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    Com Caleb tomando as rédeas da situação, Mayck decidiu cuidar dos pequenos detalhes de forma silenciosa. 

    Afinal de contas, ele não queria ser visto trabalhando naquele assunto, mantendo sua presença ali totalmente invisível. Seus motivos eram simples — não envolver a Black Room naquela bagunça era um exemplo.

    De fato era uma bagunça. As quatro facções estavam quietas até algum tempo atrás, porém, o envolvimento desses dois acabou acelerando o processo. 

    Naquela época, Mayck não imaginava que a curiosidade de Caleb fosse levá-los para um desenvolvimento tão incômodo. Sendo assim, era justo que Caleb fizesse a parte chata do trabalho. 

    E tudo só tendia a piorar cada vez mais. Depois de se infiltrar entre os subordinados de Takeru, Mayck pôde confirmar os planos do líder, que estavam à sombra do conhecimento de Caleb, e começou a se preparar para o que iria começar em breve. Um confronto direto entre os quatro líderes não era uma visão distante. 

    Akagi já estava sendo mais agressivo após ser atacado. Yamada já estava fazendo suas jogadas preventivas e Takeru continuava pressionando, o que deixava apenas uma dúvida: o que a facção Kurokawa estava fazendo?

    As cartas de ameaças não estavam surtindo o efeito esperado, mesmo que os pequenos conflitos aleatórios pudessem chamar a atenção das autoridades e deixá-las atentas. 

    A facção Kurokawa era como parasitas infiltrados no governo japonês, porém, apesar da ciência sobre isso, não era fácil apontar alguém como parte dela. Eles eram especialistas em se misturar e ocupar posições de poder, em um nível que até mesmo o Primeiro Ministro podia ser um deles. 

    Então o desafio era encontrar o paradeiro deles e descobrir como estavam reagindo a tudo. 

    Embora parecesse uma missão irreal ou até impossível de realizar, não foi tão difícil realizar o primeiro contato com um dos membros da facção. 

    Mayck, através de Caleb, disse a Takeru para realizar tal contato, o que foi feito através de uma pequena alteração na abordagem que haviam feito anteriormente; enviaram mais cartas, porém, com pistas sobre a facção, as quais apenas os próprios membros poderiam perceber. 

    Locais de encontro também foram marcados para uma tentativa de contato. 

    Nas duas primeiras vezes, não houve nada. Na terceira e quarta vez havia homens suspeitos vigiando a área do local marcado. Só na sexta que obtiveram sucesso, e ninguém mais ninguém menos que o próprio líder da facção Kurokawa se apresentou. 

    Foi uma surpresa. Todos se mantiveram em alerta quando ele apareceu. Caleb estava junto a Takeru, no momento, mas não disse uma palavra durante a discussão, que, resumidamente, foi como uma pequena negociação. 

    Kurokawa, um homem de corpo esguio, cabelos pretos na altura dos ombros e um coque no topo da cabeça, olhos castanhos e bem vestido. Ele apareceu acompanhado de mais três homens de terno, que pareciam ser seus seguranças. 

    Ele certamente transbordava uma aura de manipulador nato, que conseguia ter as pessoas em suas mãos. Se fosse parar pra pensar, não seria tão estranho ele decidir se infiltrar no governo. Fazer isso era como garantir uma posição no topo. 

    Porém, algo incomodou Mayck, que assistia ao desenrolar de longe. Obviamente, ele se manteve a uma distância segura, e deixou Caleb ciente de manter seu telefone com a chamada ativa durante toda a conversa. 

    “A brincadeira de vocês está passando do ponto. Mesmo que seja uma disputa por poder, não deveria ser dessa forma”, Kurokawa apontou, deixando claro seu ponto de vista. “Em breve, isso vai atrair a atenção do governo e só vai aumentar a dor de cabeça. Só não nos envolva nisso.”

    Não arrastar a facção Kurokawa era sua única exigência. Certamente, ele queria manter seu silêncio enquanto estava infiltrado no governo. Participar daquela disputa tão chamativa geraria colocava suas identidades em risco e um escândalo poderia levá-los a perder seu posto eventualmente. 

