Capítulo 60 - O Ofício do Desespero
A morte do Mephisto marcou o colapso absoluto da cidade. No lugar das mutações grotescas e deformadas, uma desintegração aterrorizante tomou conta. Os monstros que haviam atormentado a cidade retornaram às suas formas humanas, mas o alívio foi substituído por algo mais inquietante: aqueles que recuperaram sua aparência não estavam mais vivos. Corpos inertes ocupavam as ruas como se fossem testemunhas de um pesadelo que transcendeu o racional.
O ritual, que deveria ter consumado a vitória do Mephisto, foi interrompido de forma abrupta e caótica. A técnica Cicatrizes, tão destrutiva e definitiva, perdeu sua força. A energia negativa que sustentava a captura das almas desapareceu, deixando o processo incompleto. As almas, por sua vez, escaparam como fumaça dispersa ao vento, impossíveis de serem recuperadas ou redirecionadas.
As ruas estavam repletas de destroços. Edifícios desabados, carros incendiados e paredes sujas de sangue formavam um quadro apocalíptico. Toda esquina contava a história de um conflito travado contra algo muito além da compreensão humana. Tudo era opressivamente pesado, algo que nem mesmo o tempo seria capaz de dissipar por completo.
Submersa pela luz fria da lua, sem as distorções e interferências das forças malignas, a cidade desfilava em toda a sua glória. Não havia conforto naquela luz. Ele revelava o rastro da destruição com uma honestidade cruel, expondo os estragos físicos e emocionais deixados pela batalha.
Sem a intervenção da U.E.C., o desastre teria engolido não apenas a cidade, mas talvez todo o mundo além dela. A vitória era inegável, mas estava longe de ser celebrada. Custou vidas, identidades, e talvez, a alma coletiva de quem sobreviveu para ver a aurora.
Enquanto o sol subia lentamente, havia a promessa de reconstrução, mas também o peso de saber que, para cada vitória contra os Mephistos, um preço exorbitante era pago.
O primeiro raio de sol cortou o céu, proporcionando uma sensação ambígua de renovação. Um comboio de veículos de socorro se aproximava no horizonte.
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em sua burocracia metódica, assumiu o controle da situação. Não por altruísmo, mas para registrar e avaliar os impactos que ultrapassavam a compreensão pública.
Veículos militares avançaram pelas ruas devastadas, sobrepondo-se a escombros e lama impregnada de fuligem. Ambulâncias estacionaram em pontos pré-estabelecidos, aguardando comandos que não chegavam.
O comboio se espalhou pela área, distribuindo soldados uniformizados que contrastavam violentamente com a sujeira ao redor. Esses homens e mulheres carregavam dispositivos de análise de energia, monitores portáteis que vibravam com leituras inquietantes de resíduos de energia negativa.
Entre eles, um homem desceu de um SUV blindado. Sua constituição robusta lhe dava uma aparência intimidadora, e sua postura rígida passava confiança mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
Ele representava a ordem em meio ao caos vestindo um terno escuro, gravata vermelho e um sobretudo, com as mangas dobradas na altura do cotovelo. Seu peito estava envolto em marcas e insígnias que significavam o peso da responsabilidade que ele carregava.
O rosto de pele oliva, oculto por uma expressão imperturbável, transmitia a seriedade de alguém acostumado a lidar com situações problemáticas.
— Relatório, agora. — exigiu.
Uma mulher do departamento se aproximou. Com cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo apertado e rosto angular, ela carregava uma feição cansada. Sua pele clara trazia a marca do desgaste das horas passadas em campo, porém seus olhos castanhos eram focados.
Ela segurava um tablet que tremulava com gráficos incompreensíveis para quem não estava familiarizado com aquele contexto.
— Major, a cidade está em colapso energético. Há bolsões de radiação negativa que tornam certas áreas totalmente inabitáveis. O que restou da infraestrutura já não sustenta vida, e os índices indicam que essa energia está se espalhando.
Ele cruzou os braços com seus olhos azuis passeando lentamente pela paisagem. O que fora um bairro residencial estava reduzido a pilhas de detritos.
— E os responsáveis?
— A agência agiu para neutralizar a ameaça principal. Foi o que disseram. Mas, como de costume, partiram logo depois. Não houve esforço conjunto, nenhum plano para o que viria depois. Eles eliminam o perigo imediato e desaparecem.
