”
Os pensamentos de Wolfgang giravam em um redemoinho durante a feroz batalha. Ele havia se sacrificado e ido além do imaginável para não permitir que tal abominação triunfasse. Sua resiliência foi moldada através de incontáveis adversidades e endurecida no calor da desgraça.
Focando sua atenção no corredor que levava às escadas, notou o movimento ágil de Lewis emergindo dali com um golpe aéreo.
Por um momento, Lewis pairou contra a parede, antes de se lançar em direção a Wolfgang, que, com rapidez, cruzou os braços em defesa de um chute que se aproximava.
Ele agarrou a sua outra perna, uma vez apontada precisamente para o seu pescoço, desencadeando uma sequência vertiginosa de impactos subsequentes que reverberaram pelo corredor, transformando-o numa marionete descontrolada.
Seu corpo chocou-se contra o chão, raspando-se nos armários antes de ser lançado para trás pela entrada do laboratório no final do corredor.
“Erich Schneider me escolheu para ser um soldado das Einsatzgruppen. Foi a única vez que fui notado.”
O som de vidro estilhaçando era claro do lado de fora e ecoava nos ouvidos de Wolf, conferindo aos eventos uma qualidade cacofônica.
“Devo-lhe essa lealdade, por isso preciso matá-lo.”
Wolfgang nunca tinha enfrentado um adversário tão formidável, um tornado de destruição. Sob seu domínio, seus antigos inimigos caíram como folhas secas, e sua frágil resistência era apenas um leve incômodo. Contudo, este jovem, Lewis, era uma força da natureza, um furacão desenfreado.
Quando entrou na sala…
— Hm?
Uma faísca flutuava no ar e, subitamente, houve uma explosão.
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