    “Hã? De que outro jeito uma luta por poder poderia acontecer? Não faz sentido. Você parece uma criança ingênua dizendo isso”, disse Takeru, com um olhar de reprovação. 

    “Não importa agora. O que você fez está feito. Vai aceitar o que eu pedi? Não queremos nos arriscar desse jeito.”

    “Isso é uma pena”, disse Takeru, depois de dar uma curta, porém sincera, risada. “Eu não dou a mínima para o que você quer. A facção Kurokawa tem uma enorme influência no submundo. Ter vocês por perto é só um incômodo e eu, assim como você e os outros, quero o controle absoluto da economia, tráfico e tudo o que mais for conveniente.”

    Destruir seus inimigos era seu maior objetivo. 

    “Comprar briga desse jeito só vai te afundar, Takeru. O que garante que você vai vencer? Eu ouvi rumores que você perdeu uma parte importante da disputa.”

    Com seus olhos levemente cerrados, Kurokawa alfinetou Takeru, fazendo-o se lembrar de que perdeu o que daria equilíbrio entre o poder das quatro facções. 

    Aquela informação estava sendo mantida em sigilo, então como Kurokawa sabia? De alguma forma, isso vazou sem que ele percebesse. Mas não era uma questão tão importante. Na realidade, era bem conveniente. 

    Takeru estalou a língua. 

    “Não fique se achando. Não é só por uma besteira dessas que eu vou dar pra trás. Além disso, essa ‘baguncinha’ que está acontecendo pode muito bem ser uma espada de dois gumes pra você, não é? Enquanto nós nos matamos, vocês observam. E depois, quando já não tivermos mais forças, vocês virão dar o golpe final. Esse era o plano?”

    Takeru parecia ter acertado em sua dedução, já que o calmo Kurokawa sorriu levemente e levantou as mãos na altura dos ombros. 

    “Quem sabe? Talvez seja algo mais simples que isso. Mesmo sem o controle do submundo, nós podemos fazer mais do que vocês, não acha? Mais importante, foi você que começou tudo isso, não foi? O que deu na sua cabeça?” Seus olhos ficaram ameaçadores de repente. 

    “Não sei. Quem pode dizer isso? Eu posso só ter respondido a um ataque que veio de outro lugar… Vou deixar um aviso. Eu não estou tentando derrubar vocês agora, mas tem alguém que pode estar interessado nisso. É bom ficar de olhos abertos.”

    “Hum? Por que me daria um aviso desses? Está tentando me comprar com confiança?”

    “Não. Só seria uma pena perder um peixe tão grande quanto vocês para outra facção. Apenas tenha isso em mente. Fazer algo a respeito ou não é problema de vocês.” Takeru deu de ombros. 

    E, com isso, a negociação acabou, com a conclusão que Takeru ainda faria de tudo para arrastar Kurokawa para a briga, arriscando o que fosse necessário. Depois disso, Takeru olhou nos olhos de Caleb e perguntou:

    “É o suficiente?”

    “É claro. Agradeço sua ajuda”, respondeu o garoto com um sorriso e secretamente encerrou a chamada. 

    Toda essa interação foi útil de certa forma. Mayck conseguia se manter informado sobre o que os líderes estavam fazendo e manter um certo controle, embora fosse largá-lo em breve.

    “Agora…”

    O garoto já podia dar seu próximo passo. Yamada tinha perdido as ampolas do soro, o que deixava claro que ele não poderia usá-las. 

    Ainda não dava para saber o que Kurokawa faria, então só restava ir atrás de Akagi e descobrir os planos dele. Sendo agressivo do jeito que era, ele era o mais provável a usar os soros e usar sua arma secreta — cuja forma ainda era desconhecida, mas imaginável. 

    Sobre o soro e sua natureza, ele ainda não sabia o que era exatamente, mas Hina lhe contou que havia descoberto algo intrigante, ou melhor, preocupante. Algo que se não fosse tratado com urgência, causaria problemas a nível catastrófico. 