O Major soltou um suspiro curto, entre a irritação e a resignação.
— Chamar isso de trabalho feito é um insulto. — Ele apontou para um ponto onde os corpos das vítimas começavam a ser alinhados em fileiras, cobertos com lonas esparsas. — Neutralizam a ameaça, mas ignoram as consequências. Eles agem como uma força autônoma, sem responsabilidade. E quem paga o preço? Nós.
A agente apertou o tablet contra o peito, como se buscasse uma defesa contra as palavras do superior, mas sabia que ele tinha razão.
— Qual é o plano, senhor?
— Temos que conter isso antes que o vento carregue a contaminação para fora da cidade. Quero geradores de campo energético ao redor de toda a área. Verifiquem se os protótipos da DARPA1 estão prontos para uso. Se não funcionarem, vamos saber agora. E tragam especialistas em engenharia atmosférica. Precisamos de uma barreira que mantenha essa radiação onde está. Se em quarenta e oito horas não houver progresso, teremos que considerar uma neutralização térmica completa.
— Neutralização térmica?
— Queimar tudo. De ponta a ponta. É a única maneira de garantir que isso não se espalhe.
— Entendido, senhor. Mas devo dizer… será difícil justificar isso ao público.
— Não somos pagos para justificar. Somos pagos para garantir que exista um público.
Ela assentiu enquanto organizava as ordens no tablet. Ajustou o equipamento no braço e levantou os olhos novamente.
— Major, com todo o respeito, a agência nunca responde por nada. Eles entram, agem como querem e somem antes que tenhamos chance de entender o que realmente aconteceu. Não são aliados. São um problema à parte.
— Não são um problema à parte. Eles são o problema. Uma operação com autonomia total e responsabilidade zero. Chamam isso de contenção, mas o que eles deixam para trás não é segurança. É arrogância. E essa bagunça é a prova disso.
Ela o encarou por um momento, depois inclinou a cabeça em aprovação.
— Vou garantir que as equipes estejam prontas para começar.
O major observou-a se afastar. O homem passou uma mão pelos cabelos da nuca, com um ligeiro desconforto a instalar-se. Os seus olhos viram-se para os soldados do departamento que rodeavam o quarteirão.
Na era pós-Guerra Fria, as fronteiras tornaram-se difusas. Os deveres que outrora eram claros tornaram-se negociações contínuas, um ato de equilíbrio entre a lealdade e um crescente sentimento de desapontamento.
— Se continuarem assim, será o desmoronamento da reputação do nosso governo e, por extensão, do país.
Ele atravessou a multidão de policiais uniformizados, mirando em um jovem soldado amontoado perto de uma loja. Não parecia ter terminado o ensino médio. Seu rosto estava pálido e abatido, segurando o escudo antimotim como se fosse uma tábua de salvação.
O homem reconheceu o olhar – a confusão de alguém empurrado para uma situação para a qual não estava preparado.
Aproximou-se, e sua sombra caiu sobre a privacidade como um manto pesado. O jovem se encolheu, prestando atenção.
— À vontade, soldado. Primeiro dia de trabalho?
O rapaz engoliu em seco, com a voz embargada ao responder:
— Sim, senhor. Segunda implantação, na verdade.
— Segunda implantação e parece que você viu o apocalipse.
O olhar dele disparou em direção à rua, a vergonha brilhando em seu rosto.
— É… Não é o que eu esperava, senhor. Disseram que estávamos aqui para ajudar, só que parece que estamos perdendo tudo.
— Isso porque, às vezes… — Sua voz estava misturada com uma sabedoria amarga. — A única maneira que o governo conhece para resolver problemas é com um martelo.
Deu um tapinha no seu ombro, um gesto que o surpreendeu.
— Mantenha a cabeça erguida, filho. Você só precisa fazer o seu trabalho, seguir as ordens. Mas não se esqueça do motivo pelo qual você se inscreveu. Lembre-se das pessoas que deveríamos proteger.
O garoto endireitou os ombros, percebendo que um vislumbre de compreensão afugentava o seu medo.
— Sim, senhor. — respondeu, com a voz mais firme, embora ainda houvesse um estremecimento.