    Segundo ela, aquele soro era composto principalmente por algumas bactérias, as quais ela nunca tinha visto antes, mas que era bastante presente em outras coisas que ela já viu. E isso era o sangue dos Ninkais. 

    Misteriosamente, quando morriam, os corpos dos Ninkais se desvaneciam no ar, como se deixassem de existir. Raramente era possível coletar o sangue ou outra parte deles para manterem sob observação. E essa era uma parte do grande mistério. 

    Como seria possível conservar aquelas bactérias sem que elas evaporassem? O restante da substância também era radioativa, então dava para chegar a uma conclusão. 

    Aquelas bactérias também pareciam ser capazes de se espalhar rapidamente pelas correntes sanguíneas de um infectado e agir em seu sistema nervoso em questão de segundos. Hina também afirmou que eles podiam até causar mudanças genéticas drásticas em um ser vivo. 

    “Esse soro deve ser capaz de criar Ninkais a partir de humanos ou animais… Eu já vi isso antes.”

    Mayck se lembrou de Nagi e como ele morreu sendo cobaia daquele soro. Naquela época, aquela substância não devia estar muito avançada, já que o resultado foi péssimo. Depois de vários meses, não era estranho que acontecesse certo progresso. 

    O fato era que se tornou uma situação mais urgente do que ele esperava. Talvez, o envolvimento da Black Room fosse inevitável no fim das contas.

    “Eu vou fazer o que puder para evitar antes. Não quero tentar controlar uma situação que eu sei que vai gerar consequências graves.”

    Depois de pensar sobre isso, Mayck percebeu que a própria Ascension estava por trás de tudo. No mínimo, eles tinham uma influência gigantesca. Encontrando Akagi, ele poderia descobrir quem havia distribuído aquelas ampolas e chegar a um final satisfatório. 

    ****

    Durante a noite, Mayck saiu silenciosamente de casa, sem muitas preocupações. Afinal de contas, a pessoa que representava um certo perigo a sua identidade estava ocupada, lidando com um problema de facções.

    Após algum tempo de caminhada, ele chegou até um edifício abandonado numa área próxima ao centro e entrou sem hesitar. 

    O lugar tinha entulho por todos os lados, as paredes mofadas e um odor nada convidativo, além de ter uma atmosfera sombria. 

    “Ei! Mestre! Você chegou!”

    Um garoto saltou da escuridão entre as incontáveis peças e imóveis destroçados com uma animação visível. 

    “Obrigado por trazê-los, Merlin.”

    “Não, não. É o mínimo que eu posso fazer”, disse ele, balançando as mãos. “Vamos, vamos. Eles estão esperando.”

    Merlin era o mesmo de sempre, embora fosse possível perceber que desde que despertou sua ID numa forma mais real ele estava mais empolgado. 

    Seguindo o garoto, Mayck caminhou até a parte mais funda do edifício e, ao abrir uma porta velha de madeira, encontrou um grupo de ao menos oito pessoas reunidas, com um ar hostil em relação a ele. Mayck estava com sua máscara, obviamente. 

    Assim que entrou, ouviu alguns resmungos que nem se importavam se seriam notados ou não. Bom, era óbvio o porquê dos dois irmãos o olharem com tanto desdém. 

    “Olha ele aí. O que te traz aqui hoje, pequeno máscara branca?” Otohiko piorou a atmosfera ao cumprimentar com uma falsa gentileza. 

    “Eu só queria conversar com vocês. Nada demais.”

    “Conversar? O que um maldito rato da Black Room teria pra conversar com uma grupo criminoso?”

    “Calma aí, Milli-san, não é bem assim.”

    Millicent pegou sua lâmina que repousava no sofá ao lado dela e tentou pular em cima de Mayck com olhos furiosos.

    “Me chama assim de novo que eu arranco sua cabeça!”

    “Ei, espera aí!”

    Edgar a segurou fortemente, enquanto sua irmã rugiu de raiva. 

    “Deve ser difícil lidar com ela… Enfim, Otohiko, eu tenho um favor a pedir a vocês.” 

    Ignorando a garota que ele acabara de enfurecer, Mayck se voltou para o líder do grupo, que estava sentado em um sofá de apenas um lugar. 

    “Um favor? Vou ter que recusar. Não quero ajudar alguém como você.”

    “Me escute antes. Ao invés de chamar de favor, é um trabalho que eu tenho pra vocês. Conseguem imaginar o que é?”

    Otohiko ajeitou sua postura no sofá e suspirou antes de abrir a boca. 

    “Temos quatro facções poderosas e influentes no submundo que estão disputando a liderança. Até agora, eles causaram muita bagunça até mesmo no mercado negro. O tanto de trabalho que estamos recebendo não é brincadeira. O que te faz pensar que vamos aceitar? Acha que é especial?”

    Além disso, muitos portadores que trabalhavam de forma individual ou participavam de grupos menores estavam se abstendo de sair por aí e serem pegos no fogo cruzado. O nível de perigo havia aumentado muito. 

    “Hahaha! Nós sabemos que isso deve ser perigoso para a reputação da Black Room. Vocês devem estar desesperados tentando parar aqueles idiotas, não é?”

    Millicent riu alto só de pensar na situação ruim que a Black Room estava. 

    “Que bom que pensaram bastante nisso”, Mayck falou com sarcasmo, o que irritou Millicent de novo. 

    “Eu vou matar você, cara!”

    “É por isso que eu vim até vocês. Fiquei sabendo que não estão se envolvendo na disputa, então gostaria da ajuda de vocês para dar um fim nela.”

    “Hm… Então a situação está tão ruim que vocês decidiram recorrer a gente? Hunf. Que patético. A Black Room está tão mal assim?”

    “Na realidade, essa ideia é coisa minha. Se vocês me ajudarem a resolver isso, vocês não só receberão uma recompensa, como também serão reconhecidos pela própria Black Room. O que acham? Dessa forma, vocês ficarão mais próximos de conseguir o que querem.”

    Mayck falou de forma tentadora, o que fez um silêncio pairar sobre aquela sala aos pedaços. 

    Desde que os conflitos começaram de forma mais intensa, ninguém tinha notado um único movimento da Black Room, mas isso era só questão de tempo até uma ordem de restrição ser estabelecida, assim como a que aconteceu algum tempo atrás, quando vários portadores se juntaram para uma pequena guerra contra um. 

    Os portadores capturados daquela vez foram enviados para prisões especiais e aqueles que possuíam uma vida social sofreram uma advertência pesada e estavam sob constante vigilância, sem dizer que vários outros foram mortos na ação da Black Room e também no ataque massivo de Kazan. 

    Esses fatos eram irrefutáveis e foram parte do motivo que impediu Otohiko de se juntar à disputa. A estratégia de observar e dar o golpe final depois de todos estarem nas últimas forças estava bastante popular nesses dias. 

    “Seu idiota! Por que nós, que somos criminosos, iríamos nos juntar a vocês? Otohiko, isso tá com cara de armadilha. Só vamos matar logo esse babaca e conseguir as recompensas por ele.”

    Millicent continuava botando lenha na fogueira. Seu ódio por Mayck era uma das coisas mais reais naquela sala. 

    Seus companheiros tentavam ao máximo fazê-la se calar, mas sem sucesso. Isso deixava claro a diferença entre uma gangue de adultos e uma de adolescentes — não havia respeito entre os últimos —, mas isso não era tudo; o Olhos azuis não deveria ser subestimado sob nenhuma hipótese. Todos entendiam isso, menos Millicent. 

    “Ei, Otohiko. Diga alguma coisa!”

    Otohiko ponderou sobre a oferta feita por Mayck. Ele vagou os olhos por seus companheiros. Todos olhavam para ele com expectativa, especialmente Merlin, que estava empolgado com a ideia de trabalhar ao lado de seu mestre. 

    De fato, era algo tentador ter uma chance de ficar um passo a menos de seus objetivos, porém, como líder, ele tinha que analisar os fatos. 

    Como Millicent afirmou e reafirmou, podia ser uma armadilha para eliminá-los antes dos demais. Por outro lado, Mayck não parecia estar mentindo. 