Enquanto o observava sair, sentiu de repente um toque inesperado em seu ombro e se virou, dando conta de que era um colega de trabalho. Ela gentilmente envolveu o pescoço dele com o braço, oferecendo apoio emocional.
— Ei, ei, Richard, relaxa. Não precisa ser assim. — Sua voz soou acolhedora, como se estivesse tentando aliviar a tensão no ar.
Ela lançou-lhe um olhar compreensivo, seus olhos cor de mel expressando empatia pelas frustrações que ele compartilhava. Com um sorriso encorajador, acrescentou:
— Estamos todos sentindo a pressão, eu sei. Mesmo assim, precisamos manter a cabeça erguida. Se ficarmos juntos, talvez possamos encontrar uma maneira de fazer a diferença, mesmo nessa loucura.
Com 1,72 metro de altura, seu estilo único impressionava. Seu cabelo curto em um corte wolf cut, exibia uma bela mistura de mechas claras e tons de castanho-escuro. Seu tom de pele, um bege suave, emitia um brilho suave e orgânico.
Suas curvas foram perfeitamente acentuadas com um cinto arnês em volta do torso e uma blusa branca sob a calça preta. Sua presença atrativa era reforçada pelo logotipo do departamento, habilmente bordado em seu peito e a gravata vermelha, dando uma sensação de poder.
— Sabe, Rich, a tensão está fazendo você parecer mais sério do que um pinguim de terno. — Ela soltou uma risada suave, usando as pontas dos dedos enluvados da mão direita para brincar levemente com a ponta da orelha dele. — Estamos todos no mesmo barco, tentando remar contra essa correnteza louca.
Richard, mesmo se segurando, soltou uma risada leve, seus olhos encontraram os dela.
— Essa agência… é complicada, Evellyn. Dizem que trabalham para o governo, mas às vezes eu me pergunto se eles estão realmente do nosso lado ou se servem apenas aos interesses dos que estão no poder.
— Você já pensou nisso? — Ela levantou uma sobrancelha, demonstrando preocupação genuína. — O que eles chamam de ordem muitas vezes parece um jogo político sujo, e nós, aqui embaixo, acabamos pagando o preço.
Evellyn o soltou, afastando-se dele. Com um cigarro entre os dedos da mão esquerda, ela o levou aos lábios, inalando uma tragada e soltando a fumaça antes de oferecê-lo com um sorriso descontraído.
— Mas não vamos deixar que isso estrague nosso dia. — brincou, compartilhando o cigarro de uma forma que misturava descontração com um toque de rebeldia, como se estivessem desafiando as probabilidades juntos.
Richard hesitou por um momento, mas, diante da insistência dela, cedeu. Ele pegou o cigarro que ela havia usado e o colocou na boca. Inalou, sentindo o sabor característico do tabaco e soltou um rastro de fumaça no final.
— Às vezes é ótimo deixar de lado o que está em sua cabeça, sabe? Você acaba se afogando em seus próprios pensamentos, e isso não é bom. — Evellyn disse levianamente enquanto retirava o sobretudo.
Ela soltou um suspiro brando quando o tirou, revelando um instante de vulnerabilidade. Seus olhos, melódicos e compreensivos, examinaram Richard por um momento antes de se desviarem, como se estivessem procurando por algo distante.
— A vida já é complicada demais para continuarmos acumulando tudo o que há dentro. — Ela fez uma expressão cansada, como quem reconhece a fadiga de carregar consigo bagagens emocionais. — Acho que é quase terapêutico deixar de lado essa parte que carregamos.
Richard acenou com a cabeça contemplativamente. Ele prendeu o maço de cigarro entre os dedos, tirou da boca para perguntá-la em tom de acusação:
— 991 vidas perdidas, Evellyn. Isso não faz seu coração tremer?
Ela levantou os olhos, encarando-o com serenidade.
— Desde o início, quando essa agência foi formada, sabíamos que o preço poderia ser alto. A destruição em massa era uma possibilidade que aceitamos.
Richard sorriu cinicamente, desafiando Evellyn com seu olhar incisivo.
— Não aceitaremos desculpas. Não quando as consequências são medidas em vidas perdidas.
A mulher ergueu as sobrancelhas, mantendo a compostura.
— Não estou me desculpando, Richard. Estou apenas reconhecendo a dura realidade. Em nosso mundo, as escolhas raramente são simples.
O homem se aproximou, seu tom agora era mais pessoal, quase sussurrante.
— Mas e as promessas que fizemos, porra? Eu acreditava que estávamos lutando por um mundo melhor, não um onde a tirania disfarçada de segurança reinava.
— As linhas entre o bem e o mal se confundem. É fácil se perder no caminho que escolhemos. Não estou defendendo eles, só estou explicando.
Richard bufou de frustração.
— Essas explicações não trazem de volta aqueles que perdemos, caramba.
— Nada traz. — Suspirou fundo, mantendo um olhar pesado. — Mas talvez, se entendermos as complexidades que enfrentamos, possamos evitar mais perdas no futuro.
— Você já parou para pensar sobre a vida precária que muitas pessoas têm nos Estados Unidos?
Evellyn, percebendo a intensidade de suas palavras, ficou em silêncio, dando-lhe espaço para continuar.
— Tantas desgraças, mortes… parece que estamos à beira do abismo. Crime, corrupção… é como se estivéssemos andando em uma corda bamba, sempre prestes a cair no vazio. — falou com uma perspectiva mórbida, revelando sua visão triste do estado atual das coisas.
Ela o encarou, seus olhos refletindo compaixão diante da profunda melancolia que ele expressava.
— Eu vejo isso todos os dias, Richard. Pessoas lutando para sobreviver, enfrentando desafios que muitos não conseguem nem imaginar. A sociedade está em um precipício, e esse abismo parece cada vez mais próximo.
— Não se trata apenas de sobreviver, Evellyn. É sobre a porra da falta de humanidade, a falta de esperança que se espalha como uma praga. A vida se tornou uma sucessão de merdas intermináveis de tragédias, um espetáculo que nos cerca por todos os lados.
— Você acredita que estamos condenados, então?
Richard coçou a têmpora, em um gesto de visível desconforto, antes de responder à pergunta dela.
— Condenados… — Ele jogou o maço de cigarro no chão e pisou sobre. — Ou talvez tenhamos simplesmente trocado um vício por outro.
Uma equipe de médicos se aproximou. Em seus braços, eles carregavam corpos, cada um embrulhado em sacos pretos.
— Desculpem por interrompê-los. — disse um deles. — Preciso que vejam isso aqui.
Ele cuidadosamente colocou o corpo no chão, abrindo o saco preto que o envolvia. Uma mulher seminua, vítima de abuso brutal, foi revelada diante deles, com o rosto marcado pela violência física que havia sofrido.
Evellyn prendeu a respiração, horrorizada com a visão diante de seus olhos, enquanto Richard cerrava os punhos, uma chama de indignação ardendo em seus olhos.
— Lesões contundentes na região cervical, hematomas consistentes com agressão física. Há evidências de trauma sexual, indicando que ela também foi vítima de abuso nesse sentido. — O tom clínico do médico contrastava brutalmente com o horror das palavras que ele proferia, enquanto seus dedos percorriam o corpo inerte, delineando cada marca. — Ela será encaminhada para autópsia completa. Precisaremos de exames histopatológicos para confirmar o tempo e a sequência exata dos eventos.
Evellyn sentiu como se lhe tivessem arrancado o ar dos pulmões. A indignação cresceu dentro de si, uma torrente de emoções que borbulhava com a intensidade de uma tempestade. Repulsa. Nojo. Fúria. Tudo o que o médico dizia era como um bisturi cortante e impiedoso. Cerrou os dentes, lutando contra a náusea que se agitava no seu estômago e contra o grito que ameaçava explodir da sua garganta.
A mulher diante dela, violada e destroçada, era mais do que uma vítima sem nome. Ela era um reflexo sombrio de tudo o que Evellyn temia no mundo e de algumas coisas com que já tinha se deparado. Era impossível desviar o olhar daquele corpo imóvel, ainda carregando as marcas de uma violência que não deveria existir.
— Evellyn. — Richard colocou uma mão firme no seu ombro, num gesto de ancoragem. Não era necessário dizer mais nada; o seu toque era suficiente, servindo de lembrete sutil de que ela não estava sozinha.