    Tá certo que ele acabou surrando dois dos meus, mas eles que procuraram e se meteram onde não devia. Além do mais…

    Ele cortou seus pensamentos. Abriu os olhos. Parecia já ter tomado sua decisão. 

    “Está bem. O que você quer que a gente faça? Faremos se estiver ao nosso alcance. Mas não pense que será barato.”

    Sua declaração causou reações diversas. Millicent, por exemplo, quase teve um surto e começou a gritar descontroladamente. Enquanto isso, Merlin só pensava em comemorar. 

    Sob a máscara branca, Mayck sorriu levemente. 

    “Não se preocupe. Farei questão de recompensá-los. Isso se tudo correr bem e dermos um fim à disputa, claro.”

    Mayck esclareceu suas intenções para não deixar dúvidas acerca do trato que fizeram. E apesar das ressalvas que muitos tinham sobre aquela aliança, não recusaram um trabalho que rendesse algum valor útil; como o bom grupo de mercenários que eles eram. 

    <—Da·Si—>

    Era um dos restaurantes de mais alto nível de Tóquio. Luzes de cores quentes iluminavam sutilmente os detalhes dourados e de madeira escura do local. O chão de tatame combinado com as mesas baixas criavam um ambiente elegante e sereno, cheio da cultura tradicional japonesa com um toque de modernidade. O cheiro da comida pairava no ar, refletindo a boa culinária do local

    Era por isso que aquele era o lugar preferido de Yamada, que saboreava uma deliciosa refeição, acompanhada de uma taça de vinho tinto do mais caro. 

    Seu traje era mais elegante do que antes. Um terno preto do tipo slim e um lenço no bolso esquerdo próximo ao peito. Para ir comer em um lugar como aquele, ele se via na obrigação de se vestir a caráter. 

    Estava à espera de sua companhia que havia saído há alguns minutos para ir ao toalete e voltaria em breve. 

    Porém, nesse momento Yamada estava fazendo uma expressão amarga e afastou sua refeição. 

    A causa era uma figura na mesa atrás dele, que, sutilmente, chamou sua atenção ao mencionar quem ele era em segredo.

    “Visitar locais como esse… essa certamente é uma das ambições de alguém que tem poder no submundo. Algo bem de alto padrão, por assim dizer”, disse a figura atrás dele. 

    Yamada não ousava sequer se virar para não chamar a atenção de ninguém. Algo do qual aquela pessoa partilhava. A voz que ouvira era jovem, não parecia ter saído da puberdade, mas o tom de voz era de alguém que não sentia nenhum receio ou medo em seu dirigir a ele com tamanha ousadia. 

    “Do que você precisa? Veio apenas azedar o meu jantar?”

    “Não, não. Longe disso. Eu esperei bastante pela oportunidade de te encontrar. Não foi tão fácil assim. Só descobrir que você frequenta esse lugar me custou bem caro.”

    “Fiquei sabendo que existe um vendedor de informações escondido. Aposto que ele tem algo a ver com isso.”

    Yamada já tinha ouvido rumores sobre um informante que era capaz de fornecer quase todas as respostas que uma pessoa pudesse querer, embora tivesse que pagar um preço equivalente. Mas isso não era tão importante aqui. 

    Yamada deu um gole em seu vinho. Parecia menos saboroso que antes. 

    “Não precisa se estressar. Eu só vim até aqui fazer uma proposta que talvez te interesse. Quer ouvir?”

    Yamada não respondeu, então a figura continuou, tomando para si aquele silêncio como um sim. 

    “Quero oferecer ajuda para derrubar Takeru.”

    “heh-heh… O que é isso que estou ouvindo? Uma piada? Quem é você afinal?”

    “Antes que Takeru pudesse pôr suas mãos no soro, alguém o roubou e esse alguém sou eu. Ele tem o simples plano de roubar as ampolas de todos vocês e sair na frente na disputa pelo submundo. Acho que você já tinha uma pequena ideia sobre isso, não é?”

    “Se isso for verdade, então eu estava no caminho certo. No entanto, não é como se eu fosse simplesmente acreditar em você. Alguém que não se revela não pode ser confiável.”