O calor da mão dele trouxe-a de volta, afastando as sombras que começavam a cercá-la. Evellyn fechou os olhos por um instante, mas não conseguiu apagar da sua mente a imagem que lá permanecia, uma vez que sabia que esta nunca desapareceria por completo.
Quando os abriu novamente, sua voz saiu mais segura do que esperava, embora carregasse uma borda afiada de emoção reprimida:
— Há mais alguma coisa que devemos saber?
O zíper foi aberto, exibindo a pele pálida e marcada de um corpo que já havia sofrido o que ninguém deveria suportar. O médico manteve o rosto impassível, mas a rigidez com que puxava o tecido plástico denunciava o desconforto.
A mulher estava deitada de costas, com as pernas parcialmente expostas, e o seu corpo, mesmo na morte, ainda carregava a memória do sofrimento.
Hematomas escureciam a carne em tons violentos, enquanto pequenas feridas decoravam as coxas, recordando de forma grotesca uma violência metódica.
Richard observava, mas o seu olhar encontrou algo que o fez franzir o sobrolho no mesmo instante. O médico apontou para a parte interna da coxa esquerda, onde se via um símbolo gravado. A pele tinha sido profundamente rasgada em linhas que formavam uma suástica.
A carne à volta estava inflamada, com o vermelho bruto misturado com o sangue seco. Era evidente que não se tratava de um ato rápido, mas sim deliberado, cruel e íntimo.
— Isso foi feito antes ou depois dela…
— Antes. A hemorragia nas bordas e o estado dos tecidos indicam que ela ainda estava viva quando isso foi esculpido. A suástica nazista foi gravada como se fosse um selo. Foi feito com ferro quente. As bordas das linhas têm sinais claros de queimadura.
O homem afastou o olhar por um instante, com necessidade de um momento para afastar o peso da cena. Esfregou a testa, sentindo uma onda de náuseas que lhe percorreu o corpo. Quando voltou, os seus olhos estavam fixos na marca.
— Philip Gordon. Walter Müller. — murmurou, como se recitasse uma lembrança incômoda. — Se entregou aos americanos nos anos 50. Fez um acordo sujo. Trocou segredos da Alemanha nazista por uma nova identidade, uma nova vida. Escapou da forca porque os americanos precisavam de mentes como a dele. Um desgraçado que virou peça descartável de um império maior.
O médico deu-lhe um olhar curioso, sem dizer nada, e deixou que Richard elaborasse o raciocínio.
— Com certeza o encontraram. O Reich nunca esqueceu os seus. Especialmente aqueles que os traíram.
— Está dizendo que isso não é só uma violência aleatória? — O médico se afastou, cruzando os braços com o rosto franzido.
Richard assentiu lentamente.
— Não tenho dúvidas disso. É uma mensagem. Algo está vindo. Alguma resposta do Reich. Há alguma coisa que possa nos dizer quem ela era?
— Nenhuma identificação no corpo. Nenhuma denúncia recente que se encaixe com o perfil dela. É como se ela não existisse.
Este soltou um suspiro pesado, esfregando a mão na nuca enquanto encarava o chão.
— Essa mulher não foi apenas vítima de um crime. Ela foi escolhida provavelmente para nos mostrar que sabem de algo ou que querem enviar um aviso.
— Se for isso, então há algo mais. Esse tipo de coisa não acontece de forma isolada.
— Eles nunca fazem nada de forma isolada. Se isso está ligado ao Reich, a Guerra Fria está prestes a esquentar novamente. Alguém precisa avisar Washington. Caso seja o Reich esteja enviando mensagens como essa, então alguma coisa está vindo. Algo grande. Vamos, Evellyn.
Ele se virou para sair, chamando ela. Mas antes, parou e o olhou sobre o ombro.
— Garanta que isso não vaze. Se a mídia pegar essa história, será um caos que não podemos controlar.
O médico assentiu, mas as perguntas não ditas permaneceram entre eles, assim como a sensação inescapável de que aquele símbolo não era apenas um aviso. Era um presságio.
- A DARPA, sigla para Defense Advanced Research Projects Agency – Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa -, é uma agência do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Fundada em 1958, sua principal função é promover avanços tecnológicos de ponta para garantir a superioridade militar dos EUA.[↩]
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