    Yamada olhou ao redor, vagando seus olhos por todos os clientes que estavam ali naquele momento. 

    “Está vendo todas essas pessoas? Todas elegantes, sorridentes, que passam uma impressão de perfeição. No entanto, eu conheço a cada uma delas. Por debaixo dessas máscaras de riqueza e prosperidade, estão seres vis e traidores que fizeram de tudo um pouco para chegarem onde estão.”

    “Imagino.”

    “Eu posso dizer claramente o que cada um fez para conseguirem suas fortunas sujas e ainda conseguirem desfrutar sem nenhum remorso. Eu sei disso e também sei como agem. Nem por isso eu confiaria nelas. Mesmo sabendo como controlar cada uma delas. O que te faz pensar que eu confiaria em você sem nem te conhecer?”

    A figura silenciosamente sorriu, depois virou o copo com o chá verde, apreciando-o tranquilamente.

    “É simples”, disse ele. “Eu não sou como essa gente podre que pensa apenas em si mesmo. Pode parecer apenas uma jogada, mas eu não te abordei de forma agressiva e até procurei saber onde ficava o seu lugar preferido. Acha que eu faria tudo isso só para te enganar? Pode até ser, mas eu sou do tipo que não faz nada que seja desnecessário.”

    A resposta foi diferente do que Yamada esperava. Algo balançou dentro de seu peito e um sorriso involuntário surgiu em seu rosto. Mesmo que ainda desconfiasse, aquelas palavras estavam cheias de confiança. 

    “Hm. É interessante. Você consegue fazer parecer que não está mentindo nem tentando me enganar. Embora eu ainda não tenha certeza sobre você, estou disposto a ouvir sua oferta.”

    “Isso é ótimo. Takeru fez contato com Kurokawa e agora pretende se encontrar com você. Imagino que vai pedir uma aliança e tentar jogar você contra Kurokawa. É bom você tomar cuidado e não cair nas armadilhas dele.”

    “Kurokawa, ein… O que mais me surpreende, é você saber tanto sobre isso. Se quer minha confiança, então me responda: Takeru está tendo ajuda externa?”

    Desconfiado disso há dias, Yamada pensou que alguém estava encorajando Takeru a realizar todos os movimentos que fez até aquele momento, e, conhecendo aquele cara, tinha que ser uma pessoa poderosa o suficiente para fazê-lo depositar sua confiança. 

    “Exatamente. É uma pessoa muito perspicaz. No dia da negociação, o melhor a se fazer é ficar de olho no acompanhante dele. Provavelmente é quem está puxando as cordas por trás. Ao que parece, ele não é daqui.”

    “Entendo… Estou ciente que ele é um homem problemático. Vou esperar para ver se o que disse é verdade. Se acontecer, então vou estar te esperando nesse mesmo lugar.”

    “Okay. É bom que confie em minhas palavras. Já que é assim, estou saindo. Não queremos que sua acompanhante saiba demais, não é?”

    Antes que Yamada percebesse, um batom vermelho foi posto em sua mesa. Rapidamente, ele procurou pelo responsável, mas não encontrou ninguém. Apenas os hostess em seus quimonos formais andavam ao redor para acomodar seus clientes. 

    Enquanto procurava pelo novo informante, Yamada ouviu a voz de uma mulher se aproximando. 

    “Me desculpe a demora. Eu não consegui encontrar o meu batom… Ah? Está aqui? Eu não me lembro de ter tirado da minha bolsa.”

    A mulher de cabelos pretos e um lindo vestido vermelho pegou o batom com um enorme sorriso. 

    Yamada sorriu de canto.

    “Alguém que gosta de fazer truques”, disse ele a si mesmo, ainda impressionado com o encontro que teve. 

    “O que disse?” A mulher o olhou confusa. 

    “Hm? Não foi nada, minha querida. Fico feliz que tenha achado seu batom.”

    Depois dessa noite, não demorou muito para que Yamada recebesse um mensageiro enviado por Takeru, confirmando a informação que recebeu com antecedência. 

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